segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O que aprender com os Vikings?

A Dinamarca é a terra mãe de Hans Christian Andersen, autor de O Patinho Feio, a estória que nos encantou quando crianças. E entre este país do norte europeu e o Brasil existe uma distância bem longa, talvez só medida em anos-luz.

“Eu diria que a educação é a metade do nosso capital social”. Esta é uma frase cunhada por Marie-Louise, dirigente da Confederação Dinamarquesa dos Sindicatos. E expressa o sentimento dos dinamarqueses quando o assunto é educação.

Na Dinamarca o cidadão entrega ao governo metade do seu salário. De tudo o que ganha em um ano de trabalho, 50% do que – com esforço e suor - consegue amealhar, vai parar direto nas mãos do governo, a título de imposto de renda. E por incrível que pareça, não há quem reclame ou brade por algo que se assemelhe à nossa (sempre decantada e postergada) reforma tributária. A razão é simples: tudo funciona, o governo se movimenta como um motor turbinado de última geração, com o Estado devolvendo à população o que dela extrai.

Excluindo os recursos destinados à pesquisa, investe nada menos que 6,5% do seu Produto Interno Bruto em educação. No Brasil, os investimentos governamentais no setor chegam capengando a 4,5% do PIB. Quando se coteja o tudo que um realiza e o efêmero que o outro promove é que se percebe o quão monstruosa é esta diferença. Um encontra-se no apogeu do progresso, com os cidadãos gozando o bem estar e a fartura que só desenvolvimento sustentável propicia e consegue universalizar. Já o outro... todos sabemos, e sentimos na pele, no bolso, na imobilidade...

Governo e sociedade do país escandinavo introjetaram a educação em sua cultura institucional, coletiva e individual. Na realidade ‘respiram’ educação nas proposições e ações que entabulam. E a priorizam de tal forma que é oferecida gratuitamente, não apenas no nível fundamental, mas em todos os níveis, em todas as fases do ensino, da creche que aconchega os bebês ao pós-doutorado que afina a qualidade acadêmica dos pesquisadores.

Tanto como a educação – universalizada, gratuita e de qualidade - também a saúde é integralmente custeada pelo Estado.

A origem da Dinamarca remonta à pré-história. O povo que lá habita, logo após o século XI, passou a ser conhecido como Viking. Chegou a conquistar boa parte da Europa controlando a Inglaterra, Suécia, Noruega, parte das Ilhas Virgens, Islândia, partes da costa Báltica e ainda o que hoje compõe toda a região norte da Alemanha.

Esta longa trajetória que se origina na pré-história é que legou aos herdeiros dos Vikings a capacidade de reconhecer e dar toda importância à educação. É a melhor estratégia – sabem eles - para honrar as conquistas de seus antepassados. A melhor forma – aprenderam eles - de dominar o presente para que os filhos e descendentes tenham lugar assegurado no futuro. Caso refletisse sobre o sucesso desta nação encravada no norte da Europa quem sabe o Brasil aprendesse alguma coisa. Como alento, o ensinamento de Rodoux Faugh: “(...) sempre é tempo quando o desafio é reconstruir o tempo para domá-lo, dominá-lo, como o mágico que domina a moeda, fazendo com que caminhe e desapareça dentre os dedos da mão”.

Antônio Carlos dos Santos é engenheiro, escritor e professor. Criou a metodologia de planejamento estratégico Quasar K+ e a tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br