terça-feira, 2 de junho de 2020

Para valorizar a arte


''Nesse tempo livre, muitos têm recorrido exatamente à arte, manifestação que há pouco tempo estava sendo constantemente questionada, colocada de escanteio, como algo sem importância para a população''


Diversos estudos mostram que a arte pode ser usada como terapia para melhorar a qualidade de vida e aumentar a longevidade. Tudo isso é comprovado. Provavelmente, nos próximos anos, também surgirão pesquisas que mostrem o quanto as manifestações artísticas tiveram um papel essencial durante o período da pandemia de coronavírus no mundo. Com praticamente tudo fechado, e só os serviços essenciais disponíveis, a maior parte da população mundial ficou ou ainda está em isolamento dentro de casa. Isso faz com que exista um período mais ocioso. Afinal, não há trânsito a enfrentar com todos os compromissos adiados ou, simplesmente, transferidos para o universo digital.

Nesse tempo livre, muitos têm recorrido exatamente à arte, manifestação que há pouco tempo estava sendo constantemente questionada, colocada de escanteio, como algo sem importância para a população. Pois é exatamente a cultura que se tornou a “salvação” para muita gente.

As tevês abertas e fechadas tiveram aumento na audiência. Os serviços de streaming ganharam novos assinantes. Muito mais do que ver notícias, as pessoas buscam filmes, séries, novelas, realities shows e documentários. Ou seja, estão atrás dos produtos do audiovisual, cenário que sofreu tanto no último ano com o enfraquecimento da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e, consequentemente, com a paralisação de instrumentos essenciais para os projetos como o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).

O mundo da música, que, nos últimos anos, após a crise do mercado fonográfico, esteve ligado, em sua maioria, aos eventos ao vivo, adaptou-se para chegar até a casa das pessoas e tornou-se uma das opções mais abraçadas pelo público. Para isso, basta ver os números de audiência das lives, que começaram com os sertanejos, tendo Gusttavo Lima como pioneiro, e chegaram aos grandes da MPB, como Roberto Carlos, Alceu Valença e Lulu Santos.

Não bastassem os shows virtuais, os artistas da música também têm aproveitado o tempo para lançamentos. Um dos mais bacanas da temporada da quarentena foi o trabalho de Gilberto Gil com o grupo BaianaSystem. O álbum Gil Baiana Ao Vivo em Salvador foi gravado em novembro de 2019 e tem um papel muito interessante: o de levar o ouvinte para um tempo em que era possível estar num evento com quase 40 mil pessoas, cantando em coro com uma banda completa. É a sensação do “ao vivo”, do qual sentimos tanta falta,e, agora, só curtimos pelas ondas sonoras.

Isso só para citar duas manifestações artísticas: o audiovisual e a música. O teatro, as artes visuais, a literatura e tantos outros movimentos também estão se fazendo presentes, ajudando quem está em casa, seja para ocupar o tempo vago, seja para o bem-estar em meio a tantas notícias ruins. Após tudo isso, ficam vários desejos. Entre eles o de que as pessoas saibam valorizar e perceber a importância da arte, que tanto tem feito por todos nós agora na pandemia de Covid-19.
Por Adriana Izel, no Correio Braziliense






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