domingo, 19 de julho de 2020

ESPECIAL MOBILIDADE E LOGÍSTICA - O futuro do trabalho é remoto


Tendência antes da pandemia, o teletrabalho é adotado às pressas durante a quarentena, cai no gosto de funcionários e de empresas e pode se tornar definitivo. Especialista alerta sobre os cuidados necessários. Os avanços de tecnologias que permitem ao trabalhador ser pontual e produtivo onde quer que esteja já eram uma realidade antes da pandemia. As mudanças de comportamento exigidas pelo isolamento social só aceleraram a concretização de uma tendência no dia a dia das empresas e de seus colaboradores: o trabalho remoto. Seja pela surpresa com o aumento da produtividade, pela economia ou pela praticidade, o fato é que muitas organizações já preparam a implantação desse modelo a partir de 2021. O estudo Tendências de Marketing e Tecnologia 2020: Humanidade Redefinida e os Novos Negócios, do Infobase e Institute For Technology, Enterpreneurship and Culture, prevê crescimento de 30% no modelo home office no Brasil após a quarentena. Já a pesquisa Covid19-Home Office -Trabalho Remoto, realizada pela escola de negócios Fundação Dom Cabral, mostra que mais de 54% dos 669 colaboradores têm a intenção de propor ao gestor a possibilidade de continuar trabalhando em casa.

A imobiliária digital QuintoAndar, por exemplo, criada com o objetivo de usar a tecnologia para desburocratizar o setor, vai permitir aos seus 1 mil colaboradores diretos optarem pelo formato a partir do ano que vem. “Percebemos que é possível melhorar o nível de eficiência e satisfação do time, mesmo a distância”, diz o cofundador e CEO Gabriel Braga. A empresa implantou o home office em 13 de março e acaba de anunciar a prorrogação até dezembro, mesmo em caso de flexibilização ou encerramento da quarentena no País. Segundo Erica Jannini, diretora de pessoas da startup, as estratégias para adoção do trabalho remoto permanente seguem em discussão entre os líderes. “Após a análise das dinâmicas, da cultura e dos resultados de cada time, a ideia é que, até o final de setembro, a gente já tenha o formato no qual cada um vai operar”, afirma. O Banco BMG adotou medida semelhante. Prorrogou o home office até o fim do ano e, a partir de janeiro de 2021, planeja esquema híbrido de serviço que abrangerá tanto a presença física no escritório quanto em atividade remota. “Temos de levar em conta as necessidades dos funcionários. Alguns preferem trabalhar um, dois ou três dias de casa. Outros querem comparecer todos os dias na empresa”, diz a presidente do BMG, Ana Karina Bortoni Dias.

REGRAS Para oficializar a implantação dessa forma de trabalho, as empresas terão de se adaptar à legislação. O advogado Luiz Eduardo de Mendonça, mestre em direito do trabalho e sócio da FAS Advogados, diz ser importante para as organizações entenderem a diferença e definirem se irão adotar o sistema de home office ou de teletrabalho. Até mesmo para eventuais ajustes em contrato. Segundo o especialista, o home office é realizado remotamente na residência do empregado e sem a obrigatoriedade do uso da tecnologia. Diferentemente do teletrabalho, esse modelo não é previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e, portanto, segue as mesmas normas trabalhistas que se aplicam aos profissionais que atuam na empresa. Ou seja, existe o controle de jornada e, se necessário, o pagamento de hora extra. “Já o teletrabalho, previsto na CLT, é toda e qualquer atividade que utilize a tecnologia da informação e comunicação, prestada, preponderantemente, fora das dependências da empresa, por exemplo em um co-working”, explica.

Para essa modalidade, há um mútuo acordo entre as partes e flexibilidade de jornada, além de o trabalhador não ter direito ao recebimento de horas extras. “Para a empresa, neste caso, pouco importa o horário em que está sendo desenvolvido o trabalho”, diz Mendonça. Ele afirma que as companhias precisam adotar uma série de outros cuidados para dar suporte ao colaborador no desempenho de suas funções. Inicialmente, deve haver a concordância do funcionário e do empregador para a realização das atividades fora da empresa. Os gestores devem, ainda, oferecer estrutura física para a realização dos serviços, definir uma política de comunicação adequada e atendimento integrado ao cliente para evitar desencontro de informações e garantir a segurança digital com políticas claras, para impedir o vazamento de informações. “O ideal é que as normas para a atividade remota sejam colocadas em contrato”, destaca.

Para ajudar as companhias a avaliar todas as implicações do home office e apoiá-las nesse processo de transformação, a InstantSolutions, empresa especializada no desenvolvimento de soluções de comunicação corporativa, pesquisou o impacto da pandemia durante o teletrabalho, especialmente no que diz respeito às formas de contato das organizações com colaboradores e clientes. De acordo com o estudo, realizado com 500 empresas da base de clientes da InstantSolutions, houve um aumento de 10% para 25% na procura por serviços de autoatendimento que acelerem as respostas sem a necessidade de interação com uma pessoa, como as soluções de Unidade de Resposta Audível (URA), Chatbot e Automatic Speech Recognition (ASR). Já 98% dos ramais instalados dentro das empresas agora são remotos e acessados no smartphone do colaborador ou via VPN (siga em inglês para Rede Privada Virtual) nos computadores dos usuários. Diante disso, houve um crescimento de 1000% na demanda por ramais remotos em smartphones ou softphones (aplicativos para chamadas telefônicas que podem ser instalados em PCs, laptops e tablets).

 

Por Angelo Verotti, na Revista Isto É Dinheiro  





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