quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Quilombo dos Palmares: Ganga-Zumba, o precursor.



Estamos já no mês de novembro, o mês em que ocorreu o assassinato de Zumbi dos Palmares. A grande emboscada ocorreu no dia 20 de novembro de 1.695, data oficializada como o Dia Nacional da Consciência Negra. Este mês publicarei neste espaço alguns artigos que discorrem sobre o herói nacional e o Quilombo dos Palmares, esta grande experiência libertária da gente brasileira. Logo abaixo segue o primeiro: Ganga-Zumba, o precursor.

Ganga-Zumba, o precursor.

O negro Ganga Zumba foi o primeiro grande líder, o primeiro rei do Quilombo dos Palmares. Mantinha um grau de parentesco com Zumbi - era tio do imortal guerreiro.

No ano de 1677, o governo colonial enviou para aniquilar o novo Quilombo a expedição portuguesa de Fernão Carrilho. A batalha foi dura e cruel. As tropas da coroa portuguesa feriram Ganga Zumba, e aprisionaram dois de seus – Zambi e Acaiene – além de dezenas de outros guerreiros negros. Mas o rei negro conseguiu escapar.

No ano seguinte, o governador da província, Pedro de Almeida tentou promover entendimentos apresentando a primeira proposta de paz aos quilombolas. Planejava com isso quebrar a unidade de Palmares. Como moeda de troca, o governador oferecia paz, tratamento condigno e terras, além de firmar compromisso de que devolveria com vida as mulheres e filhos de negros que tinha aprisionado.

Para negociar, Ganga Zumba enviou ao governador uma comitiva de 15 guerreiros tendo à frente seus três filhos.

A contra-proposta dos negros contemplava pontos fundamentais para a preservação do movimento. Solicitavam:

• liberdade para os nascidos em Palmares;
• permissão para estabelecer ''comércio e trato'' com os moradores da região e
• um lugar onde pudessem viver ''sujeitos às disposições'' da autoridade da capitania.


Comprometiam-se ainda a entregar os escravos que doravante fugissem para Palmares.

Fechado o acordo, em novembro de 1678, Ganga-Zumba em Recife assina o protocolo selando a paz. Estabelecem-se então em Cucaú, localizada a 32 km de Serinhaém.

Mas boa parte dos quilombolas manifesta-se contrária ao acordo por considerá-lo mais uma rendição, uma capitulação disfarçada. E liderados por Zumbi, palmarinos inconformados decidem ignorar Ganga Zumba e continuar em Palmares.

A situação em Cucaú torna-se insustentável. Os seguidores de Ganga vivem sob severa vigilância da autoridade portuguesa e são diuturnamente hostilizados pelos moradores das vilas e povoados próximos.

Não demora e Ganga Zumba percebe que caiu num grande engodo e que todo o seu esforço resultou infrutífero. Termina seus dias morrendo envenenado por um partidário de Zumbi.

Com a morte de Ganga – ocorrida em 1680 – o governador passa a assediar Zumbi, tentando firmar novo acordo. Mas Zumbi segue organizando o Quilombo e ignorando as tentativas da coroa.

Já na gestão do governo de João de Souza uma nova proposta – composta de 17 artigos - é elaborada. Um dos artigos assegurava que “... seriam considerados livres todos os negros e mulatos (...) que tivessem respeitado o acordo de 1678 e que não tinham se rebelado depois disso...''. Mas esta proposta jamais chegou às mãos de Zumbi.

Estava se consolidando o Quilombo que levaria o movimento libertário ao seu mais alto nível de organização. Palmares resistiu durante um período que se estende de 1.600 ao ano de 1694. São quase cem anos - praticamente um século - de lutas homéricas e heróicas. Estruturam algumas das mais densas e nobres páginas da história de constituição da nacionalidade brasileira.

Zumbi foi um bravo, um valente, um destemido. É um grande herói brasileiro. Representa todos os que tombaram em Palmares e os que tem dedicado a vida à construção de um Brasil melhor e mais justo para todos. Em sua homenagem tudo o que se fizer será pouco.

Antônio Carlos dos Santos é o criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.



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