sexta-feira, 4 de abril de 2008

O mundo não será das Calabresis ou Uma oração para canalhas

Saturno, que engolia os próprios filhos, como no quadro de Goya -1746-1826)


Meus queridos leitores, quem suportaria de forma impassível ou indiferente às barbáries perpetradas por Silvia Calabresi et alli? Por muito tempo manteve crianças num cárcere hediondo, mas agora começa a provar do próprio veneno. No poema abaixo escrevo que o sol sempre brilhará para todos, apesar das canalhas e patifes:


Quantas Calabresis não se encontram escondidas, disfarçadas, infiltradas, dissimuladas, em nossos lares e corações?
Vês, na obra de Goya, Saturno devorando o próprio filho?
Simulas indignação, desprezo, repulsa?
Como não tivesses incrustadas nos recônditos de tu’alma as palavras de Machado:
“O cinismo é a sinceridade dos patifes”.
Extorques e acusas o outro... Cretina!
Roubas e o ladrão é o outro... Mesquinha!
Corrompes e quem é canalha senão o outro? Torpe e soturna!
Liquidas, exterminas, assassinas e eis que sentencias o outro.
Urdes, engendras e conspiras contra a pátria e o outro é o traidor.
Em que te diferes de Saturno?
Não és tu a insana canibal a acusar o outro de sê-lo?
Quantos filhos devoraste impiedosamente enquanto acusavas o outro
do infanticídio, do aborto?
Em que te diferes de Saturno, mulher?
Não és tu que corrompes de maneira vil e torpe a verdade e cultuas satanicamente
a mentira, ao tempo em que propagas ao mundo que corrupto e mentiroso é o outro?
Não cultuaste tão diligentemente a Cannabis sativa – a que apelidaras “doce marijuana” – para agora avançares sobre o outro acusando-o de viciado, peçonhento, maconheiro?
Devoras o fruto de teu ventre e acusas Saturno?
Promoves a intriga e apontas o dedo para o primeiro que vislumbras?
Ensinas a covardia e abusas da mais tenra e amada criança ¬–
e quem assediou acabou de fugir?
Humilhas, avanças, provocas, agrides, espancas, torturas, aprisionas indefesos –
e quem bate e violenta é a tropa de choque?
Te tornaste carne, sexo e prostituta de incubo de Saturno –
e ensandecidamente acusas o outro de estupro?
Tua fantasia doce, angelical, cândida e inofensiva – tecida para embair o mundo –
desmoronou... e vestes ‘coitadinha’, calças ‘sofridinha’, maquilas ‘vitimismo’.
Já não podes posar de cavaleira impoluta.
Praticas aos olhos do mundo o adultério –
e, doidivanas, acusas todos os homens de cometê-lo?
Jamais relutaste em atirar a primeira, a segunda e a terceira pedra.
Jamais renunciaste às tuas prioridades absolutas:
Tu sempre em primeiro lugar
Tu sempre em segundo lugar
Tu sempre em terceiro lugar
És Judas, o Iscariotes, e te queres Santa Joana d’Arc.
És Joaquim Silvério dos Reis, o coronel venal, e te queres Tiradentes.
És Calabar e te queres Maria Quitéria.
“Acuse-os sempre de fazer o que você faz” é teu lema, teu jargão, teu valor mais
nobre e soberano.
Não, mulher, tu não consegues mais surpreender qualquer homem de bem.
Como não recordar Nietzsche: “Todo homem vai se tornando aquilo que é”?
E Terêncio: “Sou homem. Nada do que é humano me é estranho”?
Não declares que no mundo só existem traficantes, suicidas e latrocidas
por teres reduzido teu universo a uma sórdida, nefasta e insalubre masmorra.
Não declares o fim da bondade, da humildade e do altruísmo
porque integras a súcia, a récua, a farândola, a caterva das máfias e quadrilhas dos malfeitores lobos do homem...
Lobos ferozes e insanos em pele de cordeiro.
Queres conduzir todas as batalhas – quem hoje não sabe? – para a lama fétida
onde fermenta o pior do excremento humano.
Saibas, urge que compreendas: o mundo pulsa, a vida lateja – vigorosa, voluptuosa,
graciosa – de homens e mulheres dignos, éticos, honestos.
Fervilha, em cada casa, em cada rua, em cada esquina,
uma multidão de anjos guerreiros, nobres paladinos da justiça.
Milhões e milhões de sábios valentes que diuturnamente pelejam
para resgatar o mundo de patifes, canalhas e cafajestes como tu,
que desdenham e odeiam a verdade,
que veneram e cultuam a mentira,
que idolatram e tecem loas à traição e à ignomínia.
O mundo, mulher, não duvides, foi, é, e será sempre dos bons, dos justos, dos simples!
Como não orar para que canalhas e patifes percebam que o sol não morreu
tão-somente porque o horizonte encontra-se crispado de nuvens densas
e sombriamente carregadas?
Não, mulher, para glória de Deus e dos homens,
Tu não mataste o sol.
O mundo não será das Calabresis!
O universo regozija-se, pois que dá de ombros ao jogo nauseabundo
das Calabresis!

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br