Há uma diferença entre circunstância e contexto. No primeiro caso, as coisas não duram, são momentâneas. Porém, podem causar efeitos profundos dependendo do que atingem. Já no contexto há uma permanência. É construído por condições históricas. Fruto de relações e ações que se consolidaram ao longo do tempo. Em alguns casos, viraram hábitos. A educação tem seu contexto e atravessa circunstâncias.
A
pandemia atingiu inúmeros setores, com a educação não foi diferente. Portas das
escolas fechadas, ação necessária para se conter a propagação da Covid-19.
Professores e alunos tiveram que conviver com uma tecnologia que já avançava
contextualmente e circunstancialmente se acelerou. Tudo o que nos pega de
impacto pode nos ajudar a reagir de forma rápida ou nos aniquila se estivermos
com a saúde frágil.
A
educação vem de um contexto frágil. Ela já sobre a muito tempo. Nosso baixo
desempenho em áreas de conhecimento básicas demonstra ao longo dos anos o preço
do descaso. Uma desqualificação imensa dos brasileiros. Em grande parte sentem
o efeito econômico que estamos atravessando com desemprego e baixa renda,
faltou educação, qualificação. Faltou capacidade de enfrentar as circunstâncias
porque já vem de uma debilitação contextual.
O
grande problema ao se discutir educação é que não conseguimos dimensionar
circunstancialmente o preço dos nossos atos. Mas com o passar dos anos ele fica
explícito nos déficits educacionais que vão se denunciando. Um elo da cadeia
dos anos de educação quando se rompe ou fica frágil, compromete muito a formação
de conteúdos subsequentes. Não por acaso, no último ranking da Organização para
Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), nós ficamos na 57a posição.
Ao
estamos diante de uma crise e que precisamos buscar uma oportunidade no mercado
de trabalho ou mesmo ir atrás de uma qualificação, a falta de um conhecimento
básico em matemática e português, assim como ciências, cobra seu preço
diariamente. O contexto em que a educação é tratada no país gera este abalo
circunstancial.
Defendo
a retomada gradual da educação. Fico triste ao ver as escolas fechadas, sem os
alunos e sem um calendário definido, com data marcada para o retorno. Temo que
lideranças políticas estejam mais preocupadas em satisfazer a vontade dos pais
de temerem seus filhos se contaminarem ou mesmo de uma sociedade que atende às
circunstâncias, mas não entende o contexto do que uma escola fechada. A
educação virtual pode ajudar, mas não supera a relação em sala de aula. Ainda
vamos pagar muito caro por esta política de atender às circunstâncias e não
entender o contexto.
Para
encerrar, gostaria de lembrar que com afrouxamento das medidas de restrição e
desobedecendo a lei, uma multidão se reúne em bares e lanchonetes. Se
concentram nas ruas. Andam sem máscara. Muitos que defendem que as escolas
fiquem fechadas tem um filho, um irmão, alguém de sua família que se sentem na
liberdade de frequentar ambientes de risco para satisfazer o lazer e não pensar
na educação como prioridade.
Não é
difícil de entender o descaso que se tem com a escola. Fácil falar que é mais
seguro que elas fiquem fechadas para quem não entende ou participa de sua
função. No contexto da história da educação brasileira, olhe os números e
entenda o que construímos ao longo destes anos, desprezo, descaso, demagogia,
as coisas que nunca se realizam.
Se você
valoriza mesmo a educação, transforme ela em uma prioridade. Invista no que
vale a pena, entenda o preço de não valorizarmos a qualidade do ensino. E
circunstancialmente, neste momento, entenda a importância do retorno gradual
das aulas para que não tenhamos um prejuízo ainda maior, valorize a escola e
acompanhe as medidas de segurança, os protocolos de retorno.
O
futuro agradece.
Por
Gilson Aguiar, na CBN
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