quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

‘As madrassas e a lata de lixo’ ou ‘A história das 72 virgens’

A promiscuidade entre o poder político e o religioso invariavelmente prostitui ambos, perde a política, perde a religião.

Houve um período na Idade Média em que a única organização existente era a Igreja Católica.

Em resposta às sucessivas crises vivenciadas pelo vasto Império Romano, a Igreja pregava a igualdade entre as pessoas, o amor, a caridade e a fraternidade.

Nos mosteiros católicos medievais é que eram copiados e conservados os importantes escritos legados pelas antigas civilizações. Os mosteiros funcionavam também como hospitais, e asilos para os velhos, enfermos e desabrigados.

Mas a possibilidade da investidura leiga e o poderio dos reis sobrepujando e se imiscuindo nos assuntos religiosos levaram às mais graves distorções.

Talvez a mais aviltante tenha sido a “simonia”.

O termo é uma alusão ao personagem bíblico Simão, o Mago, que intentou comprar aos apóstolos o dom do milagre.

Com a “simonia” a Igreja passou a comercializar e traficar os bens espirituais. Vendia lugar cativo no céu, além das indulgências, a remissão total das penas relativas aos pecados praticados na vida mundana.

Com o tempo, o clero conseguiu resgatar os princípios e valores originários do Cristianismo, reconheceu os erros praticados ao longo da história e, publicamente, pediu desculpas pelos desvios havidos.

Mas até hoje, não obstante o arrependimento e as desculpas públicas, a Igreja Católica paga o preço da péssima opção efetuada na longínqua Idade Média, quando permitiu a reis e príncipes intervir diretamente na nomeação de bispos e na condução de sua missão religiosa.

Teria a humanidade aprendido a lição? Parece que não. È o que indicam as práticas e orientações de vários e poderosos agrupamentos muçulmanos, como o Hamas a título de exemplo.

Tal qual a Igreja Católica da Idade Média, em muitos lugares da Palestina, o Hamas é a única organização existente.

Mantém uma vasta rede que organiza a filantropia, o funcionamento de hospitais e casas de saúde, a operação de orfanatos e asilos, abrigando crianças órfãs, abandonadas, velhos e despossuídos.

Mas a vasta organização dá suporte, sobretudo, às escolas mantidas para propagar os princípios religiosos do Alcorão e formar soldados para sustentar a sangrenta guerra contra os israelenses e incidir contra a ‘decadente’ cultura ocidental.

Apesar de muitos defenderem o contrário, a violência encontra-se na gênese do fundamentalismo islâmico. É preciso não esquecer que, quando estabeleceu as premissas para a nova religião, Maomé inscreveu dentre os principais preceitos a promoção da guerra santa contra os infiéis.

Foi por conta deste preceito que, entre os séculos VII e IX, ocorreu uma das mais expressivas expansões imperialistas de toda a história: o Império Islâmico que, em área territorial, superou até mesmo o romano. Os árabes em menos de um século formaram um império que se estendia da Índia até a Espanha.

Esta expansão já se deu com a promessa efetuada pelos califas, os sucessores de Maomé, de um lugar cativo no céu para quem morresse em combate pela conversão dos infiéis.

Só no século XIV foi cair o Império Islâmico devido, principalmente, aos mongóis e turcos.

Os árabes transmitiram mundo afora o legado grego, mas desenvolveram também a álgebra e a trigonometria, difundiram os algarismos indo-arábicos; investiram na astronomia e apresentaram à Europa a bússola e o astrolábio – instrumento desenvolvido para observar a posição dos astros, determinando altura e definindo latitude e longitude.

Graças aos árabes conhecemos a cana-de-açúcar e a laranja. Disseminaram modernas técnicas de cultivo e tecnologia para a produção de ferro e aço. Na medicina avançaram nos estudos sobre a circulação do sangue e no tratamento de doenças contagiosas e nervosas.

Todavia, os avanços que os árabes conquistaram no campo da ciência e da cultura ficaram no passado. Hoje, vigora o radicalismo do fundamentalismo islâmico que cultua o ódio e utiliza, dentre suas principais estratégias, o terrorismo.

Por isso mantêm, espalhadas pelo mundo, inúmeras madrassas, escolas especialmente destinadas a ensinar o fundamentalismo islâmico, onde são formados os homens-bomba e os terroristas que entregam suas vidas por conta da promessa contida no Alcorão de que os mártires terão um paraíso especial, no qual cada combatente tombado recebe 72 noivas virgens. E que suas famílias não serão esquecidas, recebendo também lugares privilegiados ao lado de Maomé, no paraíso celeste.

O ódio, o preconceito e a intolerância, todos sabemos, é o passaporte para o autoritarismo, a violência mais brutal e a barbárie absoluta.

Mas a palavra escrita sempre será objeto de controvérsias. E não poucos vêem no Alcorão um livro que cultua a harmonia e a paz entre os povos. Pessoas de bem como Cassius Clay e Cat Stevens, que se converteram ao Islamismo, adotando novos nomes, Muhammad Ali e Yusuf Islam.

Que nesta luta intestina pela condução da obra de Maomé, vençam Muhammad Ali e Yusuf Islam, lançando Bin Laden e o Hamas no único lugar que a história lhes reserva, a lata de lixo.

Antônio Carlos dos Santos é engenheiro e escritor, criador da metodologia de planejamento estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br