As atitudes criativas de grandes e pequenas
empresas, órgãos públicos e organizações da sociedade civil para minimizar os
impactos da crise
Em 1959, num discurso na cidade de Indianápolis, o então
presidente americano, John Kennedy, fez uma analogia com o símbolo mandarim
correspondente à palavra “crise” — que seria uma junção de duas outras
palavras, “perigo” e “oportunidade” — para ilustrar como essas ideias díspares
costumam andar lado a lado. De lá para cá, a citação virou motivo de debate. Em
vez de “oportunidade”, segundo linguistas, o símbolo significaria “início de
algo”. A polêmica não impediu a citação de ganhar relevância no mundo
corporativo para descrever momentos de incerteza profunda, como o atual. Em
meio à pandemia e ao risco de a economia global afundar num ritmo comparável ao
da Depressão de 1929, empresas do mundo todo seguem inovando, seja para atender
às oportunidades abertas com a crise, seja para conter os danos causados por
ela. A EXAME selecionou, nesta edição, 50 atitudes inovadoras que ajudaram
grandes e pequenas empresas, órgãos públicos e organizações do terceiro setor a
resolver problemas criados pela pandemia. Em alguns casos, a inovação veio na
forma de produtos ou serviços criados nos últimos meses. Em outros, bastou
mudar processos ou torná-los digitais. Divididas em cinco categorias, as
inovações nas páginas a seguir reforçam a ideia de Kennedy: o momento é,
também, de oportunidades.
1 Moderna - Ter agilidade na busca de resultadosO primeiro caso do novo
coronavírus nos Estados Unidos foi confirmado no dia 21 de janeiro. Dez dias
antes, a empresa de biotecnologia Moderna, com sede em Cambridge, no estado de
Massachusetts, já estava trabalhando em uma vacina contra a covid-19, com base
em dados de sequenciamento do genoma do vírus divulgados pelos cientistas
chineses. No início de março, a vacina desenvolvida pela Moderna com um novo
método já estava sendo testada em pessoas.
A rapidez com que a Moderna se lançou na empreitada é um dos fatores que
explicam por que ela está no pelotão de frente da corrida global pela busca da
vacina contra a covid-19. Há mais de 165 vacinas contra o coronavírus em desenvolvimento no
mundo. A da Moderna é uma das 27 que já estão na fase de avaliação clínica — ou
seja, superaram a fase exploratória em laboratório e a fase pré-clínica de
testes em animais. A vacina da Moderna já está na última etapa da fase clínica,
na qual o produto é testado em grande número de pessoas para verificar sua
eficácia e segurança.
Depois dos resultados promissores com 45 voluntários, que desenvolveram
anticorpos para o coronavírus, a Moderna testou em maio a vacina em 600 adultos
para verificar sua reação em um grupo variado de pessoas. No final de julho,
começou a testar a vacina em 30.000 pessoas. Foi a primeira vacina nos Estados
Unidos a entrar na fase de testagem em larga escala. Se tudo der certo, a
previsão da Moderna é produzir de 500 milhões a 1 bilhão de doses por ano, a
começar em 2021.
Diferentemente das vacinas tradicionais, que injetam um vírus enfraquecido ou
inativado para desencadear uma resposta imunológica do organismo, o produto da
Moderna usa um material genético do vírus chamado RNA mensageiro para estimular
a produção de anticorpos. Em tese, o uso do RNA mensageiro permite uma produção
mais rápida de vacinas do que pelo método tradicional. Até hoje, porém, isso
nunca foi feito na prática — não há no mercado nenhuma vacina desenvolvida com
RNA, um material considerado instável pelos cientistas.
Ainda é cedo para saber se a Moderna será uma das vencedoras da corrida global
pela vacina contra a covid-19. O certo é que a empresa foi uma das que mais
valorizaram desde o início da pandemia. Suas ações na bolsa Nasdaq subiram mais
de 300% desde janeiro e transformaram seu presidente, Stéphane Bancel, em novo
bilionário. No dia 21 de julho, o valor de mercado da Moderna era de 30 bilhões
de dólares. Bancel tem uma fatia de 9% da companhia.
2 Mercado Livre - Resolver demandas urgentesA quarentena forçou os brasileiros
a comprar mais pela internet, um movimento que ajudou a impulsionar as vendas
online e beneficiou a varejista online Mercado Livre. O aumento no faturamento
foi de 70% nos primeiros três meses do ano. Para atender à demanda, a empresa
fez contratações e acelerou a entrada em novos segmentos, como de supermercado
e saúde. O plano de investir 4 bilhões de reais no Brasil em 2020 foi mantido.
Em junho, a empresa inaugurou seu terceiro centro de distribuição no país, em
Lauro de Freitas, na Bahia — o primeiro fora do estado de São Paulo. Do início
de janeiro a 24 de julho, as ações da empresa negociadas na Nasdaq subiram 62%
e seu valor de mercado está perto de 50 bilhões de dólares, um nível
inédito.
3 Hotmart - Expandir a presença internacionalA sabedoria popular avisa: é
prudente não colocar todos os ovos na mesma cesta sob o risco de perder tudo ao
menor chacoalhão. Em tempos de crise, muitas empresas brasileiras ampliam a
presença internacional para compensar prejuízos causados pela disparada do
dólar ou pelo sumiço de clientes. É o caso da startup mineira Hotmart, uma
espécie de vitrine de produtos digitais, como cursos, e-books e podcasts. Em
março, a startup anunciou a compra da concorrente americana Teachable, numa
transação estimada em 12 milhões de dólares. A intenção é ampliar a base de
clientes, já bem globalizada: são mais de 20 milhões de usuários em 188 países.
Em maio, as vendas foram o triplo do mesmo período de 2019.
4 Flapper - Reinventar o negócio do zeroPoucas indústrias sofreram tanto com a
pandemia quanto a aviação civil. A turbulência chacoalhou os negócios da
Flapper, startup de São Paulo que é uma espécie de Uber de jatos executivos
para clientes endinheirados a caminho de destinos paradisíacos. Com o medo de
contágio nos ares, a demanda sumiu. Em meio ao caos, o fundador da Flapper,
Paul Malicki, atentou-se para as notícias de turistas brasileiros presos em
cruzeiros ou em países remotos da África e da Ásia por causa do cancelamento de
voos. “Passei a ligar para embaixadas do Brasil lá fora oferecendo o serviço de
repatriação”, diz Malicki, que fundou o negócio em 2016. Para fazer a
estratégia compensar, a Flapper precisou alugar aviões grandes. O maior deles,
um Boeing 777, trouxe 230 brasileiros retidos em países da África. A Flapper
deverá faturar 20 milhões de reais em 2020 — mais que o dobro de 2019.
5 GetNinjas - Diversificar o portfólio sem descuidar do básicoA pandemia trouxe
prejuízos a negócios que iam bem e também abriu demandas pouco mapeadas. No
meio do pandemônio corporativo, há quem veja valor em atirar para todos os
lados. “A pandemia me ensinou a não ter só uma estratégia”, diz Eduardo
L’Hotellier, fundador da GetNinjas, um aplicativo para contratar ajudantes
gerais, como pintores e pedreiros. O medo dos clientes de pegar o vírus ao
contratar um profissional afundou o carro-chefe da GetNinjas. Em abril, a
demanda foi de 50% do normal pré-pandemia. A saída foi recrutar profissionais
com atendimento à distância, como instrutores de ioga, fisioterapeutas e até
professores de tricô. Hoje, 40% dos serviços são do tipo online. Em janeiro,
eram 5%. Para recuperar o negócio original, o jeito foi distribuir álcool em
gel e máscaras e ensinar os profissionais a atender pelo WhatsApp. Jogar em
várias frentes deu certo: o app ganhou 650.000 clientes na crise.
6 Vittude - Descobrir a venda corporativa O isolamento social impulsionou
os serviços da Vittude, startup dona de uma espécie de “Uber de psicólogos”,
onde é possível fazer terapia à distância. Desde março, o número de visitantes
aumentou de 2,5 milhões para 3,3 milhões por mês. A número de usuários
cadastrados no período cresceu de 25.000 para 150.000. “Queremos chegar a 1
milhão de vidas até o fim do ano”, diz Tatiana Pimenta, cofundadora da Vittude.
O pulo do gato da startup é a venda de planos corporativos a negócios dispostos
a dar algum conforto aos funcionários em meio ao isolamento social. Entre os 70
clientes atuais estão Grupo Boticário, Banco do Brasil, RaiaDrogasil e SAP.
“Queremos chegar a 200 clientes até dezembro”, diz Pimenta.
7 iFood - Entender o perfil dos novos clientesO número de restaurantes cadastrados
no aplicativo de delivery iFood saltou 60% com a pandemia — hoje são 212.000.
Nessa toada, entraram categorias pouco digitalizadas, como churrascarias. A
quantidade de pedidos cresceu de 30 milhões, em março, para 39 milhões, em
junho. Quem já estava acostumado a pedir comida experimentou novos pratos. Com
tantas demandas abertas, o iFood viu a necessidade de se aproximar de clientes
e parceiros. No caso dos clientes, esforçou-se para incluir culinárias pouco
vistas por lá, como a vegana. Para os restaurantes, criou conteúdos anticrise.
“Eles precisavam de informações para readequar o cardápio, pensar na logística
e na gestão do negócio”, diz Diego Barreto, vice-presidente do iFood. Aos
entregadores, ofereceu máscaras e álcool em gel. Mas, como outras empresas de
delivery, está às voltas com protestos da categoria espalhados pelo país. Na
pauta estão melhores condições de trabalho, que só aumentou com a
pandemia.
8 Leroy Merlin - Para além de vender, alugarCom mais gente passando mais tempo
dentro de casa, há quem queira dedicar atenção a melhorias no lar. Pensando
nessa demanda, a varejista Leroy Merlin turbinou o serviço de aluguel de
ferramentas. O serviço que antes da pandemia era terceirizado a outra empresa
passou a ser feito por funcionários da Leroy. O custo módico de alguns serviços
— é possível alugar uma furadeira elétrica por 30 reais, por exemplo — aqueceu
as vendas. A Leroy Merlin projeta uma receita de 6 bilhões de reais em 2020 —
alta de 8%.
9 Toledo - Agregar serviços à venda de produtosA fabricante de balanças Toledo
viu crescer na pandemia uma inovação que usa computação em nuvem que permite ao
cliente acompanhar a pesagem por celular ou computador, e não só pelo visor da
balança. O serviço foi útil em supermercados ao reduzir a exposição entre
clientes e funcionários. A Toledo também criou uma marcação automática de
preços. Com as inovações, a empresa vai empatar as vendas de 2019, de 469
milhões de reais.
10 Samba Tech - Criar novos negócios para novas demandasNuma crise, pode ser
útil dividir a empresa para dar conta das exigências dos clientes, que não raro
aumentam nessas épocas. Foi o que ocorreu na produtora de tecnologia para
vídeos mineira Samba Tech. A pandemia trouxe necessidades bem específicas — de
cursos sobre prótese dentária a gerência de estoque. A saída foi criar duas
áreas. Uma delas, a Samba Digital, entrega soluções customizadas em até duas
semanas. A outra é uma solução de videoconferência, em alta com a profusão de
lives. Nas duas frentes, a audiência está aumentando.
11 Malwee - Mudar a linha de produçãoO setor de vestuário foi o que mais sofreu
na pandemia, entre todos os ramos do varejo. Em abril, quando as medidas de
isolamento social já estavam em pleno funcionamento, as vendas do setor caíram
mais de 60%, de acordo com dados da Pesquisa Mensal do Comércio, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No geral, o comércio amargou uma
queda de 16,8%. Para a catarinense Malwee, seria um cenário desolador não fosse
a capacidade de mudar rapidamente suas linhas de produção. Logo no início da
pandemia, a empresa deixou de fabricar roupas e passou a se concentrar na
produção de equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras e
aventais médicos. Em dois meses, a Malwee produziu mais de 40 milhões de
máscaras e 10 milhões de jalecos. “Num ano normal, nós fabricamos cerca de 30
milhões de peças de vestuário”, afirma Guilherme Weege, CEO da Malwee. A venda
de EPIs compensou a perda de faturamento decorrente do fechamento das lojas. A
queda nas vendas, no entanto, não era o único desafio da empresa. Toda a cadeia
da indústria da moda corria o risco de quebrar, inviabilizando a retomada após
a pandemia. Uma das preocupações da companhia era com o elo mais fraco dessa
cadeia: as costureiras. A saída encontrada pela Malwee para dar um fôlego
financeiro a essas profissionais foi desenvolver um kit de máscara, com pano e
elástico, vendido por menos de 1 real. “As costureiras produzem, em média, 300
unidades por dia e revendem localmente por 4 ou 5 reais”, diz Weege. Foram mais
de 5 milhões de kits distribuídos, com uma média de 50.000 por dia. “Nosso
cliente é o pequeno empresário e resolvemos ser o porto seguro dele
nesta pandemia”, afirma.
12 Intel - Investir em inovação de pontaO recente anúncio da Apple de que
deixará de usar chips Intel em seus computadores para produzir os próprios
processadores só reforçou a necessidade de o gigante dos semicondutores
diversificar seus negócios e depender menos do segmento de computação pessoal.
A Intel vem expandindo a oferta de produtos para servidores e data centers, e
entrou em novas áreas, como internet das coisas, chips para redes 5G e carros
autônomos. Um investimento recente foi a aquisição da startup israelense
Moovit, que tem um sistema de otimização de rotas de transporte público, por
900 milhões de dólares. O movimento tem dado resultado. As receitas das demais
unidades de negócio da Intel cresceram 34% no segundo trimestre em relação ao
ano passado. No campo dos PCs, a empresa também tem ido bem e foi favorecida
pelo aumento das vendas de desktops e notebooks durante a quarentena.
Entretanto, a Intel agora enfrenta o desafio de produzir e lançar chips da nova
geração, que hoje já são fabricados por concorrentes como a americana AMD e a
taiwanesa TSMC. O desenvolvimento de processadores com litografia de
7 nanômetros — que consomem menos energia e são mais rápidos — está
atrasado.
13 Caixa - Expandir e depois abrir o capitalEm quatro dias, a Caixa transformou
um aplicativo com capacidade para 1 milhão de usuários na plataforma do maior
programa de transferência de renda da história do Brasil. Até o momento, o
banco já repassou 136,3 bilhões de reais a 65 milhões de beneficiados pelo
auxílio emergencial. Em outubro, o banco pretende testar a solidez de seus
números com os investidores ao fazer a oferta inicial de ações de sua
subsidiária de seguros, que deve captar até 15 bilhões de reais. Em seguida, a
unidade de cartões irá a mercado.
14 Taxweb - Atrair um sócioA entrada de dinheiro novo com a chegada de um sócio
pode garantir tranquilidade de caixa no meio de uma crise. Ou, então, ser o
passaporte para uma expansão internacional. É o que deve ocorrer com a Taxweb,
empresa de São Paulo especializada em sistemas online para rastrear mudanças no
cipoal de normas tributárias brasileiras. Por dia, são cerca de 800
atualizações. Os clientes da Taxweb são, em boa medida, pequenas e médias
empresas, muitas delas com vendas pela internet e para clientes de outros
estados — um desafio e tanto no Brasil por causa das diferenças na cobrança de
ICMS e ISS, impostos regionais. Em maio, a Taxweb recebeu aporte da
multinacional americana Sovos, de software para gestão fiscal. A Sovos pretende
exportar o conhecimento da Taxweb em rastrear mudanças de impostos, uma expertise
que as empresas do Brasil têm de sobra.
15 Chilli Beans - Fazer a gestão de parceirosAlguns varejistas grandes ajudaram
fornecedores ou clientes menores a lidar com a pandemia. A rede de franquias
Chilli Beans, de óculos, negociou com administradoras de shopping centers para
postergar o aluguel dos franqueados — ou negociar preços mais módicos após o
sumiço dos clientes. Além disso, despachou executivos para olhar as contas dos
franqueados em busca de redução de despesas com fornecedores. Em outra frente,
negociou com os bancos um crédito mais em conta. Assim, evitou uma debandada
dos franqueados. “Dos 293, só três nos deixaram”, diz o fundador, Caíto
Maia.
16 C&A - Acelerar as entregasA pandemia causou um congestionamento nas
entregas de compras online — no auge da crise, muitos supermercados de São
Paulo só conseguiam entregar os produtos mais de três semanas depois da compra.
Enquanto isso, a varejista C&A reduziu a espera de 35 para quatro dias nos
destinos mais distantes da sede, em São Paulo. A receita: ampliar o uso das
lojas como centros de distribuição de encomendas compradas nos canais digitais
da empresa. Além disso, investiu num serviço em que o cliente busca o produto
nas lojas — em alguns casos, via drive-thru. Em junho, 12% dos pedidos feitos
no site da C&A eram entregues dessa maneira. O serviço deve continuar,
mesmo com as lojas reabertas, porque trouxe resultados. As vendas por canais
digitais da empresa aumentaram 400% desde o início da crise sanitária.
17 Zoom - Responder rápido às críticasNa nova era do trabalho remoto,
aplicativos de videoconferência, como o Zoom, tornaram-se fundamentais para as
operações de empresas no mundo inteiro. Mas o repentino aumento da demanda
trouxe dores de cabeça para o Zoom, com a descoberta de uma série de falhas na
segurança do serviço. A empresa reconheceu o deslize e explicou que não estava
preparada para o rápido aumento de usuários. Em vez de fingir que o problema
não era com ela, a empresa deu uma lição de como lidar com a crise de imagem. O
Zoom chegou a ter mais de 300 milhões de pessoas conectadas em suas reuniões
por dia em abril. Antes da pandemia, em dezembro, o número não passava de 10
milhões. Desde então, a empresa contratou executivos especializados em
segurança, como o consultor Alex Stamos, ex-Facebook, adquiriu uma empresa que
desenvolve um sistema de criptografia de ponta a ponta e tem feito melhorias em
seu software. As medidas reduziram as preocupações e animaram os investidores.
As ações do Zoom continuaram a tendência de alta. Até 23 de julho, os papéis
acumulavam um ganho de 266% em 2020. Os resultados financeiros também
colaboraram para o bom desempenho na bolsa. No trimestre encerrado no mês de
abril, o Zoom teve um aumento anual de 169% no faturamento, para 328,2 milhões
de dólares, e um crescimento de 90% no número de grandes empresas clientes. A
previsão de faturamento para o atual ano fiscal dobrou: passou de 900 milhões
de dólares para 1,8 bilhão (cerca de 9,3 bilhões de reais). Agora a empresa
aposta em parcerias com fabricantes de câmeras e telefones para integrar o Zoom
em seus aparelhos. Nada mal para quem até pouco tempo atrás estava levando
pedradas.
18 Blue Tree Hotels - Compartilhar informaçõesPoucas vezes o ditado “uma mão
lava a outra” fez tanto sentido quanto agora para a empresária Chieko Aoki,
executiva da rede de hotéis Blue Tree. Em março, Aoki fechou às pressas as 22
unidades por causa da pandemia. Aí veio a dúvida: como convencer os clientes de
que é seguro compartilhar um quarto de hotel? A rede redigiu um manual de
normas sanitárias reforçadas, como a separação dos lençóis de quartos
diferentes na hora de ir para a máquina de lavar — antes, tudo ficava num mesmo
bololô. Além disso, compartilhou o manual com outras redes. “O setor inteiro
sofreu com a crise de confiança. Não adiantaria nada fazer tudo sozinha”, diz
Aoki. O manual já teve 15.000 downloads. Atualmente, apenas cinco unidades da
Blue Tree seguem fechadas.
19 Magnamed - Pedir ajuda a outras empresasA fabricante de ventiladores
pulmonares paulista Magnamed tomou um susto quando, em março, o Ministério
da Saúde pediu 15.000 respiradores. Até então, a linha de produção
fabricava só 200 por mês. A Magnamed conseguiu dar conta do recado pedindo
ajuda a outras empresas. Acionando amigos e parceiros, a Magnamed conseguiu
crédito da papeleira Suzano para comprar insumos. Com a ajuda da empresa de
tecnologia Positivo, encontrou no exterior peças para ampliar a linha de
produção. Assim, a Magnamed prevê faturar 390 milhões de reais em 2020 — oito vezes
mais do que em 2019.
20 Housi - Convencer clientes a ficar mais tempoNa crise, ter clientes fiéis é
uma boa estratégia para ter caixa. Na startup Housi, dona de um aplicativo
usado por executivos para encontrar abrigo em viagens curtas, 20% dos contratos
foram cancelados por causa da pandemia. Por isso, a startup passou a focar o
longo prazo. Os imóveis receberam melhorias, como novas redes de Wi-Fi, para
atrair famílias em busca de estadias mais longas. O faturamento do mês de junho
cresceu 60% em relação ao de maio.
21 Ozllo - Criar uma estratégia digital para quem não tinhaFundada em 2018 por
duas jovens administradoras recém-formadas pelo Insper, a Ozllo, marketplace de
roupas e acessórios de luxo, enxergou na pandemia uma oportunidade. De março a
junho, a plataforma, que funciona como uma espécie de outlet de luxo, em que
tanto empresas quanto pessoas físicas podem anunciar, viu sua receita crescer
274% com uma simples fórmula: atrair marcas de roupa “offline” fechadas por
causa das regras de distanciamento social. A estratégia de captação aumentou em
185% o número de empresas parceiras que anunciam no site. O número de pessoas
físicas também subiu 10%. Segundo a cofundadora da Ozllo, Zoe Pavoa, a pandemia
revelou quanto o segmento de moda ainda depende de lojas físicas, e também como
a parceria entre marketplaces conhecidos e comércios pequenos pode ser
vantajosa para ambos os lados. Hoje, a empresa está presente em 16 estados.
Para expandir sua aderência, criou um banco com cerca de 100 influenciadoras
digitais que anunciam a marca em troca de uma porcentagem nas vendas. Além
disso, em junho, a Ozllo fechou parceria com o gigante dos cosméticos Sephora.
Na compra pelo site, o cliente recebe um brinde. “A parceria com a Sephora
também ajudou muito no volume de vendas. Muitas vezes, o cliente compra um item
com a expectativa de receber uma surpresa. Para nós, inovação é concretizar
aquilo que por algum motivo ainda não está sendo feito”, diz Pavoa.
22 Liv Up - Ampliar a cadeia de fornecedoresQuem está na posição confortável de
ver a demanda pelos produtos e serviços crescer no meio de uma recessão pode,
também, aproveitar o momento para ampliar a base de fornecedores — evitando o
risco de ficar sem matéria-prima quando a economia estiver bombando. O caso da
empresa de marmitas prontas Liv Up, de São Paulo, é exemplar. Com a pandemia, o
volume de encomendas dobrou em relação ao mesmo período do ano passado, em boa
medida pela legião de novos clientes — em geral trabalhadores órfãos do quilão
perto do escritório e sem habilidades na cozinha. As receitas devem triplicar
em 2020. Para não faltar feijão com arroz, os sócios da Liv Up passaram a
comprar alimentos de dezenas de pequenos agricultores antes dedicados ao
fornecimento de alimentos orgânicos a escolas públicas fechadas pela pandemia.
A empresa não revela o faturamento, mas o apetite dos investidores dá uma pista
do crescimento. Fundada em 2016, a Liv Up recebeu 90 milhões de reais em
2019.
23 EDP - Cortar custosCustos são como unhas e, por isso, devem ser cortados com
alguma regularidade, segundo uma das máximas da gestão de empresas. A lição
norteou a estratégia da concessionária EDP Brasil para lidar com a crise. Desde
março, a operação brasileira economizou 1,3 bilhão de reais com ajustes em várias
frentes. Em relação ao quadro de funcionários, contratações de pessoal
terceirizado e consultorias externas foram suspensas. Com todo mundo
trabalhando de casa, uma das duas sedes da empresa em São Paulo foi devolvida —
só aí já foram 100 milhões de reais a menos de despesas. Todas as áreas da
empresa foram convocadas para reuniões diárias com um tema único: ações para
reduzir gastos e aumentar a liquidez do negócio. Os encontros, em si, também
foram econômicos. “Tínhamos gente para cronometrar as conversas para não correr
o risco de torná-las longas e improdutivas”, afirma Miguel Setas, presidente
da EDP Brasil.
24 RESERVA - Transformar vendedores das lojas físicas em onlineAssim que a
quarentena começou, no meio de março, a marca de roupas Reserva fechou lojas e
só manteve o centro de distribuição aberto. Os 600 vendedores de lojas viraram
vendedores online e começaram a usar diariamente o Now, canal da Reserva que
utiliza inteligência artificial e conversa diretamente com clientes via SMS,
WhatsApp, e-mail ou Facebook. Em julho, as vendas vão atingir 90% do normal
pré-crise. “Se a empresa só pensa em inovação na crise, não age a tempo. O
tsunami pegou a gente em cima da árvore”, diz Rony Meisler, fundador da
Reserva.
25 Secretaria de governo Digital - Destravar a máquina públicaLongas filas e
horas de espera. Era esse o retrato de postos de atendimento de serviços
públicos no Brasil antes da pandemia. Com o fechamento dos órgãos de governo,
cresceu a urgência de atender a população pela internet. Desde março, o governo
federal digitalizou 251 serviços. Além disso, ferramentas foram criadas para
atender o cidadão atingido pela crise, como o aplicativo que solicita o auxílio
governamental. “Com a impossibilidade de receber atendimento presencial, revimos
os cronogramas de entregas para dar preferência aos serviços que,
digitalizados, evitariam aglomerações”, disse Luís Felipe Monteiro, secretário
de Governo Digital do Ministério da Economia. O avanço na oferta de serviços
digitais no país tem sido reconhecido. Em julho, pela primeira vez, o Brasil
apareceu entre os 20 países mais digitalizados num ranking das Nações
Unidas.
26 Conquer - Apostar tudo no onlineA pandemia colocou em maus lençóis os
negócios que dependiam do fluxo de pessoas. As empresas que migraram para
atendimento online conseguiram contornar os percalços e, em alguns casos, ter
resultados melhores do que os de antes da crise. É o caso da Conquer, uma
escola de negócios de Curitiba. Até a pandemia, todas as aulas eram presenciais
nas 11 unidades da escola nas principais cidades brasileiras. Desde março, a
escola é apenas online. “A equipe de professores e de desenvolvedores ficou
100% dedicada a gravar os conteúdos que até então eram presenciais”, diz Hendel
Favarin, fundador da Conquer. Novos cursos virtuais dedicados às necessidades
da crise, como de finanças pessoais, também saíram do forno. O resultado foi um
salto nas vendas. De uma média de 30.000 clientes do modo analógico, hoje são
600.000. De janeiro a maio, a escola faturou mais do que em todo o ano passado.
A previsão para este ano é faturar 45 milhões de reais, o dobro de 2019.
27 Diálogo Logística - Implantar processos por reconhecimento de vozA covid-19
trouxe um risco ao negócio da Diálogo, startup de Porto Alegre de entregas de
encomendas para varejistas com presença online, como Renner e Magazine Luiza.
Como evitar o contágio entre 2.000 entregadores espalhados pelas regiões Sul e
Sudeste? “Embora o cenário fosse promissor no setor, porque mais gente comprava
pela internet, temi não dar conta de tanto perrengue”, diz Ricardo Hoerde,
fundador da Diálogo. Em março, a empresa agregou uma ferramenta de comando de
voz, ao estilo de assistentes pessoais, como Google Home, ao aplicativo da
Diálogo. O motivo: minimizar contatos. “Em vez de assinar recibos, os clientes
contam que receberam as encomendas e os entregadores gravam tudo”, diz. Na
crise, a empresa conquistou novos clientes, como a varejista Centauro. A
receita deverá bater 100 milhões de reais, o dobro de 2019.
28 Ping An Good doctor - Automatizar consultasA pandemia da covid-19 acelerou o
uso da telemedicina, e uma das empresas que mais ganharam com isso foi a
plataforma de saúde chinesa Ping An Good Doctor, fundada em 2014. Entre janeiro
e fevereiro, no pico da pandemia na China, foram 1,1 bilhão de visitantes em
busca de informações sobre o vírus. Uma parte desses visitantes virou também
paciente dos médicos que anunciam serviços por ali. Um de seus maiores sucessos
foi conseguir facilitar o acesso a consultas médicas de qualquer localidade, de
forma automatizada, com a criação de sua Clínica de Um Minuto, um quiosque de
autoatendimento espalhado por várias cidades. O paciente entra na cabine e
consulta um médico virtual, que usa a inteligência artificial para fazer o
diagnóstico em minutos. Isso é possível comparando as informações fornecidas
com uma base de dados de 670 milhões de consultas reais com diagnósticos para
3.000 doenças. Depois, o paciente tira dúvidas por videoconferência com um
médico de carne e osso. A covid-19 foi o pontapé inicial de que a companhia
precisava para a expansão internacional. Em abril, a empresa estreou uma
plataforma de atendimento remoto, com consultas em inglês, 24 horas por
dia.
29 Visa - Crescer com inovação abertaUma marca da pandemia tem sido a
solidariedade corporativa: empresas dando crédito a seus fornecedores,
ajudando-os a colocar seus funcionários em home office e a melhorar a gestão. A
empresa de tecnologia de pagamentos Visa abriu seu site de promoções e ofertas
no Brasil para que pequenas e médias empresas vendessem seus produtos e se
comprometeu a doar 210 milhões de dólares globalmente em cinco anos para essas
companhias. A crise também fez com que disparasse o número de transações com
cartão de débito nas compras online, funcionalidade que estava demorando a
decolar.
30 Microsoft - Apostar na nuvemPoucas empresas estavam tão preparadas para
atender à realidade do trabalho remoto quanto a Microsoft. A
companhia fundada por Bill Gates viu um crescimento exponencial em quase todos
os negócios durante a pandemia. O crescimento das vendas de computadores —
impulsionado pela quarentena — elevou as vendas de licenças do Office e do
Windows. A explosão da videoconferência favoreceu o Teams, que virou uma
ferramenta obrigatória para milhões de trabalhadores. Num dia, a empresa
registrou 5 bilhões de minutos de reuniões pelo aplicativo. E, com mais gente
em casa, a Microsoft também viu um crescimento de 64% no faturamento da área de
games, encabeçada pelo videogame Xbox. Mas a grande estrela mesmo foi a unidade
de negócios de computação em nuvem da companhia, um serviço que se mostrou
fundamental para manter as empresas em operação na quarentena. No segundo
trimestre, a unidade de nuvem faturou 13 bilhões de dólares, 17% mais do que no
ano anterior.
31 BMW - Impulsionar o engajamento nas redes sociais“Com vocês, meu verdadeiro
amor, meu príncipe. Meu sonho ganhou vida”, diz a atriz Fiorella Mattheis. Em
seguida, ela mostra o volante de uma BMW. O vídeo bem-humorado está na conta da
marca alemã no TikTok. Difícil imaginar um produto de luxo fazendo campanha
numa rede social para jovens (de verdade). Ou sendo vendido no Instagram, ou no
Facebook. Tudo isso foi adotado pela montadora alemã por causa da pandemia. “A
tecnologia faz parte do DNA da empresa”, diz Jorge Júnior, diretor de marketing
da BMW Brasil. O executivo lembra que o primeiro carro eletrificado a ser
vendido no Brasil foi o i3, em 2014. Para Jorge, o indicativo de sucesso é que
um em cada cinco contatos no meio digital vira negócio.
32 Grand Cru - Agradar ao cliente que segue nas lojasCom a pandemia, a
importadora de vinhos Grand Cru ampliou as vendas do comércio eletrônico de 10%
para 25% do total. A maior parte das 25 lojas próprias e 52 franqueadas pelo
Brasil passou a entregar na casa dos clientes, mesmo quando estavam fechadas.
Mais: serão abertas dez novas lojas franqueadas ainda neste ano. Prosperar no
mundo digital não é grande feito agora. No físico, sim. Os 400 vendedores atuam
no WhatsApp para atrair clientes. A empresa tem promovido lives com o sommelier
executivo, happy hours com influenciadores e até financiou shows de cantores
sertanejos.
33 Construtora Tenda - Informatizar a papeladaAntes da crise sanitária, o maior
canal de vendas da construtora Tenda, especializada em imóveis do programa
habitacional Minha Casa Minha Vida, eram as 64 lojas próprias nas principais
cidades brasileiras. Era lá também que os funcionários armazenavam pilhas de
documentos com comprovantes de renda de clientes em busca de financiamento. Com
as regras de distanciamento social, todas fecharam as portas. “Ou a gente
mudava o atendimento, ou ficaria de braços cruzados”, diz Luis Martini, diretor
executivo de marketing e tecnologia. Por causa da pandemia, a construtora
acelerou um projeto para simplificar a papelada requerida aos clientes. A
adoção de softwares com inteligência artificial deu um jeito de organizar dados
pessoais antes espalhados em pastas e lojas. Com isso, dos 11 documentos
pedidos aos clientes antes de um financiamento, a Tenda hoje pede três,
enviados pela internet: RG e comprovantes de renda e de endereço. A solução
encurtou o prazo para concessão de crédito de três semanas para um dia. Além
disso, expandiu as vendas. Antes da pandemia, com as idas e vindas nas lojas,
dava para fechar até 12.000 propostas por mês. “Agora fazemos em média 60.000”,
diz Martini. “Em meio à crise, tivemos o melhor trimestre da história.”
34 Walmart - Integrar lojas físicas e digitaisO Walmart é a empresa com maior
faturamento no mundo — 524 bilhões de dólares em 2019. É também a maior rede
varejista, com 4.600 lojas nos Estados Unidos. Com a pandemia, aproveitou essa
enorme capilaridade para avançar na integração de seus canais físicos e
digitais. Os clientes podem comprar pelo site ou pelo app e retirar os produtos
em 2.500 lojas com a comodidade. A empresa lançou também o delivery em 1.000
lojas, que prometem entregar os pedidos online em 2 horas. A previsão é que as
vendas online do Walmart atinjam 41 bilhões de dólares neste ano, 44% mais do
que em 2019. O Walmart ainda está longe da líder Amazon, mas está se
consolidando em segundo lugar, à frente do eBay.
35 Uber - Encontrar novos clientesCom as pessoas em casa, o aplicativo de
transporte Uber viu secar sua maior fonte de receitas. Assim, a empresa
precisou cortar 3.700 funcionários — 25% do total. Ao mesmo tempo, teve de
encontrar novos clientes. Os esforços se concentraram nos serviços de entrega
de comida e de compras, por meio do UberEats e dos apps Cornershop e Postmates,
adquiridos recentemente.
36 Tesla - Dobrar a aposta em sustentabilidadeNo dia 1º de julho, a americana
Tesla tornou-se a montadora mais valiosa do mundo, superando pela primeira vez
a japonesa Toyota. É um feito e tanto quando se considera que a Toyota vende 30
vezes mais carros e fatura dez vezes mais do que a Tesla. Os papéis da empresa
do bilionário Elon Musk continuam entre os mais procurados e, no dia 22 de
julho, a Tesla já valia 290 bilhões de dólares. Os números mostram a crescente
confiança dos investidores nos carros elétricos, que hoje representam só 2,5%
do mercado de automóveis novos. Com a necessidade de reduzir a emissão de gases
de efeito estufa, a tendência é que os carros elétricos ganhem cada vez mais
mercado. Segundo a agência de notícias Bloomberg, as vendas dessa categoria
deverão representar 58% do mercado automobilístico em 2040 — o caminho é longo,
portanto. Após anos no vermelho, a Tesla começa a colher os frutos por ter
apostado desde o início em carros que causem menos impactos ao ambiente. Mesmo
com o fechamento temporário das fábricas na pandemia, a empresa pretende
produzir neste ano cerca de 500.000 carros. Em 2019 foram 365.000. No segundo
trimestre, com coronavírus e tudo, a empresa lucrou 104 milhões de dólares. Foi
o quarto trimestre seguido de lucros, fato inédito desde a fundação da Tesla,
em 2003.
37 Nvidia - Crescer mais do que a concorrênciaA empresa de tecnologia americana
Nvidia destacou-se nos últimos anos por vender unidades de processamento
avançadíssimas, usadas em games e data centers. Na pandemia, a demanda pelos
equipamentos para data centers subiu 80%, puxada pela expansão da computação em
nuvem. A unidade de games também foi beneficiada com um faturamento 27% acima
do registrado no mesmo período de 2019. No total, as receitas chegaram a 3
bilhões de dólares no trimestre. Em 2020, suas ações valorizaram mais de 60%.
Em julho, o valor de mercado da empresa chegou a ultrapassar, pela primeira vez
na história, o de sua maior concorrente, o gigante Intel.
38 Tencent - Transformar o tempo livre das pessoas em vendasUma das grandes
beneficiadas pela pandemia foi a chinesa Tencent, maior empresa de games do
mundo. Dona de títulos como League of Legends e Honor of Kings, a companhia
chamou a atenção de uma legião de pessoas entediadas em casa. Só na China são
mais de 600 milhões de jogadores. Para a Tencent, tudo isso significa venda. Em
março, um só jogo, o PlayerUnknown’s Battlegrounds, levantou 232 milhões de
dólares — o triplo de março de 2019. O desafio agora é criar motivos para a
jogatina continuar após a quarentena.
39 Magazine Luíza - Melhorar a reputação na criseO Magazine Luiza melhorou a
reputação, já alta antes da pandemia. A varejista foi uma das primeiras a
comprometer-se a não demitir e a não fechar lojas com o avanço do vírus. Seu
shopping virtual abriu espaço às vendas de produtos de microempreendedores com
frete gratuito. Com tudo isso, o Magazine Luiza foi eleito a principal
referência positiva na pandemia pela consultoria HSR. A boa imagem ajudou
a empresa a ganhar espaço. A fatia de mercado do app Magalu subiu de 22%, em
fevereiro, para 27%, em abril. Nas redes sociais, a empresa tem 55% de menções
favoráveis — um recorde positivo.
40 Netflix - Provar o valor de um portfólio exclusivoA Netflix está saindo da
pandemia com a certeza do valor de seu catálogo de 1.900 filmes e séries — boa
parte deles exclusiva. Se antes a companhia vinha sendo desafiada por
competidores, como o serviço Amazon Prime e o Disney Plus, 2020 ajudou a
Netflix a consolidar a posição de liderança. O número de assinantes no mundo
passou de 167 milhões, no final de dezembro, para 193 milhões, em junho. O
acréscimo de 26 milhões de pagantes é quase tudo o que a empresa ganhou no ano
passado inteiro. O faturamento no segundo trimestre cresceu 25%, para 6,1
bilhões de dólares. No ano, as ações da empresa acumulavam uma alta de 45% até
24 de julho. A pandemia não interrompeu a estratégia agressiva de lançamentos
de produções originais, quase tudo filmado antes da quarentena. Só em julho
estrearam mais de 50 produções. O avanço da pandemia mundo afora poderá atrasar
os lançamentos previstos para 2021 — e, assim, atrapalhar a máquina de fazer
dinheiro da Netflix.
41 Google - Ampliar com lives o engajamentoPor muito tempo colocada em dúvida
por investidores, a aposta do Google em transformar o YouTube numa plataforma
de todos os tipos de vídeo feitos por terceiros mostrou-se acertada na
pandemia. A proliferação de lives, em particular em mercados como o Brasil, fez
a receita do YouTube crescer 33% no primeiro trimestre. A empresa foi
beneficiada ainda pela adoção maciça de atividades online por empresas no mundo
todo. Com a quarentena, o Google liberou o acesso ao Meet, seu aplicativo de
videoconferência. Agora o gigante das buscas quer mudar o serviço de e-mail
Gmail para integrá-lo às demais ferramentas de trabalho.
42 Amazon - Investir o lucro para ganhar no longo prazoResponsável por quase
metade das vendas online nos Estados Unidos, a Amazon viu explodir as vendas de
itens como eletrônicos, medicamentos e alimentos na quarentena. No primeiro
trimestre, faturou mais de 75 bilhões de dólares, alta de 26% em relação a
2019. Na apresentação dos resultados, o fundador da empresa, Jeff Bezos,
afirmou que, em períodos normais, a Amazon teria um lucro operacional de cerca
de 4 bilhões de dólares no segundo trimestre. “Mas não estamos em
circunstâncias normais. Em vez disso, esperamos gastar a totalidade desses 4
bilhões, talvez um pouco mais, em despesas ligadas à covid-19 para levar produtos
aos clientes e manter os funcionários seguros.” Nenhuma outra empresa do mundo
pretende gastar tanto quanto a Amazon na prevenção da doença. O investimento é
também uma resposta à pressão crescente de sindicatos. Esse valor deverá ser
investido em equipamentos de proteção pessoal, laboratório próprio para
testagem, reconfiguração dos espaços para manter o distanciamento físico e
outros processos para reduzir o risco de contágio. Para dar conta do aumento
das vendas na pandemia, contratou 175.000 temporários. Desses, a empresa
pretende efetivar cerca de 125.000, ou 70%.
43 Colab - Incentivar o voluntariadoComo rastrear com algum grau de certeza o
avanço da pandemia? Cinco cidades usaram a vigilância participativa — os
cidadãos monitoraram uns aos outros para identificar os bairros com mais casos
da covid-19. Idealizado pelas startups Colab e Epitrack, o movimento Brasil sem
Corona reuniu 28.000 voluntários, que responderam a formulários online sobre o
estado de saúde e eventuais sintomas da covid-19. Os dados foram cruzados com
os de fontes oficiais. Desse raio-X saíram políticas públicas contra a
pandemia, segundo Gustavo Maia, fundador do Colab.
44 AstraZeneca - Salvar a reputaçãoNa corrida pela busca de uma vacina contra a
covid-19, a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca anunciou uma decisão que
contribuiu positivamente para sua reputação: produzir vacina para o mundo
inteiro sem lucro enquanto durar a pandemia. A expectativa da empresa é
produzir “bilhões de doses” da vacina assim que ela passar por todos os testes
clínicos de eficácia e segurança. O custo de cada dose é estimado em 2,50
euros. A AstraZeneca não vai arcar sozinha com os custos, pois recebeu
subsídios de vários governos e organizações, como a Fundação Bill e Melinda
Gates. Ainda assim, abrir mão do lucro não é uma atitude trivial. A Johnson
& Johnson também prometeu fornecer sua vacina sem lucro. Já Pfizer, Merck e
Moderna afirmaram que não pretendem fornecer suas vacinas a preço de
custo.
45 Comunitas - Elevar a cultura de doaçãoCom a escassez de leitos e
equipamentos de saúde para enfrentar a covid-19, lideranças da sociedade civil
organizada arregaçaram as mangas para ir atrás de doações para resolver o
problema. Uma das campanhas mais bem-sucedidas foi a organizada pela ONG Comunitas,
fundada em 2000 pela então primeira-dama Ruth Cardoso para fomentar a inovação
na gestão pública. Em três meses, a ONG levantou 50 milhões de reais. O
dinheiro serviu para comprar mais de 300 respiradores destinados a hospitais do
SUS no estado de São Paulo. Uma parte também abasteceu a Fiocruz, referência no
país em pesquisas contra a doença. Em boa medida as doações vieram de empresas
e pessoas físicas que ficaram sabendo da vaquinha pela internet e doaram por
ali mesmo. “O legado da pandemia são a importância de uma saúde pública bem
equipada e uma cultura de doação”, diz Regina Esteves, presidente da
Comunitas. De março para cá, a filantropia brasileira já levantou 6 bilhões de
reais para o combate ao vírus, três vezes mais do que a média anual.
46 Cufa - Levar renda e oportunidadeO distanciamento social minguou a fonte de
renda de milhões de autônomos de baixa escolaridade, como ambulantes. Enquanto
o governo federal e os estados batiam cabeça sobre um modelo de transferência
de renda eficiente, a ONG carioca Central Única de Favelas (Cufa) articulou um
mecanismo para transferir doações de contas-correntes de empresas e filantropos
para o celular de mães chefes de família, moradoras de favelas e desempregadas
— um público com risco altíssimo de passar fome. O sistema usou carteiras
digitais, como as do aplicativo PicPay, para os repasses. Dali, o
beneficiário pode fazer compras pelo sistema QR Code (no qual basta usar o
próprio celular) ou transferir o recurso a uma conta bancária com cartão físico
— método usado para pagamentos do benefício do Bolsa Família, por exemplo. Em
outra frente, em parceria com o governo paulista, a Cufa cadastrou famílias de
baixa renda com estudantes na rede pública de ensino. O motivo: depositar 50
reais por mês a título de substituição pela merenda perdida. Tudo via carteira
digital.
47 Social Good Brasil - Incentivar transparência de dados públicosA pandemia
aumentou a pressão sobre gestores públicos. Para a ONG Social Good Brasil, de
Florianópolis, a hora é de transparência. A ONG articulou uma rede de 60
cientistas de dados para bolar maneiras de mapear o risco de descontrole da
covid-19 no estado. O resultado é um software para gestores públicos
atualizarem dados como ocupação dos leitos, evolução e procedência dos casos.
Além de classificar a gravidade da situação, o sistema tem protocolos sobre o
que fazer em cada caso. A ferramenta não impediu o avanço da pandemia em Santa
Catarina, um dos epicentros da covid-19 no país. A informação detalhada,
contudo, ajudou a reduzir o número de mortes. A letalidade do vírus por ali é
25% da nacional.
48 Prefeitura - Promover bem-estar contra a criseA prefeitura de Recife, em
Pernambuco, lançou o aplicativo Movimenta Recife para orientar a população a
praticar exercícios físicos em casa. O sucesso foi imediato. Com mais de 50.000
usuários, o app está entre os mais baixados do Brasil. Com a reabertura dos
parques na orla da cidade, o aplicativo traz também treinos ao ar livre.
49 Inloco - Estimular a quarentenaAberta em 2010, a startup Inloco tem uma
tecnologia para rastrear a localização de celulares e, assim, disparar anúncios
para um aparelho que esteja perto de uma loja. Na pandemia, o rastreio ajudou
estados e municípios a monitorar a adesão à quarentena. A empresa fechou
parceria com 23 estados para receber de graça os relatórios sobre as cidades
com mais furões. Em março, 62% dos brasileiros estavam isolados. Agora, menos
de 40%. Com a reabertura, o índice traz pistas de mudanças no comportamento da
população. “As pessoas estão saindo de casa, mas vão a menos lugares”, afirma
André Ferraz, fundador da Inloco.
50 Tecverde - Criar produtos para o bem comumNa pandemia, muitas empresas
criaram produtos para resolver carências urgentes para o bem comum. A startup
curitibana Tecverde conquistou clientes e investidores com uma tecnologia para
a construção de moradias de baixo custo que ficam prontas em questão de dias.
Na pandemia, a empresa foi convocada por gestores de saúde a erguer hospitais
em grandes centros urbanos com carência de leitos, como São Paulo. Em menos de
dois meses foram cinco unidades e 280 leitos em quatro estados. A técnica para
erguer os hospitais, moldados com todas as paredes de uma vez só, é diferente
do jeito original da Tecverde para erguer casas, em que as paredes são unidas
só no canteiro de obras. A capacidade da fábrica foi ocupada pela nova demanda.
O negócio original, de casas, foi retomado aos poucos nas últimas semanas,
segundo Caio Bonatto, fundador da Tecverde.
Por Leo Branco, Fabiane
Stefano, Rodrigo Caetano, Ernesto Yoshida, Clara Cerioni, Filipe Serrano... na Revista
Exame
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