sábado, 11 de julho de 2020

Redes antissociais



TECNOLOGIA Empresas boicotam o Facebook e o Google por conivência com o discurso de ódio e preconceito

O negócio bilionário do preconceito e das fake news sofre no momento um golpe histórico, desferido por empresas estrangeiras e brasileiras que decidiram retirar publicidade tanto de gigantes como Facebook e Instagram quanto de pequenos veículos eletrônicos extremistas estadunidenses e brasileiros, para impedir a vinculação das suas marcas, produtos e serviços às mensagens de ódio e de discriminação. As companhias temem que o aumento da rejeição a esses discursos por parte da população provoque a deterioração da sua imagem seguida de queda das vendas.  

O boicote corporativo ao Facebook começou quando seu presidente-executivo, Mark Zuckerberg, se negou a retirar da rede uma mensagem veiculada no fim de maio pelo presidente Donald Trump para humilhar manifestantes indignados com o assassinato de George Floyd, um cidadão negro de 46 anos, por um policial dos Estados Unidos. “Quando os saques começam, o tiroteio começa”, disparou Trump, que, com essa provocação, uniu a Liga Antidifamação e seis organizações de direitos civis, inclusive o Black Lives Matter, no movimento #StopHateForProfit, de combate ao discurso de ódio. A iniciativa pede aos anunciantes para suspenderem seus gastos com publicidade durante julho no Facebook em protesto pela insuficiência das ações da rede social contra os conteúdos de incitamento a conflitos e fake news. Mais de mil companhias, inclusive gigantes globais como Verizon, Ford, Coca-Cola, Pfizer, Honda, Microsoft e Starbucks, aderiram ao boicote. “A proximidade de seus canais de publicidade com conteúdo odioso é aleatória e seus relatórios de transparência de auditoria de ‘direitos civis’ não são úteis para a comunidade”, protestaram as corporações em carta aberta. Ao menos dez multinacionais estenderam a suspensão de anúncios ao Facebook Brasil. Os ativistas querem que a rede social instale um mecanismo automatizado para identificar conteúdo de ódio em grupos privados e remova grupos públicos e privados dedicados a temas como supremacia branca, antissemitismo e antivacina.

O boicote reforça a campanha lançada há quatro anos nos EUA e iniciada no Brasil em maio, denominada Sleeping Giants, que atua por meio do Twitter e visa minar a sustentação econômica de sites e canais ligados ao ódio e ao preconceito beneficiados por pacotes de anúncios em plataformas como Google e Facebook. O Sleeping Giants Brasil (SGB) define-se como “uma luta coletiva de cidadãos contra o financiamento do discurso de ódio e fake news” e esclarece que, devido ao sistema de anúncios em larga escala promovido pelo Google, por exemplo, “a maioria das empresas não sabe que está financiando mídia de extrema-direita ou propagação de fake news e buscamos conscientizá-las”.

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O perfil no Brasil obteve 20 mil seguidores nos primeiros dias, hoje passa de 400 mil e é esse público que pressiona as companhias a retirarem seus anúncios. A primeira ação do SGB foi alertar empresas que suas marcas apareciam no site Jornal da Cidade Online, divulgador de notícias falsas favoráveis à campanha de Bolsonaro em 2018 e um dos alvos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito criada no Congresso para investigar o assunto. Cerca de 150 companhias, incluindo Carrefour, Latam, Samsung, Santander, Dell, Submarino, Telecine, Claro, O Boticário, Drogaria São Paulo e Banco do Brasil, retiraram seus anúncios do veículo, que tem 2 milhões de inscritos. 

A adesão do Banco do Brasil ao boicote publicitário gerou protesto de Carlos Bolsonaro, que saiu em defesa do site. O BB voltou atrás para atender o filho do presidente, mas o TCU obrigou-o a manter a suspensão de anúncios no Jornal da Cidade Online.

Outro alvo da ação do SGB é o Brasil Sem Medo (BSM), criado por Olavo de Carvalho, com mais de 3 milhões de acessos e que usa “notícias falsas, discursos odiosos e teorias conspiratórias” em suas notícias sobre a pandemia. O Sleeping Giants Brasil concentra esforços no momento para convencer as empresas Hotmart, PayPal Br e PagSeguro a “pararem de prestar serviços ao Olavo de Carvalho”. Em 23 e 24 de junho, 13 empresas, entre elas Claro, Copasa, Aurora, Hypera Pharma, Vaio e Senac, retiraram seus anúncios do BSM. 

Algumas firmas informam ao Sleeping Giants Brasil a remoção dos seus anúncios, outras manifestam gratidão por terem sido avisadas. “Assim que recebemos essa informação, solicitamos a retirada dos anúncios automáticos. Repudiamos qualquer disseminação de notícias falsas”, declarou a Dell. “Obrigado por nos informar. Já pausamos a campanha, que funciona de maneira automática, e vamos analisar todos os portais que estão veiculando o anúncio. Somos totalmente contra a disseminação de fake news e precisamos, juntos, combatê-la”, escreveu o Telecine. “Oi, pessoal! Já bloqueei este site em questão. Estou tomando providências para que também saia de outros semelhantes. Caso vejam mais outro caso, podem me mandar, tá? Obrigado por avisarem!”, reagiu o Submarino.

Segundo o Wall Street Journal, apenas 5% do faturamento do Facebook depende dos gigantes empresariais. A situa­ção dos pequenos veículos extremistas é menos confortável. O site Arbeit News, de Steve Bannon, conselheiro político de Trump e Bolsonaro, perdeu 90% do faturamento nos três meses seguintes à denúncia do Sleeping Giants. No primeiro mês de atuação no País, o SGB diz ter provocado a suspensão de anúncios equivalentes a 447 mil reais de sites extremistas. O apoio entusiasmado de influenciadores digitais como Felipe Neto e Luciano Huck tende a impulsionar ainda mais a campanha de boicote. 

A necessidade de as sociedades controlarem gigantes como Google e Facebook transcende o combate às notícias falsas e ao preconceito e tem a ver com a própria sobrevivência econômica dos Estados Nacionais, vitais para o enfrentamento de pandemias e recessões e a própria vida civilizada. Entre 2010 e 2017, em vez de recolher 35% de impostos ao governo dos EUA, o Facebook pagou apenas 10,2% e o Google, 15,8%, por terem aberto filiais em países com impostos menores que os estadunidenses. 

Por Carlos Drummond, na Revista Carta Capital    




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