quinta-feira, 7 de julho de 2022

Peter Brook, um mestre da síntese no teatro


O encenador britânico Peter Brook, que morreu no sábado, dia 2, aos 97 anos, afirmou a especificidade do teatro como arte da síntese, concretizada por meio de poucos elementos, sem concessões a atrativos visuais espetaculares.

 

Essa característica marcou muitas montagens, que trouxeram cenografia reduzida e impactaram pelo vigor autoral de suas direções e pela qualidade das interpretações. Ciente da importância de estimular a imaginação do espectador, Brook defendeu o conceito de espaço vazio, despido de adereços dispersivos.

O público brasileiro teve a oportunidade de assistir a vários espetáculos de Brook, mostrados em festivais de teatro espalhados pelo país. Vale evocar algumas montagens. Em “A tragédia de Hamlet”, transposição da peça de William Shakespeare, o diretor quebrou estereótipos ao convidar um ator negro, William Nadylam, para interpretar o protagonista. Em “O grande inquisidor”, extraído de “Os irmãos Karamazov”, livro de Dostoiévski, colocou em cena Bruce Myers acumulando a função de narrador e o papel do inquisidor num diálogo com Jesus sobre fé. Em “Fragments”, se debruçou, com habitual contenção de recursos técnicos, sobre peças curtas de Samuel Beckett — “Ato sem palavras II”, “Balanço” e “Ir e vir”. Em “O terno”, adaptação do conto do escritor sul-africano Can Themba, confirmou sua fidelidade a um teatro minimalista voltado para as presenças dos atores (Cherise Adams-Burnett, Jared McNeill e Ery Nzaramba). Em “Tierno Bokar”, trabalho sobre o líder espiritual africano baseado no livro “Vida e ensinamentos de Tierno Bokar — O sábio de Bandiagara”, do etnógrafo e filósofo malinês Amadou Hampaté Bâ, não enveredou por efeitos cênicos, concentrando a força da montagem nas atuações (especialmente, de Sotigui Kouyaté) e na expressividade da música. O público conferiu outro espetáculo de Brook — a versão para a ópera “A flauta mágica” (com título alterado para “Uma flauta mágica”), em que manteve a mesma refinada simplicidade como princípio artístico.

A adesão de Peter Brook a um teatro desvinculado de qualquer suntuosidade norteou a condução do Centro Internacional de Pesquisa Teatral, companhia pela qual passaram atores de diferentes nacionalidades. Também foi fundamental a experiência de Brook e dos integrantes da companhia na África, na metade inicial da década de 1970, quando percorreram diversas regiões realizando apresentações com elementos sintéticos (um tapete para definir a área de atuação) e estabelecendo uma conexão com os espectadores que não podia depender do texto, na medida em que não havia um idioma comum entre elenco e plateia. Uma viagem que simbolizou uma abertura ao inesperado. Não se deve esquecer da descoberta do Théâtre des Bouffes du Nord, em Paris, essencial para a trajetória de Brook, indicação da produtora Micheline Rozan. Foi graças a Rozan, inclusive, que Brook conheceu aquela que viria a ser sua grande colaboradora artística: Marie-Hélène Estienne. Ao longo dos anos, atores e atrizes notáveis trabalharam com Brook, como Yoshi Oida, Glenda Jackson, Maurice Benichou e o já citado Kouyaté.

Além de toda a produção teatral, Peter Brook se projetou no cinema. Cabe fazer uma primeira menção a “O Mahabharata” (1989), monumental poema épico indiano que o encenador transportou para o palco e para a tela. Brook ainda adaptou para o cinema peças como “Rei Lear” (1970), de William Shakespeare, e “A perseguição e o assassinato de Jean-Paul Marat desempenhados pelos loucos do asilo de Charenton sob a direção do Marquês de Sade” (1967), de Peter Weiss, e livros como “Moderato cantabile” (1960), de Marguerite Duras, “O senhor das moscas” (1963), de William Golding, e “Encontro com homens notáveis” (1979), de George Gurdjieff. E, para “desvendar” um artista fascinante como Peter Brook, nada melhor que o documentário “Brook by Brook” (2002), dirigido por seu filho, Simon Brook.

O Globo, Daniel Schenker


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