domingo, 12 de dezembro de 2010
Para Júlia Maria, minha garota prateada
Ponte Sobre Águas Turbulentas
Simon & Garfunkel
Quando você tiver cansada
Se sentindo pequena
Quando houver lágrimas nos teus olhos
Eu irei exugar todas elas
Eu estou do teu lado
Quando o tempo se tornar rude
E os amigos não puderem ser encontrados
Como uma ponte sobre águas turbulentas
Eu irei me colocar
Como uma ponte sobre águas turbulentas
Eu irei me colocar
Quando você estiver pra baixo
Quando você estiver na rua
Quando o anoitecer vier tão forte
Eu irei confortar você
Eu ficarei ao teu lado
Quando a escuridão chegar
E o sofrimento estiver ao redor
Como uma ponte sobre águas turbulentas
Eu irei me colocar
Como uma ponte sobre águas turbulentas
Eu irei me colocar
Navegue, Garota prateada
Navegue
Sua vez chegou, para brilhar
Todos teus sonhos estão a caminho
Veja como eles brilham
Se você precisar de um amigo
Eu estarei navegando ao teu lado
Como uma ponte sobre águas turbulentas
Eu irei confortar tua mente
Como uma ponte sobre águas turbulentas
Eu irei confortar tua mente
sábado, 11 de dezembro de 2010
João da Cruz e Sousa
A vida do poeta Cuz e Sousa pelos olhos do cineasta Sylvio Back
Triunfo supremo
Quem anda pelas lágrimas perdido,
Sonâmbulo dos trágicos flagelos,
É quem deixou para sempre esquecido
O mundo e os fúteis ouropéis mais belos!
É quem ficou no mundo redimido,
Expurgado dos vícios mais singelos
E disse a tudo o adeus indefinido
E desprendeu-se dos carnais anelos!
É quem entrou por todas as batalhas
As mãos e os pés e o flanco ensangüentado,
Amortalhado em todas as mortalhas.
Quem florestas e mares foi rasgando
E entre raios, pedradas e metralhas,
Ficou gemendo mas ficou sonhando!
Biografia de Cruz e Sousa
Livro A poesia interminável
Broquéis de João da Cruz e Sousa
Faróis
Missal
Últimos sonetos
O livro derradeiro
Poemas humoristicos e irônicos
domingo, 28 de novembro de 2010
Graciliano Ramos (1892 – 1953)
Graciliano Ramos - Literatura Sem Bijuterias - Parte 1
Graciliano Ramos - Literatura Sem Bijuterias - Parte 2
Graciliano Ramos - Literatura Sem Bijuterias - Parte 3
Graciliano Ramos (1892 – 1953)
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Graciliano Ramos em entrevista concedida em 1948
•Site oficial do escritor
•Biografia do autor
•Trecho da adaptação de Vidas Secas para o cinema, por Nelson Pereira dos Santos
•Trecho do livro Angústia
•Página do escritor Ricardo Ramos, filho de Graciliano
•Crônica do autor no site Alô Escola, da TV Cultura
•Análise de Vidas Secas
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Alexander Solzhenitsyn
dos campos de trabalho forçado em 'Um Dia na Vida de Ivan Denisovich'.
E Kruschev surpreende ao autorizar a publicação sem qualquer censura
O que aconteceu com os presos políticos capturados a mando de Joseph Stalin? Pelo que se sabe no Ocidente, poucos sobraram para contar a história – e mesmo os que sobreviveram não têm voz para relatar seus dramas. No mês que vem, contudo, um novo livro deve oferecer uma espiada inédita nas entranhas do bestial regime de repressão da União Soviética. Com publicação prevista para a próxima edição da Noviy Mir, uma revista literária russa, o romance Um Dia na Vida de Ivan Denisovich, de Aleksandr Solzhenitsyn, promete dar detalhes nunca antes conhecidos do cotidiano dos prisioneiros do gulag, o sistema de campos de trabalho forçado da URSS. A obra é muito aguardada tanto dentro como fora do país – afinal, é o primeiro trabalho literário significativo de um dissidente do regime a ser lançado na URSS desde os anos 20. Desde aquela década, nenhum outro livro de cores políticas tão carregadas foi chancelado pelo governo. Ainda assim, Nikita Kruschev autorizou a publicação do romance sem qualquer tipo de censura. Talvez distraído pela crise dos mísseis de Cuba, talvez disposto a ser mais magnânimo que Stalin, o chefão comunista permitiu que Solzhenitsyn contasse sua história livremente, um fato sem precedentes no império soviético.
O autor da obra, um professor e historiador de 43 anos, não imaginou as atrocidades relatadas no livro nem ouviu os testemunhos de antigos prisioneiros – Solzhenitsyn sentiu a fúria do regime na própria pele, numa longa detenção que só por milagre não lhe custou a vida. Comandante de um pelotão de artilharia no Exército Vermelho durante a II Guerra Mundial, ele foi condecorado duas vezes no decorrer dos combates. No fim da campanha, entretanto, foi detido por criticar Stalin numa carta privada enviada a um amigo. Até esse momento, Solzhenitsyn jamais questionara a ideologia comunista ou a propalada superioridade dos soviéticos frente ao mundo capitalista. Tudo isso mudou nos oito anos de prisão nos campos para prisioneiros políticos. Em um deles, em Ekibastuz, no Cazaquistão, o autor foi escravizado como mineiro e pedreiro, sempre sob condições desumanas. Só deixou o campo em 1953, vítima de câncer e à beira da morte. Curado num hospital de Tashkent, Solzhenitsyn foi perdoado e pôde retornar à porção européia da URSS, onde passou a trabalhar como professor de escola secundária. À noite, contudo, o ex-prisioneiro escrevia em segredo, sem jamais imaginar que algum dia poderia mostrar essas páginas para qualquer outra pessoa.
Mais aqui: Resenha de Um Dia na Vida de Ivan Denisovich na revista Veja (outubro de 1962)
Trailer de Um Dia na Vida de Ivan Denisovich
“Um artista vê a si mesmo como um criador de um mundo espiritual independente. Ele iça em seus ombros o dever de criar esse mundo, de povoá-lo e carregar toda a responsabilidade por ele; mas ele cai diante disso, onde um gênio mortal não é capaz de suportar tal encargo. Ele é apenas um homem comum, que declarou-se como o centro da existência, e não teve sucesso em criar um sistema espiritual balanceado. E quando esse infortúnio o alcança, ele culpa a desarmonia do mundo, a complexidade da hoje rompida alma, ou a estupidez do público. (...) Mas toda a irracionalidade da arte, suas deslumbrantes voltas, suas inacreditáveis descobertas, estão rachando a existência humana – elas estão cheias de mágica para se exaurir pela visão artística do mundo. (...) Nem tudo assume um nome. Algumas coisas estão além das palavras. A arte eleva até mesmo uma alma congelada e escurecida para uma experiência de grande espiritualidade (...) Como naquele espelho de contos de fada: Olhe nele e você verá – não você mesmo – mas por um segundo, o Inacessível, para onde nenhum homem pode cavalgar, nenhum homem pode voar. E para o qual a alma apenas dá um suspiro ...”
•Entrevista concedida ao Der Spiegel em julho de 2007
•Página de Alexander Solzhenitsyn no site do Prêmio Nobel
•A critica de Arquipélago Gulag no New York Times (junho de 1978)
•Russia's literary light who illuminated dark world of Soviet regime
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Machado de Assis
- Woody Allen, diretor de cinema norte-americano
Machado de Assis
“Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.”
Obras de Machado de Assis no site Domínio Público
Biografias, bibliografia e produções acadêmicas no site sobre Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras
Abertura do vídeo “O Rio de Machado de Assis”
Abertura do vídeo Machado de Assis: Um Mestre na Periferia
2008 - O Ano Nacional Machado de Assis
Simpósio Internacional Caminhos Cruzados: Machado de Assis pela Crítica Mundial
Frases retiradas de seus livros
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
O buraco negro que, na educação, separa qualidade de quantidade
Deu no Estadão
O panorama da educação
O Estado de S.Paulo
O mais recente levantamento comparativo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em matéria de educação - o relatório Education at a glance 2010 - revela que, apesar de ter ampliado os gastos com o ensino fundamental na primeira década de 2000, o Brasil ainda investe só 1/5 do que os países desenvolvidos destinam ao setor.
O levantamento cobre todos os ciclos de ensino e leva em conta a educação pública e privada. Segundo ele, enquanto países como Alemanha, Bélgica, França, Reino Unido, Áustria, Dinamarca, Noruega, Itália, Islândia, Estados Unidos e Japão investem, em média, US$ 94.589 por estudante durante todo o ciclo do ensino fundamental, no Brasil o gasto médio é de US$ 19.516 por aluno. O resultado é que, em matéria de formação e preparo, os estudantes brasileiros continuam muito longe dos estudantes dos países desenvolvidos.
A pesquisa da OCDE comparou os investimentos no ensino fundamental realizados por 39 países e avaliou os resultados por eles obtidos. Entre outros fatores, ela levou em consideração os salários dos professores, materiais pedagógicos, instalações físicas, acesso à escola, número de estudantes matriculados e o papel dos pais na supervisão e aconselhamento das escolas públicas.
O estudo também comparou os benefícios sociais e econômicos resultantes da educação de qualidade, em termos de aprendizagem dos estudantes, condições de empregabilidade e níveis salariais.
Segundo a pesquisa, os níveis de despesa com educação variam consideravelmente entre os 39 países analisados, tanto em termos absolutos como relativos. Países como Dinamarca, Israel, Islândia e Estados Unidos, por exemplo, gastam em todos os níveis de ensino o equivalente a cerca de 6,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Países como a Rússia e a República Eslovaca gastam 4,5%. Destinando ao setor educacional 5,2% do PIB, o Brasil se encontra numa posição intermediária.
O estudo também mostra que, entre os países mais ricos, 90% do investimento em ensino fundamental e médio vem do poder público. Quanto ao ensino superior, em países como a Finlândia, Noruega e Coreia do Sul, 75% dos investimentos são privados. A prioridade do gasto público é dada, assim, à formação básica.
A pesquisa revela ainda que, em pelo menos 8 dos 39 países pesquisados, as instituições públicas cobram dos pais uma contrapartida média de US$ 1,5 mil por ano. Como se vê, nesses países, o ensino público não é inteiramente gratuito.
Entre os países mais desenvolvidos, o ensino de redação, literatura, matemática e ciências representa quase 50% do tempo de instrução obrigatória, para os alunos com idade entre 9 e 11 anos, e 40%, para os estudantes na faixa etária entre 12 e 14 anos. Nos demais países, o tempo gasto com essas atividades básicas varia de 16% a 30%.
Evidentemente, isso faz diferença no aproveitamento e no preparo dos estudantes. Esse também é um dos fatores que os levam, quando adultos, a continuar estudando durante toda sua vida profissional. Por isso, mostra a pesquisa, quanto melhor é a qualidade da formação básica dos alunos, mais valor darão ao ensino superior e aos cursos de pós-graduação, o que os torna menos vulneráveis ao desemprego causado pelas crises econômicas. Entre 1997 e 2007, segundo o estudo, a taxa média de desemprego anual de quem tem nível superior ficou em torno de 4%, em média. Entre os que somente concluíram o ensino básico, a taxa média de desemprego ficou acima de 10%, nos 39 países pesquisados.
O estudo da OCDE mostrou ainda que os países desenvolvidos têm 20 alunos por turma no ensino fundamental. No Brasil, embora o tamanho das turmas tenha diminuído em relação a 2000, o número é de 30 estudantes, nas turmas de 5.ª a 9.ª série do ensino fundamental. É um número alto, o que dificulta o trabalho dos professores.
A pesquisa da OCDE registra avanços na educação brasileira, como a universalização do ensino fundamental. Mas, comparativamente, a formação dos nossos estudantes, de modo geral, continua muito longe de um padrão aceitável.
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Meus queridos, o artigo que segue, postei quase quatro anos atrás. O que demonstra que o país parecer ter mergulhado num estado letargico em que tudo se imobiliza, permanecendo qual fóssil cristalizado. Leia e entendam o por quê:
O buraco negro que, na educação, separa qualidade de quantidade
As últimas pesquisas, efetuadas pelo MEC e por organismos internacionais, registram a mediocridade em que se encontra o sistema de ensino brasileiro, sobretudo, no que refere-se à qualidade.
Em torno de 50% dos alunos brasileiros situados na faixa etária dos 15 anos, estão no chamado nível 1 de alfabetização, indicador estabelecido pela Unesco para classificar a performance dos estudantes. Neste patamar, estão aqueles que mal conseguem efetuar leitura e interpretação de textos. Em um dos mais recentes levantamentos, considerando 41 países pesquisados, o Brasil ficou na 37ª posição, à frente apenas de quatro países. No continente americano vencemos apenas o Peru.
A gravidade da situação que estes indicadores desnudam, está a enfatizar que metade dos alunos brasileiros, com bom aproveitamento acadêmico, que desde sempre estiveram na escola, não dominam a língua pátria e são incapazes de extrair dos textos seus significados. Passam quase dez anos na escola regular sem quase nada aprender. É uma pantomina em que todos enganam-se mutuamente: o estado presta contas divulgando inaugurações de novas e mais novas escolas, os pais contentam-se com um espaço onde possam deixar os filhos, qualquer espaço - desde que fora da violência das ruas - e os alunos acomodam-se na ignorância, que não exige esforço, estudos e trabalhos. E o país amplia a distância que o separa dos países desenvolvidos.
Para construirmos uma nova realidade para a educação, urge entendermos o caos em que nos encontramos. É o primeiro passo, identificar com precisão nossos problemas, para que tenhamos condições de encará-los de frente, estabelecendo políticas, diretrizes e estratégias que os conformem aos objetivos e metas traçados. Para criar um país desenvolvido, em que as oportunidades e a justiça sejam patrimônio de todos, será preciso muito mais.
As edificações destinadas ao ensino carecem de reformas, adequações e principalmente, um novo conceito. Estes espaços devem ser reconcebidos. As salas de aula convencionais, não mais respondem às necessidade contemporâneas. O espaço em que interagem professor e aluno deve se ampliar para todo o espaço de convivência comunitária. As ruas, praças e demais logradouros e equipamentos públicos devem ser extensões de nossas salas de aula. Todo o ambiente que nos envolve deve ser utilizado como salas de aula, laboratórios de pesquisas e oficinas de aprendizagem. A realidade é que a escola sempre funcionou como uma instituição externa à sociedade. Sobretudo neste momento em que a violência urbana as têm tangido para o isolamento. Muralhas de concreto armado, cercas eletrificadas, sistemas de monitoramento eletrônico, cães de guarda... vultosos investimentos que deveriam se destinar à área pedagógica, são carreados para o setor de segurança.
De igual modo, os conteúdos ministrados estão defasados, inadequados. Os assuntos são tratados e abordados de forma cartesiana e mecânica, de modo que não exercem fascínio, não exercem encanto sobre os alunos. Agrava o quadro o sistema adotado de remuneração dos professores: salários miseráveis que retiram de um dos principais atores deste processo, o estímulo. Pior, afeta de maneira irremediável a auto-estima dos educadores.
Mas nem tudo foi ou está perdido.
No último século o país investiu na universalização do ensino, massificando a oferta de vagas. E neste sentido, muito foi conquistado. No ano de 2000, a taxa de escolarização da população de 7 a 14 anos - faixa destinada ao ensino fundamental - chegou a 94,5%. É um dado extremamente relevante, que não deve ser ignorado.
Outras conquistas merecem registro. Nos idos de 1940, a taxa de analfabetismo se situava em torno de 65,1% da população com mais de 15 anos de idade. No ano de 2000, esta taxa era de 13,6%. São indicadores que ainda não satisfazem ao anseio de progresso e desenvolvimento da sociedade, mas enfatizam categoricamente que é possível avançar quando há vontade política e determinação.
É evidente que muito ainda há o que fazer. Quando cotejamos estes dados com os dos demais países - inclusive os latino-americanos - é que percebemos o quanto estamos atrasados. Mas ignorar os progressos obtidos até aqui seria um erro tão elementar quanto o de ignorar a necessidade de novos e urgentes investimentos, agora priorizando a qualidade e não a quantidade.
Assim como estamos ganhando a batalha da massificação da oferta de vagas, deveremos agora enfocar o desafio de massificar a qualidade.
E qualidade refere-se, sem dúvida, à edificações, conteúdos e didáticas adequadas. Mas refere-se também à criação de um eficiente e continuado processo de qualificação da mão de obra, o que inclui a adoção de vigorosos processos de capacitação, planos de progressão funcional, e de políticas salariais consistentes.
Direção, professores, servidores e comunidade, devem estar plenamente engajados na construção deste novo cenário, onde a universalização se dê pelo acesso, como também pela qualidade.
Hoje, na área da educação, é visível o descompasso entre estes dois componentes: quantidade e qualidade. E mais: o buraco negro que separa o acesso (quase universalizado) da qualidade do ensino, compromete de maneira determinante nosso desenvolvimento social, fazendo com que gerações e gerações percam sonhos e oportunidades.
Responder, com sabedoria e rapidez, a este desafio é o que está na ordem do dia.
Artigo de Antônio Carlos dos Santos publicado na Revista Bula e no portal Goiás Educação.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
A diva encantou
Soprano australiana, com 40 anos de sucesso, era chamada de 'La Stupenda' por voz marcante
Mike Collett-White - Reuters
LONDRES - A cantora de ópera australiana Joan Sutherland, conhecida como "La Stupenda" por sua legião de fãs, morreu aos 83 anos na Suíça, anunciou na segunda-feira sua gravadora Decca.
Sua família disse que a soprano, certa vez considerada pelo tenor italiano Luciano Pavarotti "a maior voz do século", morreu em paz nas primeiras horas do domingo depois de sofrer longamente de uma doença.
"Ela é uma pessoa muito importante em todo o mundo, mas para nós ela é nossa família, e estamos simplesmente tentando aceitar o que aconteceu", disse sua nora Helen, segundo o jornal Sydney Morning Herald.
A cantora estreou nos palcos em 1951 e, ao longo de uma carreira ilustre que abrangeu 40 anos, apresentou-se em muitos dos maiores teatros de ópera do mundo. Sua última aparição no palco foi em 31 de dezembro de 1989, no Royal Opera House de Londres, cantando Die Fledermaus ao lado de Pavarotti.
Depois de se aposentar dos palcos, ela continuou ativa, ensinando cantores mais jovens, e se tornou presença constante em júris de concursos de cantores em todo o mundo.
domingo, 10 de outubro de 2010
O excelente Tropa de Elite II
Assim como o primeiro, o Tropa de Elite II é excelente. Caso não cometam a mesma picaretagem, quando literalmente impediram que o primeiro filme representasse o Brasil na festa do Oscar, este Tropa II vai levar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e com um pé nas costas. E não cometo aqui nenhum exagero. Podem escrever. Duvida? Então vá ver o filme!
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Dostoievski
Fiódor Mikhailovich Dostoievski
“- Bem, suponhamos que é assim. Adivinhaste, finalmente. É isso mesmo, todo o segredo está aí. Mas não é um sofrimento, pelo menos para um homem como ele que no deserto sacrificou a sua vida ao seu ideal e não deixou de amar a humanidade? Ao declinarem-lhe os dias, convence-se claramente de que só os conselhos do grande e terrível Espírito poderiam tomar suportável a existência dos débeis revoltados, "esses seres de aborto, criados por troça". Compreende que deve escutar o Espírito profundo, este Espírito de morte e de ruína e, para o fazer, admitir a mentira e a fraude, levar conscientemente os homens para a morte e para a ruína, enganando-os durante todo o caminho, para lhes não revelar onde os levam e para que os pobres cegos tenham a ilusão da felicidade. Nota isto: a fraude em nome de Aquele em quem o velho acreditou ardentemente durante toda a sua vida! Não é isto uma infelicidade? E se houver alguém, se houver um só homem semelhante à frente deste exército "ávido do poder apenas para os vis bens", não bastará isto para que se dê uma tragédia?”
•Biografia
•Lista completa de suas obras
•Imagens de Dostoievski
•Livros completos de Dostoievski em português
•Crime e castigo (em espanhol, na íntegra)
•Crime e castigo (em inglês, na íntegra)
•Os irmãos Karamazov (em espanhol, na íntegra)
•Os irmãos Karamazov (em inglês, na íntegra)
•Os irmãos Karamazov (em russo, na íntegra)
•O Idiota em (inglês, na íntegra)
•Filme baseado em O Grande Inquisidor, trecho de Os irmãos Karamazov (Parte 1)
•Trechos de filmes baseados em Crime e castigo
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
40 anos sem Janis Joplin
40 anos sem Janis Joplin
Por Rose Saconi, no Estadão
Hoje faz exatamente 40 anos que a música perdeu Janis Joplin, uma das melhores cantoras de blues branca da história do rock. No dia 4 de outubro de 1970 ela foi encontrada morta sozinha num quarto de hotel de Hollywood pelo companheiro da recém formada banda Full-Tilt Boogie, o músico John Cooke.
A cantora, de 27 anos de idade, estava deitada de bruços, entre o criado-mudo e a cama. Tinha o braço esquerdo marcado por uma série de picadas de agulha, por onde tinha injetado uma quantidade fatal de heroína, e o nariz quebrado, por uma provável queda. Ao seu lado, uma garrafa de uísque.
Janis Lyn Joplin nasceu em Port Arthur, Texas, no dia 19 de janeiro de 1943. Teve uma infância dura, embora fosse filha de um proprietário de uma refinaria de petróleo. Tratada com repulsa na universidade, era chamada pelos seus colegas de 'o homem mais feio do campus'. Largou a escola, tentou ser pintora e se meteu com os negros. Seu melhor amigo, um negro chamado Tio Tom, foi morto a pancadas pelos brancos em Port Arthur.
Seu caminho foi traçado pelo blues. Conheceu e apaixonou-se por um músico, Bruce, que logo depois morreu no Vietnã. Foi um amigo de Bruce, Sam Andrew, que a levou para San Francisco. Janis era diferente dos hippies. Bebia muito, tomava drogas pesadas e não queria saber daquela onda de paz e amor.
Ela chegou a ofuscar as bandas que a convidavam para tocar. Janis enlouquecia quando cantava e chegou a ficar nua durante uma apresentação. Em 1967 foi a grande atração do Monterrey Pop. Apareceu nas capas da Time e Newsweek. Foi para Woodstock, mas sua participação no festival não apareceu no documentário e no disco pela má qualidade do show.
Em fevereiro de 1970 veio para o carnaval no Brasil. Foi maltratada no Teatro do Municipal, onde era esperada como uma estrala de Hollywood e apareceu como uma hippie. Ainda por aqui, namorou o fotógrafo Ricky Marques Ferreira.
Ao todo a cantora gravou sete álbuns. Infelizmente, não se livrou da ideia fixa que a perseguia. 'Ninguém gosta mesmo de mim, sou feia demais para isso, só querem me explorar', declarou ela uma vez justificando seu modo agressivo de se apresentar. Com um estilo vocal próximo ao grito, Janis agitava o busto, os pés, os cabelos e as joias obedecendo ao ritmo da música.
Quando morreu era uma das cantoras de rock mais bem pagas do mundo. Fora do palco, porém, tinha uma vida solitária e vazia. 'O pior é a solidão', disse uma vez numa entrevista publicada pelo Estado. 'Com a fama perdemos todos os velhos amigos. As viagens nos distanciam e é difícil fazer novos amigos. Vivo para o momento das apresentações, cheia de emoção e excitação, como esperando por alguém a vida toda'.
Saiba mais
*Considerada como a voz feminina por excelência do rock, Janis teve uma vida agitada e confusa até morrer, aos 27 anos de idade.
*Entre 1970 e 1971 o rock perdeu três de suas figuras mais marcantes e influentes: Jimi Hendrix (18 de setembro de 1970), Janis Joplin (4 de outubro de 1970) e Jim Morrison (3 de julho de 1971).
*Quando tinha 16 anos, Janis já viajava pelos Estados Unidos de carona, fumava cigarros de palha e gostava de tomar gim. Frequentava guetos de negros, aprendia músicas sacras e lutava pela integração racial.
Mais, aqui.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Jorge Amado e Zélia Gattai
Jorge Amado e Zélia Gattai
• Biografia Jorge Amado
• Biografia Zélia Gattai
• Fundação Jorge Amado
• Trechos de obras de Jorge Amado
• Jorge Amado foi festejado por leitores de matizes bem diversos. E também por diversos escritores, como Mario Vargas Llosa, José Saramago e Milton Hatoum.
• Entrevista de Zélia Gattai para a Folha de S. Paulo
Xô corrupção
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Luciano Pavarotti - Ave Maria
Ave Maria
Ave maria! vergin del ciel
Sovrana di grazie e madre pia
Che accogli ognor la fervente preghiera,
Non negar a questo straziato mio cuor
Tregua al suo dolor!
Sperduta l'almamia si prosta a te
E pien di speme si prosta ai tuoi piè,
T'invoca e attende che tu le dia
La pace che solo tu puoi donar
Ave Maria!
Ave maria gratia plena
Maria gratia plena
Maria gratia plena
Ave, ave dominus
Dominus tecum
Sperduta l'almamia si prosta a te
E pien di speme si prosta ai tuoi piè,
T'invoca e attende che tu le dia
La pace che solo tu puoi donar
Ave maria!
Ave maria gratia plena
Ave, ave dominus
Ave maria!
Ave Maria
Ave Maria!Virgem do Céu!
Rainha de graças e mãe,
Que acolhe cada um na oração fervente
Não negue esse coração sofrido
Aliviado por sua dor
Perdida,a minha alma se prosta a ti
E cheia de graças,se prosta a seus pés,
Te invoca,e atende que no seu dia,
A paz,só você pode trazer.
Ave Maria!
Ave Maria!Cheia de Graças!
Maria,Cheia de Graças!
Maria,Cheia de Graças!
Ave,Ave,O Senhor
O Senhor esteja convosco!
Perdida,a minha alma se prosta a ti
E cheia de graças,se prosta a seus pés,
Te invoca,e atende que no seu dia,
A paz,só você pode trazer.
Ave Maria!
Maria,Cheia de Graças!
Ave,Ave,O Senhor
O Senhor esteja convosco!
domingo, 26 de setembro de 2010
Uma oração para canalhas!
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Jessye Norman
Jessye Norman - A Portrait - When I Am Laid In Earth (Purcel
Jessye Mae Norman (Augusta, Geórgia, 15 de setembro de 1945) é uma soprano estadunidense, ganhadora quatro vezes do Grammy. Norman é uma das mais admiradas cantoras contemporâneas. É uma soprano dramática verdadeira, associada particularmente aos papéis das óperas de Verdi e Beethoven. É muito conhecida pela suas qualidades emocionais expressivas e seu um estilo intelectual formidável. Mais, aqui.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Entre a miséria absoluta e a ostensividade aristocrática
O esforço para escancarar as portas do desenvolvimento deve ser progressivo e continuado.
No plano da educação, conquistamos vitórias expressivas quando abordamos a questão da alfabetização.
Em 1900, quase 70% da população brasileira com mais de 15 anos era constituída de pessoas analfabetas. Hoje, cerca de 11% da população carrega esta hedionda cruz de chumbo. Os números sinalizam que não ficamos parados no tempo, que avançamos em alguma medida, mas 11% é um indicador grave demais para merecer a indiferença do governo e da sociedade.
Se 11% de analfabetos já é um dado inaceitável, o que se poderia então dizer em relação à taxa de analfabetismo funcional? Nessa seara retornamos aos idos de 1900, ao começo do século passado, ostentando uma vergonhosa taxa de 71%. É isto mesmo, 71%; é mole?!
Um dos maiores problemas entre nós é o nível das contradições, por demais aviltantes. Já virou lugar comum a constatação de que no Brasil convivem lado a lado Gabão e Suécia, a miséria absoluta e a ostensividade aristocrática.
Esta realidade deixa cicatrizes em todos os setores. E também na educação. Os dados sobre analfabetismo afrontam outros de qualidade seletiva, como os que mostram as crianças brasileiras arrebatando as primeiras colocações nas olimpíadas de matemática realizadas mundo afora.
Mas quando rompemos as barreiras da exceção e adentramos no Brasil real, verificamos que a “situação do ensino matemático no Brasil é dramática”. É o que vem denunciando Suely Druck, presidente da Sociedade Brasileira de Matemática.
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro - vinculado ao Ibope, e pela ONG Ação Educativa, cerca de 30% da população do país resolvem operações matemáticas simples com extrema dificuldade. Conseguem no máximo fazer operações simples, envolvendo a adição, subtração, multiplicação e a divisão. São 52 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos que não conseguiram romper os estreitos limites da aritmética, mantendo longa distância do universo da matemática.
Ainda na faixa etária dos 15 aos 64 anos, mais de três milhões de brasileiros são analfabetos absolutos em matemática. Não conseguem sequer ler ou identificar números simples, como o número que identifica uma casa de determinada rua, ou o número do telefone de um posto de saúde.
Segundo a pesquisa, apenas 23% da população adquiriu a habilidade de conhecer os números plenamente, elaborando cálculos e interpretando mapas, tabelas e gráficos.
Outro grave problema identificado pela pesquisa é que 60% dos entrevistados com até a 3ª série do ensino fundamental não conseguem resolver espécie alguma de cálculo. Estamos, portanto, refletindo sobre alunos que freqüentam ou freqüentaram a escola, o que torna o quadro mais dramático ainda.
Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, isso decorre do fato de que “mais de 60% dos nossos professores desconhecem o conteúdo que têm que ensinar”.
No Brasil, desde sempre, a educação encontra-se na lata do lixo. Todo esforço despendido até aqui conferiu apenas uma casca de verniz à questão, criando – quando muito - bolsões de excelência encravados num mar de vergonhosos fracassos. Criminosos fracassos.
Quantas décadas mais serão necessárias para modificar este cenário tão inóspito, caberá à sociedade responder.
Artigo (publicado em março de 2008) de Antônio Carlos dos Santos publicado na Revista Bula e no portal da Associação dos Professores de São Paulo. Antônio Carlos é o criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da metodologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. vilatetra@gmail.com
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Tiririca????
Eduardo Reina, do Estadão
O humorista Tiririca, candidato do PR a uma cadeira na Câmara Federal, foi um dos que mais arrecadou verba para a campanha eleitoral, segundo declaração ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Francisco Everardo Oliveira SIlva, o Tiririca, encheu o cofrinho com R$ 593,9 mil. Muitos colegas de partido ficaram com pouco dinheiro. O cantor Aguinaldo Timóteo, que também disputa uma vaga em Brasília, declarou ter recebido R$ 184 mil. Já o também humorista Juca Chaves, ou Jurandir Czaczkes Chaves, obteve apenas R$ 1,2 mil.
A verba de Tiririca foi praticamente toda bancada pelo partido, o PR. Foram R$ 516 mil, o que demonstra que a legenda aposta no humorista como puxador de votos.
Faça a comparação com outros partidos e candidatos: O tucano Walter Feldman, segundo sua declaração ao TRE, conseguiu R$ 346 mil. Ivan Valente, do Psol, R$ 89,4 mil e o petista Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da CUT, ficou com R$ 267,2 mil. E até o dinossauro Paulo Maluf (PP) ficou abaixo de Tiririca, com R$ 146,9 mil.
Quem é o palhaço?
José Roberto Toledo - O Estado de S.Paulo
Francisco Everardo Oliveira Silva corre o risco de ser o deputado federal mais votado do Brasil em 3 de outubro. Não se espante se você não reconhece o nome, nem seus próprios eleitores reconheceriam. Oliveira Silva é conhecido apenas por seu apelido, Tiririca.
Ele aparece em primeiro lugar no conjunto de pesquisas do Ibope sobre a eleição para a Câmara dos Deputados em São Paulo. Como é o Estado com o maior eleitorado, não será surpresa se Oliveira Silva acabar sendo o campeão nacional de votos de 2010.
Se você não tem visto muita TV nas últimas décadas e passou incólume pela propaganda eleitoral até agora, Tiririca é ator e palhaço profissional. Tem 45 anos, lê e escreve, se autodefine como "abestado" e seu slogan é "pior que tá num fica, vote Tiririca".
Não é uma piada. É um projeto político. Oliveira Silva é candidato pelo PR, em coligação que inclui o PT e o PC do B. Prova da seriedade do projeto é que, até o último dia 3, o partido havia investido R$ 594 mil, oficialmente, na campanha do palhaço. E não deve parar por aí.
Tiririca é o principal puxador de votos do PR, do PT e do PC do B em São Paulo. Se chegar a um milhão de sufrágios, seu excedente de votos elegerá mais quatro ou cinco deputados da coligação. O eleitor vota em Tiririca e pode eleger Valdemar Costa Neto (PR), Ricardo Berzoini (PT) ou o delegado Protógenes (PC do B).
O "projeto Tiririca" é um bom retrato do sistema de coligações que impera nas eleições parlamentares brasileiras - uma salada farta de siglas, conexões improváveis, legendas de aluguel e uma pitada muito pequena de ideologia.
Das 27 legendas que disputam as eleições para a Câmara dos Deputados, apenas os quatro partidos de esquerda (PSTU, PCO, PSOL e PCB) são seletivos nas coligações: não se misturam na grande maioria das vezes. Melhor deixá-los em um prato à parte.
Entre as outras 23 legendas da salada, vale quase tudo. O PP, por exemplo, coligou-se 169 vezes a todos os outros 22 partidos, em 26 das 27 unidades da Federação. O PRB fez igual. Isso significa aliar-se ora ao PT, ora ao seu arqui-inimigo PSDB, conforme a conveniência.
PP e PRB são os campeões das alianças, mas não são exceção. Das 23 legendas da salada coligada, só o PV fez menos de 100 conexões com outros partidos. Mas bateu na trave: 97. A salada é sortida. Tem de PT com DEM (uma vez) a comunista com democrata-cristão (seis vezes). Só não tem petista com tucano.
Se dividirmos a travessa em duas partes, numa ponta está o PT, na outra, o PSDB. O PMDB fica no meio. Perseguidos pelo poder, os peemedebistas aparecem como fortes aliados tanto de tucanos (6 vezes) quanto de petistas (11 vezes).
As conexões mais intensas do PT são com PC do B, PR, PRB, PSB, PDT e PMDB. E as do PSDB são com DEM, PPS, PSC, PMN, PR, PRB e PMDB. Mas as relações são abertas, não pressupõem exclusividade. Vez ou outra uma legenda dá uma escapadinha para o outro lado, sem culpa ou ressentimentos.
Os mais cínicos dirão que a política partidária brasileira continua a mesma. Mudam os nomes, mas não os sobrenomes. No seu "Deputados 2010", o Ibope identificou uma penca de herdeiros do poder (apud Francisco Antonio Doria) entre os favoritos a se elegerem para a Câmara.
São rostos novos para nomes conhecidos. Como os de Ana Arraes (Pernambuco), Ratinho Jr. e Zeca Dirceu (ambos no Paraná), ACM Neto (Bahia), Rodrigo Maia e Leonardo Piciani (ambos no Rio de Janeiro).
Nomes fortes foi justamente o que faltou para o PT paulista. O partido precisou improvisar nova estratégia. Além de se coligar ao PR de Tiririca, ressuscitou a tática de pedir votos para a legenda do partido. Está dando certo: a sigla do PT está em segundo lugar em citações no ranking do Ibope.
A falta de nomes conhecidos está confundindo os paulistas. Instado pelo Ibope a dizer em quem votará para deputado federal, há quem responda "Serra", "Fernando Henrique Cardoso", "Marina Silva", "Alckmin", "Mercadante" ou até quem evoque "Mario Covas".
De todos os Estados onde o Ibope faz seu ranking para a Câmara, São Paulo é onde menos eleitores são capazes de citar um candidato a deputado federal: apenas 12%. Em Pernambuco essa taxa já chegou a 19%, e no Distrito Federal, a 21%.
Não é de espantar, portanto, que Tiririca seja o mais lembrado entre os paulistas. Nem de que alguém tenha pensado em usar um palhaço como puxador de votos. Pensando bem, até faz sentido.
domingo, 12 de setembro de 2010
Quando o crack de Nova Iorque se encontra com o crack que assola o Brasil
(...)
Humilhas, avanças, provocas, agrides, espancas, torturas, aprisionas indefesos – e quem bate e violenta é a tropa de choque?
Te tornaste carne, sexo e prostituta de incubo de Saturno –
e ensandecidamente acusas o outro de estupro? (...)
Leia o poema Uma oração para canalhas clicando aqui.
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Quando o crack de Nova Iorque se encontra com o crack que assola o Brasil
Até pouco tempo atrás os pais preocupavam-se em explicar para os filhos o significado até então mais expressivo da palavra crack.
E pacientemente discorriam sobre a crise de superprodução ocorrida no final dos anos vinte.
Tão logo terminou a primeira guerra mundial os Estados Unidos apresentaram um vigoroso processo de crescimento econômico. A indústria norte-americana chegou a responder por metade da produção mundial. O novo padrão de vida denominado american way of life caracterizava-se pela valorização dos bens de consumo, pelas aquisições de automóveis, eletrodomésticos e demais industrializados.
Ao mesmo tempo em que ocorria o boom do crescimento ianque, os países europeus recuperavam-se da destruição causada pela grande guerra, reorganizavam os sistemas de produção e iniciavam a disputa pelos mercados consumidores. Enquanto a Europa impunha restrições às importações de produtos norte-americanos, os EUA continuavam produzindo com sua conhecida e inesgotável voracidade capitalista.
O cenário explosivo estava estruturado: mercado internacional desorganizado; cotações em permanente estado de oscilação; falências generalizadas; agudo desequilíbrio decorrente, de um lado, do excesso de mercadorias produzidas e, de outro, do diminuto poder aquisitivo dos consumidores.
Até que no dia 29 de outubro de 1929, a face mais perversa do desenvolvimento capitalista se apresenta ao mundo, fazendo sua aparição na Bolsa de Valores de Nova York. As tensões que – dez anos depois – conduziriam à Segunda Grande Guerra, materializam-se bem no centro, no coração econômico do mundo.
A população acorre em massa tentando vender suas ações – que já haviam perdido todo o seu valor de face – indústrias e corporações vão à bancarrota, dezenas de milhares que haviam dormido trilionários acordam miseráveis... mais de 15 milhões de desempregados...
Para melhor explicar a tragédia que representou este período, os pais faziam questão de recorrer às locadoras para assistir com os filhos uma das obras primas de Sydney Pollack, A Noite dos Desesperados (They Shoot Horses, Don't They?, 1969), onde Jane Fonda, de maneira categórica, magistral e irreparável, mostra toda a sua virtuosidade na arte da interpretação.
A Noite dos Desesperados, de Sydney Pollack, com Jane Fonda
Mas como que picado por uma cobra peçonhenta, sendo tragado pela areia movediça, ou imerso em uma película de terror, um outro crack – que não o de 29 - é a atual fonte de pesadelos dos pais. Seu avant-première ocorreu em junho de 1990 quando o Denarc - Departamento de Investigações sobre Narcóticos – de São Paulo, apreendeu 220g com um barbeiro na zona leste da cidade. Mal decorridos dois anos e a nova droga estava disseminada pela maior cidade do continente americano.
Ao contrário da heroína e da cocaína, o crack é barato e está ao alcance de qualquer um, até mesmo dos mais pobres e despossuídos. Sua produção é obtida a partir da sobra do refinamento da merla (resíduo do processamento, do refinamento da cocaína). Essa sobra – ou ainda a pasta não refinada – é misturada ao bicarbonato de sódio e água, resultando na droga que ameaça transformar nossos estudantes e a juventude numa massa disforme, doentia, numa corja de zumbis sem alma ou vontade.
O Instituto Datafolha comemora seu um quarto de século de existência. E para não deixar a data passar em branco, refez uma pesquisa realizada no ano de 1983.
Ao processar os questionários e tratar os dados, o que emergiu virulentamente da pesquisa é que, hoje, o maior temor da sociedade é que um jovem da família se envolva com as drogas.
Alba Zaluar, doutora em antroplogia e coordenadora do Núcleo de Pesquisas das Violências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, comentando os resultados da pesquisa é enfática quanto ao que vem ocorrendo no Brasil:
• Há agora essa epidemia de crack, que contribuiu muito pra aumentar o medo da droga
• É uma droga que arrebenta com a pessoa, faz cometer loucuras e que é barata.
• A cocaína é muito mais temida que a maconha. Mas o crack é a mais temida de todas.
Para a antropóloga os sentimentos da família não se limitam a temer que um de seus membros venha a se curvar ao vício: Se envolver com cocaína e crack é se envolver com traficantes, com a criminalidade.
Mas não é só a relação dos filhos com as drogas e traficantes que deve preocupar pais responsáveis e educadores dedicados. Sobretudo a sustentabilidade das relações familiares deve ganhar prioridade em nossa hierarquia de preocupações. E neste contexto urge resgatar valores imprescindíveis às sociedades saudáveis como amor, virtude, altruísmo, respeito, autoridade (que em nada se assemelha a autoritarismo),...
Tão importante quanto qualificar as forças policiais para, como eficácia e inteligência, combater e debelar o tráfico e o crime, tão importante quanto construir mais presídios para manter os traficantes confinados longe de nossos filhos, tão importante quanto investir em educação de qualidade, é regatar os valores e princípios familiares, dotá-los do amor e da fraternidade que, às vezes, parecem ter se perdido no tempo.
Sugiro a leitura de três outros artigos que escrevi sobre esta questão. Não tenho dúvidas que estamos numa encruzilhada. O amanhã só corresponderá às nossas expectativas caso consigamos impregnar nosso hoje de zelo, coragem, responsabilidade e amor. Basta clicar sobre os títulos para acessá-los:
1) Quando o homem deixa de ser homem
2) Quando a desgraça é inevitável
3) O que fazer com os anjos emprestados por Deus?
Antônio Carlos dos Santos – criador de metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg,Br
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Quem paga o pato pela récua de açougueiros?
Deu em O Globo
Plantão de alto risco
Polícia prende estudante de Medicina atendendo pacientes em hospital da Baixada
Vera Araújo e Mariana Belmont
Uma equipe da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública (DRCCSP) prendeu, na manhã de ontem, Silvino da Silva Magalhães, estudante do 9 período de Medicina da Universidade de Nova Iguaçu (Unig), atuando ilegalmente como médico.
Ele foi flagrado dando consultas como ginecologista no Hospital das Clínicas de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. O estudante, de 41 anos, atendeu quatro mulheres pela manhã — a última delas foi uma policial que se passava por paciente e que o prendeu em flagrante.
Segundo o delegado titular da DRCCSP, Fábio Cardoso, Silvino usava um carimbo com o próprio nome e o número de registro no Conselho Regional de Medicina (Cremerj) de um outro profissional. Além disso, ele tinha, na maleta, o carimbo do dono da clínica, o médico Deodalto José Ferreira.
O estudante Silvino afirmou que atendia há dois anos na clínica como acadêmico, auxiliando os médicos. Segundo ele, o profissional de plantão ontem foi fazer uma cirurgia e, por isso, ele teria feito um pré-atendimento a algumas pacientes. Ao ser perguntado se já havia prescrito receitas, ele se calou.
No último domingo, O GLOBO denunciou que hospitais, médicos e cooperativas contratavam estudantes de Medicina para atuarem como profissionais, principalmente para fugir dos plantões de fim de semana. Os alunos receberiam de R$ 200 a R$ 1 mil.
O caso veio à tona depois da morte, no mês passado, da menina Joanna Marcenal, de 5 anos, atendida por um estudante do 4 período de Medicina. O falso médico Alex Sandro Cunha chegou a prescrever remédios controlados para Joanna.
Segundo o delegado, desde a reportagem do GLOBO, o número de denúncias recebidas pelo telefone do Disque-Denúncia (2253-1177) e encaminhadas à delegacia cresceu sete vezes:
— Recebíamos uma média de cinco denúncias por semana. Na semana passada, foram 35, a maioria na Baixada Fluminense e na Zona Oeste.
Assinantes, aqui.
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Quem paga o pato pela récua de açougueiros?
Todas as profissões são importantes e beneficiam a sociedade. Mas a esmagadora maioria não necessita de instituições como os Conselhos Regionais e Federais. Sob o pretexto de defender os interesses da sociedade, essas instituições, na realidade, estimulam um corporativismo nefasto que – se protege os filiados, inclusive quanto aos seus crimes profissionais – funciona como uma barreira insurgindo contra os legítimos interesses da coletividade. A despeito de todo o referencial teórico que as legalizam, não passam de pelotões paramilitares para assegurar reserva de mercado Mas algumas poucas categorias profissionais (uma conta tão rarefeita que mal alcança a quantidade dos dedos de uma mão) efetivamente necessitam de regulamentação específica, mais criteriosa, e de instâncias de regulação e controle. É o caso do ofício da medicina.
Mesmo com todos os desvios e distorções dos Conselhos Regionais e Federal de Medicina, eis aí algumas organizações imprescindíveis para a defesa dos interesses da sociedade.
Mesmo que os processos internos de sindicância, inquérito e averiguação das irregularidades e crimes praticados pela categoria encontrem, quase que invariavelmente, colossal má vontade, celeridade paquidérmica e resultados pífios, os aludidos conselhos são necessários. Os desvios - não poucos, gritantes - decorrem do viés corporativo que os asfixiam, e da quase indiferença da sociedade que os mantêm sacrários, raramente recorrendo ao judiciário.
Corrigir as extremas disfunções que os atrofiam é uma tarefa premente da sociedade organizada, da pressão social, vez que governo e partidos políticos parecem tragados por outro tipo de preocupação. Pressionar para o eficaz funcionamento do Ministério Público e do judiciário já seria um bom começo.
Ainda que tardiamente, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo – CRM/SP - vem promovendo uma iniciativa importante, exemplar: a avaliação do ensino de medicina no Estado e conseqüentemente, da categoria médica.
E os resultados têm sido catastróficos por um lado, porque revelam a insolvência do sistema, mas animadores por outro lado, porque desvelam o que se encontrava encoberto, porque identifica a chaga exposta e porque evidencia de forma eloqüente o longo caminho a percorrer para a superação definitiva do problema.
Desde 2.005, o CRM/SP assumiu a corajosa iniciativa de avaliar os formandos de medicina na unidade da federação mais desenvolvida do país. E edição após edição, o quadro vai se mostrando tão deteriorado que não escapa a visão sequer de um cego dos dois olhos. No primeiro ano de implementação da avaliação, num universo de 998 estudantes, 69% foram aprovados. No ano seguinte, em 2006, dos 688 inscritos, lograram êxito 62%. A ultima edição, efetuada este ano, apresenta os piores resultados. Dos 2.200 graduandos de 23 escolas de medicina de São Paulo, 833 se inscreveram para fazer o exame. E menos da metade desses estudantes foram aprovados.
Trocando em miúdos, significa dizer que, precisamente, 56% dos formandos de medicina em São Paulo foram reprovados nas provas do Conselho Regional da área, uma forma categórica de concluir que as escolas de medicina – como, aliás, seria de se esperar - integram a fria e desqualificada cumbuca onde foi desleixadamente abandonada a educação brasileira.
Qualquer exame que se faça para aferir o nível de ensino e da educação do país, os resultados sempre estão como o velho samba de uma nota só: transitam de ruim para pior, de pior para péssimo, de péssimo para pífio, de pífio para medíocre, de medíocre para vergonhoso, e segue a infindável cantilena, no ritmo do alazão quando é para a inépcia, e do pangaré se o objetivo é qualificar.
O cenário é dos mais improdutivos e preocupantes, mas a situação não é irremediável nem a escuridão se apossou da esperança. Ao contrário. Por paradoxal que possa aparecer, agora há mais luz, mais claridade. Exatamente quando todas as avaliações, nacionais e internacionais, comprovam que a educação brasileira está no fundo do poço é que as esperanças se revigoram. E muito do renascimento da esperança resulta da determinação do Ministério de Educação de legar ao país a cultura da avaliação, do diagnóstico preciso, detalhado; identificando com exatidão o problema, sua real dimensão e onde se localiza, com precisão milimétrica.
O bom médico é aquele que, para aviar a receita eficaz, consegue realizar um diagnóstico primoroso, promover uma radiografia fiel do paciente, identificar a enfermidade de maneira irreparável. É o que está fazendo o MEC, e com louvável competência.
Iniciativa que vai se espraiando pelos demais setores da sociedade e que, a partir da experiência vitoriosa do Conselho de São Paulo, deve, em curto espaço de tempo, ser absorvida pelos demais conselhos regionais.
A realidade que está emergindo desses sistemas de avaliação é como uma hidra de sete cabeças, horrífica. Porém, mais vergonhosa e covarde era a postura anterior de não revelá-la, forma de manter as coisas inalteradas, insuscetíveis às mudanças. Conseguindo enxergar a quantas andam a educação e o ensino brasileiros, teremos aumentadas as chances de acertar no receituário.
E algumas boas soluções já emergem naturalmente deste processo virtuoso. Como, por exemplo, a decisão do Ministério de cobrar das escolas públicas metas de desempenho. E a decisão do governo de São Paulo de bonificar com até três salários mínimos a mais, por ano, o professor que atingir e superar as metas estabelecidas. Desafios que fazem tremer a malha sindical, tão preocupada com a defesa dos direitos corporativos que muitas vezes afronta os da coletividade.
O exame do CRM de São Paulo apresenta uma característica que torna o resultado do processo mais preocupante. Como é voluntário, não tem caráter punitivo e a reprovação não impede o exercício da medicina, pressupõe-se que a maioria dos que se submeteram ao processo figuram no quadro dos melhores alunos. Caso fossem obrigatórias, as provas inexoravelmente levariam a um percentual maior de reprovados.
Estão aí as explicações para a existência de academias e mais academias que produzem, a exemplo da grande indústria robotizada, ‘carons’ em série, uma súcia de delinqüentes devidamente ‘doutorados’.
Aos bons profissionais da medicina, poucos mas valorosos missionários, nossas reverências.
E quem paga o pato pela récua de açougueiros? A sociedade. Eu e você, caro leitor.
Um alerta a mais para os pais cuidadosos que amam seus rebentos: em pediatria, só 32% acertaram um simples diagnóstico de pneumonia.
Antônio Carlos dos Santos - metodologia Quasar K+ de planejamento.
domingo, 5 de setembro de 2010
Sakineh Ashtiani e as 99 chicotadas
Guillermo Fariñas
domingo, 29 de agosto de 2010
34,8 milhões sem coleta de esgoto
sábado, 21 de agosto de 2010
Um abrigo para nossos sonhos e esperanças
E apesar das medidas draconianas historicamente adotadas em defesa da coletividade, não obstante as enérgicas medidas para punir autoridades embaladas pela corrupção, este tipo de crime não arrefece, e recrudesce entre nós qual o pior tumor maligno. Geração após geração este mal vai se perpetuando nas diferentes culturas nacionais.
A aplicação da pena capital, das mais duras punições – invariavelmente acompanhadas de exposição e humilhação pública - não têm sequer amenizado a intensidade da grave hemorragia, que lança fora, para o latão de lixo, o melhor das forças, das energias de um povo.
Platão - discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles - já fazia referência à corrupção em uma de suas obras, “As Leis”, o mais longo e complexo diálogo do filósofo fundador da ‘Academia’. Ensinava aos seus discípulos os marcos da moral e da ética, recomendando a “desgraça” para todos os que aceitassem suborno e propina.
Na antiga Atenas não havia espaço para tergiversação e, pelo menos na escrita a pena se mostrava severa: autoridade corrupta flagrada com a boca na botija tinha cassada a cidadania, sem mais possibilidade de participar e atuar nas instituições estatais. Seus direitos políticos eram de todo extirpados.
Não era exceção em Atenas a utilização da pena capital quando se tratava de punir o crime de corrupção. Como sempre existem os abençoados, os ungidos pela sorte, alguns condenados eram alcançados por penas mais leves como o exílio e o desterro. Demóstenes, por exemplo, que viveu no século III a.C. tornou-se uma liderança política importante e bastante popular. Grande orador ganhou farta projeção no seu tempo. Todavia, os predicados intelectuais - tão cultuados à época - não foram suficientes para mantê-lo distante da corrupção. Pois bem, por se deixar hipnotizar pelo que acreditava ser o doce canto da sereia, por suborno, foi obrigado a pagar uma multa de 50 talentos. Essa quantia hoje equivale a, nada mais, nada menos, que US$20 milhões.
Também no império bizantino não havia contemporização: as autoridades corruptas eram execradas publicamente e a punição mais comum consistia em cegá-las. E muitas eram ainda castradas. Não bastasse, em prosseguimento aos rituais de castigos, eram submetidas a sessões de açoite, tinham todo o patrimônio confiscado e, nessas condições, eram deportadas.
O primeiro código legal da República Romana, a Lei das Doze Tábuas, era claro, direto e inflexível: os juízes que aceitassem propina receberiam pena máxima, a pena capital, a punição com a morte.
Essa rápida incursão pela história demonstra o quão difícil e complexo é combater a corrupção. Enganam-se os que imaginam tarefa simples e trivial. Mas, sem dúvidas, penas rigorosas e a certeza da punição contribuem substancialmente para debelar o problema.
No Brasil, tornou-se vala comum – sobretudo quando as crises se acentuam – recorrer à elaboração de novas normas, novas leis, clamar aos quatro ventos por reformas e novo ordenamento jurídico. Muitos parlamentares chegam a se vangloriar por quebrarem recordes de apresentação de projetos de lei. Orgulhosos, divulgam esses números como sinal de produtividade. É como uma medalha honorífica, um heróico amuleto pendurado no pescoço.
É evidente que criar leis simplesmente não resolve problema algum. Nunca foi solução e jamais será. A questão central é saber como implementá-las, como torná-las efetivas e eficazes; como fazê-las emergir das páginas mortas e empoeiradas dos compêndios para o cotidiano, a vida concreta, o dia a dia das pessoas. E nesse contexto a pergunta que não quer calar, que não sai da ordem do dia: o judiciário brasileiro funciona? Entre as duas alternativas, escolha uma: é uma instituição que pune os culpados ou um poder omisso que corrobora com o perverso clima de impunidade que grassa entre nós?
Numa democracia de verdade, os três poderes devem ser fortes e independentes. Quando algum não funciona ou funciona mal, é a nação que padece e agoniza, é o país que se torna refém de políticos populistas que se embriagam no clientelismo e no fisiologismo, os irmãos siameses da corrupção. Sim, porque a corrupção se alimenta, sobretudo, da burocracia, do excesso de fluxos, trâmites e regulamentações que descortinam caminhos para o desvio do dinheiro público; porque a corrupção se nutre de servidores mal remunerados, sempre propensos a serem comprados pelo vil metal.
No mundo desenvolvido já se consolidou um posicionamento para enfrentar este grave problema. Existe certa unanimidade quanto aos condicionantes capazes de estancar o câncer que corrói e deteriora todas as forças da pátria.
A primeira é a vontade política, uma firme e inamovível decisão de enfrentar com altivez o problema, de arregimentar forças e energias para vencer este inimigo fatal.
Tão importante quanto a vontade política é o investimento na educação, a segunda condicionante. É uma tecla já gasta, por demais batida, mas de todo imprescindível. A educação é o instrumento capaz de dotar os cidadãos do poder de identificar seus problemas, processá-los com sabedoria e solucioná-los com eficiência e eficácia. Mas aqui não pode haver contemporização com a ‘boquinha’, o ‘levar vantagem em tudo’. Desde a creche nossas crianças devem ser mergulhadas em brincadeiras e conteúdos que remetam à ética, ao senso de honestidade enquanto valor. A educação é o mais seguro abrigo para nossos sonhos e esperanças.
E finalmente, a terceira condicionante: a transparência. Os dados e informações sobre as ações, os projetos e os programas governamentais devem estar disponíveis de forma ampla, massiva e irrestrita. E agências independentes devem auditar os gastos públicos como um processo rotineiro, como parte indissociável dos fluxos operacionais.
Como se percebe, é tarefa das mais hercúleas. Combater a corrupção implica em modernizar instituições, golpear de morte a burocracia, qualificar pessoas e processos. Isto demanda recursos orçamentários e financeiros, e não de pouca monta. Ficar só no discurso, no proselitismo, no blá-blá-blá ajuda tão somente a angariar votos, mas nenhum auxílio, nenhuma contribuição trás para a solução do problema.
Houve um tempo em que os campos brasileiros - infestados por voraz praga - estavam fragilizados e a agricultura nacional ameaçada. A nação então cerrou fileiras em torno de uma palavra de ordem: ‘O Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil’.
Sabemos nos dias que correm o tipo de saúva que ameaça os sonhos, as esperanças e as oportunidades de todos os brasileiros. Não seria exagero, tomando o bordão por empréstimo, alertar: ‘O Brasil acaba com a corrupção ou a corrupção acaba com o Brasil’.
Artigo de Antônio Carlos dos Santos publicado no portal "Nota 10 - Notícias diárias de educação", do Paraná.