A Organização das Nações unidas acaba de informar que o Brasil passa, a partir de agora, a integrar o conjunto de países considerados de alto desenvolvimento humano.
O governo naturalmente estourou champanhe e fogos de artifício e o presidente chegou a afirmar que o país ficou “chique”.
Os critérios que levaram a organização internacional a colocar o Brasil na lista do primeiro mundo estão ancorados no IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano.
O IDH é resultado de um trabalho que a ONU iniciou na década de 50. Nos anos 80, estimulada pelos trabalhos do economista indiano - premio Nobel - Amartya Sen, a metodologia foi aperfeiçoada e a partir de 1990, o indicador passou a ser disponibilizado com regular periodicidade.
Para chegar aos resultados leva em consideração três áreas estratégicas: saúde, educação e padrão de vida. E utiliza dados relativos à expectativa de vida, alfabetização adulta, quantidade de alunos matriculados nos três níveis de ensino e o Produto Interno Bruto (PIB) per capita.
Para ser inserido no rol dos tidos como de "alto desenvolvimento humano" o PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, estabelece que o país deve atingir média de pontuação igual ou superior a 0,800. Se o IDH for inferior aos 0,500 será considerado de "baixo desenvolvimento humano".
O Brasil ficou no limite, com o IDH igual a 0,800. É a justificativa para a promoção. Isto apesar do país ter despencado sete posições de 2003 para cá. Ocupa agora a 70ª posição no ranking, bem atrás dos vizinhos Chile, Uruguai, Argentina e também do México.
Aliás, a Argentina ocupa na lista a 38ª posição e passou a figurar no grupo que hoje o Brasil passa a integrar, exatas duas décadas atrás.
Motivos para comemoração? Nem tanto.
"O copo do Brasil ainda está meio vazio. Há muito o que ser feito para se aproximar da Argentina, que desde a década de 80 está no grupo de alto desenvolvimento humano". São afirmações do economista Flávio Comim, assessor especial para Desenvolvimento Humano das Nações Unidas.
É fato que o IDH não consegue expressar a realidade e foi adotado com alternativa para fugir dos indicadores restritivamente econômicos, utilizados pelo Banco Mundial. Não obstante o avanço por abrir-se à vertente social, apresenta falhas e distorções e deve ser encarado com certa cautela. Ignora componentes importantes como a concentração da renda, a criminalidade, o analfabetismo funcional, e o saneamento básico, para citar alguns exemplos.
Nesta questão do saneamento o país exala irresponsabilidade política e institucional, é pura catástrofe. Para se ter uma idéia da gravidade do problema, considerando a dinâmica dos atuais investimentos governamentais, o esgotamento sanitário só estará disponível para todos os brasileiros no ano de 2.122, portanto, daqui a 115 anos. E um país que não consegue dar destino adequado ao seu excremento não pode ser considerado de alto desenvolvimento Humano, convenhamos.
O próprio PNUD reconhece as limitações de seu indicador e faz reparos quanto à sua capacidade de aferir o nível de desenvolvimento humano de um país.
Os que lidam com este tipo de indicador sabem das limitações do IDH, sobretudo quando ignora o conceito de desenvolvimento sustentável.
O especialista britânico Stephen Morse, professor da Universidade de Reading e autor de livros sobre estatísticas em desenvolvimento humano com freqüência recorre a um exemplo esclarecedor para explicar a vulnerabilidade da metodologia da ONU.
"Hipoteticamente, se o Brasil devastasse completamente a floresta amazônica e usasse a terra para plantar soja ou criar gado, o país subiria diversas posições e talvez até liderasse o ranking. Mas isso não pode ser chamado de alto desenvolvimento humano. O índice do PNUD só leva em consideração os benefícios de um país, mas não os seus custos”.
É evidente que as distorções não inviabilizam o instrumento e não esvaziam sua importância. O IDH deve ser recebido como mais uma ferramenta para auxiliar os governos e a sociedade. Agregado a outros índices, compondo uma cesta de indicadores, aí sim, poderá auxiliar na avaliação quanto à real eficácia das políticas públicas em execução.
Ou alguém em são consciência – que não o governo – acreditou com sinceridade que o Brasil se inseriu dentre os países de alto desenvolvimento humano?
Um problema genético do procedimento da ONU, é que o IDH utiliza apenas quatro variáveis para alcançar um conceito tão complexo como o desenvolvimento humano. Por isto o ranking da ONU é quase que ignorado pelos acadêmicos da área, esclarece Stephen Morse.
Com tantas inconsistências, fica fácil explicar as razões de países como Cuba (51º posição), Bugária (53º), e Tonga (55º) terem ficado bem à frente do Brasil.
A travessia para o outro lado, onde se acomodam os países desenvolvidos, será longa, exaustiva, árdua. Exigirá esforços concentrados da sociedade. O caminho não é plano e calçado. Está mais para uma ladeira íngreme e escorregadia, repleta de armadilhas.
O Brasil já ostenta uma pujança que causa inveja a muitos países do mundo. Sua economia, nas ultimas décadas, sempre está a gravitar em torno das dez mais expressivas do planeta. Mas problemas estruturais como a concentração da renda, a educação sem qualidade, marcos regulatórios defasados, burocracia excessiva que alimenta e robustece a corrupção, e os graves entraves de logística e infra-estrutura física, nos mantêm aprisionados ao grupo dos países em desenvolvimento.
E não tem como chegar lá sem fazer o dever de casa. A não ser para os que acreditam em papai Noel.
Antônio Carlos dos Santos é o criador da metodologia de planejamento estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br
Na listagem do PNUD, o ranking da ONU. Seguem os países com seus respectivos IDH’s:
1) Islândia: 0,968
2) Noruega: 0,968
3) Austrália: 0,962
4) Canadá: 0,961
5) Irlanda: 0,959
6) Suécia: 0,956
7) Suíça: 0,955
8) Japão: 0,953
9) Holanda: 0,953
10) França: 0,952
11) Finlândia: 0,952
12) EUA: 0,951
13) Espanha: 0,949
14) Dinamarca: 0,949
15) Áustria: 0,948
16) Reino Unido: 0,946
17) Bélgica: 0,946
18) Luxemburgo: 0,944
19) Nova Zelândia: 0,943
20) Itália: 0,941
21) Hong Kong: 0,937
22) Alemanha: 0,935
23) Israel: 0,932
24) Grécia: 0,926
25) Cingapura: 0,922
26) Coréia do Sul: 0,921
27) Eslovênia: 0,917
28) Chipre: 0,903
29) Portugal: 0,897
30) Brunei: 0,894
31) Barbados: 0,892
32) Rep. Tcheca: 0,891
33) Kuait: 0,891
34) Malta: 0,878
35) Qatar: 0,875
36) Hungria: 0,874
37) Polônia: 0,870
38) Argentina: 0,869
39) Emirados Árabes: 0,868
40) Chile: 0,867
41) Bahrain: 0,866
42) Eslováquia: 0,863
43) Lituânia: 0,862
44) Estônia: 0,860
45) Letônia: 0,855
46) Uruguai: 0,852
47) Croácia: 0,850
48) Costa Rica: 0,846
49) Bahamas: 0,845
50) Ilhas Seychelles: 0,843
51) Cuba: 0,838
52) México: 0,829
53) Bulgária: 0,824
54) São Cristóvão e Névis: 0,821
55) Tonga: 0,819
56) Líbia: 0,818
57) Antígua e Barbuda: 0,815
58) Omã: 0,814
59) Trinidad e Tobago: 0,814
60) Romênia: 0,813
61) Arábia Saudita: 0,812
62) Panamá: 0,812
63) Malásia: 0,811
64) Belarus: 0,804
65) Ilhas Maurício: 0,804
66) Bósnia e Herzegóvina: 0,803
67) Rússia: 0,802
68) Albânia: 0,801
69) Macedônia: 0,801
70) Brasil: 0,800
71) Dominica: 0,798
72) Santa Lúcia: 0,795
73) Cazaquistão: 0,794
74) Venezuela: 0,792
75) Colômbia: 0,791
76) Ucrânia: 0,788
77) Samoa: 0,785
78) Tailândia: 0,781
79) República Dominicana: 0,779
80) Belize: 0,778
81) China: 0,777
82) Granada: 0,777
83) Armênia: 0,775
84) Turquia: 0,775
85) Suriname: 0,774
86) Jordânia: 0,773
87) Peru: 0,773
88) Líbano: 0,772
89) Equador: 0,772
90) Filipinas: 0,771
91) Tunísia: 0,766
92) Fiji: 0,762
93) São Vicente e Granadinas: 0,761
94) Iră: 0,759
95) Paraguai: 0,755
96) Geórgia: 0,754
97) Guiana: 0,750
98) Azerbaijão: 0,746
99) Sri Lanka: 0,743
100) Maldivas: 0,741
101) Jamaica: 0,736
102) Cabo Verde: 0,736
103) El Salvador: 0,735
104) Argélia: 0,733
105) Vietnã: 0,733
106) Palestina: 0,731
107) Indonésia: 0,728
108) Síria: 0,724
109) Turcomenistão: 0,713
110) Nicarágua: 0,710
111) Moldova: 0,708
112) Egito: 0,708
113) Uzbequistão: 0,702
114) Mongólia: 0,700
115) Honduras: 0,700
116) Quirguistão: 0,696
117) Bolívia: 0,695
118) Guatemala: 0,689
119) Gabão: 0,677
120) Vanuatu: 0,674
121) África do Sul: 0,674
122) Tadgiquistão: 0,673
123) São Tomé e Príncipe: 0,654
124) Botsuana: 0,654
125) Namíbia: 0,650
126) Marrocos: 0,646
127) Guiné Equatorial: 0,642
128) Índia: 0,619
129) Ilhas Salomão: 0,602
130) Laos: 0,601
131) Camboja: 0,598
132) Mianmar: 0,583
133) Butão: 0,579
134) Comores: 0,561
135) Gana: 0,553
136) Paquistão: 0,551
137) Mauritânia: 0,550
138) Lesoto: 0,549
139) República do Congo: 0,548
140) Bangladesh: 0,530: 0,547
141) Suazilândia: 0,547
142) Nepal: 0,534
143) Madagascar: 0,533
144) Camarões: 0,532
145) Papua-Nova Guiné: 0,530
146) Haiti: 0,529
147) Sudão: 0,526
148) Quênia: 0,521
149) Djibuti: 0,516
150) Timor Leste: 0,514
151) Zimbábue: 0,513
152) Togo: 0,512
153) Iêmen: 0,508
154) Uganda: 0,505
155) Gâmbia: 0,502
156) Senegal: 0,499
157) Eritréia: 0,483
158) Nigéria: 0,470
159) Tanzânia: 0,467
160) Guiné: 0,456
161) Ruanda: 0,452
162) Angola: 0,446
163) Benin: 0,437
164) Malauí: 0,437
165)Zâmbia: 0,434
166) Costa do Marfim: 0,432
167) Burundi: 0,413
168) República Democrática do Congo: 0,411
169) Etiópia: 0,406
170) Chade: 0,388
171) República Centro-Africana: 0,384
172) Moçambique: 0,384
173) Mali: 0,380
174) Niger: 0,374
175)Guiné-Bissau: 0,374
176) Burkina Fasso: 0,370
177) Serra Leoa: 0,336