Excelência industrial, baixo
endividamento, pacote de resgate generoso e sistema de proteção aos
trabalhadores explicam como a Alemanha conseguiu superar EUA e China
Quais nações
florescerão após o cenário catastrófico legado pela Covid-19? A liderança da
Alemanha, em meio à tragédia sanitária e econômica, está consolidada. Um dos
segredos do sucesso é sua chanceler, Angela Merkel. Ela tomou pra si a
responsabilidade de defender a vida das pessoas e a economia, sem perder de
vista a ortodoxia econômica, característica histórica do País. Com o intuito de
evitar uma explosão de mortes, privilegiou o conhecimento científico e
determinou a quarentena. Promoveu a massificação do testes e a higienização
constante dos ambientes coletivos. Além disso, incentivou a manufatura de
respiradores. Tal atitude levou ao menor número de infecção e mortes por
Sars-CoV-2, na Europa. Para a dra. Raquel Stucchi, professora da Universidade
de Campinas e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, a Alemanha
cumpriu os protocolos à risca. “Merkel passou a mensagem correta, valorizou a
ciência e não politizou a pandemia”, afirma.
Pacotes anticrises
No terreno econômico, a Alemanha demonstra mais uma vez saber sair de crises
complexas. No pós-guerra, os germânicos fortaleceram seu sistema de proteção
econômica, sua estrutura bancária e permitiram amplo acesso ao crédito. Nas
décadas de 70 e 80, os alemães mostraram resiliência na crise do petróleo.
Venceram o impacto da reunificação a partir de 1990, um desafio hercúleo. A
débâcle global de 2008-2009 foi superada porque os trabalhadores foram
protegidos pelo programa conhecido como Kurzarbeit, em que o governo bancou
parte dos salários, o que evitou o desemprego. Esse ano, a zona do Euro
apresenta uma taxa de desemprego superior aos 11%, enquanto a Alemanha está com
6%. Para isso, o governo forneceu recursos diretamente às famílias, de até 15
mil euros. Também reduziu impostos e concedeu subsídios e empréstimos a taxas
de juros baixas a pequenas e médias empresas. O pacote de resgate atingiu 55%
do PIB, o mais generoso do mundo. Para Lucas Leite, professor de relações
internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado, Merkel liderou o bloco
europeu. “Quando a pandemia passar, a economia alemã vai permanecer estável”,
diz.
A Alemanha demonstrou mais uma vez saber sair de crises complexasAs medidas
alemãs diferem em tudo das tomadas pelos EUA. Lá, o número de mortes na
pandemia beira os 150 mil. Donald Trump desprezou a medicina e politizou o tema
desde o início. Com o resultado catastrófico, as críticas internacionais se
avolumaram. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Mohamed Younis,
editor-chefe do instituto Gallup, disse que a pandemia pode afetar o status
global de Washington. “A imagem de liderança dos EUA pode ser prejudicada pela
forma como o governo combateu a infecção”, diz. A China, motor do crescimento
mundial nas últimas décadas, também está sofrendo o impacto da crise. A sua economia
passa por um período de turbulência por causa do endividamento, que já passa de
300% do PIB (na Alemanha, chegará a apenas 82% do PIB). No ano passado, o
crescimento da economia chinesa foi 6,1%. Neste ano, esse número deve cair pela
metade. Graças às estratégias econômicas precavidas e medidas restritivas, a
Alemanha se firma como o vencedor da pandemia e emergirá no mundo pós Covid-19
como uma potência em posição de liderança mundial. Sorte da sua líder, que viu
a popularidade disparar de 40% para 70%.
Por Fernando Lavieri,
na Revista Isto é
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