Brasileiros que foram aprovados em cursos de
graduação e pós-graduação em algumas das melhores universidades do mundo são
impedidos de viajar para o início das aulasQuando soube, no início deste ano,
que foi aprovado para fazer faculdade na Universidade Stanford, uma das três
melhores dos Estados Unidos, com uma bolsa generosa, o paulista Guilherme David
fez planos animados para sua mudança em setembro. Jamais imaginou que poderia
começar sua vida universitária no exterior sem arredar pé da casa onde sempre
viveu com os pais, em Cubatão, no interior de São Paulo. Assim como David, um
grande número de estudantes brasileiros está vendo a pandemia do novo
coronavírus atrasar o sonho de uma vida no exterior a partir do início do ano
letivo, que começa no segundo semestre. Brasileiros estão momentaneamente
proibidos de entrar nos Estados Unidos por causa da pandemia. E, mesmo que não
houvesse a restrição, David teria poucas aulas presenciais.
Tradicionalmente, instituições de ensino oferecem a oportunidade de adiamento
da entrada na universidade por até um ano, sem ônus. Mas, como o fim da
pandemia não tem data marcada, essa possibilidade também gera insegurança.
“Acho que passar mais um ano sem planos sólidos de estudos ou trabalho não
me faria bem. Por isso, vou cursar da maneira que eles permitirem”, disse
Cecília Conde, de 18 anos, que estudará ciências de dados em Stanford a partir
de setembro sem sair do Rio de Janeiro.
Muitos dos brasileiros que já estudavam fora e tiveram de retornar para casa
agora estão pensando como será a volta aos países onde estavam. É o caso de
Giovanna Bressan, de 19 anos, que cursa comunicação na Universidade Erasmus, em
Rotterdam, na Holanda. “Fui para a Europa estudar em 2019 e agora estou
passando meses da minha formação em meu país natal. Minha educação não está
sendo afetada, pois o ensino remoto da minha universidade é ótimo. Mas as
vivências que eu teria, em termos de cultura e aprendizados de morar fora,
estão suspensas”, contou a estudante, que está procurando voos para tentar
retomar os estudos na Europa.
Como se a pandemia não fosse um problema grande o suficiente, os alunos
brasileiros de universidades estrangeiras ainda precisam se preocupar com a
alta do dólar e do euro. “O real desvalorizado preocupa muito minha família.
Estou buscando jeitos de reduzir os custos do próximo semestre ao máximo. O
reembolso de parte do plano de alimentação e moradia deste semestre ajudarão a
bancar o próximo”, contou Clara Zioli, paulistana que estuda temas humanitários
no Grinnell College, faculdade com cerca de 1.600 alunos no estado de Iowa.
Zioli estava nos Estados Unidos e tinha a oportunidade de permanecer no campus
ou voltar para casa. Por precaução, tinha decidido ficar. Mas, quando o número
de voos para o Brasil caiu drasticamente em março, ela acabou repensando sua
decisão e resolveu voltar.
A lembrança da confusão causada pela pandemia não é boa para muitos daqueles
que já estavam no exterior e retornaram ao Brasil. Ana Caroline Bohn, estudante
de medicina na Universidade do Oeste de Santa Catarina, embarcou em janeiro
para realizar um semestre na Universidad Autónoma de Chihuahua, no México. Com
o agravamento da situação, foi orientada a viajar para casa, o que não era uma
tarefa fácil com o cancelamento diário de voos. Enquanto o desespero crescia, o
dinheiro diminuía. “Depois de muito insistir com o consulado brasileiro e ir
para a mídia pedir ajuda, saiu um voo fretado e, por sorte, estive nele”,
contou Bohn, que chegou ao Brasil em abril e não pretende viajar para o México
para completar o período de seis meses.
Nos Estados Unidos, muitas universidades foram criticadas pela maneira como
gerenciaram a crise. Harvard, que não terá aulas presenciais na maioria das
faculdades no segundo semestre, ofereceu um prazo de cinco dias em março para
que os alunos da graduação saíssem do campus. “Não foi oferecido a estes alunos
o tempo, recursos ou apoio necessários para cumprir a exigência”, escreveram os
estudantes numa carta aberta à universidade, na qual descreveram a situação
como “caótica” e compararam a medida a uma “carta de despejo”.
Nas universidades Princeton, na Costa Leste americana, e Stanford, na Costa
Oeste, alunos também endereçaram cartas à administração exigindo maior apoio
financeiro durante a crise. Stanford atendeu ao pedido, mas os prejuízos com a
pandemia para a universidade já somam US$ 267 milhões.
Em mensagem para os alunos sobre seu futuro financeiro, a instituição divulgou
que congelou salários, contratações e novos projetos. Para 2021, a previsão é
que a situação financeira seja “tão ruim quanto ou pior”, disse o comunicado.
Unidades foram orientadas a planejar orçamento para o próximo ano 25% menor do
que o atual e programas acadêmicos reduzirão o número de alunos e funcionários.
Um pacote de demissões será anunciado no final de julho.
A insegurança sobre o futuro contagiou também quem está se preparando para
participar do processo de seleção de universidades no exterior. Espécie de Enem
americano, o SAT deixou de ser obrigatório para a maioria das universidades de
elite. Cartas de recomendação, atividades extracurriculares e notas no colégio
continuarão sendo levadas em conta. “É absolutamente imprevisível saber como
será a admissão neste ano. Sem o SAT, a escolha fica muito mais subjetiva. Será
interessante ver também se afetará o número de inscritos”, previu Patrícia Cas
Monteiro, consultora especializada em processos de seleção.
A pandemia impactou até os intercâmbios de curta ou média duração. Segundo
Neila Chammas, diretora de relações institucionais da Associação Brasileira de
Agências de Intercâmbio, as vendas diminuíram e os pedidos de remarcação
explodiram. O consolo é que os cancelamentos mantiveram-se na faixa de 3% dos
pacotes contratados. Ao que parece, os planos foram apenas adiados.
“Desgostosos com a política e a economia no Brasil, muitos clientes, que já
pensavam em sair do país, estão enxergando que terão mesmo de apostar nesse
projeto”, disse Chammas.
Por Suzana Correa, na Revista
Época
-----------
|
Para saber mais sobre o livro, clique aqui.
Teatro completo
|
Para saber sobre o livro, clique aqui.
|
|
Para saber sobre o livro, clique aqui. |
|
Para saber sobre o livro, clique aqui. |
|
Para saber sobre o livro, clique aqui.
|
|
Para saber sobre o livro, clique aqui.
|
|
|
Coleção Educação e Folclore com 10 livros, saiba aqui. |
|
Coleção Educação e Democracia com 4 livros, saiba aqui. |
|
Coleção Educação e História com 4 livros, saiba mais. |