Com a revolução on-line, nossos dados ficam cada
vez mais disponíveis para empresas e também para cibercriminosos — ambos alvos
de uma nova lei
Um cartão de crédito com limite de R$ 1.000 vendido a R$ 190 com senha. Nome de
usuário e senha de serviços de streaming. Aplicativos que burlam o sistema de
auxílio emergencial do governo federal. O balcão de negócios do mundo do crime
é vasto e variado. Na semana passada, esses três exemplos circulavam livremente
em diversos grupos de Telegram. Em um fórum de hackers na internet, informações
sobre mais de 200 mil usuários da SPTrans, a empresa que administra o
transporte público de São Paulo, estão disponíveis para quem quiser ver.
Foi com a intenção de fazer empresas privadas e órgãos públicos cuidarem melhor
do que coletam de usuários e também serem mais transparentes sobre como usam
esses dados que o Congresso aprovou uma nova lei, a Lei Geral de Proteção de
Dados, em vigor desde meados de setembro e à espera de regulamentação. Pelo
menos no papel, a nova legislação impõe regras para todo o processo de coleta e
também para o descarte. “Nos próximos meses, os internautas brasileiros terão
de se acostumar com avisos nos sites perguntando quais informações desejam que
sejam mantidas”, disse José Aparecido de Oliveira, engenheiro de produto da
Compugraf, empresa de segurança digital. Em tese, qualquer pessoa poderá exigir
a eliminação de seus dados guardados por companhias privadas e órgãos públicos.
Questionada, a SPTrans afirmou que adota procedimentos rígidos de segurança e
os aprimora constantemente visando a proteção da informação de nossos bancos de
dados. E trabalha para a efetiva implementação da Lei Geral ed Proteção de
Dados e está atenta às melhores práticas de mercado.
A expectativa hoje é que casos como o da varejista on-line Netshoes, cujo
sistema foi invadido e que foi condenada a pagar R$ 500 mil no ano passado, se
multipliquem, mas com valores maiores. Pelas novas regras, a aplicação das
multas pode chegar a até R$ 50 milhões, dependendo do faturamento da empresa
que for alvo de um vazamento e não tiver uma boa explicação para justificar as
falhas de segurança.
Para companhias de diferentes setores, a vida não se resume a tentar proteger
nome, CPF e número de cartão de crédito dos clientes. Históricos de consumo e
navegação nos sites, endereço e profissão são exemplos de indicadores que
ajudam a montar padrões para tentar prever comportamentos. Como fica claro no
documentário O dilema das redes, da Netflix, plataformas digitais, como
Facebook e Google, são imbatíveis na obtenção de dados sobre seus usuários. No
caso das redes sociais, o objetivo é aumentar o engajamento para a venda de
anúncios. Em empresas de outros segmentos, a meta costuma ser a venda de
produtos e serviços. Quanto mais sabem sobre seus clientes, quanto mais
informações guardam e processam sobre eles, mais chances têm de sucesso. Na
economia digital, dados são ouro.
Ironicamente, o próprio Senado Federal, que aprovou a entrada em vigor da
Lei Geral de Proteção de Dados, foi alvo de um vazamento criminoso. As
informações de pelo menos dois funcionários do Senado foram obtidas ilegalmente
no final de agosto. O ataque foi compartilhado no YouTube por um hacker que se
apresenta como VandaTheGod, um dos mais famosos do país, com um currículo que
supostamente inclui a invasão de mais de 5 mil sites. VandaTheGod teve acesso
às contas de e-mails dos dois servidores e ao painel do site do Senado.
Questionado por ÉPOCA, o Senado disse que está tomando todas as providências
sobre o caso. Afirmou ainda que não houve comprometimento do sistema.
De olho nesse mercado que se abre com a nova lei, escritórios de advocacia
falam de uma grande transformação. Ao lado de empresas de tecnologia da
informação, estão ativamente prospectando novos clientes com a mensagem “melhor
agir agora do que chorar depois”. Para as empresas evitarem condenações pesadas
após vazamentos, elas terão de provar que tomaram todas as medidas preventivas
cabíveis. “A principal mudança na lei será cultural. As empresas terão de
educar seus funcionários”, disse a advogada Paula Mena Barreto, do escritório
Campos Mello, de São Paulo.
Ainda é cedo para saber com certeza quais mudanças provocadas pela pandemia do
coronavírus se firmarão como tendência por décadas. Caso o trabalho remoto
prove ser produtivo e mantenha um nível alto de adesão, mesmo após a descoberta
de uma vacina eficaz, o certo é que as empresas terão mais dor de cabeça. Nos
últimos seis meses, com muita gente trabalhando em casa, o número de phishings,
a prática de roubar informações confidenciais com golpes por e-mail ou em
sites, deu um salto. Segundo dados coletados pela NewSpace, empresa
especializada em soluções cibernéticas, a quantidade de phishings no primeiro
semestre deste ano foi 45% superior à do mesmo período de 2019.
Com uma lei mais severa, há também quem preveja o crescimento de um crime
conhecido por “a cobrança de resgate”. Nessa modalidade, o hacker obtém dados e
cobra um determinado valor para devolver o que roubou sem fazer alarde. Quem
acredita no aumento desses casos prevê que um número maior de empresas
considere mais vantajoso pagar o resgate do que ficar com a multa. “A longo
prazo, a lei vai fomentar o mercado de segurança da informação, vai aumentar o
cuidado das empresas. Ela é benéfica. Mas, ironicamente, acreditamos que, no
curto prazo, teremos um efeito contrário: um boom de invasões”, disse João
Lucas Melo Brasio, da Elytron Security, empresa especializada em segurança da
informação.
Por Dimitrius Dantas, na Revista Época
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