Agência divulgou lista com
os títulos rejeitados, mas não explicou motivos, alegando ‘sigilo de
informações'. Mais de 4 mil produções ainda estão à espera de análise,
obrigando produtores a manter documentação por anos a fio
A Agência Nacional do Cinema (Ancine) divulgou
ontem, no fim do dia, uma lista com as mais de quatro mil produções audiovisuais
que ainda não tiveram suas prestações de contas analisadas pelo órgão. A
relação inclui histórias levadas aos cinemas há mais de 15 anos, como os
sucessos “2 filhos de Francisco” (2005) e “Lisbela e o prisioneiro” (2003), que
aguardam análise até hoje. Filmes de cineastas que já morreram também estão na
lista, caso de “Brasília 18%” (2006), de Nelson Pereira dos Santos
(1928-2018), e “Garotas do ABC” (2003), de Carlos Reichenbach (1945-2012). No
mesmo comunicado, a Ancine divulgou o resultado das prestações de contas de 168
produções que estavam pendentes. E reprovou 102 delas — 60,7% do total
analisado. Mas não explicou os motivos. As contas de outros dez projetos foram
aprovadas e 56 foram aprovadas com ressalvas.Entre os projetos que não passaram
pelo crivo da Ancine estão longas e séries como “A máquina” e “Xuxa Gêmeas”,
ambos de 2006 e produzidos pela Diler Associados; “Era uma vez...” (2008,
Conspiração Filmes); e a série “Um menino muito maluquinho” (2006), produzida
pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp).
Segundo nota divulgada pela agência, a relação foi elaborada em atendimento à
demanda do Tribunal de Contas da União (TCU). Foi a primeira vez que
o órgão divulgou a lista com as prestações de contas pendentes. Na nota, o
secretário Especial da Cultura, Mario Frias, diz que o passivo de quatro mil
projetos deve ser encerrado em quatro anos, quando a previsão anterior era de
20 anos.O texto ressalta ainda que a lista é resultado da criação da
Superintendência de Prestação de Contas, em março deste ano, e da nova
metodologia para a análise das contas dos projetos. Desde 2018, a Ancine vinha
sendo cobrada pelo TCU para que fizesse a análise integral de todos
os projetos financiados, já que antes o processo era realizado por amostragem.
A agência também informou que irá “atualizar periodicamente a evolução do
passivo de projetos em fase de prestações de contas, de acordo com o envio dos
relatórios de acompanhamento bimestrais ao TCU”. Questionada se seriam
divulgadas as justificativas para a reprovação das análises, a Ancine respondeu
que não pode se pronunciar pelas contas reprovadas “por questões de sigilo de
informação”. Ainda assim, os nomes de todos os projetos com contas reprovadas
foram divulgados, ao lado dos nomes das produtoras e dos valores contratados.
A reportagem tentou entrar em contato com alguns dos produtores que tiveram
suas contas reprovadas. A Acerp informou, por meio de sua assessoria, que “a
atual diretoria da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto assumiu
há pouco mais de um ano. Apesar de ser uma produção de 14 anos atrás, vai
averiguar e tem todo o interesse em resolver a situação”. Outros produtores não
quiseram falar por ainda não saberem o que está sendo questionado pela Ancine.
Há anos o setor se queixa de ser obrigado a guardar toda a documentação de
todos os projetos realizados à espera da análise da agência, sem previsão
alguma de quando os processos serão concluídos.
Por Nelson Gobbi, em O
Globo
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