domingo, 14 de junho de 2020

Bob Dylan fala sobre racismo e Covid-19 em primeira entrevista em 4 anos


Na primeira entrevista concedida em quatro anos, o cantor Bob Dylan falou o que pensa sobre o atual momento da sociedade, desde o racismo, que gerou uma onda de protestos, até a pandemia de Covid-19, que paralisou o mundo dias antes do lançamento de seu novo álbum, "Rough and Rowdy Ways".



"Tenho náuseas sem fim ao ver George sendo torturado até a morte daquela maneira. Foi extremamente feio. Esperamos que a justiça chege rapidamente para a família de Floyd e para o país", disse o artista, em entrevista ao jornal "The New York Times", ao se referir ao americano George Floyd, homem negro sufocado até a morte enquanto era detido pelo policial branco Derek Chauvin por supostamente usar uma cédula falsa de US$ 20.
Dylan, que segundo o autor do artigo parecia "deprimido", se expressou assim em relação ao movimento social nos EUA que se espalhou pelo mundo, uma postura que coincide com os protestos contidos nas letras de suas músicas, que começaram há mais de 50 anos, com a guerra do Vietnã e com a luta pelos direitos civis.
Um dos primeiros exemplos foi "Oxford Town", de 1963, que escreveu quando James Meredith se tornou o primeiro estudante negro aceito na Universidade do Mississippi.
Sobre a pandemia de Covid-19, Dylan opinou que trata-se de um "indicador" do que acontecerá no fuuro, mas rejeitou a questão da doença em "termos bíblicos".
"Quer dizer algum tipo de sinal de aviso para as pessoas se arrependerem dos seus erros? Isso implicaria que o mundo enfrenta algum tipo de castigo divino", disse ele, observando que "podemos estar à beira da destruição" porque "a arrogância extrema pode trazer castigos desastrosos".
"Há muitas maneiras de se pensar sobre este vírus. Penso que é preciso deixá-lo seguir o seu curso", acrescentou sobre o coronavírus SARS-CoV-2, que provoca a doença Covid-19.
Dylan também confessou ter ficado emocionado com o espectáculo da Broadway "Girl in the North Country", baseado em suas canções, que estreou pouco antes de a pandemia obrigar ao fechamento dos teatros.
"Fui assistir como um espectador anônimo, não como alguém que tivesse alguma coisa a ver com isso. A peça me fez chorar no final. Quando as cortinas se fecharam, fiquei atordoado. É pena que a Broadway tenha precisado fechar porque eu queria assistir de novo", comentou.
O ganhador do prêmio Nobel da Literatura também revelou na entrevista, feita pelo professor de História e escritor Douglas Brinkley, como escreve as próprias obras, cujas ideias aparecem quando está "em uma espécie de transe".
"A maioria das minhas canções recentes são assim. As canções parecem conhecer a si próprias e saber que posso cantá-las, vocal e ritmicamente. Elas se escrevem sozinhas e contam comigo para cantá-las", analisou.
Dylan confessou que não se sente particularmente criativo quando está em casa, mas sim quando está em viagem, e disse que também não explora ideias musicais em um estúdio privado, geralmente em quartos de hotel.
Da EFE



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