sábado, 27 de outubro de 2007

Dialogando com Camões, Shakespeare e Vianinha

Por que não aprender com os melhores professores, sorver o que de melhor a humanidade conseguiu produzir, se deleitar com os mais expressivos escritores da dramaturgia universal?

Chegar à fonte e saciar a sede com água límpida e cristalina é uma possibilidade real e plenamente possível. Está ao alcance de todos que queiram.

E o caminho não passa por uma floresta fechada e indevassável. Ao contrário. A estrada já está desbravada, é larga, plana e arejada. Para começar, para dar os primeiros passos, nada melhor que se familiarizar com os escritores mais recentes. Mas no caminhar, o natural é adentrar no tempo, mergulhando no passado para desbravar a genuína história.

Nossa jornada se dará dentre compêndios e coleções de livros. Sim, em uma boa biblioteca estão disponíveis os grandes gênios da dramaturgia universal. Estão todos lá, ávidos, ansiosos para nos conhecer, trocar idéias, nos inspirar... Basta acomodar em uma cadeira para gozar os prazeres de uma boa conversa, uma deliciosa prosa com Ibsen, Pirandello, Moliére, Ionesco, Beckett, Shakespeare. E também com os clássicos gregos como Ésquilo, Sófocles, Aristófanes. Acredite, não há quem não se surpreenda com os romanos Plauto e Terêncio. Um caminho conduz a uma descoberta que remete a outra, e mais outra, numa sucessão infindável, de modo que parar, interromper o processo, é decisão impossível de adotar. Resta então uma só alternativa, a única possível: caminhar, continuar, aprofundar a investigação, dar vazão à sede de conhecimento. Num remanso do mar, logo desperta a possibilidade de navegar com os grandes da literatura de língua portuguesa: Gil Vicente, Luís Vaz de Camões, padre José de Anchieta, Antônio José da Silva - o Judeu, Martins Pena, José de Alencar, Artur de Azevedo, Joracy Camargo, Oduvaldo Vianna, Nelson Rodrigues, Guarnieri.

Mas atenção, alto lá! Agora não basta ler, não tão somente, não simplesmente. É uma fase que ficou para trás. Mais que a leitura precursora e superficial, o estudo é a nova palavra de ordem, o ente capaz de assegurar profundidade: esquadrinhar cada texto, cada peça teatral, desbravando suas entranhas, compreendendo suas minúcias. Com redobrada atenção e a perspicácia de um exímio cirurgião trata-se de verificar a estrutura das tramas, a forma como as idéias são enlaçadas, como o perfil psicológico de cada personagem é elaborado e de que modo se relaciona com os demais, que mecanismos o autor utiliza para fazer com que as cenas, quadros e atos interajam entre si, assegurando continuidade à estória, como trabalha a relação tempo-espaço cênico,...

Lidaremos com os escritores de peças teatrais, mas também com os grandes teóricos, os magistrais encenadores, precursores, desbravadores dos caminhos trilhados pelo teatro e pela dramaturgia. Nosso universo se ampliará, ganhará nova dimensão. Conhecendo as técnicas desenvolvidas por Aristóteles, pela Commedia dell’Arte, por Artaud, Stanislavski, Brecht, Meyerhold, Grotowski e outros exímios encenadores, estaremos mergulhando no que de mais profundo existe no teatro, estaremos aprimorando as habilidades do dramaturgo.

Para acessar os textos é necessário adquirir este novo hábito, o de freqüentar as bibliotecas, livrarias, clubes de livros,... sem descartar os sebos. Certa dose de paciência para procurar e a recompensa torna-se inevitável. Não é raro se deparar com preciosidades no comércio de livros usados. Outro bom costume é recorrer aos amigos, conhecidos, professores, pesquisadores, escritores, estruturando uma rede de fornecedores de conteúdos, sem dar espaço para que a vergonha e a inibição impeçam de solicitar emprestado. E devolver – sempre, inexoravelmente – no estado e prazo anteriormente acordado, condicionantes que devem ser assumidas como cláusulas pétreas, compromissos inquebrantáveis.

Também a rede mundial de computadores é excelente alternativa. Na internet encontramos enorme variedade de dados e informações. E são tantos que, às vezes, a dificuldade é separar joio do trigo, lixo do que efetivamente importa e nos interessa. Alternativas não faltam. O fundamental é que este novo hábito seja incorporado à nossa rotina: o hábito de ler, estudar e aprender com os clássicos da dramaturgia universal.

Antônio Carlos dos Santos é professor, criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br