domingo, 31 de janeiro de 2016

Obras de Ferreira Gullar: da José Olympio para a Cia. das Letras



Há décadas, a José Olympio, editora do Grupo Editorial Record, publica a obra poética de Ferreira Gullar. Mas, a partir do próximo semestre, o imortal e autor de Poema sujo estará de casa nova.

A Companhia das Letras passará a editar e publicar a obra do poeta maranhense. A saída de Maria Amélia Mello da José Olympio em novembro de 2014 pesou muito na decisão de Gullar, apontou Flávio Moura, editor sênior da Companhia das Letras e que passará a ser responsável pela edição e publicação da obra poética do imortal na editora paulistana. “Um ano e pouco atrás, quando ficamos sabendo que a Maria Amélia tinha saído da José Olympio, procuramos o Gullar. Com ela lá, a gente jamais teria feito qualquer movimento”, disse o editor ao PublishNews.

Com a saída da editora da José Olympio, Maria Amélia se tornou agente do autor. 

“Ela ficou sabendo que a gente tinha procurado o autor e entrou em contato conosco dizendo que ele tinha interesse em mudar de editora, que tinha outras em vista, mas que queria ouvir a nossa proposta”, lembra Flávio.

“Estamos muito contentes com isso. A Companhia é uma editora que já tem grandes poetas brasileiros em seu catálogo e Gullar figura entre os maiores. Isso é, claro, uma grande alegria” disse.

Ao todo, estão indo para a Companhia 17 títulos da obra poética de Gullar. O primeiro título de Ferreira Gullar que a Companhia deve publicar será justamente Poema sujo.

De acordo com Flávio não é à toa que este será o título de estreia de Gullar na Companhia. “Escolhemos este não só por ser um dos mais importantes, mas também por ele ter sido publicado originalmente em 1976, então, a gente está falando em 40 anos de publicação.


Temos aí uma efeméride”, declarou o editor. Flávio adiantou ao PublishNews que deve sair mais algum título ainda em 2016, mas não está acertado qual ou quando e que não está prevista a publicação de nenhum inédito.

Por Leonardo Neto - Publishnews

sábado, 30 de janeiro de 2016

Fábulas de Antônio Carlos: A raposa e o estancieiro


A raposa e o estancieiro

A raposa, sendo surpreendida pelo dono da estância, não se fez de rogada:
- Foi o coelho quem comeu as galinhas, os pobres dos pintinhos e os suculentos patos também.

- Mas coelhos não são herbívoros? – replicou indignado o homem.

Procurando manter a pose e a empáfia, a raposa não se deixou intimidar:
- Não acompanhas a evolução do conhecimento, estúpido? Nada sabes sobre as revolucionárias inovações da genética, das pesquisas com células tronco, da nanobiologia? – E, impávida, arrematou toda impoluta e senhora de seus botões: - Com a modernidade, os coelhos tornaram-se vorazes carnívoros e nós, as raposas, redimidas de todo o mal, transformamo-nos em inofensivas devoradoras de relva e gramíneas, intelectuais orgânicas, cidadãs dos processos de inclusão e transformação social e baluartes do politicamente correto. 

Respirando fundo para manter o controle, o estancieiro deu trelas ao animal, como que desejando investigar até onde chegaria a perversidade e a delinqüência do outro:
- Se é de relva que se alimenta, então qual a razão de tanto sangue e penugem nesses pontiagudos caninos? 

Arfando ar autoritário e professoral, a raposa esquadrinhava o universo tentando localizar, no pantanal, um naco de chão onde pudesse firmar as pernas bambas:
- Como é insuportável lidar com a ignorância e a estultice. – E prosseguiu, intrépida e afoita: - Com o novo ordenamento dos filamentos helicoidais do DNA, a verde clorofila tornou-se púrpura intensa e a apetitosa gramínea adquiriu o formato de penas, plumas e penugens...

Não cabendo de revolta e repulsa, o homem riscou o facão no ar para ver a cabeça da raposa cair distante do restante do corpo. Náusea, fastio e asco lhe turvaram os sentimentos quando viu estampada na cabeça inerte da sanguinária e impiedosa assassina o olhar singelo, cândido e inocente só dado aos puros de coração.

Moral da história: jamais acuse o outro de fazer o que você faz. Ainda que tarde, haverá um dia em que a mentira sucumbirá frente ao inexorável e avassalador romper da verdade.

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Woody Allen prepara sua primeira série para a Amazon

Será uma comédia com capítulos de meia hora de duração, ainda sem título



Woody Allen prepara sua primeira série. Mas o diretor nova-iorquino não o fará na televisão, e sim na Amazon. Ainda que os detalhes sobre a série, ainda sem título, não sejam conhecidos, já está confirmado que será uma comédia composta por capítulos de meia hora de duração e contará com, pelo menos, uma temporada completa dirigida e escrita pelo próprio Allen. Não se conhece também quem fará parte do elenco da ficção.
“Não sei como me meti nisso. Não tenho nenhuma ideia e não sei por onde começar”, disse o diretor de filmes como Manhattan ou Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, sobre seu novo projeto. “Aposto que Roy Price [vice-presidente da Amazon Studios] se arrependerá disso”.
A importância da notícia não está somente pela ida do reconhecido diretor para o formato de capítulos, algo cada vez mais frequente com a grande força que o mundo das séries tem conseguido nos últimos anos. E é relevante, também, que seja a Amazon e não uma rede de televisão que tenha contratado os serviços de Allen, no que é um grande triunfo para a plataforma de difusão de conteúdos audiovisuais.
Tanto a Amazon como a plataforma online Netflix estão fazendo uma grande aposta na produção própria de ficção. A Netflix conta em seu catálogo com títulos muito reconhecidos como House of Cards(dirigida nos dois primeiros capítulos por David Fincher) ouOrange is the New Black, enquanto a Amazon conseguiu, nos últimos Globos de Ouro, seus dois primeiros prêmios graças à tragicomédiaTransparent, protagonizada por Jeffrey Tambor. Recentemente, estreou também Mozart in the Jungle, protagonizada por Gael García Bernal, e ainda vai estrear o drama policial Bosch.
A ida de Woody Allen para a Amazon reforça ainda mais o papel que esses tipos de plataformas têm no ecossistema do entretenimento, um mercado que as redes de tevê abertas e de cabo precisam ter cada vez mais presente. “Woody Allen é um criador visionário que fez alguns dos maiores filmes de todos os tempos e é uma honra trabalhar com ele em sua primeira série”, disse Roy Price.

Kevin Spacey: "O que está acontecendo na televisão é extraordinário"

PABLO XIMÉNEZ DE SANDOVAL, LOS ÁNGELES
Os Globos de Ouro de domingo nas categorias de televisão viraram um trunfo dos novos competidores na produção de ficção, Netflix e Amazon, contra aqueles que o público reconhece como os principais investidores do negócio na última década, a HBO e o AMC. No palco, subiram para receber prêmios os responsáveis por Transparent (produzida e distribuída pela Amazon), e os atores principais de House of Cards (Netflix) e Fargo (FX). As quatro grandes redes de televisão do país – ABC, CBS, NBC e Fox – não receberem nenhum prêmio.
Em seu encontro com a imprensa após ganhar o prêmio por seu papel emHouse of Cards, a fala do ator Kevin Spacey serviu de análise sobre o que está acontecendo na televisão norte-americana e serviu de contexto para o anúncio de que a Amazon, que há dez anos era uma loja de livros, contratou Woody Allen para produzir uma série.
Spacey teve uma carreira brilhante na qual não lhe faltaram papéis memoráveis para o público e prêmios da indústria. E, entretanto, em suas palavras sobre seu último empregador, a Netflix, destacou: “A Netflix é incrivelmente corajosa. Brincaram com a gente. Fomos em diversas redes de tevê e todas disseram ‘gostar do nosso programa, acreditavam que era interessante, mas queriam um piloto’. A Netflix é a única rede de televisão que disse ‘quanto vocês querem’, e dissemos duas temporadas. Vamos para a terceira e pretendemos continuar”.
Desde o começo da época dourada do drama na televisão, com Família Soprano há 15 anos, o número de competidores nesse mercado só aumentou. As empresas que se dedicavam a vender conteúdo em streaming pela internet, Netflix, Amazon, ou Hulu, acabaram entrando na produção de seu próprio conteúdo. As empresas de produção que eram vendidas em plataformas de televisão paga, como a HBO, acabaram por oferecer também seu próprio conteúdo na rede (a empresa irá inaugurar plataforma de streaming esse ano, que poderá ser visto somente com uma conexão de internet), até convergir todos em um grande mercado de produtoras que vendem ficção de primeiro nível diretamente para o espectador, sem intermediários.
“Quando Família Soprano começou e colocou a HBO no mapa, o caminho foi aberto para o que acredito ser a terceira grande geração da era de ouro da televisão”, disse Spacey. “Olho para trás e vejo que não teríamos conseguido fazer o que fizemos se não fosse por um grande grupo de corajosos produtores, programadores e executivos que começaram na HBO, algo que agora acontece em tantas outras redes. Acredito que é absolutamente extraordinário”.
Spacey fez um prognóstico, no domingo, que o crescimento do mercado ainda não terminou, e que “na próxima década” veremos muitos outros competidores, “particularmente empresas que têm bilhões”, produzirem conteúdo próprio para televisão. Os analistas de Hollywood interpretaram que ele se referia a gigantes como a Google, Apple ou Microsoft, que poderemos ver como produtores do próximo fenômeno televisivo. E não será apenas assinando cheques para comprar séries. “Se você quer estar no jogo, precisa competir com conteúdo próprio. Acredito que vamos ver empresas de entretenimento transformarem-se em portais para os produtores. Acho que isso é incrível”.

Por Natalia Marcos, no El País

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Paulinho Pedra Azul - completo

Fábulas de Antônio Carlos: sobre raposas-escorpiões

Sobre Raposas-escorpiões

A Raposa resolveu se dedicar à psique, à alma, ao espírito, à personalidade das pessoas. E o faria através do estudo e da análise do comportamento humano, se debruçando mais amiúde à reconciliação de casais.

Foi estudar nas melhores faculdades brasileiras e, em todos os cursos, defendeu teses homéricas, profundas, que trouxeram verdadeira revolução ao desenvolvimento da ciência.

Concluído o mestrado, doutorado e o pós-doutorado, julgou-se em condições de suceder Deus em poder e glória, e passou a ostentar no nome a alcunha ‘Khristós’.

No campo da psicologia educacional, por exemplo, inovou radicalmente, suprimindo gramática e Camões dos estudos da língua portuguesa e ordenando queimar em praça pública todos os livros de matemática. No lugar de Camões fez inserir, no currículo escolar, a vida do coronel da Cavalaria-Auxiliar dos Campos Gerais Silvério dos Reis, agora elevado à condição de herói nacional. E convenceu a nata dos educadores a substituir matemática por Istudo da Incrusão Suciá que contemplava Participação & Cidadania, Ações afirmativas & Políticas públicas contra as desigualdades raciais, e Perspectivas de gênero & Responsabilidade Social.

Na psicologia industrial adotou princípios e métodos psicológicos relativos ao aumento da produção que passaram pela reestatização da economia e pela criação de uma república sindical irrigada à peleguismo e Whisky escocês 12 anos.

Reinseriu na psicologia social as velhas práticas clientelistas, substituindo o antigo par de botinas por cestas básicas e bolsas-esmolas, oxigenando as relações humanas no tabuleiro comunitário.

A inesgotável bagagem teórica da Raposa, acumulada em décadas de cursos e estudos, não manteve seu nível intelectual muito distante dos ostentados pelos jumentos e porcos do mato, a ponto de Henry Lewis tê-la repreendido em sonhos alegando que a escolada psicóloga “não seria capaz de escrever o nome OTO de trás para a frente”.

Mas nada a demoveu de se dedicar, de corpo e alma, à orientação de casais com problemas conjugais. O problema? Não apareciam pacientes, sequer um, unzinho que fosse. É que toda a vizinhança já sabia – e fazia questão de divulgar- que a consultora sentimental redentora de casamentos destruídos e semi-destroçados andava às turras com os próprios familiares, o marido encarecendo a separação pela enésima vez. De modo que, aparecendo a primeira vítima-freguesa ficou mais feliz do que pinto em restolho de lixo. Tinham em comum a vaidade, o ar esnobe, a empáfia, a ostentação, a ganância desmedida, e o costume de caluniar e apregoar mentiras.

Sem dar tempo sequer para a paciente se apresentar, a Raposa foi logo se adiantando:
- É simples, sem mistérios, sem viés de complexidade científica: seu casamento será restaurado prontamente. – E prosseguiu tomada de autoridade acadêmica: - Basta internalizar na parte mais indevassável e profunda do seu ser que, doravante, sua primeira prioridade será você; e repetir incessantemente que sua segunda prioridade será também você; e apregoar, sem traço de constrangimento ou remorso, que a sua terceira prioridade será, rigorosamente, você.

Como que arrebatadas por um espírito terrífico recém-fugido da escuridão do Tártaro, ambas ecoaram em uníssono:
- O resto é resto.

Então passaram a se elogiar mutuamente, trocando presentes, jurando amizade eterna, urdindo tramas e ciladas contra seus companheiros. A troca de bajulação foi tamanha que esgotaram o vocabulário das línguas conhecidas, exaurindo o repertório de palavras e expressões toscas e chulas. Apesar de Raposas, haviam tomado dos escorpiões o caráter.

E marcaram o reencontro para o mês seguinte.

No dia marcado, decaídas, ostentavam colossais olheiras em função do oceano de lágrimas vertidas, pois que ambas haviam perdido os companheiros. Os respectivos maridos enfadaram-se das raposas-esposas que só conseguiam rastejar do jeito sinistro e traiçoero dos escorpiões. E como eram daqueles senhores de vida e luz que habitam as estrelas, foram ganhar a vida alhures, nas alturas onde só águias e arcanjos arriscam alcançar.

Moral da história: aunque la mona se vista de seda, mona se queda. Mesmo vestida de seda, a macaca será sempre macaca. Os adornos – teóricos e físicos – jamais encobrirão os grandes defeitos, aqueles que se referem ao caráter.

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Morre aos 88 anos Marvin Minsky, pioneiro da inteligência artificial

Cientista e filósofo defendia ideia de que robôs vão superar humanos. Pesquisador criou redes de computação 'neurais', inspiradas na biologia.



O MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) anunciou na noite desta segunda-feira (25) a morte de Marvin Minsky, considerado pela entidade um dos pais da inteligência artificial.
Aos 88 anos de idade, o matemático e cientista da computação havia sofrido uma hemorragia cerebral e morrido no dia anterior no Hospital Brigham and Women’s, de Boston.
"Minsky enxergou o cérebro como uma máquina cujo funcionamento pode ser estudado e replicado em um computador, algo que nos ensinaria, em contrapartida, a compreender melhor o cérebro humano e as funções mentais de alto nível", afirmou um comunicado do instituto.
Após estudar em Harvard e Princeton, duas das universidades mais prestigiadas dos EUA, o matemático começou a trabalhar no MIT em 1958. Ali, criou pela primeira vez mãos robóticas capazes de manipular objetos, criou softwares para simular raciocínio humano e escreveu livros sobre implicações filosóficas da inteligência artificial.
Minsky também foi pioneiro na criação das chamadas "redes neurais", sistemas de processamento inspirados na biologia do cérebro.
Realidade e ficção
“Os desafios que ele definiu ainda estão movendo nossa busca por máquinas inteligentes e inspirando pesquisadores", afirmou Daniela Rus, diretora do laboratório de computação criado por Minsky na instituição.
Minsky foi um dos primeiros pesquisadores da área a defenderem a ideia de que robôs poderiam um dia superar em inteligência os humanos que os criaram, ideia originada na ficção científica.
Seu livro mais influente foi "The Society of Mind" (A Sociedade da Mente), onde defende uma teoria sobre como a inteligência emerge espontaneamente a partir de interações complexas entre elementos separados.

Minsky deixa sua mulher, a médica Gloria Rudisch Minsky, e três filhos.
Do portal G1.com

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A guerra acabou



Um soldado japonês, chamado Hiroo Onoda, lutou por 30 anos, depois que a II Guerra acabou. Ele foi mandado para as Filipinas com a missão de resistir e ficou por lá, sem saber do término do conflito. É quase impossível reproduzir, hoje, a saga de Hiroo Onoda. Mas se olhamos para o Brasil, num período de derrocada da Petrobras e dos próprios preços do petróleo, veremos que o país tem um pouco da persistência do soldado japonês.
Fomos educados a pensar que o petróleo é nossa grande riqueza, constantemente ameaçada pelos estrangeiros. Saímos às ruas, os mais velhos, para defender esse tese e gritávamos orgulhosamente: o petróleo é nosso. Com a descoberta do pré-sal, no governo do PT, reacendeu-se a chama: o petróleo é nossa redenção e dele brotam as fontes dos nossos recursos. No primeiro mandato de Lula, ele flertou com o álcool, planejou usinas de álcool em todo lugar, inclusive em parceria com os americanos. Mas o petróleo era muito forte. O pré-sal fez com que Lula jogasse todos os projetos de álcool para o espaço, lambuzasse as mãos com óleo negro e acariciasse as costas de Dilma, numa célebre foto em que parecia dizer: você é a herdeira e vai nos levar ao paraíso.
Alguns sabiam que não era bem assim. Conheciam a história da doença holandesa, como os países dependentes da produção do petróleo correm o risco de se atrasar. E viam também que recursos não bastam. Os royalties saíam pelo ralo em grandes festas municipais, obras caras e quase inúteis. Os patrióticos soldados do petróleo atacaram na regulação do pré-sal. É preciso não só defender o papel da Petrobras, como afirmar nossa vocação nacionalista: a empresa era obrigada a participar de todos os projetos na área do pré-sal.
A alternativa era dar à Petrobras a preferência. Onde quisesse, participaria; onde não quisesse, descartaria. A preferência era inclusive evitar as canoas furadas. Mas não soava tão nacionalista, tão apaixonada. O populismo de esquerda queria se apresentar como o grande defensor da Petrobras. Seus adversários do PSDB não tinham como contestá-lo, na verdade entraram na onda, com medo de perder votos. Enquanto o petróleo seguia seu destino de commodity, subindo e descendo no mercado, acossado pelos perigos do aquecimento global, nossos soldados continuavam a luta para protegê-lo da ambição estrangeira, imperialista, alienígena, enfim, o adjetivo dependia do estilo pessoal do orador.
O soldado japonês ficou 30 anos lutando numa guerra por disciplina e amor ao seu país. Quem o mandou para as Filipinas disse: fique lá até que determinemos sua volta. Os soldados brasileiros do petróleo amam o Brasil de uma forma diferente do japonês. Eles se identificam tanto com o país que, ao afirmarem que o petróleo é nosso, querem dizer que o petróleo é deles. Essa confusão entre soldado e pátria, partido e país, acabou inspirando a maior roubalheira da história do Brasil: o petrolão. O governo japonês garantiu um salário digno para o soldado Hiroo Onoda até o fim de sua vida. O brasileiro terá de garantir uma longa prisão para seus retardatários guerreiros. A última grande batalha aconteceu nas ruas do Rio, quando já se sabia do escândalo da Petrobras. Comandado por Lula, um pequeno pelotão desfilou pelas ruas defendendo a grande empresa dos seus inimigos internos e externos.
Assim como Lula, usavam macacões da cor laranja. Se fosse nos Estados Unidos, pareceriam candidatos à prisão, pois já estavam vestidos com a cor certa. O laranja é a cor do uniforme dos presidiários lá e inspirou o título de uma série sobre a cadeia: “Orange is the new black”. Mas se prendêssemos todos ali, poderíamos cometer injustiças. Nem todos saquearam a Petrobras. Alguns, talvez a minoria, simplesmente, não sabem que a guerra acabou e continuam acreditando que os americanos querem nosso petróleo e que o mundo inteiro se tensiona para nos explorar. Não sabem como os americanos avançaram na exploração do xisto, ignoram os investimentos alemães e chineses na energia solar, não dimensionam um conflito muito mais importante para o petróleo: o da Arábia Saudita e Irã, sunitas versus xiitas.
Assim como o japonês que não sabia do fim da guerra, nossos soldados talvez tenham ignorado um outro marco da história contemporânea: a queda do Muro de Berlim. Seguem de cabeça erguida rumo ao socialismo do século XXI, simplesmente como se o século anterior não tivesse existido. Em vez de fazer uma luta armada para implantar seu modelo, optaram por uma sinistra marcha pelas instituições, dominando-as progressivamente, até que sejam apenas um brinquedo na mão do partido e seu líder. Essa novidade também foi para o museu, com a crise na Venezuela, a derrota na Argentina. O Brasil não é um país muito rápido para apreender as mudanças, a ponto de prender os líderes saqueadores e mandar os iludidos soldados cuidarem de sua vida.
Pelo menos já compreendeu o ridículo de expor as mãos tintas pelo petróleo, de acreditar que nosso futuro depende apenas dele, de se divertir gastando royalties em incontáveis shows musicais nas cidades do interior. A guerra acabou. Hoje a ação da Petrobras vale menos que um coco na praia. E as reservas do pré-sal que nos trariam fortunas mirabolantes tornam-se econômicamente inviáveis com o petróleo a US$ 30 o barril. O exército laranja e seu general com mãos sujas de óleo deveriam sair das trincheiras. Perderam. O pior é que fizeram o Brasil perder muito mais, com suas ilusões, erros e crimes.
Por Fernando Gabeira, em O Globo

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Disputa de território entre índios no AM alimenta tensão, diz antropólogo

Indígenas das etnias Matis e Korubos já morreram em briga por território. 

Grupos dividem terra indígena no Vale do Javari, sudoeste do Amazonas.


Do portal G1
É dentro da terra indígena do Vale do Javari, a sudoeste do Amazonas, que índios das etnias Korubo e Matis têm protagonizado cenas de disputas por terras, mortes e muita tensão. A luta por território é apontada por estudiosos como a principal causa de confrontos. Há quase duas semanas, um grupo ocupa a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) para pedir segurança.
O antropólogo Neon Solimões, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), afirma que há divergências culturais entre os próprios índios e que a falta de conhecimento sobre as leis dos indígenas pode ter agravado a situação na região.

São 8.544.482 hectares que se estendem aos municípios de Atalaia do NorteBenjamin ConstantJutaí e São Paulo de Olivença. No espaço homologado pela União em 2001, vivem povos de seis etnias, que se tem notícia. Contudo, a relação principalmente entre indivíduos  Matis e Korubo não é das mais amigáveis.
As diferenças entre as duas etnias vieram a tona na terça-feira (19), quando um grupo de Matis – indígenas já contatados - invadiu o prédio da Funai, no município de Atalaia do Norte, a 1139 km de Manaus. Com arcos e flechas, eles retiraram à força funcionários e o coordenador do órgão na região, Bruno Pereira.

O grupo, que permanece acampado na Funai, pede por mais segurança nas aldeias Matis. Eles temem novos conflitos com grupos isolados de Korubos.

Em novembro 2014, dois Matis morreram durante contato com Korubos isolados, no rio Coari, na aldeia matis Todowak. Em resposta, 15 indígenas da etnia Korubo teriam sido assassinados em outro encontro, em setembro de 2015. A Funai afirma que ainda investiga o caso.

Para o antropólogo Neon Solimões, o conflito entre os dois povos pode ser explicado em duas palavras: disputa territorial. "Essa perspectiva de território para a questão indígena tem o significado diferente do nosso. Conheço a área, os Matis dizem que a terra é só deles. Em contrapartida, esta é uma área que anteriormente era dos Korubos. Eles já andavam naquela área, por isto este conflito. Quando um entra na casa do outro, o outro não aceita e vai matar. É basicamente isso", explicou.

O antropólogo informou que o povo Matis foi contatado na década de 80 e, possui três aldeias, duas no rio Branco e uma no rio Coari. Já os Korubos – conhecidos como caceteiros - são isolados e pouco se conhece deles. "A Funai tem fotos de helicóptero ou satélite. São várias malocas, é um povo bastante populoso (os Korubos), mas muito dividido em vários pontos da terra indígena nesta área", apontou.

Solimões explicou que ao longo da história de ocupação e exploração do Amazonas, o povo Korubo sofreu inúmeras baixas. "Os Korubos já tiveram vários massacres na época da borracha. Foram quase exterminados por conta do extrativismo. Hoje não só o índio, mas o branco invade as terras deles", afirmou.
Mapa Atalia do Norte (Foto: Arte G1)
Além da disputa por espaço, o confronto também se dá por conta da diferença cultural. "Os Korubos já sofreram demais. Não só pelos brancos, mas pelos próprios indígenas, Matis, Marubos, Kanamaris que mataram eles. A gente não tem notícia oficial, mas quando eu andava pelas aldeias, eles (índios de outras etnias) contavam que matavam, que 'eram tipo índio do mato e matavam mesmo'. Para ver que essa relação é assimétrica, não é igual. Tem diferença tanto de branco para índio, mas de índio para índio tem essa diferença também. A diversidade é bastante ampla", analisou Solimões.

Diálogo
Para conter a "guerra tribal", o estudioso apontou para a necessidade do diálogo. "É preciso ouvir o que eles querem, sentar e falar a verdade, o que está acontecendo. A gente tem as nossas leis, eles também têm as leis deles. As vezes, as nossas leis entram de encontro com as leis deles, ou vice-versa", afirmou.

Ele apontou que a burocracia do homem branco e o desconhecimento do "modus operandi", pode ter contribuído para o agravamento da situação no município. "Se os índios solicitam uma coisa, querem que seja realizado o mais rápido possível. E no nosso mundo de branco, as coisas têm certa burocracia, uns tramites legais que protelam algumas demandas deles. Acho que as coisas estão andando, mas não da maneira deles. E sim na nossa maneira, na nossa burocracia", analisou.
Matis e ocupação
A ocupação do prédio da Funai em Atalaia do Norte completa seis dias nesta segunda-feira (25). São 130 ocupantes, sendo 62 índios da etnia Matís e o restante Morubo e Mayoruna.

Ao G1, o membro da Associação Indígena Matís (AIMA) e a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), Marcelo Aíma, informou que os indígenas reclamam de omissão da Funai em relação a conflitos entre o povo Matís e grupos isolados da etnia Korubo.

"Pedimos a saída do Bruno e o cumprimento de promessas feitas aos indígenas que nunca aconteceram. O Bruno não respeitou o povo Matís e não atendia o povo. Não dialogava com nosso povo", disse. Os indígenas chegaram a divulgar carta aberta com reivindicações e denúncia das fragilidades da política indigenista na região, de acordo com ele.

Matança em investigação
Após a morte de dois Matis em 2014, especula-se que mais Korubos tenham sido assassinados em setembro de 2015. Contudo, a Funai informou que ainda não tem informações precisas sobre essas mortes, que estão em investigação. 

Á época, um grupo de indígenas Matis realizou contato com 21 indivíduos da etnia Korubo. O confronto teria ocorrido durante este encontro, quando os Korubos atravessavam o rio Branco, em área próxima às aldeias Matis, na Terra Indígena Vale do Javari (AM).

Segundo a Funai, os Matis realizaram contato ao se sentirem ameaçados com a presença dos isolados em áreas próximas à sua aldeia. Assim que foram comunicados da situação, agentes da Funai colocaram em ação um Plano de Contingência para situações de contato com grupos isolados.
Funai
Em nota, a Funai manifestou surpresa com relação à ocupação da sede em Atalaia do Norte, uma vez que vem mantendo um diálogo aberto com os Matis. E informou que não haverá mudança do titular da Coordenação Regional do Vale do Javari, diante da situação de ocupação da coordenação.

O órgão informou que após o conflito que terminou com a morte de dois Matis em 2014, atuou no sentido de apoiar o deslocamento dos Matis da aldeia Todowak, localizada no rio Coari, para outra aldeia matis no rio Branco, a aldeia Tawaya, a fim de garantir a segurança de ambos os grupos e evitar novos confrontos.

A Funai informou ainda que foi realizada uma reunião com os Matis, em fevereiro de 2015, com o objetivo de acordar condutas para evitar novas confrontações. Os Matis deixaram clara sua visão de que a Funai deveria realizar o contato com os Korubo isolados.
No entanto, a Funai disse compreender que a opção de se estabelecer o contato não pode ser definida por uma visão unilateral. "A própria reação violenta dos Korubos frente aos Matis, no episódio de 2014, sinaliza, por parte dos isolados, uma rejeição quanto a uma aproximação de outros grupos ao seu território", diz.

A Fundação diz ainda que a política para os povos indígenas isolados respeita a vontade de isolamento dos povos nessa situação, uma vez que a Constituição de 1988 reconhece a organização social, os costumes, as línguas, as tradições, ou seja as diferenças culturais dos povos indígenas, assegurando-lhes o direito de manter sua cultura, identidade e modo de ser. Dessa forma, a Funai afirma entender que é dever do Estado brasileiro garantir a sua proteção e o respeito ao seu isolamento voluntário.

"A Funai acredita no diálogo como meio de encontrar soluções pacíficas para a questão. Nesse sentido, em dezembro de 2015, o presidente João Pedro, o diretor de Proteção Territorial da Funai, Walter Coutinho Júnior, e o Coordenador Geral de Índios Isolados e Recém Contados, Carlos Travassos, estiveram reunidos com um grupo de lideranças Matis, em Brasília, que participaram da 1ª Conferência Nacional de Política Indigenista. Na ocasião, todos os presentes reconheceram a importância de dialogar para se chegar a um entendimento sobre a situação na região. Foi acertado, atendendo a um pedido dos Matis e outros povos do Vale do Javari, uma agenda do presidente e demais representantes da Funai na região, prevista para acontecer em fevereiro próximo, a fim de se estabelecer ações prioritárias, concluir as conversações iniciadas em Brasília e definir encaminhamentos a serem adotados", disse por meio de nota.
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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Oscar anuncia reformas após críticas de racismo

Após duras acusações devido à nomeação exclusivamente de atores brancos para concorrer às estatuetas deste ano, Academia de Cinema pretende incluir mais mulheres e minorias em Hollywood.
A associação responsável pela escolha do Oscar quer garantir mais diversidade no grêmio por meio de novas regras de filiação. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em Hollywood anunciou medidas "históricas" para acomodar mais mulheres e membros de minorias em seus quadros.
A Academia de Hollywood anunciou nesta sexta-feira (22/01), em Los Angeles, que sua diretoria aprovou novas regras com o objetivo de dobrar o número de mulheres e minorias até 2020.
O atual direito de voto perpétuo vai ser limitado a dez anos. Um prolongamento será possível apenas se o membro continuar ativo na indústria cinematográfica. Além disso, a Academia informou que "irá tomar medidas imediatas para aumentar a diversidade" em sua diretoria, adicionando três novos assentos para mulheres e minorias que já não pertençam ao conselho de governadores da associação.
O presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs, que é afro-americano e sofreu duras críticas pelas nomeações deste ano, declarou: "As novas regras relativas à governança e votação terão impacto imediato e darão início ao processo de mudança significativa de nossa composição".
Composto de 51 membros, o Conselho de Governadores da Academia de Cinema de Hollywood havia aprovado as reformas já na última quinta-feira.
Homens brancos e idosos
De acordo com relatos da mídia, dos mais de 7 mil membros da Academia responsáveis pelas nomeações e, posteriormente, pelas premiações do Oscar, 94% seriam brancos e 77%, do sexo masculino. Segundo as reportagens, a média de idade é superior a 60 anos.
Com o anúncio de reformas, a Academia reage às crescentes críticas relativas a não nomeação, mais uma vez, de atores negros para concorrer ao Oscar. Pela segunda vez consecutiva, os eleitores da Academia de Cinema esqueceram completamente de incluir afro-americanos para as principais categorias de atuação do principal prêmio cinematográfico do mundo.
Atores negros famosos, como Will Smith, já declararam que vão boicotar a cerimônia de premiação do Oscar. Também renomados artistas brancos, como George Clooney, criticaram as práticas da Academia. Segundo o vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante de 2006, latinos e mulheres também seriam afetados por tais práticas de escolha.
Há dez anos, explicou Clooney, havia mais nomeações de negros, como para Don Cheadle e Morgan Freeman. "Caminhamos na direção errada", afirmou Clooney à revista especializada Variety. "Temos que melhorar, já fomos melhores", disse o ator.
A entrega das estatuetas deste ano acontecerá no próximo dia 28 de fevereiro em Los Angeles. O apresentador da cerimônia do Oscar 2016 será o humorista negro americano Chris Rock.
Da Deutsche Welle
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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Albert Hammond Jr. nega rumor de volta do Strokes e foca shows solo


Ao G1, guitarrista desmente que banda tenha voltado a gravar: Sem planos.
Ele fala de shows no Lollapalooza SP e em Paris após ataques: 'Chocante'.


Albert Hammond Jr. toca no Lollapalooza 2016, em São Paulo (Foto: Divulgação / Jason McDonald)

Sons de panelas, pratos e torneira embalaram a conversa de Albert Hammond Jr. com o G1 por telefone. Enquanto lidava com a louça em casa, em Nova York, o guitarrista dos Strokes, falou sobre a expectativa para o primeiro show solo no Brasil, em março, no Lollapalooza de São Paulo. Ele foca a carreira solo. O guitarrista negou que os Strokes estejam gravando um novo disco, como foi noticiado recentemente pela imprensa estrangeira. 

O vocalista Julian Casablancas disse durante show nos EUA em novembro que a banda estava gravando e voltaria "em breve". Duas semanas depois, eles foram fotografados em estúdio no México, onde fizeram um show. Na foto, no Instagramda diretora do estúdio, estão os quatro outros integrantes, exceto Albert. "Só estávamos ensaiando para os shows. Não sei porque venderam isso como se estivéssemos 'em estúdio' [gravando material novo]",  minimiza. 
"Meu quarto disco solo está mais planejado do que o próximo dos Strokes", diz o músico que lançou o terceiro, "Momentary masters", há menos de seis meses. Em julho deste ano, oguitarrista já havia negado ao G1 um rumor anterior de volta dos Strokes.
Ele também falou sobre o repertório previsto para o Lolla - dica: não espere músicas da banda - e sobre a turnê europeia recente. Albert tocava em Nantes, na França, no dia dos ataques em Paris, e seguiu na Europa no período mais tenso após as mortes no Bataclan.
Outro momento perigoso - mas este com final muito mais feliz - foi uma tentativa de assalto na Suécia. O músico enfrentou os assaltantes e levou a melhor. O episódio foi registrado em vídeo e publicado no YouTube (veja).

Vídeo mostra Albert Hammond Jr. reagindo a assalto e pegando carteira de volta na Suécia (Foto: Reprodução / YouTube)

G1 – É impressionante aquele vídeo em que você pega os assaltantes em um hotel. Onde aconteceu isso?

Albert Hammond Jr. - Eu estava em um hotel em Estocolmo, na Suécia, fazendo o check-in para o último dia da turnê na Europa. Depois, soubemos que isso acontecia muito naquele hotel, por isso colocaram uma câmera no lugar. Um dos caras não foi pego. Haviam três, e davam um golpe profissional. Um deles te bloqueia, o outro te desorienta e o terceiro rouba. Eu tive sorte de ter visto o cara que pegou a carteira da minha mulher, que era vermelha. Isso fez minha cabeça funcionar mais rápido. Se fosse preta, eu demoraria um pouco mais para perceber. Foi sorte. Aí atacamos e pegamos as coisas de volta.

G1 – Quando você lançou “Momentary masters”, disse que o disco marcava um bom momento na sua vida. A primeira parte da turnê na Europa confirmou isso?

Albert Hammond Jr. - Ah, sim. Foi a melhor turnê que eu já fiz. Foi longa e difícil, mas divertida. Não tinha dias de folga, e se tinha dia livre era para viajar. Senti que fomos ficando mais afiados, mesmo com o cansaço das viagens. Estamos tocando melhor. (A conversa é interrompida por barulhos de panelas e pratos batendo).

G1 – Você está comendo agora? Onde está?

Albert Hammond Jr. - Não, agora estou só aqui pegando as louças (risos). Estou em casa em Nova York.



G1 – Ok, sobre o Brasil, agora. Seus shows tiveram muito do 'Momentary masters', mas dos outros solo também. Em um festival grande como o Lolla, fará o mesmo?

Albert Hammond Jr. - Não sei quanto tempo vou ter. Espero que pelo menos uma hora. Mas sim, vão ter muitas músicas do novo disco e de cada um dos outros discos solo, incluindo o EP. Sinto que essa turnê tem não só atraído novos fãs, mas consolidado os antigos. As pessoas não me enxergam mais como uma surpresa, como alguém fazendo um trabalho paralelo, sabe?

G1 – Você geralmente toca um cover do Guided By Voices. Acha que aqui no Brasil vão pedir outra coisa, Strokes?

Albert Hammond Jr. - Para falar a verdade, as pessoas não ficam pedindo muito. Às vezes, quando pedem, acho que é só para chamar minha atenção. Eles querem falar qualquer coisa comigo, e acabam pedindo Strokes só para ter o que falar. Mas eu gravei músicas solo o suficiente para você saber que vai ao meu show para ouvir as minhas músicas. Não me preocupo com isso.

G1 – Como foram as sessões de gravação do Strokes no México?

Albert Hammond Jr. - Não, aquilo foi só um ensaio, não era gravação.

G1 – Mas você está mais otimista em relação a um novo disco da banda do que estava no meio desse ano?

Albert Hammond Jr. - Continuo sem ideia de quando as coisas vão acontecer. Strokes não é uma banda que planeja as coisas muito bem. Eu tenho meu quarto álbum mais bem planejado do que um disco dos Strokes até agora. Só estávamos ensaiando para os shows. Tivemos meio dia livre e ensaiamos. Não sei porque eles venderam como se estivéssemos “em estúdio”. Digo, era um estúdio de gravação, mas era só um lugar legal para ensaiar.



G1 – Voltando à sua turnê, vi que você estava em Nantes, na França, no dia dos ataques em Paris.

Albert Hammond Jr. - Foi terrível, nós descemos do palco e minha mulher me contou o que aconteceu. Acho que todo mundo da plateia estava descobrindo também enquanto saíam. Eu já excursionei com os Eagles of Death Metal. Foi muito chocante acontecer uma coisa dessas em um ambiente como um show. Nunca achei que estaria tão perto de algo assim. Eu senti uma coisa estranha durante muito tempo.

G1 – E você tocou no outro dia na França, certo? Como foi?

Albert Hammond Jr. - Sim, e também toquei em Paris e em Bruxelas uns dez dias depois. Acho que fiz, na verdade, o primeiro show em Bruxelas após os ataques, porque tinham fechado a cidade. As pessoas estavam animadas, havia um sentimento comum...  Acho que o entretenimento ganhou um significado mais rico. Só estar lá tocando já era muito especial. Compartilhar as coisas e tentar superar, se curar do que aconteceu. E tentar descobrir juntos um jeito de continuar, seguir vivendo.

G1 – Você sabia que os Eagles vão tocar no Lollapalooza em São Paulo também?

Albert Hammond Jr. - Eles abriram shows dos Strokes em 2006. Eu os conheço todos, mas não vejo há muito tempo. Espero vê-los no aí, então.


Por Rodrigo Ortega, no portal G1