terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Como uma onda - EAD

O órgão do Ministério da Educação – o INEP - que cuida de avaliar a educação no país divulgou recentemente um dado surpreendente. O número de cursos de educação a distância (EAD) cresceu nada menos que 571%.

O número de matrículas não ficou para trás, cresceu 315%. Considerando o ano de 2005, os alunos que faziam cursos a distância representavam 2,6% dos estudantes brasileiros. Um ano depois, em 2006 esse contingente já atingia o patamar de 4,4%.

Nas demais modalidades de ensino, surpreende também o crescimento do número de matrículas nos cursos tecnológicos, que registrou um aumento expressivo de 34,3%.

Os dados foram extraídos do Censo elaborado pelo Inep. O levantamento permite analisar, de forma consistente, a performance da educação nacional. Todos os anos o Censo atualiza as informações da educação superior contemplando número de instituições, cursos, matrículas, vagas, inscritos, ingressos, concluintes, além de docentes e pessoal técnico administrativo. A pesquisa oferece ainda dados discriminados por turno, diurno e noturno, e conforme a localização das instituições, se fixadas no interior ou nas capitais dos Estados.

O crescimento do ensino a distância confirma o prognóstico que muitos já faziam, de que esta modalidade de ensino - dada a flexibilidade e adoção de tecnologias mais consentâneas com as demandas dos dias que correm – deve, a médio prazo, assumir, o topo na oferta de vagas no ensino superior.

Percebendo a tendência, o próprio Ministério da Educação passou a flexibilizar as exigências para abertura de cursos de especialização a distância no país, modalidade pós-graduação lato sensu.

Até então, a legislação em vigor exigia que as instituições estruturassem um pólo presencial, uma edificação com tutor (professor), biblioteca e estrutura de apoio ao estudante na região em que a pós-graduação era oferecida. O Ministério entendeu que esta exigência configurava num dos maiores entraves à expansão da EAD, desacelerando a expansão das matrículas, daí a deliberação de suprimi-la, de modo que, doravante, a obrigatoriedade da estrutura de apoio se restringe aos cursos de graduação, liberando assim as especializações.

Mesmo os educadores que faziam restrições ao novo modelo, avaliando-o com reservas, já se dobram às suas vantagens. E passaram a defender algo intermediário, como um modelo misto resultante da interação dos dois sistemas, o convencional e o sistema de educação a distância.

Em outubro do ano passado publiquei um texto dobre EAD aqui mesmo, neste blog. Pela natureza, reproduzo-o abaixo:


A Educação a Distância veio para ficar

Ainda observado com desdém e desconfiança pela conservadora corporação acadêmica, o curso à distância vem se impondo, paulatinamente é bem verdade, mas de maneira irreversível.

Uma das mais destacadas e instigantes vantagens dessa nova tecnologia é o fato de ignorar fronteiras, fazer pouco caso da distância física, de modo que as pessoas –comungando do mesmo tempo – juntam-se, avizinham-se, tornam-se colegas de classe, ainda que estejam em continentes diferentes. Não é curioso e provocador criar uma sala de aula virtual onde colegas de sala interagem com um estando em Pirenópolis e o outro em Singapura?

Esta vantagem exclusiva, específica e inédita é que possibilitou fosse criado o primeiro curso à distância para o Japão. E não é nenhum curso Walita, desses penduricalhos de curtíssima duração que mal justificam um certificado. Não, nada disso. É um curso de graduação, isso mesmo! de graduação em Pedagogia, com 300 vagas, destinado a formar professores que, na Ásia, já estão na lida, no batente, ensinando para brasileiros.

A iniciativa resulta de uma parceria entre a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e o Ministério da Educação, que já reservou R$ 2,5 milhões para aplicar no projeto nos próximos cinco anos. O Banco do Brasil apóia a iniciativa e está propondo destinar outros R$ 2,5 milhões para turbinar o processo.

A vida de um migrante não é nada fácil. Não bastasse o preconceito, onipresente e radicalizado, quase sempre trabalham à exaustão, muito mais que os naturais do país para - ao final da jornada de trabalho – receberem muito menos. No geral tem quase nenhuma assistência médica, jurídica, social, além de amargar dia sim e o outro também, a saudade dolorida dos parentes, dos amigos, da pátria-mãe, saudade só levemente amenizada numa fotografia guardada com esmero no cantinho mais nobre e reservado da carteira.

E não é só. Outra questão por demais grave é a dos filhos dos dekasseguis que assistem aulas com professores improvisados, salvo um aqui e outro acolá, invariavelmente sem a habilitação e a formação adequadas.

O propósito é alterar este quadro, superar rapidamente esta etapa para enfrentar uma outra, tão carente quanto a da graduação, a especialização. Então se tratará de habilitar professores em disciplinas específicas como Biologia, História e Física, mas agora oferecidas não somente aos educadores brasileiros, como também aos professores japoneses que têm, dentre seus alunos, filhos de brasileiros.

Para dar suporte ao projeto será produzido material didático específico e, ao final de cada módulo – algo em torno de 40 dias - um professor brasileiro viajará ao Japão para cumprir a fase presencial do curso, ministrando aulas em caráter intensivo.

Estima-se que existam 320 mil dekasseguis no país do sol nascente. Todo esse contingente, no ano que vem, deverá estar mobilizado para comemorar os 100 anos da imigração japonesa no Brasil.

Se um projeto dessa dimensão não consegue demover a acidez e ojeriza cética dos críticos da Educação a Distância, o que mais na face da terra poderia sensibilizá-los?

A Educação a Distância está demonstrando no dia a dia que veio para ficar. Indiferente e independentemente dos críticos de plantão. Quem não se lembra quando, respondendo ao amargor dos mal humorados, nossos avós proclamavam: “enquanto a carruagem passa, os cães ladram”?

Ou... como canta Lulu Santos “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Melhor ver e ouvir, não é? Então, aí está:



Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia de planejamento estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br