Vou-me embora pra Pasárgada.
Viver recluso numa ilha paradisíaca, na paz da zona rural, num lugar onde se possa tudo e a felicidade seja uma constante é o sonho distante de cada um.
O simples fato de desejarmos algo que se assemelhe ao céu é uma forma – bastante ferina – de criticar a vida que se tem na terra. Uma forma de dizer que, por aqui, muito há que mudar. Mas como dizer isto quando as liberdades são por demais diminutas, quando a vida e a morte dependem do humor do soberano?
Pois isto foi feito num dos períodos mais turbulentos da história da humanidade, quando o dedo do rei determinava quem deveria viver ou morrer. Como foi possível?
Quando a sociedade medieval recebeu o contra-golpe da moderna, originou-se o Renascimento.
A sociedade agrária, fundiária, estamental e teocrática sucumbiu frente a urbanização, a burguesia e o comércio.
Foram modificações vigorosas, radicais. A Europa dos idos da Idade Média gozava de uma relativa estabilidade, mas vivia fechada em si. O processo de abertura conduziu à expansão comercial e marítima.
O clã e a onipresença da propriedade rural que conformavam a identidade dos europeus perdem espaço para a identidade nacional e o individualismo.
Outra característica importante é que a cultura sagrada e transcendental, centrada em Deus vai sendo substituída por uma mais materialista, laica, referenciada no homem.
O desenvolvimento do comércio e da navegação incrementou o contato com outros povos e o afloramento e a expansão da arte, da filosofia e da política. Isto apesar da escravidão de caráter legal, da onipresença da Inquisição, da falta de unidade política, das guerras sem fim e do volume de genocídios que o velho continente impôs ao novo.
A antiga cultura greco-romana é resgatada. Com o Renascimento, a natureza e o conhecimento passam a ser vistos de um ângulo diferente. Importa agora que a vida decorra de sua experiência e de suas escolhas, e não do destino traçado nas estrelas.
Essa explosão social inflou uma literatura específica, logo denominada de utópica, cujos expoentes foram Thomas Morus com “A Utopia”, Tommaso Campanella com “A Cidade do Sol” e Francis Bacon com “Nova Atlândida”.
Recorrendo à Platão, a nova corrente do pensamento imaginou um “nenhum lugar” cuja característica era o culto ao equilíbrio, à virtude e à harmonia, o mundo ideal. Nesta ilha prevalece a monarquia absoluta com igualdade nas condições de vida e trabalho.
Este tipo de literatura se originou na Grécia com “Timeu e Crítias” de Platão e “Os pássaros” de Aristófanes. Depois vieram Luciano Samosata e outros filósofos como Jonathan Swift e Voltaire.
Em “A Utopia”, o luxo é extirpado, mas todos trabalham e tem acesso ao que supre suas necessidades. É um estado imaginário que busca a perfeição. Uma forma nada sutil de exercer a crítica política à sociedade de então.
Thomas Morus, o autor da obra, integrou o Conselho Secreto de Henrique VIII e, em 1529, chegou a ocupar o mais relevante cargo da corte. Mas suas discordâncias quanto à anulação do casamento do rei e à fundação da Igreja Anglicana , fundada por Henrique VIII, fez com que fosse preso e executado.
Reconhecendo sua obra e virtudes, em 1935, a Igreja Católica conclui processo eclesial canonizando-o.
Manuel Bandeira também fez questão de registrar este “nenhum lugar”. Utopia provém do gregoóu (não) e topos (lugar).
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Passárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
O simples fato de desejarmos algo que se assemelhe ao céu é uma forma – bastante ferina – de criticar a vida que se tem na terra. Uma forma de dizer que, por aqui, muito há que mudar. Mas como dizer isto quando as liberdades são por demais diminutas, quando a vida e a morte dependem do humor do soberano?
Pois isto foi feito num dos períodos mais turbulentos da história da humanidade, quando o dedo do rei determinava quem deveria viver ou morrer. Como foi possível?
Quando a sociedade medieval recebeu o contra-golpe da moderna, originou-se o Renascimento.
A sociedade agrária, fundiária, estamental e teocrática sucumbiu frente a urbanização, a burguesia e o comércio.
Foram modificações vigorosas, radicais. A Europa dos idos da Idade Média gozava de uma relativa estabilidade, mas vivia fechada em si. O processo de abertura conduziu à expansão comercial e marítima.
O clã e a onipresença da propriedade rural que conformavam a identidade dos europeus perdem espaço para a identidade nacional e o individualismo.
Outra característica importante é que a cultura sagrada e transcendental, centrada em Deus vai sendo substituída por uma mais materialista, laica, referenciada no homem.
O desenvolvimento do comércio e da navegação incrementou o contato com outros povos e o afloramento e a expansão da arte, da filosofia e da política. Isto apesar da escravidão de caráter legal, da onipresença da Inquisição, da falta de unidade política, das guerras sem fim e do volume de genocídios que o velho continente impôs ao novo.
A antiga cultura greco-romana é resgatada. Com o Renascimento, a natureza e o conhecimento passam a ser vistos de um ângulo diferente. Importa agora que a vida decorra de sua experiência e de suas escolhas, e não do destino traçado nas estrelas.
Essa explosão social inflou uma literatura específica, logo denominada de utópica, cujos expoentes foram Thomas Morus com “A Utopia”, Tommaso Campanella com “A Cidade do Sol” e Francis Bacon com “Nova Atlândida”.
Recorrendo à Platão, a nova corrente do pensamento imaginou um “nenhum lugar” cuja característica era o culto ao equilíbrio, à virtude e à harmonia, o mundo ideal. Nesta ilha prevalece a monarquia absoluta com igualdade nas condições de vida e trabalho.
Este tipo de literatura se originou na Grécia com “Timeu e Crítias” de Platão e “Os pássaros” de Aristófanes. Depois vieram Luciano Samosata e outros filósofos como Jonathan Swift e Voltaire.
Em “A Utopia”, o luxo é extirpado, mas todos trabalham e tem acesso ao que supre suas necessidades. É um estado imaginário que busca a perfeição. Uma forma nada sutil de exercer a crítica política à sociedade de então.
Thomas Morus, o autor da obra, integrou o Conselho Secreto de Henrique VIII e, em 1529, chegou a ocupar o mais relevante cargo da corte. Mas suas discordâncias quanto à anulação do casamento do rei e à fundação da Igreja Anglicana , fundada por Henrique VIII, fez com que fosse preso e executado.
Reconhecendo sua obra e virtudes, em 1935, a Igreja Católica conclui processo eclesial canonizando-o.
Manuel Bandeira também fez questão de registrar este “nenhum lugar”. Utopia provém do gregoóu (não) e topos (lugar).
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Passárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Antônio Carlos dos Santos – criador das
seguintes metodologias:
©Planejamento Estratégico Quasar K+;
©ThM – Theater Movement; e
©Teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.
___________________________
Clique na capa do livro para saber mais. |
Para saber mais, clique na figura |
Dramaturgo, o autor transferiu para seus contos literários toda a criatividade, intensidade e dramaticidade intrínsecas à arte teatral.
São vinte contos retratando temáticas históricas e contemporâneas que, permeando nosso imaginário e dia a dia, impactam a alma humana em sua inesgotável aspiração por guarida, conforto e respostas.
Os contos:
1. Tiradentes, o mazombo
2. Nossa Senhora e seu dia de cão
3. Sobre o olhar angelical – o dia em que Fidel fuzilou Guevara
4. O lugar de coração partido
5. O santo sudário
6. Quando o homem engole a lua
7. Anos de intensa dor e martírio
8. Toshiko Shinai, a bela samurai nos quilombos do cerrado brasileiro
9. O desterro, a conquista
10. Como se repudia o asco
11. O ladrão de sonhos alheios
12. A máquina de moer carne
13. O santuário dos skinheads
14. A sorte lançada
15. O mensageiro do diabo
16. Michelle ou a Bomba F
17. A dor que nem os espíritos suportam
18. O estupro
19. A hora
20. As camas de cimento nu
São vinte contos retratando temáticas históricas e contemporâneas que, permeando nosso imaginário e dia a dia, impactam a alma humana em sua inesgotável aspiração por guarida, conforto e respostas.
Os contos:
1. Tiradentes, o mazombo
2. Nossa Senhora e seu dia de cão
3. Sobre o olhar angelical – o dia em que Fidel fuzilou Guevara
4. O lugar de coração partido
5. O santo sudário
6. Quando o homem engole a lua
7. Anos de intensa dor e martírio
8. Toshiko Shinai, a bela samurai nos quilombos do cerrado brasileiro
9. O desterro, a conquista
10. Como se repudia o asco
11. O ladrão de sonhos alheios
12. A máquina de moer carne
13. O santuário dos skinheads
14. A sorte lançada
15. O mensageiro do diabo
16. Michelle ou a Bomba F
17. A dor que nem os espíritos suportam
18. O estupro
19. A hora
20. As camas de cimento nu
___________
Para saber mais, clique na capa do livro |
________________
AS OBRAS DO AUTOR QUE O LEITOR ENCONTRA NAS LIVRARIAS amazon.com.br:
A – LIVROS INFANTO-JUVENIS:
I – Coleção Educação, Teatro e Folclore (peças teatrais infanto-juvenis):
II – Coleção Infantil (peças teatrais infanto-juvenis):
Livro 8. Como é bom ser diferente
III – Coleção Educação, Teatro e Democracia (peças teatrais infanto-juvenis):
IV – Coleção Educação, Teatro e História (peças teatrais juvenis):
V – Coleção Teatro Greco-romano (peças teatrais infanto-juvenis):
B - TEORIA TEATRAL, DRAMATURGIA E OUTROS
VI – ThM-Theater Movement: