sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O mínimo a fazer é exigir que o governo faça o máximo!

Não faz muito tempo escrevi um artigo discorrendo sobre a iniciativa Um Computador por Aluno – UCA e a importância do Ministério da Educação ter endossado o Projeto. Tudo estava transcorrendo bem, na mais perfeita ordem, mas, ao que tudo indica, algum tipo de areia já está sendo misturada à nossa farofa. O artigo continua disponível no portal da revista eletrônica Goiás Educação (http://www.goiaseducacao.com/novo2/index.php). Para os que não leram, cuidei de reproduzi-lo, logo abaixo. Caso já tenha efetuado a leitura, então é só pular o texto e seguir lá para baixo, onde relato sobre a tal areia. Vamos ao artigo:

O computador e a nova escola – uma forma de confrontar os interesses subalternos.

Em 2005, Nicholas Negroponte, pesquisador de Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos EUA, apresentou ao governo brasileiro o projeto Um Computador por Aluno – UCA.

De lá pra cá o que andou, que medidas foram tomadas, que objetivos foram alinhavados pelo governo brasileiro?

Cinco meses atrás o Ministério da Educação deu início a um piloto disponibilizando os computadores para alunos e professores de cinco escolas públicas de cinco unidades da federação: Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Tocantins e Brasília.

Cada uma das escolas beneficiadas está sendo monitorada e assistida por uma universidade da região que deverá produzir relatórios e análises para orientar o governo quanto ao formato e desdobramento do programa. Nos documentos e relatórios técnicos deverão constar as avaliações quanto as condições físicas do equipamento, sua conservação, mas, sobretudo a freqüência dos alunos e a aprendizagem verificada.

O Ministério da Educação mantém metas arrojadas. Entre os anos de 2008 e 2010 estão previstas a aquisição e distribuição de 150 mil laptops para alunos e professores de 300 escolas públicas distribuídas por todo o território nacional.

Nos cinco projetos pilotos em curso, a experiência tem sido avassaladoramente produtiva. O corpo de professores teve que rebolar, correr atrás, retomar os estudos para atualizar os conhecimentos. Os alunos - estimulados pela curiosidade e rara oportunidade - retomaram o interesse pelo espaço escolar e a aprendizagem atingiu patamares jamais alcançados. Resultado: a freqüência elevou-se significativamente, as aulas tornaram-se mais dinâmicas, ágeis e interessantes, e a escola agregou um plus, um diferencial de qualidade, um upgrad que a distancia anos-luz do sistema tradicional.

Os laptops são conectados a Internet e acessam a rede mundial sem a utilização de fios e cabos. Cada equipamento pesa 1,5 quilo e tem uma memória de 512 MB. A utilização em sala de aula com o acompanhamento de um professor é prioritário. Mas o aluno pode levar o computador para casa, familiarizando-se com a máquina de modo a extrair dela tudo o que é possível. Além de compartilhar o benefício com familiares, amigos e vizinhos.

Um grande diferencial do piloto é o processo de acompanhamento e supervisão, sempre efetuado através dos professores. É esta supervisão, realizada de forma pessoal e direta, que assegura o direcionamento de toda a potencialidade da tecnologia para o aprendizado, libertando o aluno, impedindo que utilize a máquina exclusivamente para jogos, salas de bate papo e entretenimento virtual.

É uma prova inconteste de que o governo só não acerta quando interesses subalternos o manipulam em direção a subterrâneos distantes dos largos e arejados espaços onde vigoram os legítimos interesses populares.


Pois bem, o laptop tinha o preço inicial estipulado em US$ 100, pulou para US$ 150 e já está sendo comercializado por U$ 200. Dobrou de preço o que implicará em duplicar os investimentos governamentais previstos, o que vai doer na pele, considerando que as quantidades envolvidas neste projeto são para lá de expressivas.

A One Lap Top per Child, fundação que toca o projeto no mundo, está tendo dificuldades para justificar as razões do aumento no preço do computador. Seja qual for o produto, majorar os preços em 100% é praticar uma política difícil de explicar.

Na realidade, os valores iniciais foram fixados considerando, sobretudo, a produção em larga escala. A idéia era simples e correta. A produção em mega escala achataria os preços mantendo-os em torno dos US$ 100. Nicholas Negroponte e o pessoal do Massachusetts Institute of Technology (MIT) acreditavam que os pedidos iniciais ficariam na casa das 2,5 milhões de encomendas. Como o projeto foi desenvolvido para beneficiar crianças pobres de todo o mundo, tinha-se como certo que, no mínimo, 100 dos países adeririam instantaneamente ao movimento.

Todavia, as encomendas ficaram muito aquém das expectativas e, preto no branco, com papel passado e tudo, até agora, apenas três países formalizaram as encomendas: Uruguai, Peru e Mongólia. Dos 2,5 milhões de computadores previstos inicialmente, especialistas estimam que as encomendas não ultrapassam 200.000 unidades, não mais que 8% da quantidade que moldou o sonho dos idealizadores do MIT.

Este mês se iniciará a produção dos computadores. Dadas as características de oferta de mão de obra, a China foi o país escolhido para fabricá-los. Como o software que carregará a maquina ficará disponível em dezembro, em janeiro do ano que vêem, as escolas estarão recebendo os equipamentos.

Talvez a partir daí os demais países se animem e canalizem suas energias para hipotecar adesão ao projeto, um dos mais importantes do milênio, não restam dúvidas. No que diz respeito ao Brasil, a roda está em movimento e caberá à sociedade exigir que o governo federal não permita que o programa sofra solução de continuidade e, melhor, seja acelerado. O mínimo a fazer é exigir que o governo faça o máximo.

Antônio Carlos dos Santos é professor, criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br