sexta-feira, 20 de junho de 2008

Sobre corrupção & saúvas

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Humilhas, avanças, provocas, agrides, espancas, torturas, aprisionas indefesos – e quem bate e violenta é a tropa de choque?
Te tornaste carne, sexo e prostituta de incubo de Saturno –
e ensandecidamente acusas o outro de estupro? (...)

Leia o poema Uma oração para canalhas clicando aqui.

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Sobre corrupção & saúvas


O vigor de uma democracia está umbilicalmente vinculado à sua capacidade de resistir e nocautear a corrupção. O costume de avançar sobre o patrimônio coletivo e o erário público vem de longa data, se confundindo, às vezes, com a própria trajetória da humanidade.

E apesar das medidas draconianas historicamente adotadas em defesa da coletividade, não obstante as enérgicas medidas para punir autoridades embaladas pela corrupção, este tipo de crime não arrefece, e recrudesce entre nós qual o pior tumor maligno. Geração após geração este mal vai se perpetuando nas diferentes culturas nacionais.

A aplicação da pena capital, das mais duras punições – invariavelmente acompanhadas de exposição e humilhação pública - não tem sequer amenizado a intensidade da grave hemorragia, que lança fora, para o latão de lixo, o melhor das forças, das energias de um povo, de uma nação.

Platão - discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles - já fazia referência à corrupção em uma de suas obras, “As Leis”, o mais longo e complexo diálogo do filósofo fundador da ‘Academia’. Ensinava aos seus discípulos os marcos da moral e da ética, recomendando a “desgraça” para todos os que aceitassem suborno e propina.

Na antiga Atenas não havia espaço para tergiversação e, pelo menos na escrita, a pena se mostrava severa: autoridade corrupta flagrada com a boca na botija tinha cassada a cidadania, sem mais possibilidade de participar e atuar nas instituições estatais. Seus direitos políticos eram de todo extirpados.

Não era exceção em Atenas a utilização da pena capital quando se tratava de punir o crime de corrupção. Como sempre existem os abençoados, os ungidos pela sorte, alguns condenados eram alcançados por penas mais leves como o exílio e o desterro. Demóstenes, por exemplo, que viveu no século III a.C. tornou-se uma liderança política importante e bastante popular. Grande orador ganhou farta projeção no seu tempo. Todavia, os predicados intelectuais - tão cultuados à época - não foram suficientes para mantê-lo distante da corrupção. Pois bem, por se deixar hipnotizar pelo que acreditava ser o doce canto da sereia, por suborno, foi obrigado a pagar uma multa de 50 talentos. Essa quantia hoje equivale a, nada mais, nada menos, que US$ 20 milhões.

Também no Império Bizantino não havia contemporização: as autoridades corruptas eram execradas publicamente e a punição mais comum consistia em cegá-las. E muitas eram ainda castradas. Não bastasse, em prosseguimento aos rituais de castigos, eram submetidas a sessões de açoite, tinham todo o patrimônio confiscado e, nessas condições, eram deportadas.

O primeiro código legal da República Romana, a Lei das Doze Tábuas, era claro, direto e inflexível: os juízes que aceitassem propina receberiam pena máxima, a pena capital, a punição com a morte.

Essa rápida incursão pela história demonstra o quão difícil e complexo é combater a corrupção. Enganam-se os que imaginam tarefa simples e trivial. Mas, sem dúvidas, penas rigorosas e a certeza da punição contribuem substancialmente para debelar o problema.

No Brasil, tornou-se vala comum – sobretudo quando as crises se acentuam – recorrer à elaboração de novas normas, novas leis, clamar aos quatro ventos por reformas e novo ordenamento jurídico. Muitos parlamentares chegam a se vangloriar por quebrarem recordes de apresentação de projetos de lei. Orgulhosos, divulgam esses números como sinal de produtividade. É como uma medalha honorífica, um heróico amuleto pendurado no pescoço.

É evidente que criar leis simplesmente não resolve problema algum. Nunca foi solução e jamais será. A questão central é saber como implementá-las, como torná-las eficazes; como fazê-las emergir das páginas mortas e empoeiradas dos compêndios para o cotidiano, a vida concreta, o dia a dia das pessoas. E nesse contexto a pergunta que não quer calar, que não sai da ordem do dia: o judiciário brasileiro funciona? Entre duas alternativas, escolha uma: é uma instituição que pune os culpados ou um poder omisso que corrobora com o perverso clima de impunidade que grassa entre nós?

Numa democracia de verdade, os três poderes devem ser fortes e independentes. Quando algum não funciona ou funciona mal, é a nação que padece e agoniza, é o país que se torna refém de políticos populistas que se embriagam no clientelismo e no fisiologismo, os irmãos siameses da corrupção. Sim, porque a corrupção se alimenta, sobretudo, da burocracia, do excesso de fluxos, trâmites e regulamentações que descortinam caminhos para o desvio do dinheiro público; porque a corrupção se nutre de servidores mal remunerados, sempre propensos a serem comprados pelo vil metal.

No mundo desenvolvido já se consolidou um posicionamento para enfrentar este grave problema. Existe certa unanimidade quanto as condicionantes capazes de estancar o câncer que corrói e deteriora todas as forças da pátria.

A primeira é a vontade política, uma firme e inamovível decisão de enfrentar com altivez o problema, de arregimentar forças e energias para vencer este inimigo fatal.

Tão importante quanto a vontade política é o investimento na educação, a segunda condicionante. É uma tecla já gasta, por demais batida, mas de todo imprescindível. A educação é o instrumento capaz de dotar os cidadãos do poder de identificar seus problemas, processá-los com sabedoria e solucioná-los com eficácia. Mas aqui não pode haver contemporização com a ‘boquinha’, o ‘levar vantagem em tudo’. Desde a creche nossas crianças devem ser mergulhadas em brincadeiras e conteúdos que remetam à ética, ao senso de honestidade enquanto valor. A educação é o mais seguro abrigo para nossos sonhos e esperanças.

E finalmente, a terceira condicionante: a transparência. Os dados e informações sobre as ações, os projetos e os programas governamentais devem estar disponíveis de forma ampla, massiva e irrestrita. E agências independentes devem auditar os gastos públicos como um processo rotineiro, como parte indissociável dos fluxos operacionais.

Como se percebe, é tarefa das mais hercúleas. Combater a corrupção implica em modernizar instituições, golpear de morte a burocracia, qualificar pessoas e processos. Isto demanda recursos orçamentários e financeiros, e não de pouca monta. Ficar só no discurso, no proselitismo, no blá-blá-blá ajuda tão somente a angariar votos, mas nenhum auxílio, nenhuma contribuição trás para a solução do problema.

Houve um tempo em que os campos brasileiros - infestados por voraz praga - estavam fragilizados e a agricultura nacional ameaçada. A nação então cerrou fileiras em torno de uma palavra de ordem: ‘O Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil’.

Sabemos nos dias que correm o tipo de saúva que ameaça os sonhos, as esperanças e as oportunidades de todos os brasileiros. Não seria exagero, tomando o bordão por empréstimo, alertar: ‘O Brasil acaba com a corrupção ou a corrupção acaba com o Brasil’.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Sobre harmonia, São Francisco e cafajestes

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Humilhas, avanças, provocas, agrides, espancas, torturas, aprisionas indefesos – e quem bate e violenta é a tropa de choque?
Te tornaste carne, sexo e prostituta de incubo de Saturno –
e ensandecidamente acusas o outro de estupro? (...)

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Sobre harmonia, São Francisco e cafajestes

Tudo no universo é energia. E a energia circula, interage, integra, assume diferentes formatos e intensidades. É assim no universo, é assim na natureza, é assim na vida e no dia a dia das pessoas. Por isto, ao trocar, partilhar e interagir não estamos fazendo mais que observar a lei maior que rege o cosmos.

Assim como no universo os astros – de uma forma ou de outra – interagem entre si, no corpo humano, uma célula também percorre o mesmo caminho e só captura a existência porque interage com outras. De igual modo ocorre com os átomos e com as partículas subatômicas, de sorte que tudo é pura e intensa interação, intercâmbio de energia.

Mas como poucos se dobram às certezas, digamos assim, científicas, da necessidade da troca e da interação, não custa recorrer aos ensinamentos espirituais e cristãos, como os apregoados por São Francisco de Assis, não por acaso o santo católico protetor da natureza.

São Francisco compreendeu e capturou a lei que regula as trocas de energia, a mesma que assegura equilíbrio e harmonia ao universo, e soube traduzi-la para o meio onde labutam os homens. Por isto, quando o batizado Giovanni Bernardone ensinou

“... é dando que se recebe
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se nasce para a vida eterna...”


explicava, na realidade, que tudo no universo só tem sentido se envolto em trocas, em intercâmbios, em partilha, em ofertar e receber...

O ensinamento do fundador da “Ordem dos Frades Menores” - canonizado em 16 de julho de 1228 pelo papa Gregório IX - é tão poderoso que não resisto à tentação de reproduzi-lo por inteiro:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido,
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se nasce para a vida eterna...

A troca que assegura a contínua expansão do universo é a mesma que assegura o crescimento das pessoas e da sociedade.

Desde a mais tenra célula até o grupo social estratificado e a mais complexa das constelações estelares, nada faz sentido sem o ‘dar e receber’ preconizado por São Francisco.

Daí a importância de fazer com que valores como o amor, o perdão, a amizade, a solidariedade e a generosidade estejam em permanente circulação, permeando as relações entre as pessoas e os grupos sociais.

Todavia, se a lei é cristalina como parece, porque razão as pessoas estariam tão indispostas e resistentes à incorporação desses valores, por que ao invés da generosidade e do altruísmo, cultuam o egoísmo e o individualismo exacerbado? Por que ao invés do perdão, enamoram o ódio; ao invés da união, cultuam a discórdia; e mergulham a verdade num lodaçal de mentiras, intrigas e tramóias?

A teoria dominante é que as pessoas resultam da educação que recebem, da história de vida e do meio em que vivem.

Mas como toda regra, essa também tem suas exceções. O problema aqui é que as exceções ocorrem com tamanha freqüência que estão quase se convertendo em regra-mater.

Como explicar, por exemplo, que dois irmãos, criados pelos mesmos pais, com semelhante nível de atenção, recebendo as mesmas condições educacionais, culturais e amorosas, um consiga construir uma personalidade fraterna, generosa; e o outro destile avareza e rancor?

Aqui talvez valha a pena investigar o componente biológico. E ao que tudo indica as descobertas que se avizinham demolirão e lançarão por terra um bom número de paradigmas consolidados. Um deles consiste em subestimar a importância que a questão biológica tem no comportamento do individuo.

Pelo menos é o que parecem indicar pesquisas realizadas ao redor do mundo, como a promovida pelo Departamento de Psicologia da Universidade Hebraica de Jerusalém. Os experimentos estão demonstrando que o material genético tem um determinado nível de importância na composição da personalidade.

Um dos pesquisadores do grupo de estudos da universidade israelense, o psicólogo Ariel Knafo, é bastante enfático quanto aos resultados: "a conclusão central do trabalho é que há influência genética nas diferenças do comportamento altruísta das pessoas, porque existem diferenças no DNA, que estão relacionadas às diferenças em seu modo de se comportar”.

Um dos especialistas em genética do grupo de pesquisa, o professor Richard Ebstein se manifestou afirmando que todos os participantes que externaram generosidade tinham o gene denominado receptor 1A de arginina-vasopressina (AVPR1a) com uma forma mais alongada que nas outras pessoas. A conclusão é que gene AVPR1a exerce papel fundamental na química do cérebro, permitindo que o hormônio arginina-vasopressina (AVP) atue sobre as células cerebrais. A vasopressina foi relacionada com o estabelecimento de vínculos afetivos e sociais.

Os resultados da pesquisa apontaram numa direção bem definida: há maior disponibilidade para o altruísmo nas pessoas que possuíam uma parte específica e fundamental de maior tamanho neste gene.

Se ‘dar e receber’ é uma lei que regula a harmonia no universo, talvez esteja aqui, na genética, o início das explicações para que tantos se mantenham indiferentes à solidariedade, à verdade e ao amor. Talvez esteja na genética parte da explicação para a existência entre nós de tantos canalhas e cafajestes.

Alto lá. É muito cedo para extrair qualquer conclusão a respeito. Como também é inadmissível mergulhar as novas e incipientes descobertas no caldo medíocre do preconceito e do ‘politicamente correto’.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A casamata das cafetinas

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Humilhas, avanças, provocas, agrides, espancas, torturas, aprisionas indefesos – e quem bate e violenta é a tropa de choque?
Te tornaste carne, sexo e prostituta de incubo de Saturno –
e ensandecidamente acusas o outro de estupro? (...)

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A casamata das cafetinas

A sociedade brasileira forjou ao longo de sua história, duas grandes academias. Uma é a escola formal, destinada a produzir, reproduzir e disseminar o conhecimento, um tipo de saber que arremessa a humanidade em direção ao desenvolvimento e ao progresso. Mas infelizmente existe uma outra, a escola das ruas, um certo tipo de ‘academia’ que em outros tempos, teve lá a sua importância relativa, mas que hoje, constitui-se inequivocamente em universidade e centro de excelência para a titulação da bandidagem, o doutoramento de pedófilos, a modernização do tráfico de entorpecentes, a sacralização de tudo o que alguns preferem denominar ‘inferno’.

Num passado que já vai longe, as ruas – em que pesem os riscos e perigos sempre presentes - descortinavam, ou insinuavam pelo menos, um segundo cenário, envolto numa áurea de romantismo, inspirando espíritos aventureiros, desbravadores, conquistadores. Mas nos dias de hoje as ruas perderam quase tudo o que havia de encanto e, só muito raramente, quase no limite das impossibilidades, apresentam-se como um espaço saudável e produtivo para as crianças e a nossa juventude.

Tão logo emerge da hibernação, ainda na fase da amamentação do filhote recém-nascido, a mãe-ursa passa a conviver com seu maior temor: encontrar um urso-macho, quem sabe o próprio parceiro que a engravidou, que não relutará em avançar sobre o pequeno e frágil filhote para devorá-lo, saciando a fome de seis meses.

O reino animal é assim. Pais que deveriam proteger os rebentos são os primeiros a extrair-lhes todas as possibilidades. E o que os brasileiros têm construído neste país continente não difere muito do mundo selvagem. As ruas comprovam isso, um dia sim e o outro também. Em tempo algum nossas ruas estiveram tão sintonizadas com as variações dos termos selva, selvagem, selvageria.

Nos núcleos urbanos a violência fincou âncoras em todos os quadrantes. Está presente nos lares, nos locais de trabalho, nas escolas, nos espaços de convivência, nos centros religiosos. Espaço algum escapa de seus inumeráveis tentáculos. Mas é na rua que a violência encontra um dos seus campos mais propícios, um de seus terrenos mais férteis.

Um outro campo, um outro território aonde a violência tem plena guarida compõe-se de gabinetes refrigerados, instalações e organizações estatais e paraestatais que trataram de volatizar os limites entre o público e o privado, diluindo-os no jogo de interesses rasteiros, no tráfico das mais infames influências, na volúpia da corrupção e das propinas.

No Brasil de hoje envergonha a tênue linha que separa o certo do errado, o justo do injusto, a ética da gatunagem explícita. E é neste espaço cinzento, cendrado e sombrio que nossas escolas formais agonizam, numa crise típica de moribundos que aguardam o sacramento da extrema-unção.

Enquanto as ruas se aperfeiçoam, se aprimoram, se qualificam para ensinar mais e melhor o que não presta, nossas escolas fragilizadas, depauperadas, agonizantes, sem viço e brilho, ensinam pouco, muito menos que deveriam. Enquanto as ruas exibem a exuberância do ensino-bandido, as escolas exibem a mediocridade do ensino-desastrado, do ensino-ineficaz.

Nossas escolas formais deveriam alfabetizar, ensinar os alunos a interpretar e efetuar operações de cálculo, habilitando-os a receber os conteúdos que serão apresentados nas fases seguintes. Mas, desde a pré-escola, parece que os parâmetros flexionaram e os professores agora se esmeram em incutir no estudante o paradigma que navega na crista da onda: “engajamento social”. Esse é o paradigma, essa é a palavra de ordem.

Raios! Nossas crianças e nossos jovens não sabem interpretar um texto trivial, sequer dominam as operações matemáticas, apresentam as piores notas nas avaliações internacionais para medir o conhecimento acumulado, mas quando se trata do quesito “engajamento social”, estão mais que antenados, seja lá o que signifique a destemida expressão.

Pouco tempo atrás questionaram uma professora do ensino fundamental que resolveu ensinar a seus alunos nada mais nada menos que a ciência dos palavrões. E assim se defendia a educadora revolucionária: “se a escola não ensina palavrões aos alunos, quem o fará”?

Os pais dos alunos da engajada professora verificaram que seus filhos não sabiam ler, escrever, calcular e muito menos interpretar pequenos e singelos textos. Não aprenderam na escola. Mas na escola aprenderam o significado de todos os palavrões, seus cadernos tornaram-se dicionários das palavras malditas, das mais sutis às cabeludas como as caranguejeiras.

Beber leite e chupar manga seria um bom mote para aulas de nutrição, de biologia, de ecologia, de saúde, de química, e de inúmeras outras disciplinas, inclusive geografia e matemática. Todavia, a professora adepta da pedagogia das ruas optou pelo que deveria ser uma aula de educação sexual, mas que pela banalidade e vulgaridade, reduziu-se a uma “aula” de e sobre cafetinagem e depravação.

Então ficamos assim: os professores remunerados para ensinar conteúdos pedagógicos, ensinam as ‘artes’ das ruas; enquanto os bandidos e traficantes cuidam de fazer às vezes da escola formal, ensinando leitura, interpretação de textos e operações de cálculo. Ou alguém acredita que a malandragem pode prescindir do conhecimento acadêmico e científico. Sendo assim, como se sairiam com os balanços contábeis das fortunas geradas pelo tráfico de drogas e entorpecentes? Como se sairiam com a complexidade das operações bancárias, das intrigadas tecnologias para a indústria da lavagem de dinheiro, da ciência de desbravar os mais promissores paraísos fiscais, das espertezas, indolências e cafumangos dos que se divertem com a língua, apelidando o mensalão e o achaque aos cofres públicos de caixa dois?

Ainda que fragilizadas, esgotadas, carcomidas nas entranhas, acreditam os pais que nossas escolas constituem um abrigo seguro, um bunker, uma casamata onde os filhos mantêm-se protegidos dos perigos das ruas.

Tratem eles de manter rigorosa vigilância sobre os políticos que elegeram, caso contrário, nem para esse papel a escola se prestará mais.

Felizmente, cresce o número dos que se indignam com a situação do país. E indignar é o primeiro passo para que a nação se mobilize, para que os brasileiros promovam as transformações capazes de nos assegurar um lugar dentre os países desenvolvidos, um lugar privilegiado no século XXI, um lugar onde caibam todos os nossos sonhos e esperanças.

Antônio Carlos dos Santos criou a metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e a tecnologia de produção do Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br