As causas... cada um dá guarida às suas. Acoberta-as conforme a bagagem teórica e os valores. O assunto é o estado terminal – de infindável crise - da educação brasileira. Pelo caos generalizado há quem atribua toda a responsabilidade aos professores, carentes de uma formação adequada que termina por provocar acentuadas distorções no processo de alfabetização. E se não é tudo, a alfabetização processada de forma correta, é muito. Outros preferem atribuir o problema crônico ao crescimento desordenado do ensino médio. E não sem parte da razão. Apenas na última década, o número de alunos no ensino médio foi triplicado, gerando fortes tensões sobre um sistema já frágil, débil e por demais deficiente.
Nessas condições, que cenário esperar senão este que se apresenta, vil, catastrófico, improdutivo? É como uma explosão atômica reduzindo a pó tudo o que se encontra exposto. E nesta insidiosa explosão, parte considerável dos estilhaços caiu sobre os ombros dos professores que tiveram as condições de trabalho degradadas e os salários aviltados.
Mas a parte maior dos estilhaços foi lançada diretamente sobre o colo da juventude, desfigurando-a de forma quase irremediável.
Exagero? Então vejamos. A última avaliação do Saeb - um dos exames federais de avaliação de aprendizagem - apresenta resultados devastadores: os estudantes que concluem o Ensino Médio apresentam conhecimentos esperados de alunos da 8ª série. Quando adentramos no universo das escolas públicas tão somente, ai os resultados são de amargar, tornam-se demolidores: é que a média dos alunos das escolas particulares geralmente é 21% maior que a dos estudantes do ensino público.
O cenário é de terra arrasada. Parte expressiva dos alunos fica três anos na escola cursando o ensino médio e aprende rigorosamente nada. Três anos jogados fora. Em São Paulo, a unidade mais rica da federação, praticamente a metade dos alunos conclui o ensino médio com conhecimentos de escrita e leitura que seriam apropriados para um estudante da oitava série. O Saeb denuncia que 43,1% dos alunos do terceiro ano do ensino médio tiveram notas inferiores a 250, patamar fixado como mínimo para a oitava série. Traduzindo em miúdos, esses estudantes não conseguem, por exemplo, compreender o efeito do humor provocado por ambigüidade de palavras ou reconhecer diferenças de opiniões em um mesmo texto.
Engana-se quem pensa que chegamos ao fundo do poço. Não, o buraco é muito mais profundo: 15,2% dos alunos tiveram desempenho ainda pior, apresentando conhecimentos similares aos que se esperam das crianças de quarta série.
Não custa repetir. O buraco é mais embaixo porque este quadro está distorcido pela presença dos alunos da rede privada, cuja média é 21,2% superior à dos alunos da rede pública. Quando o universo se restringe exclusivamente aos estudantes das escolas públicas então o cenário torna-se uma mistura ignominiosa onde se destacam incompetência, irresponsabilidade e crime de lesa pátria.
Todo o país que se preze reserva à juventude o que tem de melhor e mais nobre. E por uma razão bem simples e pragmática: mais dia, menos dias, o destino da nação estará em suas mãos. Mas Pindorama – os fatos comprovam! – não é um país que se preze: os jovens são humilhados e açoitados, porque deles se espera não combatividade, sabedoria e patriotismo, e sim leniência e cumplicidade com a canalhice que acomete uma fração expressiva dos que cuidam da educação e da política brasileiras.
Antônio Carlos dos Santos é professor, criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br