A Comissão Mista Temporária da Reforma Tributária promoveu, na tarde desta sexta-feira (25), uma audiência remota para debater questões relacionadas à educação e à economia digital.
Representantes dessas áreas se mostraram preocupados com o
aumento de tributos que pode vir com a reforma, fizeram sugestões e pediram um
olhar diferenciado sobre esses setores.
A comissão
discute a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 110/2019,
do Senado, que acaba com nove tributos e cria dois impostos. Também estão em
debate outras duas matérias que tramitam na Câmara dos Deputados: a PEC 45/2019, do deputado Baleia Rossi
(MDB-SP), que acaba com cinco tributos e também cria impostos sobre bens e
serviços (IBS); e o Projeto de Lei (PL) 3.887/2020,
do Poder Executivo, que cria a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), com
alíquota de 12%, em substituição ao Programa de Integração Social (PIS) e à
Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins).
Educação
A presidente
da Associação Nacional das Universidade Particulares (Anup) e representante do
Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), Elizabeth Guedes,
afirmou que a preocupação principal do setor agora é com a sobrevivência das
escolas privadas. Ela disse que o aumento das alíquotas sobre o setor vai
ocasionar uma grande migração de alunos para as escolas públicas, pressionando
ainda mais o aparato estatal.
Na visão da
presidente da Anup, a reforma tributária é importante, mas o aumento de
tributos no setor de educação pode impactar negativamente a inclusão social no
país. Elizabeth Guedes também fez uma defesa do Programa Universidade para
Todos (ProUni) e destacou que os alunos beneficiados pelo programa costumam
levar mais renda e cultura para suas famílias. Ela disse que, com a possível
retirada de PIS e Cofins, a tendência é esse programa desaparecer.
— O aumento de
alíquota impacta um conjunto de pessoas na sociedade. Essa medida vai aumentar
o fosso entre a qualidade de ensino do Brasil e a de outros países. Pedimos um
olhar diferenciado — afirmou.
A conselheira
do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular e
vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile
Pácios, defendeu um tratamento diferenciado para o setor de educação. Ela
apresentou dados que colocam a escola particular brasileira em boa posição em
rankings mundiais de educação e disse que mesmo famílias com baixa renda têm
filhos matriculados em escolas privadas.
Segundo a
conselheira, no caso da CBS, a maior carga será na área educacional. Já
no caso do IBS, acrescentou, a expectativa é ter uma alíquota diferenciada para
a educação. Ela apontou, no entanto, que a PEC 45 pode trazer um aumento de até
25% nas mensalidades. Amábilie Pácios registrou também que as escolas
particulares estão enfrentando muita dificuldade neste momento de pandemia.
— Estamos
defendendo o direito de o aluno estudar em uma escola particular. A escola
particular modifica a qualidade de ensino no país — afirmou a conselheira, que
também defendeu a manutenção do ProUni.
Tecnologia
Presidente da
Federação Nacional das Empresas de Informática (Fenainfo), Edgar Serrano
apontou que o setor de informática é um grande gerador de empregos, que normalmente
paga melhores salários. Ele disse que a reforma pode aumentar muito o peso dos
tributos no setor de tecnologia e ressaltou que o governo ainda não fez as
estimativas de impacto em relação ao PL 3.887. Segundo Serrano, o setor que
mais gera empregos do país não pode ser penalizado. Ele ainda defendeu a
desoneração da folha de pagamento como fundamental dentro da
reforma.
— O setor de
serviços é o presente e o futuro dos empregos no mundo. Onerar o setor de
serviços só pode trazer problema — alertou Serrano, que também apontou que a
proposta do governo pode aumentar os tributos federais do setor em quase 230%.
Para o
presidente-executivo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da
Informação e Comunicação (Brasscom), Sérgio Paulo Gallindo, o país precisar
focar em uma tributação inteligente, que incentive a competitividade no país.
Gallindo citou como exemplo o acesso à internet, fundamental para todos os
setores hoje em dia. Segundo o presidente da Brasscom, a PEC 45 pode provocar
aumento de preços tanto na área de softwares como no setor de construção civil.
Ele defendeu também a desoneração total do emprego, a redução do custo de
insumos essenciais, a redução do Estado e a ampliação de bases tributáveis.
O engenheiro
Miguel Abuhab, responsável pelo desenvolvimento do modelo tecnológico para
viabilizar a cobrança do IBS, disse que a simplificação é fundamental para uma
reforma tributária eficiente. Segundo Abuhad, a integração tecnológica é uma
aliada para evitar a sonegação e diminuir o custo da arrecadação. O advogado
Rodrigo Petry, representante da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico
(Camara-e.Net), destacou que o setor de tecnologia é um dos mais importantes da
economia brasileira. Ele alertou que cada país tem uma realidade e uma
experiência de sucesso em outro país pode não dar certo no Brasil.
— A reforma
tributária é um instrumento essencial para estimular o desenvolvimento do país.
Também fazemos coro na desoneração da folha de pagamento — defendeu Petry.
Justiça fiscal
O relator da
comissão, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), reconheceu que a educação faz
toda a diferença para um país que quer crescer. Ele registrou que a comissão
vai procurar trabalhar na progressividade e na justiça fiscal e reconheceu que
a solução da tributação passa pelo uso da tecnologia. O senador Izalci Lucas
(PSDB-DF) lamentou o fato de o governo ter enviado ao Congresso Nacional uma
proposta “fatiada” e defendeu a importância do setor de educação.
Para o senador
Major Olimpio (PSL-SP), a reforma tributária não poderá onerar ainda mais a o
setor de educação. Segundo o senador, a tendência dos países mais desenvolvidos
é proteger tributariamente tanto a educação quanto a saúde. O deputado Alexis
Fonteyne (Novo-SP) afirmou que o atual sistema tributário empobrece a população
brasileira. Ele apontou que os tributos sobre o consumo não representam justiça
e vão contra o desenvolvimento econômico.
— Temos o pior
sistema tributário do mundo. A gente não pode ter uma diferença tão grande de
escala. Precisamos ter mais equilíbrio — opinou o deputado.
A senadora
Simone Tebet (MDB-MS) manifestou preocupação com o andamento dos trabalhos da
comissão e pediu um “freio de arrumação”. Segundo a senadora, o governo “polui”
a reforma tributária com outros assuntos e precisa ser mais eficiente no envio
das sugestões para o Congresso. Ela disse que sem “a expectativa do todo” fica
difícil avançar na reforma. Simone ainda sugeriu um convite ao ministro da
Economia, Paulo Guedes, ou seu representante, para explicar à comissão os
próximos passos para a reforma tributária.
A comissão é
presidida pelo senador Roberto Rocha (PSDB-MA), que dirigiu parte da audiência.
O deputado Hildo Rocha (MDB-MA) é o vice-presidente. O colegiado é composto por
senadores e deputados, com 25 membros titulares e o mesmo número de suplentes.
Agência
Senado
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