quinta-feira, 30 de julho de 2020

LIÇÃO DE BIOLOGIA: pequenos vetores?


Estudos recentes indicam que elas não costumam transmitir o agente e podem influenciar no retorno das aulas presenciais nas escolasTodo pai e toda mãe sabem o que acontece quando um colega de escola do filho está com gripe. Uma criança transmite para a outra, e não demora até que os próprios pais, e às vezes até os avós, estejam espirrando, com o corpo dolorido e mal-estar. Era de esperar um roteiro semelhante com o sars-CoV-2, do novo coronavírus. Afinal, assim como o influenza, é um agente respiratório. Mas, surpreendentemente, não é o que vem ocorrendo.


Estudos recentes indicam que as crianças não só se infectam e adoecem menos, como também transmitem menos o vírus. Uma publicação da Academia Americana de Pediatria traz levantamentos que comprovam isso. Na China, das 68 crianças com Covid-19 internadas no Hospital Infantil de Qingdao, entre janeiro e fevereiro, 65 (ou 95,5%) tinham proximidade com adultos que já estavam infectados anteriormente. Outro caso relatado pela publicação científica foi o de um menino de 9 anos, na França, com coinfecção por influenza A e sars-CoV-2: apesar de ter tido contato com mais de 80 colegas de escola, ninguém foi infectado.

Mais uma situação em estudo ocorreu em Nova Gales do Sul, na Austrália, onde nove estudantes e nove funcionários infectados em 15 escolas tiveram contato direto com um total de 735 estudantes e outros 128 funcionários. Apenas duas infecções secundárias foram identificadas.

A consultora Mariana Mantovano, de 33 anos, vivenciou essa surpresa dentro da própria casa. A filha, Maria Emília, de 4 anos, teve um mal-estar, foi para o hospital, fez o exame para Covid-19 e o resultado foi positivo. Pai e mãe, que apontam o elevador do prédio como o único lugar possível para a contaminação, testaram negativo. “Mesmo isolada em casa, ela ficou doente, e a gente não pegou. Foram poucas as vezes em que ela ficou doente, mas, sempre que teve alguma coisa, todo mundo pegou. Por isso, para mim, parece razoável que as crianças não transmitam mesmo.”

A Covid-19 em menores de 10 anos é considerada rara. Nos adolescentes, foi detectada com um pouco mais de frequência, mas ainda de forma desproporcional aos adultos. No Brasil, dados de óbitos por síndrome respiratória aguda grave (Srag), que têm notificação obrigatória embora apresentem atraso médio de 14 dias, mostram que apenas 0,7% das 68.842 mortes já confirmadas por Covid-19 são de menores de 19 anos. O índice cai para 0,3% quando se trata de crianças de menos de 5 anos, num total absoluto de 239 até 13 de julho.


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“A primeira boa notícia é que a Covid-19 não acomete crianças com muita gravidade, as hospitalizações e óbitos são extremamente raros. Mas sempre quisemos saber o papel que teriam na cadeia de transmissão. Seriam importantes vetores como ocorre com o vírus da gripe, influenza? Nas últimas semanas, muitos estudos mostram que elas não desempenham papel importante na transmissão, pelo contrário, transmitem menos”, afirmou o infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria. No entanto, ele pede cautela, porque os dados ainda estão sendo gerados e é preciso ver o que acontece com o retorno às aulas na Europa.


Os motivos para a baixa transmissão ainda não foram esclarecidos. Mas há teorias. De acordo com Kfouri, a principal delas está relacionada aos chamados receptores pulmonares, uma enzima que permitiria o acesso do patógeno às células, num “mecanismo chave-fechadura”. Essas enzimas estariam em menor quantidade no pulmão infantil, por isso o vírus teria muito mais dificuldade em penetrar no organismo. E, como não infecta, também não pode ser transmitido. Isso também explicaria a existência de manifestações não pulmonares da doença nas crianças, como perda de olfato e diarreia. Embora nos adultos, além da idade, as comorbidades que levam aos quadros mais graves da doença já tenham sido bem identificadas, como diabetes, hipertensão e cardiopatias, entre as crianças ainda não ficou claro por que algumas ficam doentes. Mas o presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Safadi, aponta que cardiopatias, quadros neurológicos, asma grave e obesidade seriam complicadores.

As descobertas científicas podem ajudar políticas públicas e famílias a decidir o melhor momento de mandar as crianças de volta às aulas. A produtora executiva Paula Milet, de 34 anos, vive a angústia sobre mandar ou não o filho, Luigi, de 3, para a escola. A partir de agosto, ela vai precisar trabalhar presencialmente em algumas ocasiões, e o marido, em intensa rotina de home office, não pode assumir sozinho os cuidados com o pequeno. “Agora vem o dilema de como vou fazer com meu filho. Estou apavorada. Não tenho vontade de voltar e não acredito 100% em nada. E, se fico com medo de levar meu filho para a creche, como pedir que minha funcionária pegue dois ônibus? Não faz sentido. Confesso que, como mãe e cidadã, estou bem confusa”, afirmou.

Segundo Milet, se por um lado foi enriquecedor ficar pertinho de Luigi nos últimos meses, por outro ela percebeu que o menino ficou muito agarrado, passou a ter momentos de irritabilidade e regrediu em alguns pontos de seu desenvolvimento. Para o pediatra Marco Aurélio Safadi, esses aspectos precisam ser considerados e, nas cidades onde o número de casos está caindo, as aulas deveriam ser retomadas lentamente. “Temos de olhar a situação com equilíbrio e sensatez. Existe risco, óbvio, e, apesar de os desfechos graves serem raros, eles ocorrem. Mas é preciso considerar também que privar as crianças da escola por muito tempo traz danos. A própria influenza talvez seja, para elas, até igual ou pior que a Covid-19. E a gente não paralisa as escolas.”

Por Constança Tatsch, na Revista Época  





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