O
fotógrafo de 76 anos conta por que criou um manifesto de 500.000 assinaturas
para proteger essa população do coronavírus
Famoso mundialmente por seus ensaios sobre o homem e a natureza, o fotógrafo de 76 anos conta por que criou um manifesto de 500?000 assinaturas para proteger os índios da Covid-19.
Por que fez o manifesto em prol dos indígenas?
Tenho trabalhado na Amazônia há sete anos. Estou sempre a par do que acontece na floresta. Falo com as associações indígenas diariamente. Eles confiam muito em mim e estão preocupados com as invasões de seu território, com medo deste governo anti-indígena, e com o coronavírus, que está na porta da casa deles.
Quais são as notícias que chegam para o senhor nessas conversas?
Os índios têm consciência de que são a população mais ameaçada do planeta quando o assunto é Covid-19. Eles não têm defesa imunológica para a maioria das doenças dos homens brancos. As tribos estão fechando os rios e não vêm permitindo a entrada no território delas. Muitos indígenas estão abandonando as aldeias e entrando na floresta, porque sabem que podem ser exterminados. Velhos, obesos, jovens — todos estão morrendo.
Como obteve o apoio de tantas personalidades, do príncipe de Mônaco aos atores Richard Gere e Meryl Streep?
Fui atrás de cada um deles. O famoso boca a boca. Muitos são colecionadores de minhas fotografias. Tenho uma carta de todos autorizando o uso do nome.
Na carta aberta, o senhor fala que a Covid-19 pode levar ao genocídio dos povos indígenas. Não é exagero?
De jeito nenhum. Exagero é o Brasil reduzir a importância e a gravidade da doença. Sabemos que o número de mortos e infectados é bem maior do que o divulgado, em razão da falta de testes. Genocídio é quando existe o desejo proposital de eliminar um grupo étnico. É isso que o governo presente está tentando fazer. Muitos morrerão, será um extermínio. Não há como ter assistência médica nas aldeias, não tem como levar respiradores até lá. Os indígenas estão abandonados. Se eles não resistirem, o governo brasileiro terá de responder criminalmente. Será julgado por crime contra a humanidade.
A culpa então é da gestão Jair Bolsonaro?
Sem dúvida. Este governo é anti-indígena, anti-Amazônia, anticultura. Nunca, na história, os índios estiveram tão ameaçados. Eles estão lutando pela sobrevivência. No momento, há mais de 20?000 garimpeiros incentivados pelo presidente no território ianomâmi. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem processo ambiental contra ele. Moralmente, nem deveria ser ministro. É um violador permanente do meio ambiente.
Qual o próximo passo de sua iniciativa?
Temos um pequeno comitê que está levando o documento às mãos de parlamentares que possam apresentá-lo no Congresso, no Supremo e na Advocacia-Geral da União. O texto não é só para o presidente, e sim para os demais poderes. Não posso obrigar que reajam, mas espero que a pressão internacional surta efeito.
Famoso mundialmente por seus ensaios sobre o homem e a natureza, o fotógrafo de 76 anos conta por que criou um manifesto de 500?000 assinaturas para proteger os índios da Covid-19.
Por que fez o manifesto em prol dos indígenas?
Tenho trabalhado na Amazônia há sete anos. Estou sempre a par do que acontece na floresta. Falo com as associações indígenas diariamente. Eles confiam muito em mim e estão preocupados com as invasões de seu território, com medo deste governo anti-indígena, e com o coronavírus, que está na porta da casa deles.
Quais são as notícias que chegam para o senhor nessas conversas?
Os índios têm consciência de que são a população mais ameaçada do planeta quando o assunto é Covid-19. Eles não têm defesa imunológica para a maioria das doenças dos homens brancos. As tribos estão fechando os rios e não vêm permitindo a entrada no território delas. Muitos indígenas estão abandonando as aldeias e entrando na floresta, porque sabem que podem ser exterminados. Velhos, obesos, jovens — todos estão morrendo.
Como obteve o apoio de tantas personalidades, do príncipe de Mônaco aos atores Richard Gere e Meryl Streep?
Fui atrás de cada um deles. O famoso boca a boca. Muitos são colecionadores de minhas fotografias. Tenho uma carta de todos autorizando o uso do nome.
Na carta aberta, o senhor fala que a Covid-19 pode levar ao genocídio dos povos indígenas. Não é exagero?
De jeito nenhum. Exagero é o Brasil reduzir a importância e a gravidade da doença. Sabemos que o número de mortos e infectados é bem maior do que o divulgado, em razão da falta de testes. Genocídio é quando existe o desejo proposital de eliminar um grupo étnico. É isso que o governo presente está tentando fazer. Muitos morrerão, será um extermínio. Não há como ter assistência médica nas aldeias, não tem como levar respiradores até lá. Os indígenas estão abandonados. Se eles não resistirem, o governo brasileiro terá de responder criminalmente. Será julgado por crime contra a humanidade.
A culpa então é da gestão Jair Bolsonaro?
Sem dúvida. Este governo é anti-indígena, anti-Amazônia, anticultura. Nunca, na história, os índios estiveram tão ameaçados. Eles estão lutando pela sobrevivência. No momento, há mais de 20?000 garimpeiros incentivados pelo presidente no território ianomâmi. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem processo ambiental contra ele. Moralmente, nem deveria ser ministro. É um violador permanente do meio ambiente.
Qual o próximo passo de sua iniciativa?
Temos um pequeno comitê que está levando o documento às mãos de parlamentares que possam apresentá-lo no Congresso, no Supremo e na Advocacia-Geral da União. O texto não é só para o presidente, e sim para os demais poderes. Não posso obrigar que reajam, mas espero que a pressão internacional surta efeito.
Por Eduardo F. Filho, na Revista Veja
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