Governos de
todo o mundo falharam em cumprir as promessas traçadas há uma
década para proteger a biodiversidade global, apontou um relatório
da ONU publicado nesta terça-feira (15/09).
Em 2010, mais
de 150 países chegaram a um acordo sobre 20 metas a serem alcançadas até o fim
da década com o objetivo de salvar as espécies em extinção na Terra e preservar
os ecossistemas em declínio. Mas nenhuma das metas foi totalmente cumprida,
e apenas seis delas foram consideradas parcialmente alcançadas, concluiu a
organização.
O documento é
particularmente significativo, pois funciona como um "boletim final"
para as chamadas Metas de Aichi, traçadas no início da Década
da Biodiversidade das Nações Unidas.
Entre os
objetivos estavam, por exemplo, a desaceleração do desmatamento, conservação de
áreas úmidas e a conscientização do público sobre a importância da natureza
para um planeta saudável.
O relatório
apontou, porém, que o uso de pesticidas e a poluição causada
pelo descarte de plástico não foram reduzidos a níveis seguros; governos ainda
subsidiam negócios que danificam os ecossistemas; e os recifes de coral continuam
sendo atingidos por uma ameaça tripla: mudança climática, poluição
e pesca predatória.
"Os
sistemas vivos da Terra como um todo estão sendo comprometidos, e quanto mais a
humanidade explora a natureza de maneiras insustentáveis, mais minamos nosso
próprio bem-estar, segurança e prosperidade", alertou Elizabeth Maruma
Mrema, secretária-executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade
Biológica (CBD), que divulgou o relatório.
A preocupação
com os impactos ambientais causados pelo ser humano e seu estilo de vida
predatório aumentou ainda mais em meio à pandemia de coronavírus, que
provavelmente se originou num mercado de animais silvestres na cidade chinesa
de Wuhan.
De acordo com
os cientistas, a perda "sem precedentes" de biodiversidade e a
destruição dos espaços selvagens aumentam o risco de doenças de animais
migrarem para seres humanos.
"À medida
que a natureza se degrada, surgem novas oportunidades para a disseminação
de doenças
devastadoras, como o novo coronavírus. A janela de tempo
disponível é curta, mas a pandemia também demonstrou que mudanças
transformadoras são possíveis", afirmou Mrema.
Seguindo essa
mesma linha, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que as
transições descritas no relatório representam uma oportunidade sem precedentes
para uma "reconstrução"
global, à medida que o mundo emerge dos impactos imediatos da
pandemia de Covid-19.
"Parte
dessa nova agenda deve ser enfrentar os desafios globais de uma maneira mais
coordenada, entendendo que as mudanças climáticas ameaçam minar todos os outros
esforços para conservar a biodiversidade. E que a própria natureza oferece
algumas das soluções mais eficazes para evitar os piores impactos de um planeta
em aquecimento", comentou.
Atualmente,
cerca de 17% das terras continentais estão resguardadas por mecanismos de gestão
ambiental. As Nações Unidas estão pressionando os governos a reservarem 30% das
áreas terrestres e marítimas do planeta para a conservação. A negociação deve
ocorrer na próxima Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas, a COP26,
adiada para 2021 em Kunming, na China.
Nem tudo é negativo
Embora o
fracasso no cumprimento das metas seja motivo de preocupação, os autores do
relatório frisam que praticamente todos os países estão atualmente tomando
algumas medidas para proteger a biodiversidade,
sem as quais o estado da biodiversidade do planeta estaria consideravelmente
pior.
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O relatório
cita exemplos positivos, como um programa ambiental no Paquistão que protege o
leopardo-das-neves, ao conservar os ecossistemas do Himalaia, e o caso da
população de íbis-de-crista, uma das aves aquáticas mais ameaçadas de extinção,
que começou a ter filhotes após conservacionistas libertarem pássaros criados
em cativeiro no Japão.
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