Há formas de tornar as pessoas inconscientemente conectadas a dispositivos como smartphones, tablets e computadores |
Permanecer "ligado" a
um dispositivo tecnológico é
uma experiência muito comum - e existe um campo
de pesquisa dedicado a tornar as pessoas inconscientemente
conectadas a smartphones, tablets e computadores.
É
conhecido como design de vício. Foi inventado por especialistas em Experiência
do Usuário (também chamado de UX) e usa truques neuropsicológicos para manter a
atenção de nossas mentes.
Talvez você já tenha ouvido falar
sobre como receber uma curtida em algo que você postou em uma rede social te dá
uma sensação de prazer e confiança, e sabe-se que esta injeção de dopamina nos
faz usar cada vez mais esses sites.
Mas há recursos muito mais sutis
e menos óbvios em todos esses aplicativos que têm um grande impacto em nossa
relação com a tecnologia.
Conheça quatro truques de design
viciantes que fazem você não querer largar o seu aparelho.
1. Rolagem infinita
Passar horas lendo comentários ou
olhando fotos publicadas em redes sociais não seria possível sem a invenção da
rolagem infinita.
Basicamente, é a possibilidade de
você continuar vendo novas informações sem limite à medida em que desliza seu
dedo ou o mouse pelo seu feed de notícias.
Desta
forma, o seu cérebro nunca tem uma pausa, e apenas sua força de vontade pode
fazer você parar de olhar para o aplicativo.
"Ao contrário de muitas
outras formas de entretenimento, como filmes, os smartphones não tem um ponto
final. Os filmes mostram créditos após cerca de duas horas, mas você pode
deslizar, tuitar ou jogar até que você morra", diz o jornalista Eleanor
Cummins em um artigo na revista Popular Science.
O criador da rolagem infinita
chama-se Aza Raskin e explicou à Popular Science que sua intenção era facilitar
a experiência do usuário. No entanto, hoje ele lamenta sua invenção.
"Na realidade, o que fiz foi
conseguir que os humanos gastassem literalmente centenas de milhões de horas",
criticou.
2. Deslize para baixo ou
pressione para atualizar
Outra ferramenta relacionada à
atualização de informações que é viciante é aquela que força o usuário a
deslizar para baixo ou clicar para atualizar a página. O conceito foi criado
pelo Twitter, usando um truque de design UX.
Quando você abre o Twitter, ele
mostra as informações que você viu na última vez que você entrou. Você tem que
puxar manualmente ou deslizar para baixo no seu telefone ou pressionar
"ver novos tweets" no seu computador para acessar as informações mais
recentes.
Essa ação é semelhante à de uma máquina caça-níqueis em um cassino.
Estudos mostram que ela libera dopamina, já que nosso cérebro antecipa que essa
ação nos trará uma recompensa. O mesmo acontece com a rolagem infinita.
Loren Brichter, ex-engenheiro do Twitter, disse ao jornal britânico The
Guardian em 2017: "O recurso "Pull-to-refresh" (puxe para
atualizar, em inglês) é viciante. O Twitter é viciante. Essas não são boas
coisas."
3. Acesso Indireto
Curiosamente, algo que pode soar como um erro de projeto, uma vez que
dificulta nosso acesso ao nosso próprio perfil, é outra ferramenta usada de
forma proposital pelas redes sociais.
Imagine que você queira entrar no Facebook, Instagram, LinkedIn ou Twitter
apenas para postar alguma coisa. Quando você abre o site ou o aplicativo, você
inevitavelmente encontrará comentários e postagens de outras pessoas. E, muito
provavelmente, você será tentado a ler alguns.
O fato de nenhuma dessas redes te direcionar diretamente ao seu perfil
obriga você a interagir, ainda que com o canto do olho, com o conteúdo gerado
por outras pessoas.
4. Notificações
E assim que você entra, a página avisa que alguém que você conhece acaba
de publicar algo ou que você tem uma quantidade X de novas mensagens sem ler.
Sua curiodade será ainda maior.
As
notificações são outro recurso muito eficaz de design viciante. São baseadas em
estudos que mostram que a maioria das pessoas não gosta de ter tarefas
pendentes.
Portanto, se o seu celular
estiver cheio de aplicativos com pequenos círculos vermelhos indicando o número
de notificações que você não leu, é provável que em algum momento você queira
saber do que se trata.
E, uma vez lá dentro, também é
muito provável que sua atividade gere respostas imediatas de outras pessoas, o
que, por sua vez, aciona novas notificações.
Agora você entende como ficou,
sem perceber, olhando seu celular até o amanhecer?!
BBC