quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Aretha Franklin (You Make Me Feel Like) A Natural Woman - Carole King - ...

Emily Haines - Crowd Surf Off A Cliff

Um brasileiro no fechado mundo do mangá japonês


O desenhista brasileiro Angelo Vasconcelos Levy, 33, ganha pouco, trabalha muito, mas não reclama. Há pouco mais de 9 anos ele trocou Belo Horizonte (MG) para tentar a sorte na capital japonesa e, após muita insistência, conseguiu entrar no concorrido mercado de quadrinhos japoneses, os famosos mangás.
"O sonho de ser desenhista de mangá no Japão é como querer ser jogador profissional de futebol no Brasil", diz o brasileiro, que adotou o codinome de Angelo Mokutan – "mokutan" significa carvão em japonês, que é o sobrenome do pai, Ricardo Carvão Levy, também artista.
A comparação feita pelo brasileiro, na verdade, não tem nada de exagero. Segundo dados da Associação Japonesa de Papel, os mangás representam por volta de 40% do material impresso no Japão. É um mercado que movimenta perto de US$ 3,6 bilhões (mais de R$ 14 bilhões) em vendas por ano.
No Japão, pessoas de todas as faixas etárias têm o costume de ler este tipo de publicação. Temas sérios, como história mundial, manuais de equipamentos e maquinários, clássicos da literatura e até a Bíblia têm suas versões em quadrinhos.

Foto: BBC
Image caption“O sonho de ser desenhista de mangá no Japão é como querer ser jogador profissional de futebol no Brasil.”

No caso de Angelo, ele publica as histórias na President Next, revista voltada para a área de business e economia, e com foco no público jovem. "Toda edição tem um grande tema, que é apresentado em forma de quadrinhos", explica.

Longo caminho

Angelo, que começou a aprender japonês aos 14 anos, fez o mestrado em animação no Japão e, na sequência, conseguiu um emprego na área de tecnologia da informação. "Nas horas vagas eu produzia meus trabalhos e participava de feiras para publicações independentes", conta.
O artista produziu três obras, uma trilogia dentro de um projeto chamado Era uma vez em Tóquio, na qual adapta contos clássicos da literatura infantil. A primeira foiChapeuzinho Vermelho, seguida de Iara e Fábulas de Esopo.
Foi nestas feiras que ele conheceu seu atual chefe, um editor que buscava novos talentos e que achou o trabalho do brasileiro diferente e interessante.

Foto: BBC
Image captionMangás representam por volta de 40% do material impresso no Japão

Angelo conta que hoje existem poucos estrangeiros no mercado de mangá no Japão. "Isso acontece por causa do sistema, que não é flexível; as editoras são bem tradicionais e não trabalham com reuniões virtuais e desenhistas que moram longe", diz.
"Além disso, existem certos elementos da cultura japonesa que são muito valorizados e é preciso conhecer a fundo esses detalhes e ter contato com esse mundo", completa o brasileiro. "Sem contar, é claro, o idioma."
No entanto, Angelo afirma que no Japão é até relativamente fácil começar como profissional de quadrinhos. "No mundo ocidental você envia um trabalho para uma editora e muitas vezes nem tem resposta. Aqui, você pode ligar para a empresa e pedir para marcar um horário para apresentar seu trabalho", diz.
Segundo ele, o problema é apenas o salário. "A remuneração não é nem um pouco boa, por causa dessa competição acirrada", diz. Mas o sucesso financeiro existe quando as obras são adaptadas para a animação, games ou filmes, além dos produtos de merchandising.

Quadrinhos

A palavra mangá, em japonês, significa "desenhos irreverentes". Surgiu em 1814, primeiramente como ilustrações e caricaturas sobre a cultura japonesa.
Em 1947, a primeira historinha publicada foi Shin Takarajima (A Nova Ilha do Tesouro), de Osamu Tezuka, desenhista conhecido no Japão como "Deus do Mangá".

Image captionNa “era de ouro” dos quadrinhos (1985 - 2000), algumas publicações vendiam mensalmente 5 milhões de exemplares

Foi Tezuka quem definiu as características dos quadrinhos japoneses, como expressões faciais exageradas, elementos metalinguísticos – como as onomatopeias – e enquadramentos que dão um impacto emocional maior.
A "era de ouro" dos quadrinhos foi entre os anos de 1985 e 2000, quando algumas publicações chegavam a vender mensalmente 5 milhões de cópias.
Depois, com o avanço da internet, a crise econômica e a pirataria derrubaram as vendas para quase a metade. Mesmo assim, continua sendo um mercado lucrativo.
Para tentar recuperar as vendas, as editoras passaram a exportar muitas das obras para os países ocidentais. Os maiores consumidores no exterior são hoje os Estados Unidos, França e Alemanha. Mas o Brasil também tem se mostrado um grande filão para o segmento.
Ewerthon Tobace, de Tóquio para a BBC Brasil

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Robbie Dupree - Steal away (video/audio edited & remastered) HQ

Mostra em Israel sobre grupo alemão que resistiu ao nazismo

Os jovens membros do Rosa Branca distribuíam panfletos de resistência antinazista pela Alemanha. Em Israel, onde o movimento é pouco conhecido, uma nova mostra conta sua história.
Irmãos Hans e Sophie Scholl, membros do grupo Rosa Branca
Foi durante o verão de 1942 que os estudantes de medicina Hans Scholl e Alexander Schmorell distribuíram os quatro primeiros "Panfletos do Rosa Branca", de um total de seis, na cidade alemã de Munique. Os escritos expressavam raiva e espanto pela apatia dos alemães, na época, declarando que quem não se engajava ativamente na libertação do país da ditadura nazista era igualmente culpado dos crimes dela.
O pequeno movimento, chamado Weisse Rose (Rosa Branca), continua sendo um símbolo da resistência até os dias de hoje: o nome decora muitas praças e ruas em várias cidades da Alemanha, e escolas receberam os nomes de seus jovens membros.
Em homenagem aos 50 anos do início das relações diplomáticas entre a Alemanha e Israel, uma nova exposição na Galileia relembra agora a história de ativismo desse grupo de alemães, pouco conhecida no país do Oriente Médio.
"Acho extremamente importante, sobretudo nos dias de hoje, mostrar ao público que é possível resistir e criticar o próprio governo, caso se sinta que ele está agindo errado", disse à DW a israelense Sharon Cohen, em visita à exposição com os dois filhos, de 14 e 16 anos.
"Acredito que não haja, hoje, um país tão cruel quanto os nazistas foram, mas a mensagem continua relevante. A história dos membros do Rosa Branca é pouco conhecida em Israel, e acho que meus filhos se beneficiarão em conhecê-la", comentou. "Assim eles podem ver com os próprios olhos que houve gente que se manteve firme por um objetivo em que acreditava, mesmo que ele estivesse condenado ao fracasso ou mesmo lhes tenha custado a vida. Eles resistiram pela humanidade e contra o mal."
Exposição no Beit Lohamei Ha-Getaot, em Israel
Seis manifestos
As ações do grupo de resistência Rosa Branca, inicialmente formado na Universidade Ludwig Maximilian de Munique, tiveram pouco, ou talvez nenhum, efeito para o enfraquecimento do regime nazista. Mas a coragem de seus membros em se opor à tirania foi como um pequeno farol de esperança por uma Alemanha diferente.
Durante as noites, Scholl e Schmorell pichavam frases como "Hitler assassino de massa" e "Liberdade" em prédios públicos de Munique. Mais tarde eles se uniram a outros estudantes, entre os quais Willi Graf e Sophie Scholl, a irmã de Hans.
O quinto dos panfletos do Rosa Branca, intitulado "Apelo a todos os alemães!", apareceu em janeiro de 1943 em várias cidades da Alemanha e da Áustria. Kurt Huber, professor dos jovens na universidade, foi quem redigiu o sexto e último, pedindo a todos os estudantes da instituição que se opusessem ao governo assassino. O manifesto foi distribuído pelos irmãos Scholl no prédio principal da universidade, em 18 de fevereiro.
Hans, Sophie Scholl e Christoph Probst foram condenados à morte por criticar ao regime nazista
Coragem de resistir
A mostra "Rosa Branca" – exposta em árabe e hebraico no museu Beit Lohamei Ha-Getaot (Casa dos Combatentes do Gueto), entre as cidades de Acre e Nahariya, no norte de Israel – traz fotos do grupo e de seus membros, explica as atividades que exerciam, mostra os panfletos distribuídos na época e fala sobre o alto preço pago pelos alemães que tentaram resistir ao nazismo.
Ao lado de atividades educacionais destinadas a alunos do ensino médio, a exposição enfoca o senso de responsabilidade social mostrado pelo Rosa Branca, assim como a perseverança de seus membros em seguir a própria consciência, em nome de valores humanistas, arriscando e até mesmo sacrificando suas vidas, ao contrário da maioria da sociedade alemã da época.
O segundo panfleto do grupo, por exemplo, denunciava o assassinato em massa de judeus na Polônia: "Estamos testemunhando o mais terrível crime contra a dignidade humana, um crime sem precedentes em toda a história da humanidade." No quarto panfleto, Scholl e Schmorell ameaçavam: "Não ficaremos em silêncio, nós somos a sua consciência pesada, o Rosa Branca não vai deixá-lo em paz."
Folhetos diante da Universidade Ludwig Maximilian, de Munique, em homenagem ao Rosa Branca
Heróis verdadeiros
Entre as demandas nos panfletos do Rosa Branca constavam "liberdade de expressão, liberdade religiosa e proteção de cada cidadão contra o despotismo de regimes violentos como fundamentos para uma nova Europa". Seus membros, porém, nunca tiveram a chance de vê-las realizadas.
Em 22 de fevereiro de 1943, Hans e Sophie Scholl, junto ao colega Christoph Probst, foram condenados à morte e guilhotinados na prisão de Stadelheim, em Munique. As investigações continuaram, e naquele mesmo ano Alexander Schmorell, Willi Graf e o professor Kurt Huber também foram condenados à morte e executados.
"Eu acho isso tudo muito triste, mas eles foram heróis", comenta o filho de 14 anos de Sharon Cohen. "Gostei da exposição, mas ao mesmo tempo ela me deu um ponto de vista sobre o qual não é muito agradável pensar. Deixou uma pedra pesada no meu estômago."
"Hoje o Rosa Branca representa valores como o pensamento independente, liberdade e tolerância", diz uma das placas da exposição. "O legado atemporal do grupo é um apelo pela proteção dos direitos humanos e pela luta contra a discriminação, racismo e violência."
Para Sharon, essas palavras foram bastante poderosas. "Estou feliz em ter trazido meus filhos, para verem como gente honesta se manteve firme por aquilo em que acreditava, apesar de tudo. Espero que eles possam aprender algo para o futuro. Talvez até mesmo para o presente."
Por Dana Regev, na Deutsche Welle

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Pink Floyd -- The Final Cut

Para qualquer situação, um bom livro...

Após acidente de carro, bombeiro lê livro para acalmar menino


Após um acidente de carro, o bombeiro Russell Whaley decidiu sentar-se na beira da estrada e ler um livro infantil para um garoto de quatro anos que estava envolvido no episódio. O momento comovente foi fotografado e viralizou nas redes sociais.

De acordo com o "Today", o acidente aconteceu na última sexta-feira (18) no Arizona (Estados Unidos). Enquanto mãe e filha recebiam os primeiros atendimentos, o pequeno Lucas Pacheco começou a ficar preocupado, então a primeira atitude do bombeiro foi cuidar do garotinho e ajudá-lo a se acalmar. 

"Ele estava vestindo uma camiseta com a estampa das Tartarugas Ninjas, então começamos a falar sobre isso. Quando me dei conta, nós já tínhamos um livro na nossa frente e estávamos lendo na calçada", diz Whaley em entrevista ao "Today". "Isso é parte do trabalho. Muitas vezes, estamos lidando com necessidades emocionais. Não é apenas apagar o fogo ou fazer um curativo", acrescenta. 

Registrada e postada pela enfermeira Steffani Blair, a foto teve mais de 2 mil compartilhamentos na rede social, e a atitude do paramédico também foi bastante elogiada. 

A mãe, Shana Pacheco, disse ter ficado muito agradecida. "Outro bombeiro fez um balão de uma luva e desenhou um rosto bobo nele e, sabe, isso é não parte do trabalho deles", diz ela. Durante o final de semana, Shana e os filhos fizeram uma visita aos bombeiros para agradecer a atenção prestada. "Nós queríamos agradecer e abraçá-los. Eles deram um adesivo, um distintivo de coragem e ainda deixaram ele andar no caminhão dos bombeiros".

Apesar de algumas escoriações, as pessoas que se envolveram no acidente passam bem.

Da Rede TV

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

The Cure - Friday I'm In Love

Os demônios da educação

O Brasil acompanhou a tragédia que assolou o Estado do Pará, quando inúmeras pessoas utilizando-se de rituais satânicos, bruxaria e magia negra, seviciaram e assassinaram crianças indefesas. Um episódio terrível, dos mais covardes e abomináveis que a história recente brasileira registra.

No segundo semestre do ano de 1993, Goiás também viveu um episódio semelhante, quando seis pessoas realizaram um ritual satânico com o sangue retirado da estudante Fernanda Militão, assassinada no dia 21 de maio, em Guapó, por Vicente Natal do Nascimento e João Maria Rocha Silva.

A feitiçaria é uma manifestação de origem religiosa e está presente de forma determinante em todas as culturas primitivas. A ignorância e o desconhecimento sobre as pestes, as doenças e os fenômenos da natureza, levaram o homem primitivo a elaborar um imaginário misterioso, onde povoavam demônios e potestades capazes de tudo, inclusive explicar o que a razão desconhecia.


Os hebreus incorporaram os demônios da antiga civilização mesopotâmica e os legaram aos cristãos modernos, para quem o diabo - Satã, Satanás ou Belzebu - e toda a sua corte seriam anjos rebelados contra Javé e expulsos do paraíso.

Na idade média a Igreja Católica chegou a criar um tribunal eclesiástico para julgar os que estigmatizava como hereges. Em 1484 o papa Inocêncio VIII introduziu o suplício e a tortura para extrair dos acusados de bruxaria a confissão que os redimiria. E três anos depois, em 1487, o dominicano Jakob Sprenger publicou Malleus maleficarum - O martelo das feiticeiras -, que se constituiria no abecedário, na cartilha e manual que conduziria a rotina de insanidades dos inquisitores – tudo em nome de Deus.


Uma das características deste tribunal de inquisição eram os processos sumários. Mulheres, crianças e escravos eram estimulados a dele participar como testemunhas de acusação, mas jamais de defesa. A delação, sobretudo de parentes e amigos, ensejava para os acusados benefícios de toda ordem, inclusive o perdão. Às execuções promovidas pelo Santo Ofício em que as vítimas eram queimadas em fogueiras dispostas em praças e logradouros públicos, denominavam-se autos-da-fé.

Em Lisboa, na torre do Tombo estão registrados quase 40 mil processos deste tipo. Antônio José da Silva, o Judeu, nascido no Rio de Janeiro no ano de 1705, e nome dos mais significativos na dramaturgia de língua portuguesa, foi queimado no fogo da santa igreja católica no ano de 1739, em Portugal.

Ao contrário destes casos recentes que tem pontuado a realidade brasileira, grande parte dos processos do Santo Ofício se prestavam à perseguição religiosa – no caso contra os judeus e muçulmanos – e sobretudo à perseguição política.

A reação científica e filosófica contra estas crenças supersticiosas se origina a partir do séc. XVII, se robustece com o Iluminismo e o desenvolvimento da psiquiatria, também com a influência dos racionalistas como Descartes, Voltaire e D`Alembert; e com as idéias que acompanharam a Revolução Industrial.

Atualmente estas práticas remanescem isoladamente e invariavelmente, de tempos em tempos, ocupam as páginas policiais dos jornais, como a mostrar o quanto a modernidade mantém-se vinculada à barbárie de nossos antepassados.

Desde sempre, estas práticas primitivas tiveram como essência o exercício da influência e do poder, seja sobre o Estado, seja sobre o próximo, ou seja ainda sobre os fenômenos da natureza.

Hoje, setores das elites criaram um racionalismo funcional que regula a existência do Estado, e mantém sob controle as válvulas de pressão para que as transformações ocorram na casca e a substância não seja alterada.


Os fenômenos da natureza são – cada vez mais – tratados pela mais fina tecnologia, com a utilização intensiva de satélites, pesquisas efetuadas no espaço sideral, e estudos cosmológicos. Já as relações de dominação sobre o outro, que no passado – de forma predominante – passavam por pactos com o diabo, deitação de cartas, prestidigitação efetuadas por feiticeiros e embusteiros de adivinhações e malefícios, são hoje substituídas ora pela sutileza dos acordos sociais, ora pela mesquinhez, pela ideologia do controle das massas, pela hipocrisia reluzente dos discursos bombásticos, perfeitos na poética, mas desprovidos de conteúdo. E tudo potencializado pela propaganda e pela onipresente televisão.

Nas relações inter-pessoais, diuturnamente nos deparamos com esse tipo de pessoas. As que justificam o Estado mantenedor de privilégios para os poucos iluminados. As que referendam as práticas calcadas na dominação e opressão. As que entoam a cantilena de que os fins justificam os meios. Na escola ou no trabalho lá estão elas, sempre bem falantes, bem sucedidas na vida, com um rosário de vantagens pregressas, ou providenciais “desvantagens” como: “já fui engraxate”; “já vendi picolés e quitandas para sobreviver”, “tive uma infância pobre”, e coisas do gênero. Circundam-nas um mar de mentiras e falsidades. A produção por elas obtida se circunscreve ao superficial e volátil, ao periférico, a nada que guarde semelhança com o estrutural, que sequer tangencia o que de fato importa. Neste ambiente impera a intriga e o perjúrio. A fofoca e a versão tem mais sentido que os fatos. As relações são ancoradas pelo que há de mais fugaz: a vaidade. Neste contexto o outro só existe enquanto escada, instrumento, ou obstáculo a ser suprimido. Esta categoria de pessoas só são visíveis integralmente, sem os invólucros, quando conquistam o poder. Basta presenteá-las com uma porção, ainda que diminuta de poder, e ei-las, desnudas, se mostrando por inteiro, sem as inúmeras máscaras; exalando o cheiro nauseabundo da decomposição. Lobos em peles de cordeiro.

Para conquistar espaço social e poder, alguns ainda acorrem à magia e à feitiçaria dos tempos da barbárie, distúrbios que a civilização dos tempos modernos procura resolver através da psicanálise, da psicopatologia e do conjunto das ciências médicas e sociais.

O universo em que se encerra a sociedade tem uma amostragem no ambiente escolar, acadêmico e do serviço público. As relações de dominação são reproduzidas em menor escala, mas a resultante não se apresenta de menor intensidade. Como tornar harmônicas e produtivas as relações na escola, na academia, nas organizações privadas e estatais se, as que se verificam no universo social são pautadas pela violência e autoritarismo. Este é um senhor desafio.

Na Educação, a relação educador-educando se torna extremamente delicada, haja vista a função exercida pelo professor que o coloca - no mínimo, numa posição destacada e privilegiada.

Já deveria estar longe o tempo do professor senhor da vida e da morte, conhecedor de tudo e de todos, imperador do saber e dos caminhos, olhando de soslaio e com desdém o conhecimento incorporado pelo aluno. Deveria, mas não está. Grandes avanços foram verificados, mas infelizmente estas situações ainda persistem.

Se o bom educador é aquele capaz de se situar ao lado e não acima do educando, como ignorar que o saber do aluno se constitua num dos insumos capazes de levar ambos a um patamar superior, espaço onde deverão interagir todos os diferentes tipos de conhecimento: o produzido pelas sucessivas e interpenetradas fases da vida – infantil, juvenil, adolescente, adulto e senil; o elaborado no espaço comunitário, o construído nas relações familiares, os obtidos na pesquisa empírica, científica, na lida acadêmica, ... Importa perceber que tanto o conhecimento do professor quanto o do aluno são importantes, na exata medida em que um será incapaz de desenvolver sem a presença do outro; que ambos são re-elaborados a cada encontro. É deste ciclo dinâmico, deste choque de saberes e vivências que se nutre o conhecimento transformador, o que substancia o futuro progressista. E não vai aqui nada que se assemelhe ao democratismo, à libertinagem: o professor não pode abrir mão de sua autoridade, mas na exato limite do respeito para com o educando.

Com as devidas adaptações esta realidade se reproduz na instituição pública, conformando a relação dos servidores públicos entre si e destes com os demandantes de serviços, a comunidade.

No Brasil os demônios mais representativos em cultos de origem africana são os Exus e entre os de origem indígena, o Anhangá e o Jurupari. Mas na educação e na gestão pública existem demônios infinitamente mais devastadores: é o professor e o gestor público democratistas, aquele que tece loas à liberdade mas tão somente para escamotear sua verve autoritária; aquele que se faz de bonzinho e popular, mas que se desmascara ante um naco qualquer do poder. Portanto nos lambuzemos da mais absoluta liberdade democrática, do permanente combate aos dogmas e paradigmas, do mais absoluto amor ao outro, e estaremos varrendo da face da terra estes vampiros de nossos sonhos e esperanças.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico, da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo  e da metodologia ThM - Theater Movement.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Roger Waters - In the Flesh? (Live) [From Roger Waters The Wall]

The Best Of Louis Armstrong - Full Album Remastered

O americano preso por 23 anos por um assassinato cujo autor já havia sido condenado

BBC
Image captionRobert Jones abraça a família ao deixar a prisão, em novembro
Nas primeiras horas de 19 de abril de 1992, policiais de Nova Orleans, nos Estados Unidos, bateram à porta da casa de Robert Jones, um jovem negro de 19 anos vivendo em um dos bairros pobres da cidade.
Depois de renderem até as crianças da casa, os agentes levaram Jones algemado para a delegacia, onde ele foi formalmente acusado pelo assassinato da turista britânica Julie Stott, morta quatro dias antes em uma tentativa de assalto no Bairro Francês, uma das áreas mais turísticas da "capital do jazz".
Identificado pela vítima de um caso de estupro ocorrido na mesma época, Jones, que não tinha antecedentes criminais e negou o crime, pensou que seria liberado quando um outro suspeito, Lester Jones (sem parentesco com ele), foi julgado e condenado à prisão perpétua em 1994, não apenas pela morte da britânica, mas por uma série de roubos cometidos em Nova Orleans.
A polícia havia encontrado Lester usando joias das vítimas, e descrições do interior de seu carro condiziam com os depoimentos da vítima de estupro.
'Parceria'
Robert Jones, porém, ficou 23 anos preso, sendo apenas solto sob fiança no último dia 20 de novembro. Em março de 1996, ele também fora condenado à prisão perpétua pelo assassinato e por alguns dos assaltos supostamente praticados pelo suspeito já preso e sentenciado.
Em nenhum momento de seu julgamento a Promotoria ou mesmo sua defesa mencionaram que Lester Jones estava atrás das grades. O argumento da Promotoria foi que os dois eram parceiros no crime, apesar de os detetives que investigaram o caso terem negado a associação.
The SunImage copyrightThe Sun
Image captionA britânica Julie Stott
"Quando o júri deu o veredito de culpado, senti-me como se tivesse morrido. Foi um momento de desespero total. A prisão foi um pesadelo total. Não consigo encontrar no dicionário palavras para descrever a crueldade", afirma Jones à BBC.
O caso despertou graves acusações de discriminação racial envolvendo o Judiciário da Louisiana, o Estado americano que mais prende no país - 14 em cada mil adultos da região estão encarcerados.
O julgamento de Robert Jones durou menos de 10 horas e o acusado aceitou confessar alguns dos crimes em troca de ver a acusação de homicídio doloso ser "rebaixada" para culposo - uma mudança que poderia evitar a pena de morte.
Os pais de Julie Stott, que tinham comparecido ao julgamento de 1994, nunca foram informados que um segundo homem fora condenado pelo assassinato da filha.
New Orleans Police
Image copyrightNew Orleans Police
Image captionJones foi identificado por uma das supostas vítimas de outro criminoso
Mesmo o principal detetive envolvido nas investigações, James Stewart, só descobriu a condenação de Robert Jones em 2013.
Jones foi enviado para a Penitenciária Estadual da Louisiana, conhecida como Angola, e construída em uma antiga plantação escravagista. Até hoje, os prisioneiros, 75% deles negros, frequentemente trabalham na colheita do algodão, sob a vigilância de guardas majoritariamente brancos.
Para o juiz do caso, Calvin Johnson, que também é negro, o sistema judiciário da Louisiana trabalhou para que jovens negros fosse encarcerados pelo máximo de tempo possível. Johnson alega que a Promotoria ocultou provas que poderiam ter ajudado o réu.
"Houve negligência em uma série de casos e de forma consistente. O fato de que Robert Jones foi preso por um crime que não cometeu pesa na minha consciência", afirmou o juiz.
Os dois promotores envolvidos no caso recusaram os pedidos de entrevista da BBC, alegando que estavam eticamente impedidos de falar sobre um caso ainda em andamento.
Um deles, Roger Jordan, recebeu em 2005 uma suspensão de três meses da Corte Suprema da Louisiana por ter ocultado provas em um caso. O outro, Fred Menner, viu-se em maus lençóis em setembro deste ano quando veio a público um memorando em que admitia a falta de provas convincentes contra o réu no caso do assassinato da britânica.

Suicídios

As autoridades da Louisiana lutaram o quanto puderam para evitar o escrutínio do caso e tentaram bloquear uma ida à Suprema Corte Federal. Mas, em junho deste ano, o órgão decidiu que o julgamento de 1996 tinha sido injusto e que um novo deveria ser marcado.
O procurador-geral da Louisiana, Leon Cannizzaro, tentou impor fiança de US$ 2,25 milhões à família de Jones para que ele tivesse liberdade condicional - mas um tribunal estadual negou o pedido de Cannizzaro.
No dia de sua libertação, Jones, que chegou a ser apelidado de "Besta da Floresta" pela mídia britânica durante a cobertura do assassinato de Julie Stott, foi recebido do lado de fora por um grupo de parentes que incluiu a mãe e a filha, Bree, nascida oito meses depois de ele ter sido arrastado de sua casa, algemado. Todos choraram, menos Jones. Sorridente, ele disse a elas que "tudo ficaria bem".
BBC
Image captionBree pintou um quadro em que aparece ao lado do pai que só conheceu na prisão
No dia seguinte, ele falou à reportagem da BBC em um restaurante, o primeiro que ele frequenta em mais de duas décadas. Em suas mãos há um smartphone, que ganhou da filha. Ele sofre para operá-lo - quando foi preso, em 1992, a internet mal existia e celulares eram do tamanho de tijolos.
O relacionamento com Bree, a filha caçula, foi construído à base de visitas à prisão e telefonemas com duração automática de 15 minutos. Os dois nunca tiveram a chance de tirar uma foto juntos, então filha pintou um retrato dos dois. "Meu pai não teve a chance de andar de bicicleta comigo nem de ir à minha formatura na escola. Ele faz parte da minha vida, mas nunca esteve perto", conta Bree.
BBC
Image captionPara o juiz Johnson, "há muitos outros Roberts" nas prisões da Louisiana
No tempo em que passou na prisão, Jones estudou Direito e acabou prestando auxílio legal a outros prisioneiros. Segundo ele, pelo menos 39 prisioneiros que conheceu em Angola cometeram suicídio.
"Muitos companheiros perderam a fé na Justiça. Isso me motiva a lutar para que meu caso lhes traga esperança. Sei que muitos deles eram realmente inocentes, por isso essa luta não é só minha".
Um ponto de vista endossado pelo juiz Calvin Johnson, para quem o sistema carcerário da Louisiana "tem muitos outros Roberts".
Por Aleem Maqbool, da BBC, em Columbus, Ohio

sábado, 26 de dezembro de 2015

The Rolling Stones - Paint It Black - Live 1990

Por que não escrever?, diz menina que lê 5 livros por semana




Enquanto algumas crianças sonham com uma bola de futebol, uma boneca ou uma bicicleta de presente, Bruna Hellmeister, de Campinas (SP), brilha os olhos ao ver um livro. A garota de 8 anos tem uma biblioteca particular no quarto e já teve a oportunidade de escrever a própria obra, quando tinha apenas 6 anos.

"Eu sempre gostei de ler e escrever e aí eu pensei: Ué, por que não escrever um livro? Eu peguei meu tablet e aí meu pai estava junto. Aí eu falava e ele escrevia", conta a menina, que tem o hábito de ler até cinco livros por semana, segundo o pai.

Assim nasceu a história de um gatinho que sofre maus tratos, foge e monta uma banda para conseguir comida. "O Gatinho Branco" foi lançado em novembro deste ano e teve a apreciação da Biblioteca Nacional como obra autêntica.

Ideia como projeto de férias
“A ideia surgiu quando a escola que eu estudo deu a ideia de, nas férias, fazer um cartão postal ou alguma coisa que lembrasse as férias”, conta Bruna.

Durante as férias escolares de 2013, a história ganhou corpo enquanto a garota observava um gato branco que ficava próximo à reforma feita na sua casa.

“A gente deu o apelido de 'Inquilino' pra ele, porque ele vivia na obra”, conta a menina, que entregou a primeira versão da obra em papel sulfite para a professora Mariana Milanez, na escola.

A professora, por sua vez, confirmou o interesse da aluna pelo mundo letrado, mas não imaginava que as férias pudessem ter sido tão produtivas. 

"Ela sempre foi uma aluna muito envolvida com escrita e leitura. [Mas] foi muito impactante para mim uma aluna com essa idade escrever dessa maneira. (...) Eu fiquei muito admirada", diz.

Avaliação da Biblioteca Nacional
Apesar do orgulho pelo feito da filha, a família ficou preocupada em relação à autenticidade da história, que falava de animais músicos assim como o clássico "Músicos de Bremen", dos Irmãos Grimm, que a menina já havia lido. Neste conto, um burro, um cão, um gato e um galo, também maltratados pelos donos, decidiram abandoná-los e partir para Bremen, cidade alemã onde vivenciam momentos de liberdade.

"Por orientação de uma colega, nós mandamos o texto e a Biblioteca Nacional reconheceu como sendo uma obra autêntica e ela [Bruna] como sendo a autora a partir de agora (...). A gente fica babando”, conta orgulhoso o pai Celso Hellmeister.

Busca por ilustrador
Após a avaliação da obra, em julho de 2014, eles começaram a busca por uma pessoa que ilustrasse a história. Os pais conheciam um adolescente que tinha habilidades para desenhar e resolveram perguntar se ele faria as ilustrações.

“Ela gostou do rascunho de cara. Ele trouxe o rascunho de início e ela falou: 'Era exatamente isso que eu tinha na cabeça para ser o gatinho' (...) Nós achamos interessante, considerando que eram duas cabeças muito próximas pensando juntas”, conta a mãe, Caroline Batista.

Sucesso
A elaboração dos desenhos durou cerca de um ano até a publicação do livro e a exposição em uma vernissage, em novembro deste ano, no Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (CCLA).

“Foi uma surpresa. Na verdade, o interesse dela pela literatura já era conhecido, mas como a coisa se moveu, [não]. Ela praticamente escreveu em uma tarde o livro", conta o pai.

A mãe conta que sempre incentivou a leitura, mas afirma que o gosto e a facilidade são naturais da garota.

“Ela se alfabetizou supercedo. Claro que a gente sempre incentivou (...) Mas é muito comum a gente ir ao shopping e ela, podendo escolher entre um livro e um brinquedo, escolher o livro”, conta Caroline.

Após o primeiro livro, a menina continua lendo e alimenta mais sonhos para o futuro: "Penso em ser uma escritora", planeja.

Do portal G1

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Ten Years After (Alvin Lee) - I'd love to change the world

Colombiano ‘O Abraço da Serpente’ segue seu caminho rumo ao Oscar

Filme colombiano é o único candidato latino ainda na briga de melhor filme estrangeiro


Cena do filme 'O abraço da serpente'.
Estreou nesta semana nos cinemas um filme que oferece a chance de viajar até galáxias distantes e criaturas extraterrestres. Há outros, no entanto, que nos transportam a locais desconhecidos deste mundo. Essa é a essência do cinema –e foi precisamente a chave do sucesso de O Abraço da Serpente, filme colombiano que virou fenômeno e que nesta sexta-feira permaneceu na shortlist,lista com os nove candidatos que ainda seguem na disputa por um Oscar de melhor filme estrangeiro. A obra dirigida por Ciro Guerra é o único longa latino-americano a entrar na concorrida seleção, deixando para trás o brasileiro Que Horas Ela Volta?, da cineasta paulista Anna Muylaert.
Embora os brasileiros tenham ficado novamente fora da corrida por um Oscar, o filme foi rodado no noroeste da Amazônia, na fronteira entre o Brasil e o Colômbia. “O Amazonas é um mundo completamente desconhecido”, diz o diretor Ciro Guerra. Nascido em 1981 na região de César, no noroeste da Colômbia, Guerra abriu uma janela para esse lugar. Quem se aproxima dela fica fascinado com essa história de dois europeus que viajam com um xamã através do rio em busca da yakruna, uma planta com propriedades medicinais.
É uma zona muito rica onde se falam 17 dialetos indígenas. Nas cenas aparecem várias comunidades, entre elas guanano, ticuna e cuitoto, que foram uma parte ativa “tanto na frente como atrás das câmeras”, segundo o diretor.
Contra todas as previsões, o filme, que é em preto e branco, foi um sucesso em seu país de origem, onde esteve 11 semanas em cartaz. Também tem sido aclamado no exterior –no Brasil, foi um dos destaques da 39a Mostra de Cinema de São Paulo. Foram dez minutos de aplausos na primeira exibição no Festival de Cannes, onde ganhou o prêmio da Quinzena de realizadores. O Abraço da Serpente nas salas brasileiras e no México, Venezuela e Argentina entre janeiro e março de 2016. 
“Você nunca sabe o que vai acontecer com um filme”, disse Guerra em entrevista a EL PAÍS. “Sinto que é como escrever algo numa garrafa e lança-la ao mar.” A mensagem desta vez chegou a muita gente. O realizador continua pensando por que O Abraço da Serpente estabeleceu tanta conexão com o público. “Tocou de alguma forma. O ser humano contemporâneo se sente muito perdido e saturado pela violência, a divisão, as guerras, o ódio e a xenofobia. Muitas coisas nos dizem que a sociedade não está funcionando, e as pessoas estão numa busca espiritual.”
A visão poética do mundo indígena serviu de motor para a experiência cinematográfica
Guerra trabalhou cinco anos no filme, dois deles dedicados ao roteiro. Primeiro iniciou sua aproximação com os povos amazônicos de um ponto de vista quase antropológico, documental. E logo percebeu que os sonhos, a imaginação e a ficção eram muito importantes na cosmovisão indígena. “Eles acreditam que o mundo se cria à medida em que se conta”, afirma.
Essa visão poética do mundo indígena serviu de motor para a experiência cinematográfica. Mas o diretor deixa claro que O Abraço da Serpente “não é a Amazônia”. “O pensamento amazônico é quase incompreensível para alguém que não o estudou”, explica. Por isso, Guerra tentou criar uma ponte para que o espectador se aproxime desse mundo durante 125 minutos.
O filme compete com Krigen (Dinamarca), de Tobias Lindholm; Miekkailija(Finlândia) de Klaus Härö; Le tout nouveau testament (Bélgica), de Jaco Van Dormael; Cinco Graças (França), de Deniz Gamze Ergüven; Labirinto de Mentiras(Alemanha), de Giulio Ricciarelli; O Filho de Saul (Hungria) de László Nemesreland; Viva (Irlanda), de Paddy Breathnach; e Theeb (Jordânia), de Naji Abu Nowar. Os cinco indicados serão conhecidos em 14 de janeiro, e os prêmios entregues em 28 de fevereiro.
O Abraço da Serpente é muito sul-americano”, diz Guerra. O filme tem coprodução argentina e venezuelana e foi rodado com uma equipe da região, que inclui mexicanos e peruanos. “Fizemos sem apoio europeu, que normalmente tínhamos que procurar”, diz o cineasta. Ele acredita que o cinema latino-americano está roubando o espaço que o cinema europeu e o independente de Hollywood ocuparam durante muito tempo. “O cinema que questiona foi esquecido porque [os produtores] estão empenhados em fazer blockbusters”,afirma. O prêmio Fênix, concedido ao melhor do cinema ibero-americano, parece ter apoiado esse discurso. Ciro Guerra foi premiado como melhor diretor em sua segunda edição.
Por LUIS PABLO BEAUREGARD, no El País