segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Hayley Westenra - Amazing Grace ao vivo



Hayley Dee Westenra (Christchurch, 10 de abril de 1987) é uma soprano da Nova Zelândia de ascendência irlandesa. Seu primeiro álbum denominado Pure alcançou o primeiro lugar nas paradas musicais, categoria clássico, no Reino Unido em 2003 e vendeu mais de 2 milhões de cópias.

Ela canta música celta, contemporânea e erudita e já participou de grandes duetos, inclusive com Andrea Bocelli e com José Carreras.

Em agosto de 2006, Hayley integrou o grupo irlandês Celtic Woman para a gravação do álbum Celtic Woman: A New Journey e também participou da turnê 2007 de Celtic Woman nos Estados Unidos alternando datas de shows com Méav. A turnê teve a duração de 4 meses e terminou em 29 de junho de 2007.

Trabalha atualmente no lançamento de seu segundo álbum com canções na língua japonesa. Mais, aqui, e aqui.

Amazing Grace

Amazing grace, oh how sweet the sound
That saved a wretch like me
I once was lost, though now I'm found
I was blind, but now I see
When we've been there ten thousand years
Bright shining as the sun
We've no less days to sing God's praise
Then when, when we first begun
Through many dangers, toils and snares,
I have already come
Jesus' grace that brought me safe thus far,
and grace will lead me home.
Amazing grace, oh how sweet the sound
To save a wretch like me
I once was lost, but now I'm found
I was blind, but now I see

Maravilhosa Graça

Maravilhosa Graça, quão doce é o som
Que salvou um náufrago como eu
Uma vez estive perdido, agora eu me achei
Eu estava cego, mas agora eu enxergo.
Quando estivemos lá há 10 mil anos
Luz brilhante como o sol
Não tivemos menos dias para cantar e louvar a Deus
Do que quando, quando começamos pela primeira vez
Muitos anjos falsos e desperdiçados.
Eu já vim
A graça de Jesus que me trouxe a salvo até aqui
e a graça me conduzirá em casa.
Maravilhosa Graça, oh como doce o som
Que salvou um fraco como eu
Uma vez estive perdido, agora eu me achei
Eu estava cego, mas agora eu enxergo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O universo no ponto ínfimo.

Um agasalho, um aconchego, um calor que afaga e protege

Ainda que numa altura infinita
   uma rede de penas e algodão
      leve e tênue como os sonhos
         rija e segura como o aço
Amor de pai, segurança de mãe
Um voo... todo o espaço para o espaço todo
   no rasante, um azul semblante
Frontosa árvore benditos frutos
Amor de mãe, segurança de pai
   o singular no universo
       a partícula que avassala o todo
          o universo no ponto ínfimo
Explosão!, caos, cosmos insurdecedor
São os planetas que latejam jatos de vida
Como os pais
Nobres, valentes, destemidos
Os frágeis criadores da criação.           

sábado, 11 de junho de 2011

Fernando Pessoa

O Monstrengo Fernando Pessoa,

mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cesariny - O Navio de Espelhos

O navio de espelhos
não navega cavalga


Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível


Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos


Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele


Os amadores não amam
a sua rota clara


(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)


Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga


O seu porão traz nada
nada leva à partida


Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta


(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)


Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto


A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto


Quando um se revolta
há dez mil insurrectos


(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)


E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo


Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)


Do princípio do mundo
até ao fim do mundo

ESTADO SEGUNDO, XXI
Ama como a estrada começa
Mário Cesariny
(Lisboa, 9/8/1923 – Lisboa, 26/11/2006)

Pintor e poeta, fundador do Movimento Surrealista Português.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Don Quixote

Don Quixote grand pas de deux - Svetlana Zakharova and Andrei Uvarov


Miguel de Cervantes (1547 ? 1616)
"El hombre se despierta de un incierto
Sueño de alfanjes y de campo llano
Y se toca la barba con la mano
Y se pregunta si está herido o muerto.
¿No lo perseguirán los hechiceros
que han jurado su mal bajo la luna?
Nada. Apenas el frío.
Apenas una dolencia
de sus años postrimeros.
El hidalgo fue un sueño de Cervantes
Y don Quijote un sueño del hidalgo.
El doble sueño los confunde
Y algo está pasnado que pasó mucho antes.
Quijano duerme y sueña.
Una batalla:
Los mares de Lepanto y la metralla."
Poema Sueña Alonso Quijano, de Jorge Luis Borges

Pas de Deux Don Quixote Com Baryshnikov

sábado, 14 de maio de 2011

Vinicius de Moraes



Vinicius de Moraes (1913 - 1980)

"A matéria do poeta "a que foi dado se perder de amor pelo seu semelhante" é a vida ? "e só a vida, com tudo o que ela tem de sórdida e de sublime". Nada que é humano lhe é estranho. Uma sublimidade pejorativamente angélica cede lugar ao "sentimento da fecundidade da vida". A fórmula viniciana de viver intensamente guarda, contudo, ressaibos da antiga sede de absoluto, ou qualquer coisa parecida: a consciência do insatisfatório, a certeza de que tudo afinal é pouco. Mas o poeta é um bicho da terra e opera no horizonte de suas experiências, de seu comércio humano, sem as moedas falsas de que trazia cheias os bolsos no começo de um caminho que se pretendia para a distância, mas não foi.
Pouco importa o que se tenha, moralmente, ou metafisicamente, a dizer sobre a qualidade do espetáculo do mundo - Vinicius é um protagonista que não se esconde nos bastidores. Dá-se, empenha-se, age como age. Sua poética, como na vida, abre-se por isso cordial e fraterna."
Trecho de O caminho para o soneto, em que Otto Lara Resende analisa a poesia de Vinicius de Moraes.

Site oficial



Biografia
Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes[1](19 de outubro de 1913 — Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980), o Vina, foi um diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro.

Poeta essencialmente lírico, também conhecido como "poetinha"[2][3], apelido que lhe teria atribuido Tom Jobim[4], notabilizou-se pelos seus sonetos. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua vida e suas esposas foram, respectivamente: Tati de Moraes, Regina Pederneiras, Lila Bôscoli, Nelita de Abreu, Lúcia Proença, Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues e Gilda de Queirós Mattoso.

Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, o poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque e Carlos Lyra. Mais, aqui.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Francis Scott Fitzgerald

O Curioso Caso de Benjamin Button



The Curious Case of Benjamin Button (publicado como O Curioso Caso de Benjamin Button no Brasil e O Estranho Caso de Benjamin Button em Portugal) é um conto do autor estadunidense F. Scott Fitzgerald. Foi publicado pela primeira vez na edição de 27 de maio de 1922 da revista Collier's Weekly. Mais tarde no mesmo ano, a história foi incluída no pequeno livro de contos de Fitzgerald, Tales of the Jazz Age.

O conto narra a bizarra história de Benjamin Button, que nasce velho e, conforme os anos vão passando, começa a rejuvenescer até simplesmente não existir mais. A narrativa é em parte cômica e em parte melancólica. Mais, aqui.
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Biografia
Francis Scott Fitzgerald (24 de setembro de 1896, Saint Paul, Minnesota - 21 de dezembro de 1940, Hollywood) foi um escritor americano.

Fitzgerald é considerado um dos maiores escritores americanos do século XX. Suas histórias, reunidas sob o título Contos da Era do Jazz, refletiam o estado de espírito da época. Foi um dos escritores da chamada "geração perdida" da literatura americana.

Francis Scott Key Fitzgerald nasceu em Saint Paul, Minnesota, nos Estados Unidos, em 24 de setembro de 1896. Oriundo de família católica irlandesa, ingressou na Universidade de Princeton, mas não chegou a se formar. Durante a primeira guerra mundial, alistou-se como voluntário. Começou a carreira literária em 1920, com This Side of Paradise (Este Lado do Paraíso), romance que lhe deu grande popularidade e lhe abriu espaço em publicações de grande prestígio, como a Scribner's e o The Saturday Evening Post. Seu segundo romance, The Beautiful and Damned (Os Belos e Malditos), foi publicado em 1922.

Com a esposa, Zelda Sayre, que introduziria um componente trágico na vida do escritor (em 1930 foi internada num hospício), Fitzgerald mudou-se para a França, onde concluiu o terceiro e o mais célebre de seus romances, The Great Gatsby (1925; O Grande Gatsby). Essa obra, uma das mais representativas do romance americano, descreve a vida em alta sociedade com uma aguda reflexão crítica. Em 1934 publicou Tender is the Night (Suave é a Noite), romance pungente que o autor considerava sua melhor obra. Mais, aqui.
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Cronologia
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The Great Gatsby

The Great Gatsby (O Grande Gatsby) é um romance escrito pelo autor americano F. Scott Fitzgerald. Publicado pela primeira vez em 10 de abril de 1925, a história passa-se em Nova Iorque, e na cidade de Long Island, durante o verão de 1922 e é uma crítica ao "Sonho Americano".

O romance relata o caos da Primeira Guerra Mundial. A sociedade americana vive um nível sem precedentes de prosperidade durante a década de 1920, assim como a sua economia. Ao mesmo tempo, a proibição de produção e consumo de bebidas alcoólicas, ordenada pela 18ª emenda, fez grande número de milionários fora do circuito de venda de mercadorias e provocou um aumento do crime organizado.

Embora Fitzgerald, assim como Nick Carraway no seu romance, idolatre os ricos e o glamour da época, ele não se conformava com o materialismo sem limites e a falta de moral, que traziam consigo uma certa decadência.

The Great Gatsby não se popularizou logo na sua primeira edição, vendendo menos de 25.000 cópias durante os 15 anos restantes da vida de seu autor.

Embora o livro tenha sido adaptado para uma peça da Broadway, e um filme de Hollywood, após um ano de publicação, ele foi esquecido durante a Crise de 1929, e a Segunda Guerra Mundial. Mais tarde, em 1945 e 1953, foi republicado e difundiu-se rapidamente ao encontrar um grande número de leitores, e agora a obra é frequentemente considerada como o Grande romance americano e um clássico literário. Atualmente "O Grande Gatsby" tornou-se o texto padrão em todas as escolas superiores e universidades em todo o mundo que estudam a literatura dos Estados Unidos.

A obra está classificada em segundo lugar no top 100 das melhores novelas do século XX. Mais, aqui.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Terra!, minha terra.

Quiseram emoldurar a terra
Confiná-la num redoma concêntrica
Aprisioná-la numa esfera perfeita
Desejaram fazê-la anel de raio exato.
E enquanto tergiversavam sobre a precisão matemática da esfera
A terra - traquina - se fartava de rir, gargalhando: extase e loucura
 pois sabia que de exata e perfeita só tinha a curva sinuosa
a forma arisca, rebelde, indomável da minha juventude, da minha adolescência.
Rodoux Faugh



Cientistas elaboram mapa da gravidade da Terra

A Agência Espacial Europeia (ESA) divulgou, nesta quinta-feira (31), o mapa mais preciso já feito até hoje da gravidade da Terra. As informações foram coletadas durante dois anos pelo satélite Goce. O modelo, chamado de geoide, mostra minunciosamente que a Terra não é completamente redonda.

domingo, 27 de março de 2011

João Cabral de Melo Neto



João Cabral de Melo Neto (Recife, 9 de janeiro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1999) foi um poeta e diplomata brasileiro. Sua obra poética, que vai de uma tendência surrealista até a poesia popular, porém caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurou uma nova forma de fazer poesia no Brasil.

Irmão do historiador Evaldo Cabral de Melo e primo do poeta Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre, João Cabral foi amigo do pintor Joan Miró e do poeta Joan Brossa. Membro da Academia Pernambucana de Letras e da Academia Brasileira de Letras, foi agraciado com vários prêmios literários. Quando morreu, em 1999, especulava-se que era um forte candidato ao Prêmio Nobel de Literatura.

Foi casado com Stella Maria Barbosa de Oliveira, com quem teve os filhos Rodrigo, Inês, Luiz, Isabel e João. Casou-se em segundas núpcias, em 1986, com a poeta Marly de Oliveira. Mais, aqui.
Tecendo o amanhã
1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.



Poema(s) da Cabra

Nas margens do Mediterrâneo
não se vê um palmo de terra
que a terra tivesse esquecido
de fazer converter em pedra.

Nas margens do Mediterrâneo
Não se vê um palmo de pedra
que a pedra tivesse esquecido
de ocupar com sua fera.

Ali, onde nenhuma linha
pode lembrar, porque mais doce,
o que até chega a parecer
suave serra de uma foice,

não se vê um palmo de terra
por mais pedra ou fera que seja,
que a cabra não tenha ocupado
com sua planta fibrosa e negra.

1

A cabra é negra. Mas seu negro
não é o negro do ébano douto
(que é quase azul) ou o negro rico
do jacarandá (mais bem roxo).

O negro da cabra é o negro
do preto, do pobre, do pouco.
Negro da poeira, que é cinzento.
Negro da ferrugem, que é fosco.

Negro do feio, às vezes branco.
Ou o negro do pardo, que é pardo.
disso que não chega a ter cor
ou perdeu toda cor no gasto.

É o negro da segunda classe.
Do inferior (que é sempre opaco).
Disso que não pode ter cor
porque em negro sai mais barato.

2

Se o negro quer dizer noturno
o negro da cabra é solar.
Não é o da cabra o negro noite.
É o negro de sol. Luminar.

Será o negro do queimado
mais que o negro da escuridão.
Negra é do sol que acumulou.
É o negro mais bem do carvão.

Não é o negro do macabro.
Negro funeral. Nem do luto.
Tampouco é o negro do mistério,
de braços cruzados, eunuco.

É mesmo o negro do carvão.
O negro da hulha. Do coque.
Negro que pode haver na pólvora:
negro de vida, não de morte.

3

O negro da cabra é o negro
da natureza dela cabra.
Mesmo dessa que não é negra,
como a do Moxotó, que é clara.

O negro é o duro que há no fundo
da cabra. De seu natural.
Tal no fundo da terra há pedra,
no fundo da pedra, metal.

O negro é o duro que há no fundo
da natureza sem orvalho
que é a da cabra, esse animal
sem folhas, só raiz e talo,

que é a da cabra, esse animal
de alma-caroço, de alma córnea,
sem moelas, úmidos, lábios,
pão sem miolo, apenas côdea.

4

Quem já encontrou uma cabra
que tivesse ritmos domésticos?
O grosso derrame do porco,
da vaca, do sono e de tédio?

Quem encontrou cabra que fosse
animal de sociedade?
Tal o cão, o gato, o cavalo,
diletos do homem e da arte?

A cabra guarda todo o arisco,
rebelde, do animal selvagem,
viva demais que é para ser
animal dos de luxo ou pajem.

Viva demais para não ser,
quando colaboracionista,
o reduzido irredutível,
o inconformado conformista.

5

A cabra é o melhor instrumento
de verrumar a terra magra.
Por dentro da serra e da seca
não chega onde chega a cabra.

Se a serra é terra, a cabra é pedra.
Se a serra é pedra, é pedernal.
Sua boca é sempre mais dura
que a serra, não importa qual.

A cabra tem o dente frio,
a insolência do que mastiga.
Por isso o homem vive da cabra
mas sempre a vê como inimiga.

Por isso quem vive da cabra
e não é capaz do seu braço
desconfia sempre da cabra:
diz que tem parte com o Diabo.

6

Não é pelo vício da pedra,
por preferir a pedra à folha.
É que a cabra é expulsa do verde,
trancada do lado de fora.

A cabra é trancada por dentro.
Condenada à caatinga seca.
Liberta, no vasto sem nada,
proibida, na verdura estreita.

Leva no pescoço uma canga
que a impede de furar as cercas.
Leva os muros do próprio cárcere:
prisioneira e carcereira.

Liberdade de fome e sede
da ambulante prisioneira.
Não é que ela busque o difícil:
é que a sabem capaz de pedra.

7

A vida da cabra não deixa
lazer para ser fina ou lírica
(tal o urubu, que em doces linhas
voa à procura da carniça).

Vive a cabra contra a pendente,
sem os êxtases das decidas.
Viver para a cabra não é
re-ruminar-se introspectiva.

É, literalmente, cavar
a vida sob a superfície,
que a cabra, proibida de folhas,
tem de desentranhar raízes.

Eis porque é a cabra grosseira,
de mãos ásperas, realista.
Eis porque, mesmo ruminando,
não é jamais contemplativa.

8

O núcleo de cabra é visível
por debaixo de muitas coisas.
Com a natureza da cabra
outras aprendem sua crosta.

Um núcleo de cabra é visível
em certos atributos roucos
que têm as coisas obrigadas
a fazer de seu corpo couro.

A fazer de seu couro sola,
a armar-se em couraças, escamas:
como se dá com certas coisas
e muitas condições humanas.

Os jumentos são animais
que muito aprenderam com a cabra.
O nordestino, convivendo-a,
fez-se de sua mesma casta.

9

O núcleo de cabra é visível
debaixo do homem do Nordeste.
Da cabra lhe vem o escarpado
e o estofo nervudo que o enche.

Se adivinha o núcleo de cabra
no jeito de existir, Cardozo,
que reponta sob seu gesto
como esqueleto sob o corpo.

E é outra ossatura mais forte
que o esqueleto comum, de todos;
debaixo do próprio esqueleto,
no fundo centro de seus ossos.

A cabra deu ao nordestino
esse esqueleto mais de dentro:
o aço do osso, que resiste
quando o osso perde seu cimento.

*

O Mediterrâneo é mar clássico,
com águas de mármore azul.
Em nada me lembra das águas
sem marca do rio Pajeú.

As ondas do Mediterrâneo
estão no mármore traçadas.
Nos rios do Sertão, se existe,
a água corre despenteada.

As margens do Mediterrâneo
parecem deserto balcão.
Deserto, mas de terras nobres
não da piçarra do Sertão.

Mas não minto o Mediterrâneo
nem sua atmosfera maior
descrevendo-lhe as cabras negras
em termos da do Moxotó.

sábado, 26 de março de 2011

Apague as luzes para ver um mundo melhor



Milhões de pessoas estão prontas para desligar as luzes e ir além da hora


Dentro de algumas horas, um número recorde de pessoas em mais de 130 países ao redor do globo irá desligar as luzes durante uma hora, demonstrando apoio a ações por um futuro sustentável.

Centenas de monumentos, outras edificações e residências em milhares de cidades ficarão às escuras entre as 20h30min e 21h30min deste sábado (26) - hora local, quando milhões de pessoas se unirem a um dos maiores atos voluntários em prol do meio ambiente no globo. Indivíduos, organizações e governos estão comprometidos em levar a ação além da hora, pois o compromisso não termina com o reacender das luzes.

"Ao entrarmos na quinta edição mundial da Hora do Planeta, com a participação de um número recorde de países e de territórios, é inspirador vermos o que se pode conseguir quando nos unimos em torno de um objetivo comum", afirmou Andy Ridley, co-fundador e diretor-executivo da Hora do Planeta. "Imagine o que poderemos obter se formos além da hora", ressaltou.

O evento irá percorrer o globo ao longo de 24 horas, desde o momento em que as primeiras luzes forem apagadas nas ilhas Fiji e na Nova Zelândia, até o reacender das luzes no arquipélago de Samoa. A trajetória mais longa será na Rússia, onde a Hora do Planeta atravessará 11 fusos horários.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, também apoiará à Hora do Planeta. "Vamos celebrar juntos e buscar ações para proteger o planeta e assegurar o bem-estar da humanidade. Vamos usar esses 60 minutos de escuridão para ajudar o mundo a encontrar a luz", disse.

No sábado, monumentos e outros pontos de referência bem conhecidos no mundo ficarão às escuras em todo o mundo durante uma hora. Entre eles, a Torre Eiffel (Paris); a roda gigante London Eye e o relógio Big Ben (Londres); o edifício do Empire State (Nova Iorque); o prédio em formato de vela gigante do hotel Burj Al Arab (Dubai); o castelo da Alhambra (Granada/Espanha); a estátua do Cristo Redentor e os Arcos da Lapa(Rio de Janeiro); a Acrópole de Atenas (Grécia); o Portal da Índia (Nova Délhi); a Grande Mesquita do Sheik Zayed (Emirados Árabes Unidos); e o teatro da Ópera de Sydney (Austrália).

Quatro dos cinco edifícios mais altos do mundo também terão suas luzes apagadas. Só a Torre do Califa (Dubai) tem meio milhão de pontos de luz.

Durante a Hora do Planeta, também serão apagados os holofotes de monumentos naturais espetaculares, como as cataratas do Niágara (entre Canadá e Estados Unidos) e as cataratas de Vitória (entre Zâmbia e Zimbábue, na África), e a barragem de Itaipu (Brasil) assim como a Montanha da Mesa (Cidade do Cabo/África do Sul).

Residências reais e presidenciais, castelos e palácios no Peru, Tailândia, Suécia, Madagascar e Honduras também terão suas luzes desligadas. A maior unidade residencial africana, uma propriedade conhecida como Gwarimpa Housing Estate, em Lagos (Nigéria), também participará.

Este ano, o apoio ao evento cresceu na África, Oriente Médio, Ásia Central e nas Américas, onde um grande número de países aderiu pela primeira vez à Hora do Planeta. Entre eles estão a Jamaica, Uganda, Suazilândia, Irã, Tadjikistão, Chade, Azerbaijão, Palestina, Suriname, Gibraltar, Uzbequistão, Trinidad & Tobago, Lesoto e Líbano.

Mídias online irão, mais uma vez, desempenhar um papel fundamental na Hora do Planeta, unindo a comunidade global. O YouTube, por exemplo, exibirá uma página personalizada da Hora do Planeta, onde se poderá clicar em um interruptor e escurecer a página.

Além da Hora

Este ano, a Hora do Planeta pede aos indivíduos, empresas e governos para ir além da hora. Isso requer um comprometimento com uma ação duradoura que se estenda após o evento de desligamento das luzes. Para isso, foi criado um programa online em www.earthhour.org/beyondthehour, onde serão registradas e mostradas ações com as quais as pessoas e organizações de todo o mundo se comprometeram.

Em Uganda, vários indivíduos e organizações que prometeram ir além da hora vão plantar mais de 16 mil árvores. Em Lumbini, no Nepal, será feito o plantio de 108 mil árvores.

Na China, todas as 83 cidades da parte continental do país que participam da Hora do Planeta prometeram ir "além da hora" e fazer "uma mudança" em prol do planeta. A cidade de Xangai vai criar mil hectares de novos espaços urbanos verdes. Em Chengdu, o governo municipal distribuirá 60 mil bicicletas nas áreas centrais da cidade e criará mais de mil estações para aluguel de bicicletas.

26 de março de 2011, de 20h30 as 21h30, apague as luzes para ver um mundo melhor. Cadastre-se no hotsite Hora do Planeta 2011: www.horadoplaneta.org.br

domingo, 6 de março de 2011

Pai, afaste de mim este cálice


De Sérgio Roxo, em Globo Online:
A volta de personagens envolvidos em escândalos de corrupção aos holofotes da cena política é um atentado à ideia de República, para Roberto Romano, professor de ética e filosofia política da Unicamp. Ele atribuiu o fato ao “anacronismo absolutista” da sociedade brasileira, em que há diferenças de direitos entre o cidadão comum e os ocupantes de cargos públicos.
Nos últimos dias, réus em processos foram nomeados para comissões na Câmara . João Paulo Cunha (PT-SP), acusado no mensalão, foi eleito presidente da Comissão de Constituição e Justiça , uma das mais importantes da Casa. Paulo Maluf (PP-SP), procurado pela Interpol, Valdemar da Costa Neto (PR-SP), também réu no mensalão, e Eduardo Azeredo (PSDB-MG), réu no processo do mensalão mineiro, foram escolhidos para integrar a comissão da reforma política. “Quem faz a lei não pode responder por uma acusação de desrespeitar a lei”, afirma Romano.
Tais nomeações, diz, geram uma “ameaça ao Estado democrático de direito”: “A situação mostra a fragilidade da nossa República. É uma República quase de fachada.” Para o cientista político Cláudio Couto, professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas, essas nomeações mostram que os partidos “estão se lixando” para a opinião pública: “É uma conduta comum a todos os partidos, tanto de oposição como situação. Não sobra ao eleitor escolher alguém que não esteja envolvido nesse tipo de situação.” Couto acredita que episódios como os das nomeações já foram banalizados pela avalanche de escândalos: ” É até difícil dizer que é um escândalo, porque se tornou algo tão rotineiro essa desfaçatez da classe política com a população. Escândalos, por definição, não podem ser coisas rotineiras. “

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Morre o gigante Moacyr Scliar

"Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que "baixa" no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas — o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente".


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Aos 73 anos, morre Moacyr Scliar
Escritor estava internado desde 11 de janeiro e teve falência múltipla dos órgãos
estadão.com.br
O escritor Moacyr Scliar que havia sofrido um acidente vascular cerebral isquêmico (AVC) e estava internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre desde 17 de janeiro, faleceu à 1h deste domingo, 27 de fevereiro. Segundo boletim médico, Sclyar, morreu de falência múltipla de órgãos.

Tasso Marcelo/AEO escritor gaúcho, Moacyr ScliarInternado desde 11 de janeiro para uma cirurgia de extração de tumores no intestino, Scliar sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico no dia 16 de janeiro e foi encaminhado à Unidade de Tratamento Intensivo. No dia seguinte, sofreu uma cirurgia para retirada de coágulo decorrente do AVC, passando a ser mantido com um mínimo de sedação necessária. O escritor passava pela retirada gradual da sedação quando, no dia 9 de fevereiro, apresentou um quadro de infecção respiratória, voltando então a ser sedado e a respirar por aparelhos.

O velório acontece neste domingo, a partir das 14h, no salão Júlio de Castilhos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

O sepultamento será na segunda-feira, 28, em local e horário ainda indefinidos. Esta cerimônia será apenas para familiares e amigos.

História

"Não preciso de silêncio, não preciso de solidão, não preciso de condições especiais. Preciso só de um teclado." Em meio a dezenas de depoimentos de autores sobre as mais diferentes manias no momento de escrever, publicados desde o início do ano passado no blog do escritor Michel Laub, o do gaúcho Moacyr Scliar se destacou pelo pragmatismo: para o criador prolífico e naturalmente inspirado, o único impedimento para a escrita seria a falta da ferramenta com a qual levá-la a cabo.

Tanto era assim que, em quase 50 anos de carreira literária, o porto-alegrense publicou mais de 80 livros - o primeiro, Histórias de um Médico em Formação, em 1962, mesmo ano em que concluiu a faculdade de medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e o mais recente, o romance Eu Vos Abraço, Milhões, em setembro do ano passado. Entre um e outro escreveu romances e livros de crônicas, contos, literatura infantil e ensaios, numa média de mais de um livro por ano, com destaque para O Ciclo das Águas, A Estranha Nação de Rafael Mendes, O Exército de um Homem Só e O Centauro no Jardim.

Tudo isso mantendo os critérios que o tornaram um dos mais reconhecidos autores brasileiros contemporâneos em solo nacional, com uma cadeira na Academia Brasileira de Letras desde 2003 e três Jabutis (1988, 1993 e 2009) entre prêmios recebidos, e também no exterior, com obras publicadas em 20 países e honrarias como o Casa de Las Americas, em 1989.

E sem deixar de lado a carreira na medicina. Na área, destacou-se desde 1969 em cargos como chefe da equipe de Educação em Saúde da Secretaria da Saúde de RS e diretor do Departamento de Saúde Pública. Entre o lançamento do livro de contos que Scliar preferia considerar como sua primeira obra profissional, O Carnaval dos Animais, em 1969, e o primeiro romance, A Guerra no Bonfim, em 1971, encontrou tempo ainda para cursar pós-graduação em medicina comunitária em Israel. Ainda no início da década passada, em 2002, concluiu doutorado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública, com a tese Da Bíblia à Psicanálise: Saúde, Doença e Medicina na Cultura Judaica.

A tradição judaica o acompanhou em toda a carreira literária, assim como o imaginário fantástico - nascido em 23 de março de 1937 no bairro do Bom Fim, que até hoje reúne a comunidade judaica de Porto Alegre, e alfabetizado pela mãe, Sara, que era professora primária, Scliar chegou a ter o romance O Centauro no Jardim incluído numa lista com os cem melhores livros relacionados à história dos judeus dos últimos dois séculos, elaborada pelo National Yiddish Book Center. Também se tornou um grande porta-voz do País sobre temas relativos ao judaísmo, mantendo laços de amizade com alguns dos maiores autores israelenses no mundo contemporâneo, como David Grossman, A.B. Yehoshua e Amos Oz.

A especialização em saúde pública, por sua vez, deu a Scliar a oportunidade de vivenciar temas como a doença, o sofrimento e a morte - características que podem ser percebidas tanto em sua ficção, em obras como A Majestade do Xingu, quando na não ficção, caso em que A Paixão Transformada: História da Medicina na Literatura é um dos exemplos mais claros. Ele pôde também conhecer de perto a realidade brasileira, o que fez da vida de classe média, sempre em textos leves e bem-humorados, outro de seus assuntos centrais.

Casado desde 1965 com Judith Vivien Oliven e pai de Roberto, nascido em 1979, Scliar também dedicou atenção especial às obras infanto-juvenis. Costumava dizer que escrevendo para os jovens reencontrava o jovem leitor que havia sido. Boa parte de sua produção nessa área foi considerada "altamente recomendável" pela Fundação Biblioteca Nacional.

Além de produzir textos para vários jornais e revistas, o autor também teve trabalhos adaptados para o cinema. Caso do romance Um Sonho no Caroço do Abacate, adaptado em 1998 por Luca Amberg sob o título Caminho dos Sonhos, em cujo elenco apareceram atores como Taís Araújo, Caio Blat e Mariana Ximenes. Em 2002, o romance Sonhos Tropicais também virou filme, sob direção de André Sturm, com Carolina Kasting, Ingra Liberato e Cecil Thiré entre os atores.

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moacyr scliar
estrela e guia

Jean-Paul Sartre escreveu boa parte de sua obra no Café de Flore, em Paris. Não foi o único. Muitos escritores procuraram em cafés o refúgio e o estímulo para a elaboração de suas obras. Café e bares, naturalmente. Podemos imaginar que ensaios e obras filosóficas são melhor escritos em café; mas para a poesia o bar é um cenário muito melhor. Aliás, a história da poesia brasileira poderia ser escrita tendo os bares como marcos históricos. Foi no Villarino, bar do centro do Rio, que Vinicius propôs a Tom Jobim a primeira parceria, dando início a uma gloriosa trajetória.

Mario Quintana também freqüentava bares. Não sabemos quantos poemas pode ter escrito ali, nem sabemos se o fez, mas sabemos que prestou ao bar, visto como refúgio, uma bela homenagem.

O poema chama-se, justamente, Canção de bar e começa assim: “Barzinho perdido / na noite fria / estrela e guia / na escuridão”.

Estes quatro versos são típicos da poesia e do poder criador de Mario Quintana. São feitos de palavras absolutamente comuns, destas que figuram no vocabulário de qualquer brasileiro. Nada de exageros, nada de arroubos, nada de vocábulos complicados: Mario era um poeta essencialmente democrático. Mas, com esta simplicidade, ele criava beleza. Mais criava um clima. Começamos a leitura e de imediato nos vemos em uma daquelas nevoentas noites do inverno porto-alegrense. O poeta vagueia sem rumo na noite porto-alegrense. Avista o bar, um pequeno estabelecimento, e de imediato vê nele “estrela e guia”. Entra esperançoso. E o poema prossegue: “Que bem se fica! / Que bem! Que bem! / Tal como dentro / de uma apertada / quentinha mão...” E por que se sente bem? Por causa das figuras imaginárias que encontra: “Rosa, a da vida”, que talvez tenha iniciado o poeta, como era comum no Rio Grande de outrora; “E o Pedro Cachaça / com quem me assustavam / (O tempo que faz!)”; “E o Anto que viaja / pelo alto mar”.

Ali também estão, em espírito, os poetas franceses que influenciaram o jovem Mario: Verlaine, Rimbaud, Villon. No fim, tudo tem a ver com poesia, até mesmo a caninha, que, pretensamente pura, foi batizada com “a mais pura água”. O que ao poeta não incomoda; porque “... poesia pura / ai seu poeta irmão, / a poesia pura / não existe não!” Claro, não era só em bares que o poeta encontrava a humanidade. Embora fosse um homem retraído, tímido mesmo, não era um misantropo, não recusava a companhia de outros seres humanos. Ao contrário, sentia-se bem em lugares freqüentados por muitas pessoas. A redação do jornal, para começar. Ali, diz Antonio Hohfeldt, que foi seu colega no " Correio do Povo", Mario passava horas, dedilhando seus textos na máquina, ou simplesmente pensando. Ou então no cinema: era um cinéfilo contumaz, via qualquer tipo de filme, desde faroeste até obras-primas. E por fim na praça: era comum encontrá-lo na Praça da Alfândega, no centro de Porto Alegre, caminhando no meio as multidão e sentindo-se inteiramente à vontade. Mario sabia que a poesia é coisa humana, e só pode existir em cenários humanos, como a redação do jornal, como o cinema, como a praça – e como um barzinho perdido na noite fria. Falando em barzinho, por que se fica bem, ali? Por causa da mão, apertada e quente, que nos envolve com um carinho materno. É a mão da poesia, no interior da qual Mario Quintana escreveu poemas que, um século depois de seu nascimento, continuam a nos encantar e a nos comover.

Canção de bar


Barzinho perdido
Na noite fria.
Estrela e guia
Na escuridão.
Que bem se fica!
Que bem! Que bem!
Tal como dentro
De uma apertada
Quentinha mão...
E Rosa, a da vida...
E Verlaine que está
Coberto de limo.
E Rimbaud a seu lado,
O pobre menino...
E o Pedro Cachaça
Com quem me assustavam
(O tempo que faz!)
O Pedro tão nobre
Na sua desgraça...
E Villon sem um cobre
Que não pode entrar.
E o Anto que viaja
Pelo alto mar...
Se o Anto morrer,
Senhor Capitão,
Se o Anto morrer,
Não no deite ao mar!
E aqui tão bem...
E aqui tão bom!
Tal como dentro
De uma apertada
Quentinha concha...
E Rosa, a da vida,
Sentada ao balcão.
Barzinho perdido
Na noite fria,
Estrela e guia
Na turbação.
E caninha pura,
Da mais pura água,
Que poesia pura,
Ai seu poeta irmão,
A poesia pura
Não existe não!

“Canções” de Mario Quintana

MOACYR SCLIAR é escritor e médico. Publicou Pai e filho, filho e pai (conto, 2002), Os leopardos de Kafka (romance, 2000), Dicionário do viajante insólito (crônica, 1995), Se eu fosse Rotschild (ensaio, 1993), entre outros mais de 60 livros. Recebeu prêmios literários como o Jabuti, o APCA e o Casa de las Americas e já teve suas obras traduzidas para doze idiomas. É colunista da Folha de São Paulo e pertence à Academia Brasileira de Letras.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Sistema de Ciclos

É sempre assim, amigos leitores, a tranca só vai na porta depois que o ladrão já fez a festa. Leiam o que segue abaixo. Retorno logo após.


Deu no Estadão
O fim da reprovação

AE - AE

Depois de intenso debate travado entre 2009 e 2010, inclusive com a realização de audiências públicas em São Paulo, Salvador e Distrito Federal, o Conselho Nacional de Educação tomou a decisão de recomendar "fortemente" a todas escolas públicas, privadas e confessionais a substituição do sistema seriado - que permite a reprovação em todas as séries do ensino fundamental - por um "ciclo de alfabetização e letramento", em que os alunos são submetidos ao regime de progressão continuada, durante os três primeiros anos - ou seja, no período em que aprendem a ler e a escrever.

Para o CNE, o princípio da continuidade - especialmente na fase de alfabetização - traz mais benefícios para os alunos do que a chamada "cultura da reprovação". A medida, que não tem caráter de lei e é objeto de acirrada polêmica entre os pedagogos, foi homologada no final do governo Lula pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. Com isso, os diretores de todas as escolas do País ganharam liberdade para decidir se continuarão reprovando alunos nos três primeiros anos do ensino fundamental ou se adotarão a recomendação do CNE.

O ensino fundamental tem 31 milhões de alunos estudando em 152 mil escolas, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Desse total, aproximadamente dez milhões estão matriculados nos três primeiros anos desse ciclo. Em 2009, a taxa de reprovação desses dez milhões de alunos foi de 5,1%. O índice é considerado alto pelos especialistas em pedagogia.

"Isso mostra que, de cada cem crianças, cinco ainda são reprovadas logo que ingressam na escola. As pesquisas apontam que, se o aluno é reprovado nessa fase, dificilmente terá sucesso. A recomendação do CNE é para garantir que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos" - diz a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda. "A reprovação no ensino fundamental devia ser zero", afirma o professor da USP Ocimar Alavarsi, que coordenou a rede municipal de São Paulo, entre 1995 e 2008.

Vários professores também entendem que, na faixa etária dos 6 aos 8 anos, as crianças têm ritmos diferentes de aprendizagem e que reprovação logo no início do curso compromete o rendimento da alfabetização - o que desestimula as crianças, levando-as a abandonar a escola. No Norte e Nordeste, as regiões mais pobres do País, as altas taxas de evasão escolar têm sido atribuídas aos altos índices de reprovação nos anos iniciais do ensino básico. Segundo os defensores das diretrizes recomendadas pelo CNE, com a adoção do regime de progressão continuada nas três primeiras séries os professores podem avaliar cada criança e os alunos só podem ser reprovados no final do terceiro ano.

Para os críticos dessa política, a substituição da reprovação pelo regime da progressão continuada seria uma estratégia eficaz se as classes fossem pequenas, se os professores estivessem motivados e as escolas contassem com projetos pedagógicos realistas. "Na prática, porém, as escolas têm salas superlotadas, as aulas de reforço são dadas por voluntários, os professores têm pouquíssimo tempo para planejar aulas e as condições de trabalho são ruins. A sensação é que a proposta (do CNE) não foi feita por quem conhece o dia a dia das escolas" - diz Susana Gutierrez, coordenadora do Sindicato Estadual de Profissionais da Educação do Rio de Janeiro. Sem reformar o currículo e investir nos professores, "as crianças que não aprendem com o sistema seriado também não aprenderão no Ciclo de Alfabetização e Letramento", afirma Cláudia Fernandes, coordenadora do mestrado em educação da UniRio.

Aperfeiçoar o ensino fundamental é decisivo para que o país possa promover a revolução educacional. No entanto, a simples adoção da progressão continuada, nos termos em que foi proposta pelo CNE e pelo MEC - sem expansão da rede escolar e sem a modernização dos currículos - não garante melhor alfabetização nem aumento da qualidade da educação.

E agora, o texto que escrevi em 2007:
Sobre o sistema de Ciclos

Muitos apelidos e paradigmas pegam em função das oportunidades, dos interesses e até do humor do freguês. Às vezes escudam-se em justificativas inconsistentes, meias-verdades, arrazoados apenas envernizados de lógica. Não são poucas as vezes em que caem no domínio público em decorrência da mesquinharia que acomete meio mundo, mas não devemos perder de vista o impacto do preconceito sobre nosso comportamento.

Quantas vezes na vida já refugamos um bom livro, um filme interessante, uma idéia instigante por puro preconceito? Quem jamais se abrigou nas entranhas do jargão “não li, não vi, não conheço, e não gostei”?

Já faz um bom tempo que não encontro questão que galvanize tanta resistência e má vontade quanto o sistema de ciclos.

Este modelo surgiu como alternativa para substituir as antigas séries que avaliam os alunos ao término de cada ano letivo. No novo modelo as avaliações são realizadas ao longo do ciclo. Em decorrência da nova sistemática de avaliação, não existe mais a possibilidade do aluno ser reprovado ao final de cada ano, ao final de cada série. Quando não consegue responder ao demandado pelos professores, o aluno é reprovado ao final de cada ciclo. O ensino fundamental, por exemplo, está estruturado em dois ciclos, um da primeira à quarta série e o outro da quinta à oitava.

Como marco regulatório, o sistema de ciclos está amparado pela Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que assegurou autonomia para estados, municípios e unidades escolares decidirem se incorporam ou não a nova estratégia.

Cá entre nós, o sistema é o que existe de mais produtivo. Despreza a possibilidade das provas e testes estanques, determinados num único instante, e abraça a visão larga do processo continuado, onde as avaliações não constituem um fim em si, mas uma sistemática diuturna, que incorpora múltiplos formatos, variados componentes, ensejando a interação do ensino formal com apreendido no universo familiar e social do estudante.

Na realidade, o que está ocorrendo é um confronto entre duas concepções, uma ensandecida peleja entre dois modelos bastante distintos. De um lado, um sistema que aposta na fragmentação, na ruptura, na tensão que muitas vezes exclui. Na extremidade oposta, uma metodologia ancorada na continuidade, na inclusão e na permanência do aluno na escola. De um lado o porto seguro do professor-inquisitor, aquele que tudo pode e tudo sabe, e do outro, o ancoradouro do professor-orientador, o que domina os conteúdos pedagógicos, mas se abre com generosidade para o conhecimento egresso dos colegas, dos alunos, da comunidade na qual a escola se insere.

Na reprovação anual por série, a escola atua no sentido de excluir, expulsar, encaminhar o aluno para as ruas onde estará sujeito à marginalidade e à violência explicitas. Ocorre que o lugar da criança e da juventude é na escola. No sistema de ciclos, sistemáticas avaliações realizadas no dia a dia possibilitam que os problemas de aprendizagem sejam identificados com maior eficácia, ao longo do processo. No sistema seriado, a reprovação é um fardo carregado quase que exclusivamente pelo estudante. O novo sistema privilegia o colegiado, as responsabilidades compartilhadas, o envolvimento de toda a equipe pedagógica. No frigir dos ovos, atua como uma garantia adicional de permanência na escola para que se ampliem as possibilidades de aprendizagem.

Desde os primeiros instantes, o modelo de progressão continuada tem sido submetido a um bombardeio sem tréguas, a críticas – duras e ressentidas - embasadas numa visão distorcida e enviesada dos que o entendem como mecanismo de aprovação automática de alunos que mereceriam ser reprovados.

Os críticos do novo modelo procuram desqualificá-lo afirmando que a verdadeira intenção é escamotear o problema da repetência no país. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a abertura da 18ª Bienal internacional do Livro de São Paulo chegou a classificar de "erro histórico" o sistema de ciclos.

A solução para o caos em que se encontra a educação brasileira transcende os modelos seriado e de ciclo. O buraco é mais embaixo. O problema é que, qualquer que seja o sistema, nossos alunos estão saindo da escola semi-alfabetizados. Perdem oito anos da fase mais primorosa de suas vidas e não aprendem o mínimo necessário. Mas mesmo num cenário de terra arrasada quem poderia argumentar que um jegue é melhor que um puro sangue árabe? A questão de fundo é que o novo sistema é melhor, mais produtivo, enfrenta os desvios da reprovação-pela-reprovação e da evasão escolar.

Como as discussões sobre o assunto estão pautadas pelo preconceito e ignorância, poucos tem tido coragem e ousadia para adotar o novo sistema. Com exceção de São Paulo e Minas Gerais, poucas escolas no Brasil, não mais que 10%, trabalham exclusivamente sob o novo sistema.

O IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – em recente pesquisa desmistifica e lança por terra o muito de bobagem que, sobre o assunto, tem sido apregoado pelos quatro cantos do país.

Nas avaliações internacionais os países que sempre alcançam as melhores posições, as nações que sempre ostentam as notas mais altas, deixaram para trás o modelo da repetência seriada e, de forma quase generalizada, adotam o sistema de ciclos.

Na União Européia o sistema é exaltado pelo sucesso das sucessivas verificações levadas a efeito com vistas a aferir se as lições ministradas estão sendo processadas e assimiladas pelos alunos.

Japão, Coréia, Suécia e Noruega, por exemplo, ocupam as primeiras posições no ranking mundial da educação e não adotam o sistema de repetência por série.

Todos eles optaram pelo sistema de ciclos, pelo modelo de progressão continuada presente em todo o ensino fundamental. Característica comum nesses países: só admitem uma possibilidade para a reprovação do aluno: a ocorrência de faltas além do permitido. O mesmo ocorre com o Chile, Cingapura e Hong Kong que admitem reprovação, mas só a cada quatro anos.

E vejam que curioso: os países com pior desempenho nas avaliações internacionais refugam a progressão continuada, adotando e tecendo loas à repetência por série: é o caso do Líbano, Indonésia e Arábia Saudita.

Então responda você, caro leitor: onde está o erro histórico a que se refere o presidente Lula? No Japão, Coréia, Suécia e Noruega que estão no topo do ranking e adotam o sistema de ciclos? Ou no Líbano, Indonésia e Arábia Saudita, situados na rabeira da fila e que instituíram o sistema seriado?

Não custa insistir. O “ó do borogodó” não está no modelo. Em que pesem os países com melhor desempenho nas avaliações internacionais adotarem o sistema de ciclos, ocorrem exceções? Aliás, está para nascer regra que não tenha uma. A Bélgica ostenta alta posição no ranking apesar de manter o sistema de repetência por série. O que indica a sustentabilidade de uma tese que venho defendendo com ardor ortodoxo: o problema mais grave é o de gestão.

Que o Sistema de Ciclos é mais adequado e eficaz, os de bom senso já sabiam. As últimas pesquisas do IPEA apenas acabam de comprovar, como que lançando uma pá de cal sobre o antigo modelo.

Antônio Carlos dos Santos é professor, criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Mário Quintana (1906 - 1994)



"Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.

Quinta-essência de cantares...
Insólitos, singulares...
Cantares? Não! Quintanares!

Quer livres, quer regulares,
Abrem sempre os teus cantares
Como flor de quintanares.


São cantigas sem esgares.
Onde as lágrimas são mares
De amor, os teus quintanares.
São feitos esses cantares
De um tudo-nada: ao falares,
Luzem estrelas luares."
Trecho do poema Por isso peço não pares, Quintana, nos teus cantares, de Manuel Bandeira

Mário Quintana por ele mesmo

Site comemorativo do centenário de Mário Quintana

•Trechos do livro Mário Quintana

Obras

Poemas de Mário Quintana no Jornal de Poesia

Mário Quintana no Releituras

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos

colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
Como
uma pobre lanterna que incendiou!

Multimídia

Curta-metragem da RBS

Felicidade segundo Mário Quintana

Obituário de Mário Quintana no Jornal Nacional, da TV Globo

Concerto em homenagem a Mário Quintana

Fonte:PNLL

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Entre fantasmas e maracutaias...

Deu em O Globo

Política
Fraude na prefeitura na época de Lindberg
Informações falsas permitiram receber mais verbas federais para Educação
Demétrio Weber, O Globo

A Controladoria-Geral da União (CGU), órgão de fiscalização do governo federal, confirmou que a prefeitura de Nova Iguaçu fraudou o Censo Escolar de 2009, na época em que o prefeito era o hoje senador Lindberg Farias (PT).

Como O GLOBO revelou em março de 2010, a prefeitura prestou informações falsas ao Ministério da Educação, dando conta de que 99,8% de seus alunos de ensino fundamental (53.142 alunos) eram atendidos em horário integral. Isso permitiu que a prefeitura recebesse repasses maiores do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

A auditoria analisou dados de 20 escolas e constatou inconsistências entre os registros nos diários de classe, que atestam a presença dos alunos, e as informações repassadas ao censo.

"O relatório apontou que: a Prefeitura de Nova Iguaçu utilizou critérios destoantes dos estabelecidos pelo Inep/MEC para o enquadramento de alunos na educação integral; existiam inconsistências dos registros dos diários de classe com os dados informados no Censo Escolar; e a prefeitura não apresentava registros de frequência dos alunos no horário integral", diz nota da Controladoria.

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E logo abaixo o artigo que escrevi já faz um bom tempo, em 2007.

Onde estuda Gasparzinho, o fantasminha camarada?


Em um de seus contos, “A Ilha Idílica”, Rodoux Faugh revela a existência da terra dos sonhos, o lugar onde bastava dar asas à imaginação para que o objeto do desejo se materializasse. Como na terra encantada os sonhos eram plenamente possíveis, naturalmente todas as pessoas eram saudáveis, educadas, felizes. Por mais difícil e complexo que fosse a fantasia, não havia realidade capaz de inviabilizá-la. O imaginário sempre estava a brincar com a materialidade. Por isso não havia dor de espécie alguma e, conseqüentemente inexistia a máfia dos laboratórios, da indústria farmacêutica, das sanguessugas... Crianças abandonadas, maltratadas ou coagidas pelos pais? nem pensar. Desemprego? não sabiam do que se tratava. Hipocrisia, estupidez, demagogia, falta de educação? como jamais ocorrera isso por lá, ignoravam simplesmente. A ilha era um pedaço diminuto do céu que, numa tempestade bravia, dera de atracar na terra. Com direito a anjos, trombetas, imortalidade, felicidade eterna (cerveja, que ninguém é de ferro!) e tudo mais que o bom Deus só reservara, nos primórdios da criação, para o paraíso.

Pois não é que o Brasil, às vezes, se torna em tudo semelhante à tal Ilha Idílica? Pelo avesso, é evidente. Ou de ponta cabeça, caso prefiram.

Quem já não viu – ainda que pela TV – um pervertido qualquer, marginal de primeira hora, latrocida ignominioso, jurar inocência e arrependimento com os olhos marejados, a expressão cândida de ternura, isso após ter cometido o mais vil e hediondo crime, banalizando entre nós o estado de absoluta barbárie? E ganha progressão de pena, indulto de natal e outros penduricalhos legais para logo, logo, tornar à arte de aterrorizar as pessoas e a sociedade.

Ou um desses parlamentares pegos com a boca na botija, chorando lágrimas de crocodilo e rememorando a infância sofrida, tragada pelo ofício de engraxate e de vendedor de quitandas e picolés? E são absolvidos no conselho de ética ou então renunciam ao mandato para retornarem redimidos, rejuvenescidos, transformando a política em um cabaré de cego, um antro de prostituição e jogatinas.

Ou então um desses pregadores religiosos - a minoria, felizmente! – muito mais dados às coisas mundanas, aos prazeres terrenos que às virtudes do reino celeste, pois que se afeiçoam à pedofilia e ao charlatanismo? E por chicotear a boa fé da gente simples, ao contrário de desprezo e cadeia, são bonificados com missões na África ou designados para ‘evangelizar’ em outras freguesias, onde o conhecimento sobre as barbaridades que praticam não chega jamais.

Ao contrário da ilha idílica de Rodoux Faugh, onde só poderiam residir os justos e bons, em Pindorama, parece que são os maus que fazem história, que sempre vencem, que conseguem materializar seus insanos e nefastos desejos em detrimento dos sonhos e aspirações da comunidade.

E para isso valem do que se encontra ao alcance das mãos. Estatística, cálculos, equações complexas, números infinitesimais, indicadores múltiplos, dados e informações, a maquiagem que for para emprestar certo grau de seriedade às suas teses e proposições sorrateiramente urdidas.

A última jogatina acaba de sair do forno, da cumbuca, seu cheiro nauseabundo infecta o ar e chega a sapecar as narinas de tão quente.

O Ministério da Educação estima que pode haver um milhão e 200 mil alunos-fantasmas na rede pública. A conta é simples e seu resultado foi obtido quando os técnicos cotejaram os dados do censo da Educação Básica, versões 2006 e 2007.

Esses números não são definitivos e o ministro da Educação, Fernando Haddad, afirma que “a diferença de numeração é um erro que deve ser corrigido a partir da complementação dos dados do censo, que terminará no próximo mês”.

De qualquer forma, seja qual for a dimensão e amplitude do “erro”, todos sabemos da importância desses dados para as prefeituras municipais. O total de alunos é uma informação por demais relevante porque é um dos principais quesitos para a distribuição de verbas entre Estados e municípios.

Funciona mais ou menos assim: para terem ‘direito’ a um volume maior de recursos financeiros, muitos prefeitos e secretários de educação passam a exercitar as Ciências Ocultas Degenerativas, enamorando vampiros, assombrações e principalmente fantasmas (fantasminhas para ser mais preciso).

Com a picaretagem aplicam gatunagem ao quadrado: beneficiam-se de maneira criminosa, informando um total de alunos que jamais tiveram (recebendo por isso mais recursos do que teriam direito) e ao mesmo tempo retiram recursos dos municípios que efetivamente matricularam mais alunos (e que passam a receber bem menos do que a lei assegura).

Portanto, se algum dia adentrar uma sala de aula e percebê-la vazia, leve em conta, caro leitor, que apenas aparentemente as carteiras escolares estarão vazias. Na realidade, as salas estão abarrotadas de estudantes, as carteiras todas ocupadas. É que os coleguinhas de Gasparzinho são invisíveis para nós outros, reles mortais. Como? se os fantasminhas camaradas são computáveis para efeito de transferências de verbas? Ah e como são!?!?!?!

Antônio Carlos dos Santos é criador da metodologia de planejamento estratégico Quasar K+.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Professor: profissão atrai cada vez menos



Meus queridos, passem a vista no que noticia a Agência Estado. Retorno na seguência.

PROFESSOR


Profissão atrai cada vez menos

Agência Estado

São Paulo- O número de formandos nos cursos que preparam docentes para os primeiros anos da educação básica - como Pedagogia e Normal Superior - caiu pela metade em quatro anos, segundo os últimos dados do Censo do Ensino Superior, realizado anualmente pelo Ministério da Educação (MEC). De 2005 a 2009, os alunos que concluíram essas graduações foram de 103 mil para 52 mil, o que comprova o desinteresse dos jovens pela carreira.

Houve queda também nos graduandos em cursos de licenciaturas, que preparam professores para atuar no ensino médio e últimos anos do fundamental - em 2005 foram 77 mil, contra 64 mil em 2009. No mesmo período, o total de concluintes do ensino superior no País cresceu de 717 mil para 826 mil.

Pois bem, amigos, as raizes do problema todos sabemos. No início de 2009 escrevi o artigo que segue abaixo. Vale a pena ler. Aqui está:


A questão salarial é uma das que mais impactam a educação brasileira.

Não são poucos os que desdenham a questão, atribuindo quase nenhuma importância a este quesito, considerado mais reflexo das pressões oriundas das organizações corporativistas e sindicais.

Os que assim argumentam miram-se tão somente nas demandas associativas o que, inexoravelmente, os remetem a equívocos de formulação e avaliação.

Para tratar deste assunto é necessário mergulhar num universo mais amplo, adotando uma visão mais profunda e mais larga, que não esteja deslocada do contexto.

Em qualquer categoria profissional, a política salarial é apenas um dos componentes dos processos de qualificação. Mas, sem dúvidas, um dos que mais impactam na eficaz conquista das metas, um dos que mais contribuem para os sucessos individual, coletivo e institucional.

Os trabalhadores se preparam ao longo de toda a vida para que possam exercer, com competência e dignidade, a profissão escolhida. E nos dias que correm, a educação profissional não se esgota com a conclusão do ensino formal. O incontido e avassalador avanço das tecnologias, a ininterrupta modernização dos sistemas de produção, o advento dos novos e desafiadores paradigmas garroteando as antigas formas de fazer e pensar fez emergir um novo mundo a exigir que os indivíduos se atualizem permanentemente, estudando não apenas no período regulamentar, mas do nascimento ao encantamento, num processo de formação perene, continuada. No mundo interligado pelos revolucionários meios de comunicação, a educação deixou de se constituir numa mera etapa da existência para perpassar todo o ciclo de vida dos cidadãos. É contingência não somente do aprimoramento profissional, mas, sobretudo, da obstinação com que a sociedade persegue qualidade de vida.

E quando na lida diária, as pessoas necessitam de respeito, o que implica qualificar o ambiente de trabalho, as relações em que se processa a produção, tornando imperativo também a adoção de políticas sustentáveis para a remuneração do trabalho. Como poderia ser diferente? Qualquer que seja a área de atuação, o profissional precisa ser valorizado, ter reconhecido seu papel, sentir-se recompensado pelos estudos, dedicação e esforços despendidos. E responde a esse reconhecimento se aprimorando, progredindo, agregando qualidade ao seu modus operandi, aos seus produtos e resultados.

E, mais uma vez, enganam-se os que imaginam que no ensino privado a realidade seja diferente.

Pesquisa recente realizada pelo Sindicato dos Professores de São Paulo revela que 1 em cada 3 docentes da rede privada deixaria a profissão caso surgisse a oportunidade. Esses dados referem-se ao universo do sistema, tomando da educação infantil à superior. Todavia, quando o extrato se restringe ao ensino fundamental, o percentual dos que sonham abandonar a profissão de professor quase chega à metade, exatos 44,7%.

A pesquisa também identificou as razões que levaram os docentes do ensino privado a apresentar resultados tão surpreendentes, haja vista que o pensamento dominante era que esse tipo de insatisfação se restringia quase que exclusivamente aos professores do sistema público.

Do universo pesquisado, 31,8% expressaram a intenção de trocar de profissão identificando como causa o excessivo desgaste emocional. Mas nada menos que 59,7% manifestaram o desejo de procurar outra ocupação em decorrência das insatisfações salariais.

Não importa a profissão enfocada. Engenheiros, médicos, policiais, artistas, metalúrgicos, seja qual for a categoria profissional, não se obtém êxito prescindindo de políticas salariais sustentáveis, determinantes para a qualificação de qualquer processo. Porque então dentre os professores deveria ser diferente?

Evidentemente, de per si, aumentos salariais mais prejudicam que auxiliam. Adotado de forma isolada, se dilui no emaranhado da crise que historicamente tem acometido a educação nacional. Como também não conduz a bons resultados promover ações estanques, compartimentadas, nos demais setores, como o de infra-estrutura física, da informatização, da terceirização ou o que seja. Para alcançar a tão cobiçada qualidade do ensino urge incorporar uma visão do conjunto, uma visão que possibilite investir e atuar nos múltiplos setores buscando a eficácia e a harmonia, sem naturalmente abrir mão das necessárias medidas de recuperação salarial dos servidores. O que implica em firmar compromissos, estabelecer metas individuais e coletivas, valorizar e gratificar mais os que mais se destacam sob o ponto de vista do mérito, do compromisso e da dedicação. Vinculando enfim salário a desempenho.

A questão salarial - tão relevante para a qualificação do ensino - tem muito sentido, tem todo o sentido quando conseqüência do cumprimento de metas, do estabelecimento de compromissos, da adoção de sistemas com indicadores objetivos – plenamente conhecidos – e que consigam distinguir e premiar os professores com bom desempenho acadêmico. Fora deste contexto, não passa de panacéia: os professores continuarão fingindo que ensinam, os alunos que aprendem, os pais que se preocupam, e o governo que administra.

A metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e a tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo são criações originais de Antônio Carlos dos Santos.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Marcel Proust

O mundo de Marcel Proust



Deu no Estadão
O jantar em que os gênios não se bicaram

Diferentes no comportamento e tipo de vida, gosto e estilo literário, os dois maiores romancistas do século 20 - o francês Marcel Proust (1871-1922) e o irlandês James Joyce (1882-1941) - eram rivais entre si, não gostavam um do outro e só se cruzaram uma única vez. O encontro aconteceu a 18 de maio de 1922, em torno de elegante jantar promovido por um casal amigo, no restaurante de requintado hotel parisiense. Foi relembrado pelo historiador inglês Richard Davenport-Hines no livro Uma Noite no Majestic (Editora Record, Rio de Janeiro-São Paulo, 2007) e diferentes cronistas. Mas nenhum dos escritores comeu direito, até porque ambos chegaram atrasados e Proust, para completar, habitualmente mal tocava na comida, embora fizesse apetitosas evocações de comida e cheiros em sua obra monumental.

Joyce apareceu na hora do café, maltrapilho, sem o smoking protocolar e muito bêbado, aparentemente para disfarçar o nervosismo. Sentou-se à direita do anfitrião, o milionário, culto e cosmopolita britânico Sydney Schiff (1868-1944), e não muito longe da mulher deste, Violet. Dormiu, roncou e acordou. O casal organizador da festa passara a admirá-lo depois da uma leitura pública de trechos de seu Ulisses, lançado em 1922, o livro que implodiu o romance tradicional. Aceitou uma taça de champanhe e se manteve pensativo, apoiando a cabeça nas mãos. Proust, no auge da fama, porque a obra-prima Em Busca do Tempo Perdido, em sete volumes, publicada entre 1913 e 1927, já fazia merecido sucesso, surgiu às duas e meia da madrugada. Apesar de afetado e psicologicamente atrelado à falecida mãe, que o chamava de mon petit benêt (meu bobinho), de ser asmático e estar debilitado - ele morreria seis meses depois -, sobressaía-se pela elegância do casaco preto de pele e luvas brancas de pelica.

Na verdade, o jantar no Majestic se destinou a reunir Proust e Joyce, mas oficialmente foi promovido para comemorar a estréia do balé burlesco Le Renard, do compositor russo Igor Stravinski (1882-1971), montado pela companhia do empresário e diretor artístico russo Serguei Diaghilev (1872-1929). Tanto que começou depois da meia-noite e a ele compareceram quase 50 pessoas, entre as quais, além de Stravisnky e Diaghilev, homens e mulheres de boa e má reputação, e figuras luzidias da Paris da época: o atarracado, impulsivo e genial pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973); a russa Bronislava Nijinska (1891-1972), intérprete do papel-título de Le Renard, primeira mulher feia a se tornar famosa pela dança clássica; e a princesa Edmond de Polignac, nascida Winetta Singer, filha do inventor da máquina de costura, a quem os conterrâneos descreviam como "fabulosamente rica e discretamente lésbica". Entretanto, o relato mais substancioso do jantar no Majestic, hôtel de luxe da Avenida Kleber, acha-se no livro de Davenport-Hines, apesar de dedicar apenas um capítulo à ceia e não esclarecer completamente o que os convidados conversaram e saborearam.

Combinando-se as diferentes fontes, descobre-se um pouco mais. Joyce falou a um amigo do encontro com Proust: "Nossa conversa se resumiu à palavra ?não?", disse ele. "Proust me perguntou se eu conhecia o duque fulano-de-tal. Eu respondi ?não?. Nossa anfitriã indagou-lhe se ele já havia lido algum trecho de Ulisses. Proust respondeu ?não?. E aí por diante." Quanto à comida, as receitas que iniciaram a ceia seriam da culinária russa, escolhidas para homenagear Stravinski e Diaghilev. Incluíam os obrigatórios canapés de peixe defumado e os requintados blinis com caviar. Davenport-Hines concluiu que, pelo horário tardio da refeição, a cozinha elaborou pratos mais leves: linguado à Waleska (finalizado com molho branco encorpado por creme de leite e queijo) e noisettes de cordeiro (medalhões do lombo de ovino medindo cerca de 4 cm de espessura, passados na manteiga), por exemplo. Entretanto, o forte da ceia, segundo Uma noite do Majestic, eram receitas mencionadas por Proust em sua obra.

Os anfitriões Sydney e Violet Schiff estavam fanatizados por Em Busca do Tempo Perdido. Seu autor apreciava, entre outras excelências, pratos de aspargos, pernil de cordeiro assado acompanhado de molho béarnaise (manteiga, gema de ovo, vinagre de vinho branco, cebola, estragão e pimenta); e lagosta à l?américaine (feita com tomate e vinho branco). Na sobremesa, Davenport-Hines alinhou as possibilidades proustianas: salada de frutas, bolo de amêndoas e mousse de morango. A refeição opulenta, na qual seis garçons ofereceram champanhe do começo ao fim, encerrou-se com um episódio antológico. Joyce entrou sem pedir licença no táxi apertado em que partiam Proust, Sydney e Violet. O romancista de Em Busca do Tempo Perdido falava sem parar, enquanto o de Ulisses, olhando-o de esguelha, acendeu um cigarro, abriu a janela do carro e quase matou de susto o rival, cuja asma não suportava fumaça. Além de tudo, Proust vivia trancado em um quarto forrado de cortiça e morria de medo do ar fresco.

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Biografia

Proust nasceu em Auteuil (o setor sul do então rústico 16.º arrondissement de Paris), na casa de seu tio-avô , dois meses após o Tratado de Frankfurt terminar formalmente a Guerra Franco-Prussiana. Seu nascimento ocorreu durante a violência que envolveu a supressão da Comuna de Paris e sua infância corresponde ao período da consolidação da Terceira República Francesa. Grande parte de Em Busca do Tempo Perdido diz respeito às grandes mudanças, mais particularmente o declínio da aristocracia e a ascensão das classes médias que ocorreram na França durante a Terceira República e o fin de siècle.

O pai de Proust, Achille Adrien Proust, foi um proeminente patologista e epidemiologista, responsável por estudar e tentar remediar as causas e os movimentos da cólera através da Europa e da Ásia. Foi o autor de muitos artigos e livros sobre medicina e higiene. A mãe de Proust, Jeanne Clémence Weil, era filha de uma rica e culta família judia da Alsácia. Ela era culta e bem informada; suas cartas demonstram um senso bem desenvolvido de humor e seu domínio do inglês foi suficiente para lhe fornecer a assistência necessária para as tentativas posteriores de seu filho de traduzir John Ruskin.

Por volta dos nove anos de idade, Proust teve seu primeiro ataque grave de asma e, a partir daí, ele foi considerado uma criança doente. Proust passou longos períodos de férias na aldeia de Illiers. Esta aldeia, juntamente com as lembranças da casa do seu tio-avô em Auteuil, tornaram-se o modelo para a cidade fictícia de Combray, onde algumas das cenas mais importantes de Em Busca do Tempo Perdido têm lugar. (Illiers foi renomeada para Illiers-Combray por ocasião das comemorações do centenário de Proust). Mais, aqui.

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Um estudo comparado entre Clarice Lispector e Marcel Proust. Aqui!

Manuscritos
Vários sites sobre o autor
Trecho de Os Prazeres e os Dias
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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Cervantes, o monumental

Paco Ibañez - Poemas Vol I - 10 Lloraba la niña




Dom Quixote, a obra prima 

Luis de Góngora y Argote (1561 - 1627)
"Aquel que tiene de escribir la llave,
con gracia y agudeza en tanto extremo,
que su igual en el orbe no se sabe,
es don Luis de Góngora, a quien temo
agraviar en mis cortas alabanzas,
aunque las suba al grado más supremo."
Miguel de Cervantes

Obras

•Fábula de Poliferno y Galatea
Soledades
•Fábula de Píramo e Tisbe
Textos em espanhol e português
Multimídia

•Paco Ibañez interpreta Déjame En Paz Amor Tirano (do poema Ciego Que Apuntas Y Atinas)