quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A diáspora




A grande mobilidade demográfica não ocorre somente dos países periféricos em direção aos mais desenvolvidos. Ela também se dá internamente, nos blocos em que se vinculam os países e, sobretudo, nos que alcançaram o primeiro mundo.

A Alemanha, por exemplo, um dos países mais desenvolvido do planeta, experimenta uma verdadeira diáspora. O fluxo migratório dos germânicos para a Suíça, Estados Unidos e Áustria chega a ser substancialmente maior do que o verificado logo depois da 2ª grande guerra quando a nação foi subjugada e reduzida à ruínas, a economia destruída, o país completamente destruído pelas forças aliadas.

E o número de alemães insatisfeitos que deixam o santuário de Goethe, Wagner e Brecht aumenta de ano para ano. Em 2.000, os emigrantes alemães somavam 111 mil. No ano de 2006, este número atingiu o patamar de 155 mil.

Levantamentos efetuados pelo governo alemão indicam as três principais razões da mobilidade demográfica num dos propulsores da pujança européia.

A primeira é que, no exterior, os salários são mais altos e compensatórios. E salário melhor é cobiça que acomete todo moral, indiferentemente da nacionalidade.

A segunda é a busca da felicidade em comunhão. Os alemães procuram em outros países parceiros, a cara metade, companheiros com quem possam se casar.

E a ultima razão é o simples espírito aventureiro, o desejo de conhecer outras culturas, de experimentar viver em outros países.

Ao contrário da migração interna que ocorre entre as nações desenvolvidas, a que se verifica no Brasil é de cunho diferente.

Os brasileiros migram, preferencialmente para os EUA e para os países europeus. E fundamentalmente em busca da sustentabilidade econômica, do desejo de realização, de se fazer presente, de assegurar lugar no mundo.

Não são poucos os que ainda imaginam tratar-se de uma fuga, de covardia, de fraqueza, de incapacidade e falta de equilíbrio para enfrentar as dificuldades. O que, categoricamente, não é o caso.

O êxodo dos brasileiros, ao contrário do que muitos apregoam, é corajosa, patriótica, porque os que partem, não rompem os laços com os país. Mais que isto. Remetem de volta ao Brasil uma quantidade de recursos financeiros muito superior aos alocados por Bancos e Agencias Internacionais de Fomento.

Lá fora, lavam defunto, desentopem vaso sanitário, médicos e arquitetos trabalham como pedreiro e garçom, cuidam de crianças, executam toda sorte de bico. Sem jornada definida, trabalham à exaustão, exalando sangue pelos poros para – com os recursos que amealham – movimentar a economia daqui, não de lá.

Por isto é importante insistir. Ao se deparar com um familiar de quem tenha partido, emigrado, verga a cabeça em sinal de respeito. Como faria se encontrasse um graduado funcionário do Banco Mundial.

Uma pitada a mais de respeito não seria exagero. É que os brasileiros exilados, para a economia, fazem mais que as agencias financeiras internacionais (Leia aqui).


Antônio Carlos dos Santos é o criador da metodologia de planejamento estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br