A descoberta há alguns anos do Homo
naledi, uma nova espécie de hominídeo que conviveu na savana sul-africana com
os humanos mais próximos ao homem moderno, poderia mudar para sempre o que
sabemos sobre a evolução.
Uma
equipe de pesquisadores russos apresentou na semana passada em Moscou a
reconstrução científica da cabeça do misterioso ser, descoberto na África do
Sul pelo paleoantropólogo americano Lee Berger, que presenteou com uma cópia do
crânio do naledi a seus colegas da Rússia.
O
resultado do trabalho científico foi divulgado em um ato organizado na
Universidade Nacional de Ciência e Tecnologia MISiS.
O
naledi é metade símio, metade homem. Ao invés de ele responder a perguntas
sobre a origem da nossa espécie, é um elo que não se encaixa muito bem na
cadeia evolutiva, explicou à Agência Efe o antropólogo russo Stanislav
Drobishevski.
"Combina
aspectos muito primitivos, como o cérebro, mais próprios dos primatas, com
outros muito desenvolvidos (como os dentes e as pernas), que se assemelham aos
do homem contemporâneo", explicou o cientista.
"São
muito peculiares. Medem 1,5 metro e têm um cérebro que pesa entre 400 e 600
gramas, no limite que o separa o Australopithecus (primatas bípedes) do Homo
habilis, o primeiro hominídeo considerado humano.
De
fato, a primeira análise dos restos de 15 indivíduos achados em uma profunda
câmara da caverna sul-africana Rising Star fizeram seus descobridores pensar
que estavam perante uma das primeiras espécies humanas, que teria vivido há
três milhões de anos.
A
surpresa foi grande quando as provas de datação revelaram que o naledi viveu há
apenas 300 mil anos, quando o Homo rhodesiensis - uma das espécies humanas mais
próximas ao homem contemporâneo - já caminhava comodamente pela savana
sul-africana.
"A
convivência destas duas espécies em um mesmo ecossistema indica que a evolução
humana pode ter seguido caminhos diferentes", afirmou Drobishevski.
Outras
espécies humanas conviveram em uma mesma época histórica, mas ou eram tão
diferentes como o homem e o chimpanzé (como é o caso do Australopithecus e o
habilis), ou habitavam em diferentes continentes ou separados por fronteiras
geográficas intransponíveis.
A
forma como se relacionavam os naledi e os rhodesiensis, que alguns antropólogos
colocam dentro da espécie Homo sapiens, são um mistério.
"Puderam
cooperar e inclusive puderam cruzar. De fato, o genoma de alguns povos
africanos como os pigmeus e bosquímanos têm genes que até agora não puderam ser
explicados", afirmou o antropólogo russo.
Da
mesma forma que os sapiens europeus têm algo de neandertais em seu DNA, o elo
perdido nos genes de alguns povos africanos poderia ser herança dos naledi,
embora para resolver o mistério seja preciso decifrar o genoma da nova espécie.
Por
outro lado, o cérebro dos naledi, de um tamanho similar ao dos homens mais
primitivos, e sua caixa torácica de primatas, que lhe impediria de falar,
apontam que seu intelecto era muito pouco desenvolvido.
O
único indício de cultura pode ser notado no local foram encontrados os restos:
uma câmara a mais de 16 metros de profundidade, à qual só se pode ter acesso
por um orifício muito estreito, de apenas 20 centímetros de largura, o que em
princípio descarta que a usassem para viver.
O
mais provável, explicou Drobishevski, é que os naledi, que eram bastante
miúdos, usavam este tipo de buracos para a sepultura dos seus mortos, embora
não como um ritual, mas por motivos de higiene.
As
mandíbulas e os dentes destes hominídeos são inclusive menores que os do homem
moderno, o que rompe um dos postulados da teoria da evolução.
"Até
agora se acreditou que na evolução do homem o tamanho dos dentes sempre se
reduz", disse Drobishevski.
Ao
contrário, a curvatura dos dedos pelas mãos, maior que a dos símios atuais,
aponta que puderam ter evoluído em algum momento para adaptar-se ao meio no
qual viviam.
"A
tendência evolutiva é o endireitamento dos dedos. Embora a forma pelas mãos
quase coincida com a do homem moderno e seja capaz de construir ferramentas, a
curvatura dos dedos rompe todos os modelos nos quais se acreditava até
agora", acrescentou o cientista russo.
Com
estes dados, os cientistas acreditam que o naledi podia andar e construir
ferramentas como um homem, e ao mesmo tempo subir em árvores como um macaco.
"Algumas
ferramentas achadas no passado e que se relacionaram com o sapiens, na
realidade poderiam pertencer ao naledi. Embora não se tem encontrado nenhum
resto da cultura destes seres, a forma da sua mão indica que eram capazes de
fazer instrumentos, apesar de ter um cérebro muito pequeno", conclui
Drobishevski.
EFE
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