Sob o ponto de vista político, a democracia é o que de mais nobre a humanidade já conseguiu construir. É um sistema perfeito, sem vícios e desvios que blinda os cidadãos contra o fisiologismo, o clientelismo, o tráfico de influência e a corrupção endêmica? Não, claro que não, longe disso. Mas desde quando a perfeição absoluta está entre as categorias inerentes à espécie Homo sapiens? Aliás, não custa recordar que a expressão origina do latim e significa homem sábio, homem racional.
E às vezes os desvios da democracia são tamanhos que deixamos o sábio e o racional de lado para nos aproximar dos demais primatas bípedes que, como os humanos, pertencem à subfamília Hominoidea: gorilas, chimpanzés, bonobos e orangotangos.
Os exemplos mundo afora mostram um consistente vínculo entre educação e democracia. Quando a educação é de qualidade, a democracia se consolida de forma sustentável, vistosa, vigorosa e a civilização fica bem ao alcance da mão. Já quando a educação carece dos mínimos parâmetros, quando é tratada com desdém e bochinche, a democracia se fragiliza, perde substância, e quem fica bem rente, de forma perigosa e ameaçadora, é a barbárie.
Se desejamos uma democracia sustentável, então não resta outro caminho senão investir em educação, priorizar o setor, único modo de agregar qualidade ao nosso caótico e medíocre sistema de ensino. Tratar a educação com diligência, zelo e carinho é condição indispensável para que possamos dar curso à caminhada.
E porque educação de qualidade se vincula de forma tão umbilical à democracia sustentável? É elementar: a qualidade do parlamento depende da qualidade dos eleitores.
E neste aspecto o quadro não é dos melhores, o céu está mais para um bando de urubus carniceiros que para o vôo majestoso do falcão.
A baixa escolaridade aflige mais da metade dos eleitores brasileiros. E se a escolaridade é baixa, a tendência é que a qualidade do voto também seja.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, compomos um universo de 127,4 milhões de eleitores. Desde total, nada menos que 51,5% dos brasileiros habilitados a votar têm baixa escolaridade. Traduzindo em miúdos: nenhum deles completou o primeiro grau; ou dominam de forma elementar apenas a escrita e a leitura. O precipício, porém, é mais profundo e ostentamos uma mácula indecorosa: mais de oito milhões dos eleitores brasileiros são analfabetos.
Estes números referem-se ao ano de 2007 e integram a base oficial de dados do TSE.
Os dados comprovam, de maneira categórica, o grave desnível que se verifica entre as regiões geográficas do Brasil. A maioria dos eleitores analfabetos está na região Nordeste do país. Brasileiros que votam ignorando a habilidade da leitura e da escrita.
Na região Sul o percentual de eleitores analfabetos é de 3,51 e na Sudeste 3,84. Na região Norte este índice se situa na casa dos 8,74% e na Centro-Oeste 4,76%. O pior quadro figura na região Nordeste com inaceitáveis 12,22% de analfabetos em seu eleitorado.
A pesquisa realizada pelo TSE mostra ainda que uma parte quase insignificante do eleitorado porta diploma de curso superior, não passa de 3,43% dos eleitores.
Por isto, exigir educação de qualidade talvez seja a forma mais eficaz de protestar contra a indigência mental de parte dos políticos brasileiros, uma boa forma de lutar por um parlamento consentâneo com as necessidades do desenvolvimento nacional.
Antônio Carlos dos Santos – criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br