Poucos se lembram dos tempos nervosos da guerra fria, o embate de surdos-mudos travado pela URSS e EUA. De um lado, a defesa do comunismo, da economia planificada, do partido único; de outro a economia de mercado, as liberdades individuais, a democracia e a propriedade privada. Cada um deles criando sua rede de influência, seus países satélites.
A divisão ideologia chegou ao apogeu, ao seu ponto máximo, impondo até mesmo a divisão de países, como ocorreu na Alemanha, na Coréia e no Vietnã. O muro de Berlim foi o exemplo maior desta estupidez que não conheceu limites. As superpotências, sentadas sobre seus arsenais nucleares – capazes de eliminar a vida na terra por inúmeras vezes – estimulavam e municiavam os países subordinados nos conflitos regionais. Na Europa ocidental, os países de livre mercado organizaram-se na OTAN, a Organização do Tratado Atlântico Norte; e na cortina de ferro, o pólo antagônico estruturou o Pacto de Varsóvia. Um período lastimável, mas que resultou em alguns avanços, inequívocos, entre os quais, não custa rememorar, a conquista do espaço sideral.
A disputa insana encontrou um terreno propício para os embates, um campo emblemático, favorável para que, de forma instantânea, fosse possível propagandear ao mundo qual dos sistemas políticos era o mais avançado e eficaz.
O primeiro lance ocorreu no ano de 1957, quando a URSS lançou o foguete Sputnik com um cão dentro, o primeiro ser vivo a ir para o espaço. Mas o gol de placa dessa longa história ocorreria em 1961, quando a União Soviética promoveu o vôo inaugural na corrida espacial tripulada, colocando Yuri Gagarim em órbita.
O troco não tardaria.
Imediatamente informado do fenomenal acontecimento, o presidente norte-americano John F. Kennedy criou o Projeto Apollo com o objetivo de levar o homem à Lua. E cerca de uma década depois, em 1969, o mundo todo, entre surpreso e estupefato, não conseguia tirar os olhos da televisão que transmitia os primeiros passos do homem na lua, o coroamento da missão espacial norte-americana.
No dia 20 de julho de 1969, Neil Armstrong e Edwin Aldrin gozaram o privilégio histórico de serem os primeiros homens a caminhar sobre o solo lunar.
O feito abriu caminho para cinco novas missões que possibilitaram outros dez astronautas americanos pisar no solo lunar.
A conquista da lua teve um efeito devastador sobre a União Soviética e contribuiu de forma decisiva – muito mais do que muitos imaginam – para a derrocada do império vermelho.
De Gagarim até os dias de hoje, muito do nosso conforto e bem estar se deve às pesquisas realizadas no espaço. URSS – hoje a Rússia, EUA, Europa, Japão e agora a China continuam investindo no setor por terem conhecimento que a soberania sobre o espaço está para o progresso e o futuro assim como a conquista dos mares esteve, muito tempo atrás, para os navegadores vikings e fenícios.
Em um desses conflitos regionais, muitos chegaram a acreditar na vitória vermelha e na iminente hegemonia comunista sobre todo o planeta. Foi logo no final da Guerra do Vietnã. O conflito se originou em 1959, durou quase duas décadas, e só foi terminar em 1975. Os vietcongs, apoiados pelos soviéticos, ignoraram o colossal poderio bélico-tecnológico dos norte-americanos, impondo uma derrota avassaladora e vergonhosa aos EUA. Foi quando não poucos imaginaram que o momento sinalizava o início da débâcle definitiva do capitalismo e a conseqüente e inequívoca hegemonia da URSS sobre o planeta.
Mal sabiam que, poucas décadas depois, em 1991, era o próprio império soviético que desmoronaria, caindo em ruínas.
Nos embates militares de forma geral, um setor sempre elevado à categoria estratégica é o das comunicações. Na guerra fria não foi diferente.
O grande temor no período era de que, repentinamente, independentemente da guerra ser formalmente declarada, as cidades passassem a ser bombardeadas. Em decorrência do temor generalizado, o governo norte-americano investiu recursos para criar um sistema informatizado que garantisse a fluidez das comunicações militares, ainda que o caos provocado por um eventual ataque soviético se materializasse.
A pressão atuava sempre no limite do suportável. A União Soviética já havia logrado um expressivo tento ao lançar no espaço, em 1957, o Sputnik 1. Na prática, o que significava esta conquista comunista? Que os russos poderiam, através do espaço sideral, lançar bombas em qualquer ponto do mundo.
Pressionado, o presidente Dwight Eisenhower criou, em 1962, a ARPA, a Advanced Research Projects Agency, agência governamental que se incumbiria de retomar a supremacia digital na corrida armamentista, protegendo a América do Norte do que parecia à época, iminente ataque nuclear soviético.
Como, diante de um ataque nuclear, reorganizar o país para a necessária contra-ofensiva, sem dispor de um eficiente e confiável sistema de comunicação que sobrevivesse ao poder destrutivo da hecatombe?
Então, sob a coordenação do Pentágono, desenvolveram um revolucionário sistema de comunicação entre computadores, o ARPAnet - Advanced Research Projects Agency Network – com o objetivo principal de conectar as diversas bases militares e os inúmeros departamentos de pesquisa do governo americano.
A concepção lógica que norteou o desenvolvimento do projeto partiu da premissa de proteger a central de informações, a estratégia adotada foi diluí-la em vários lugares, diferentemente do que existia até então, quando todo o comando central se aglutinava em um único ponto, um único lugar, uma única instalação militar, alvo fácil de um possível ataque do inimigo.
Mas para viabilizar que a central de informação fosse diluída de modo a descentralizá-la fixando-a em diferentes lugares era necessário fazer com que os diferentes pólos fossem interligados, conversando entre si. E bommm!!! Em 1969 ocorre a primeira troca de arquivos. A palavra “Log” é transmitida pela Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles, para a Universidade de Stanford, que recebe a mensagem e a responde com “in”, formando “login”. Esta primeira experiência não foi de toda exitosa, pois funcionou até a segunda letra. Todavia o teste-embrião da tecnologia de transmissão de dados digitais em “pacote”, inaugurando o sistema que mudaria a face do mundo, a forma como as pessoas, as instituições e os governos passariam a comunicar.
Como era vital para a segurança dos EEUU que o sistema se consolidasse, entrando imediatamente em operação, a ARPA se viu diante da necessidade de estruturar e financiar laboratórios em muitas universidades americanas. E, naturalmente, em determinado momento, estes laboratórios universitários tiveram que se conectar à ARPAnet. De modo que a revolucionária tecnologia manteve-se disponível exclusivamente para os setores militar e acadêmico. Mas a pressão para liberalização foi tamanha que, em 1987 a rede já estava totalmente liberada, assumindo o nome de Internet.
Hoje, não há setor que permaneça indiferente à rede mundial de computadores, pois isto significaria a liquidação, a falência mais completa.
Na educação, a Internet consolida um setor em plena expansão, a Educação a distância, com todas as vantagens que isto significa: efetiva possibilidade de universalização do ensino de qualidade com a inclusão dos brasileiros que desejam cursar o terceiro grau, e com expressiva redução dos custos. A Internet e a Educação constituem uma gigantesca janela de oportunidades para um Brasil diferente, um país justo e desenvolvido.
E poucos se dão conta que esta descomunal janela de oportunidades tem tudo a ver com a guerra fria que fritou nervos e mentes durante as décadas que sucederam a 2ª guerra mundial.
Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mane Beiçudo. acs@ueg.br