Nas últimas décadas, a questão salarial dos professores foi se agravando a tal ponto que, hoje, se constitui num dos principais gargalos da educação.
Houve épocas em que os professores gozavam não somente do respeito da comunidade, como também do reconhecimento das autoridades governamentais. Faziam jus à uma remuneração condizente com as responsabilidades do profissional que esculpe cidadãos, e recebiam salários similares aos que, contemporaneamente, recebem os juízes de direito, por exemplo. Mas é um tempo que já vai longe. E que poucos se recordam.
Com o objetivo de universalizar o acesso ao ensino, o governo encontrou no achatamento salarial uma estratégia – simplista e perversa - para financiar seus investimentos na educação. E perseguiu de forma tão obstinada esse objetivo que a parca remuneração acabou se tornando o motivo mais salientado pelos profissionais para justificar a evasão dos educadores para outros setores da economia.
Todas as pesquisas recentes evidenciam que os professores formados evitam o magistério. Os profissionais mais experientes abandonam o setor mal se deparam com a primeira oportunidade, enquanto os recém-formados sequer ingressam na carreira.
A mais recente pesquisa sobre o assunto vem do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais – Inep - do Ministério da Educação. E se ainda pairasse no ar qualquer sombra de dúvida, lançou para escanteio: os formados em Licenciatura sequer se aproximam das salas de aula, guardam da lousa a mesma distância que o diabo mantém da cruz. Os dados são reveladores e pela expressividade, chegam a chocar os mais desavisados. Na média, 71,2% deles não atuam no magistério. Estamos falando em média, conceito que - de alguma forma - ajuda a escamotear o problema, porque esconde a fuga que, em algumas áreas, beira a casa dos 90%.
O resultado da pesquisa mostra que não ocorre déficit de professores. Nos ensinos Fundamental (da 5ª a 8ª série) e médio atuam 1.049.099 mestres. A necessidade real, contudo, é de 725.991 profissionais para atender aos 15 milhões de alunos matriculados.
Quando se analisa a evasão dos profissionais da educação por disciplina, o quadro fica ainda mais desolador. Para se ter idéia, nos últimos cinco anos, dos 33.361 formados em Química, só 8.466 estão em sala de aula, apenas 25% não abandonaram o barco. Em Física, dos 18.158 diplomados, restaram 6.196 para lecionar.
As razões desse quadro caótico, de penúria e insustentabilidade? O próprio estudo do MEC sugere: os professores foram em busca de empregos com maiores salários.
É óbvio ululante que a crise que acomete a educação brasileira não se resolve num passe de mágica, simplesmente com o Estado atuando sobre a oxigenação da massa salarial do setor. Como é óbvio evidente que sem esta providência o setor jamais conseguirá responder às demandas da sociedade.
Resolver a questão da remuneração insuficiente dos professores deve ser prioridade das autoridades do setor. Conjugada com políticas eficazes de gestão que contemplem sistemas de cobrança por resultados, sem dúvidas, conduziria ao ambiente e ao cenário propícios, necessários, para a qualificação da educação brasileira.
Antônio Carlos dos Santos é professor universitário, criador da metodologia de planejamento estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br