quinta-feira, 23 de julho de 2020

Ancine reprova contas de filmes feitos há 15 anos


Agência divulgou lista com os títulos rejeitados, mas não explicou motivos, alegando ‘sigilo de informações'. Mais de 4 mil produções ainda estão à espera de análise, obrigando produtores a manter documentação por anos a fio

A Agência Nacional do Cinema (Ancine) divulgou ontem, no fim do dia, uma lista com as mais de quatro mil produções audiovisuais que ainda não tiveram suas prestações de contas analisadas pelo órgão. A relação inclui histórias levadas aos cinemas há mais de 15 anos, como os sucessos “2 filhos de Francisco” (2005) e “Lisbela e o prisioneiro” (2003), que aguardam análise até hoje. Filmes de cineastas que já morreram também estão na lista, caso de “Brasília 18%” (2006), de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), e “Garotas do ABC” (2003), de Carlos Reichenbach (1945-2012). No mesmo comunicado, a Ancine divulgou o resultado das prestações de contas de 168 produções que estavam pendentes. E reprovou 102 delas — 60,7% do total analisado. Mas não explicou os motivos. As contas de outros dez projetos foram aprovadas e 56 foram aprovadas com ressalvas.Entre os projetos que não passaram pelo crivo da Ancine estão longas e séries como “A máquina” e “Xuxa Gêmeas”, ambos de 2006 e produzidos pela Diler Associados; “Era uma vez...” (2008, Conspiração Filmes); e a série “Um menino muito maluquinho” (2006), produzida pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp).

Segundo nota divulgada pela agência, a relação foi elaborada em atendimento à demanda do Tribunal de Contas da União (TCU). Foi a primeira vez que o órgão divulgou a lista com as prestações de contas pendentes. Na nota, o secretário Especial da Cultura, Mario Frias, diz que o passivo de quatro mil projetos deve ser encerrado em quatro anos, quando a previsão anterior era de 20 anos.O texto ressalta ainda que a lista é resultado da criação da Superintendência de Prestação de Contas, em março deste ano, e da nova metodologia para a análise das contas dos projetos. Desde 2018, a Ancine vinha sendo cobrada pelo TCU para que fizesse a análise integral de todos os projetos financiados, já que antes o processo era realizado por amostragem.

A agência também informou que irá “atualizar periodicamente a evolução do passivo de projetos em fase de prestações de contas, de acordo com o envio dos relatórios de acompanhamento bimestrais ao TCU”. Questionada se seriam divulgadas as justificativas para a reprovação das análises, a Ancine respondeu que não pode se pronunciar pelas contas reprovadas “por questões de sigilo de informação”. Ainda assim, os nomes de todos os projetos com contas reprovadas foram divulgados, ao lado dos nomes das produtoras e dos valores contratados.

A reportagem tentou entrar em contato com alguns dos produtores que tiveram suas contas reprovadas. A Acerp informou, por meio de sua assessoria, que “a atual diretoria da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto assumiu há pouco mais de um ano. Apesar de ser uma produção de 14 anos atrás, vai averiguar e tem todo o interesse em resolver a situação”. Outros produtores não quiseram falar por ainda não saberem o que está sendo questionado pela Ancine. Há anos o setor se queixa de ser obrigado a guardar toda a documentação de todos os projetos realizados à espera da análise da agência, sem previsão alguma de quando os processos serão concluídos.

Por Nelson Gobbi, em O Globo  





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