Segundo relatório do Pisa, o Brasil
está no grupo de países com maior segregação social entre escolas
A divulgação do Pisa, o exame feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), exige uma reflexão de toda a sociedade. A avaliação de jovens de 15 anos nas áreas de ciências, matemática e leitura é feita não apenas nos 36 membros da OCDE, em sua maioria países ricos, mas também em outras 43 nações, inclusive o Brasil. Segundo os últimos dados, quatro em cada dez estudantes brasileiros estão nos níveis mais baixos de desempenho em leitura, ciências e matemática. Somente 2% dos jovens brasileiros ficam no topo da escala de aprendizado.
Quem acha que nossos problemas de educação estão restritos a nossas escolas públicas está equivocado. O desempenho médio em leitura dos alunos brasileiros que estão entre os 25% de maior nível socioeconômico — público, portanto, com maior acesso às escolas privadas — fica abaixo da média de todos os alunos dos países da OCDE. Nossos estudantes mais ricos têm resultados inferiores aos dos alunos mais pobres de 11 nações, entre elas Cingapura, Canadá, Finlândia, Irlanda e Estônia.
Após um período de melhoria significativa nas médias entre 2003 e 2012, especialmente em matemática, o que temos visto nos últimos anos é estagnação. Ou seja, deixamos de melhorar e ainda estamos numa posição ruim. Continuamos bem longe das nações que estão no topo e não conseguimos brilhar nem quando comparados a outros países latino-americanos. Na região, estamos em posição intermediária. O reconhecimento da persistência de nossos graves problemas não deve, porém, eliminar do debate público alguns avanços. Aumentamos, por exemplo, o número de jovens matriculados no ensino médio entre 2000 e 2018 sem que os resultados do Pisa tenham caído no período.
Mas os últimos dados divulgados deixam claro que a questão mais importante no momento é o que devemos fazer para avançar no caminho de um sistema educacional de qualidade para todos e todas, no qual a melhoria nos resultados seja apenas consequência desse esforço. Várias ações fundamentais já foram apontadas algumas vezes, como a melhoria da formação e da atratividade da carreira docente, a busca por um financiamento adequado e eficiente e a melhoria da gestão de nossas escolas e redes de ensino, apenas para citar algumas. Sem prejuízo a essas ações, o Pisa nos alerta para outra dimensão essencial a ser enfrentada para avançarmos no ritmo desejado: a redução das brutais desigualdades de nosso sistema escolar, um reflexo da sociedade que somos. O relatório mostra, por exemplo, que o Brasil está no grupo de países com maior segregação social entre escolas, o que significa que a chance de um aluno de maior nível socioeconômico estudar ao lado de um de menor renda é muito inferior por aqui à verificada na maioria das outras nações analisadas.
Comparar resultados educacionais de países em contextos sociais e estágios de desenvolvimento tão diferentes é algo que precisa ser feito com cautela, mas o Pisa permite ao menos identificar características em comum entre as nações de alto desempenho. Uma delas é justamente o fato de a desigualdade de oportunidades educacionais ser menor nesses países, uma evidência de que é possível aliar excelência a equidade. O combate às desigualdades por vezes é entendido como uma competição entre os que estão no topo e aqueles em condições menos privilegiadas. No caso específico da educação, a experiência internacional mostra que é possível diminuir a distância entre os extremos sem prejuízo aos que estão no topo. O Pisa indica que os países onde há, proporcionalmente, mais jovens com desempenho nos maiores níveis de proficiência nas provas são também aqueles com menor percentual de estudantes nas menores escalas de aprendizado. Isso mostra claramente que, para fazer o sistema avançar como um todo, sem prejuízo de nenhum grupo, a melhor estratégia é concentrar esforços para melhorar as condições de aprendizagem dos alunos de menor nível socioeconômico. Ao priorizar esse grupo, todos os demais tendem a ser empurrados para cima.
O esforço para melhorar a educação brasileira é de toda a sociedade. Mas é esperado que o Ministério da Educação (MEC) lidere esse movimento. Isso precisa ser feito de maneira sensata e se concentrando nos problemas reais a serem enfrentados, com um projeto sólido construído a partir do exemplo de nossas melhores experiências locais e executado por meio de um diálogo respeitoso e construtivo com gestores, professores, pais e alunos. Sinais, infelizmente, em falta no atual comando do MEC.
A divulgação do Pisa, o exame feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), exige uma reflexão de toda a sociedade. A avaliação de jovens de 15 anos nas áreas de ciências, matemática e leitura é feita não apenas nos 36 membros da OCDE, em sua maioria países ricos, mas também em outras 43 nações, inclusive o Brasil. Segundo os últimos dados, quatro em cada dez estudantes brasileiros estão nos níveis mais baixos de desempenho em leitura, ciências e matemática. Somente 2% dos jovens brasileiros ficam no topo da escala de aprendizado.
Quem acha que nossos problemas de educação estão restritos a nossas escolas públicas está equivocado. O desempenho médio em leitura dos alunos brasileiros que estão entre os 25% de maior nível socioeconômico — público, portanto, com maior acesso às escolas privadas — fica abaixo da média de todos os alunos dos países da OCDE. Nossos estudantes mais ricos têm resultados inferiores aos dos alunos mais pobres de 11 nações, entre elas Cingapura, Canadá, Finlândia, Irlanda e Estônia.
Após um período de melhoria significativa nas médias entre 2003 e 2012, especialmente em matemática, o que temos visto nos últimos anos é estagnação. Ou seja, deixamos de melhorar e ainda estamos numa posição ruim. Continuamos bem longe das nações que estão no topo e não conseguimos brilhar nem quando comparados a outros países latino-americanos. Na região, estamos em posição intermediária. O reconhecimento da persistência de nossos graves problemas não deve, porém, eliminar do debate público alguns avanços. Aumentamos, por exemplo, o número de jovens matriculados no ensino médio entre 2000 e 2018 sem que os resultados do Pisa tenham caído no período.
Mas os últimos dados divulgados deixam claro que a questão mais importante no momento é o que devemos fazer para avançar no caminho de um sistema educacional de qualidade para todos e todas, no qual a melhoria nos resultados seja apenas consequência desse esforço. Várias ações fundamentais já foram apontadas algumas vezes, como a melhoria da formação e da atratividade da carreira docente, a busca por um financiamento adequado e eficiente e a melhoria da gestão de nossas escolas e redes de ensino, apenas para citar algumas. Sem prejuízo a essas ações, o Pisa nos alerta para outra dimensão essencial a ser enfrentada para avançarmos no ritmo desejado: a redução das brutais desigualdades de nosso sistema escolar, um reflexo da sociedade que somos. O relatório mostra, por exemplo, que o Brasil está no grupo de países com maior segregação social entre escolas, o que significa que a chance de um aluno de maior nível socioeconômico estudar ao lado de um de menor renda é muito inferior por aqui à verificada na maioria das outras nações analisadas.
Comparar resultados educacionais de países em contextos sociais e estágios de desenvolvimento tão diferentes é algo que precisa ser feito com cautela, mas o Pisa permite ao menos identificar características em comum entre as nações de alto desempenho. Uma delas é justamente o fato de a desigualdade de oportunidades educacionais ser menor nesses países, uma evidência de que é possível aliar excelência a equidade. O combate às desigualdades por vezes é entendido como uma competição entre os que estão no topo e aqueles em condições menos privilegiadas. No caso específico da educação, a experiência internacional mostra que é possível diminuir a distância entre os extremos sem prejuízo aos que estão no topo. O Pisa indica que os países onde há, proporcionalmente, mais jovens com desempenho nos maiores níveis de proficiência nas provas são também aqueles com menor percentual de estudantes nas menores escalas de aprendizado. Isso mostra claramente que, para fazer o sistema avançar como um todo, sem prejuízo de nenhum grupo, a melhor estratégia é concentrar esforços para melhorar as condições de aprendizagem dos alunos de menor nível socioeconômico. Ao priorizar esse grupo, todos os demais tendem a ser empurrados para cima.
O esforço para melhorar a educação brasileira é de toda a sociedade. Mas é esperado que o Ministério da Educação (MEC) lidere esse movimento. Isso precisa ser feito de maneira sensata e se concentrando nos problemas reais a serem enfrentados, com um projeto sólido construído a partir do exemplo de nossas melhores experiências locais e executado por meio de um diálogo respeitoso e construtivo com gestores, professores, pais e alunos. Sinais, infelizmente, em falta no atual comando do MEC.
Por Ricardo Henriques, na Época
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