terça-feira, 22 de novembro de 2016

De onde vêm as palavras: Macaco velho não mete a mão em cumbuca


A impunidade vinha sendo de tal ordem que macacos, velhos ou novos, metiam a mão na cumbuca.

Os bichos frequentam a nossa conversa mais do que imaginamos. Mesmo que um dos presos estivesse bêbado como um gambá, quando celebrava em Paris a cachorrada que fizera com a riqueza do Rio, os brasileiros estão cansados de engolir sapos.

Mas procuradores, promotores de justiça e investigadores não são burros, e juízes não são antas. Muitos dos corruptos e corruptores já engaiolados são cobras que perderam o veneno, mas há outros ainda soltos, para os quais a vaca não foi pro brejo.

Delações premiadas já deram nomes aos bois. Os colaboradores confidenciaram que nem todos os presos são bois de piranha e lamentam ter navegado em rios cheios destes teleósteos de dentes afiados. Avisaram que são tão ameaçadores e vorazes que onde eles atuam até experientes jacarés nadam de costas.

Todavia os investigadores sabem que meliante político é mais liso do que peixe ensaboado. E acusar o outro pode ser apenas uma forma de salvar a própria pele. Afinal, todos sabem que muitas vezes o periquito leva a fama, mas quem come o milho é o papagaio .

O costume de macacos meterem a mão na cumbuca foi registrado pela primeira vez no Diálogo das Grandezas do Brasil, livro atribuído durante muito tempo a Bento Teixeira. Mas era prosopopeia.

Capistrano de Abreu descobriu o verdadeiro autor: Ambrósio Fernandes Brandão, judeu convertido à força pela Inquisição e pelo Santo Ofício. Tornado cristão-novo, ele se estabeleceu como senhor de engenho na Paraíba ainda no século XVI.

A semana trouxe políticos graúdos para o zoológico das prisões. Foram presos dois ex-governadores. O juiz Sérgio Moro, que mandou prender Sérgio Cabral Filho, resumiu a ópera: “governadores ricos, povo pobre”.

O outro juiz, Glaucenir Silva de Oliveira, que mandou prender Garotinho, esclareceu: “toda vez que o réu tem seus interesses contrariados pela Justiça, ocupa-se de tentar denegrir a imagem de magistrados”.

Aproxima-se a hora da onça beber água. Os juízes não estão comendo mosca e daqui a pouco será posto o guizo no pescoço de outros gatos.

Deonísio da Silva, no blog de Augusto Nunes

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O direito e a corrupção na obra de Shakespeare, aqui.
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