segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Educação de qualidade.


Todos nós, em algum momento da vida, criticamos e zombamos da ignorância dos norte-americanos quando o assunto é geografia. As gafes, sobretudo de suas lideranças políticas, sempre foram ostensivas, retumbantes, um atentado aos ouvidos e à ciência que desvenda o planeta.

Imaginávamos que o poderio descomunal - o fato de ostentar em qualquer ranking a inquestionável posição de maior potência mundial - os haviam moldado como um povo arrogante e presunçoso, a ponto de desdenhar tudo o que estivesse além de suas fronteiras físicas, fazendo pouco caso das demais culturas, dos demais países.

Mas tudo isto não passa de antipatia gratuita, de mais uma folclórica estorieta a sacralizar nossa centenária má vontade para com os Estados Unidos.

Todos os estudos e pesquisas mais recentes enfatizam que a realidade da América do Norte é bastante diferente da apregoada.

Os últimos levantamentos mostram, por exemplo, que nada menos que 86% dos norte-americanos sabem identificar, com precisão, em que lugar do mapa ficam os EUA, 81% dos yankies sabem onde se localiza o México, 54% a França e 47% a Argentina.

É pouco? Não, não é. É muito. São indicadores de país de primeiro mundo, de potência econômica. A afirmação fica mais clara quando cotejamos esses dados com os indicadores relativos ao Brasil.

Mas antes, é necessário apertar o cinto para não cair da cadeira, porque o choque não será pequeno e nem indolor.

Lá vão os primeiros petardos, arma pesada, balas de canhão: metade da população brasileira não sabe apontar, no mapa mundi, onde fica o Brasil. Algo em torno de 2% dos conterrâneos acreditam que o único país penta-campeão de futebol fica no Congo, e 1% jura de pés juntos que Pindorama fica é no Chade.

A tão propalada rivalidade com os hermanos do extremo sul não impediu que 2% afirmassem que o Brasil fica, pasmem, na Argentina. Não é de espantar? Não são tão poucos assim os brasileiros que acreditam que nos localizamos nos pampas de Maradona, nas terras temperadas onde surgiu o tango.

Quando o mapa mundi foi estendido sobre a mesa, 82% dos brasileiros não souberam identificar onde ficam os Estados Unidos, 97% não conseguiram apontar onde fica a França e 92% simplesmente ignoram onde fica o Japão.

A pesquisa que envergonha o país, desmascara parte considerável das elites políticas e mostra o quão ordinária é a nossa educação, foi realizada pelo Instituto Ipsos e denomina-se Pulso Brasil.

Foram entrevistadas 1.000 pessoas em setenta municípios das nove maiores regiões metropolitanas.

Para os que acompanham mais amiúde o panorama da educação nacional, nenhuma novidade que não seja a confirmação da inépcia das autoridades. E reforçam a necessidade de dar sustentabilidade aos movimentos que objetivam recolocar o país no eixo do desenvolvimento, priorizando a educação de qualidade.

Qualquer que seja o estudo, a pesquisa, o levantamento, os resultados apontam todos para uma direção só, berram nos nossos ouvidos: urge assegurar que a educação brasileira exale qualidade por todos os seus poros.

Num mundo tão competitivo, ignorar essa máxima seria o mesmo que rumar para o precipício. O Brasil é tal qual uma Ferrari. Mas estamos enchendo o tanque do bólido com a mistura porca de água, benzeno e gasolina que encontramos nos postos brasileiros, a malfadada gasolina batizada. O resultado? Todos sabemos, estamos vivenciando: o motor faz fumaça, derrete e o país empaca.

Uma Ferrari só rende com combustível de excelente qualidade. Assim é o Brasil. Só começará a render quando aprendermos a abastecê-lo com combustível de primeira. E nossa gasolina premium, de alta octanagem e excelente rendimento é só uma: educação de qualidade.

Antônio Carlos dos Santos é engenheiro e escritor, criador da metodologia de planejamento estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br