terça-feira, 24 de novembro de 2015

Em São Paulo, Tarantino fala de Os 8 Odiados e critica Spike Lee


Foto: Divulgação
Quentin Tarantino falou sobre Os 8 Odiados, oitavo filme de sua carreira, durante entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (23), no Grand Hyatt, zona sul de São Paulo. O cineasta de Kill BillPulp Fiction e Django Livre veio à capital paulista ao lado do ator Tim Roth, seu parceiro de longa data nas telonas. Entre elogios ao elenco, o diretor confirmou que esse é seu antepenúltimo filme, disse que jamais trabalharia com Spike Leee revelou ainda que gostaria de dirigir Johnny Depp e Kate Winslet.
“Os oito odiados é meu oitavo filme. O próximo será o nono e o seguinte será o último. Vejo de forma mitológica a mim e à minha carreira”, disse Tarantino, que pretende se dedicar apenas ao trabalho como produtor.
Questionado se algum dia trabalharia com Spike Lee, afinal tem tratado de questões sobre racismo, Tarantino foi curto e grosso: “Nunca!”. Ao voltar à questão no fim do evento, após interrupção de outra jornalista, ele foi mais claro: “Tenho mais dois filmes para dirigir e não vou gastar um deles com esse filho da p***. Ele ficaria muito feliz no dia em que eu aceitasse trabalhar com ele. Mas isso não vai acontecer.”, respondeu, reacendendo uma rixa que remonta ao início dos anos 1990.
Os oito Odiados
Assistimos ao filme em sessão para a imprensa na manhã desta segunda, mas não podemos comentar nada a respeito até o dia 21 de dezembro. A preocupação era tanta, que celulares foram confiscados e todos os presentes foram revistados por seguranças munidos de detectores de metal. Por isso mesmo, Tarantino não falou muito sobre a trama, apenas explicou que um dos coadjuvantes, um cocheiro chamado O.B., é o único personagem que pode ser considerado “bom”, “os outros facilmente seriam vilões em outros filmes”, diz o diretor.
“Não existe um herói claro, afinal essa era uma das coisas que eu queria explorar. Não tem um mocinho nem alguém com senso de moral com quem o público pudesse se identificar facilmente. Eu gostava muito dos faroestes dos anos 60 na TV, cujos episódios sempre mostravam convidados especiais com passados obscuros e era impossível saber quem era quem até o final. Todos os personagens em Oito Odiados são questionáveis”, revela o cineasta.
O diretor ainda se mostrou muito animado com a parceria com Ennio Morricone, compositor que Tarantino admitiu ser seu favorito. “Nunca trabalhei com uma trilha original feita para um filme meu e é uma honra a primeira vez ser com Morricone, afinal, ele é o melhor. Diversas vezes falamos de trabalhar juntos, mas nunca deu certo e dessa vez parecia que não daria certo também, mas, no final, ele se empolgou com o roteiro, começou a sugerir músicas e depois decidiu fazer tudo.”, conta.
Tarantino disse ainda que não precisou dar direções ao mestre das músicas de clássicos do faroeste. “Conversamos, mas não precisei dar sugestões, ele apenas leu o roteiro e me entregou a trilha pronta a partir da história como um todo. Depois, assim como nos meus outros filmes, peguei aquela trilha completa e usei-a no filme conforme achei relevante”, explica.
Já Tim Roth aproveitou para comparar seu personagem Mr. Orange, de Cães de Aluguel, a Oswaldo Mobray. “Adoro meu personagem em Os Oito Odiados, mas também adoro Mr. Orange, a diferença é que em Cães de Aluguel eu era um ator britânico, fingindo ser um ator americano, fingindo ser um policial que fingia ser um ladrão e isso ferrou com minha cabeça. Mas em Oito Odiados, os diálogos são muito mais teatrais e profundos, então a experiência é muito diferente, apesar dos dois esconderem algo”, disse.
Carreira
Falando de seu primeiro filme, Tarantino relembrou sua primeira passagem pelo Brasil, em 1992, quando veio exibir Cães De Aluguel na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. “Aquele foi um ano muito importante para a minha carreira, porque fui a países em três continentes. As pessoas que não me conheciam viram o filme, gostaram e passaram a me conhecer. Quando a Miramax comprou os direitos de Pulp fiction, todo mundo nesses países já me conhecia e quis comprar o filme. Meus trabalhos costumam ter bons resultados nos Estados Unidos, mas vão um pouco melhor fora do país. Digo que não faço filmes para o público americano, faço filmes para o mundo”, afirmou.
O diretor afirmou que continuará voltado para o lado artístico de sua obra. “Tenho sorte de poder trabalhar pela arte. Não faço filmes para pagar as contas, não tenho família para sustentar ou uma segunda casa para pagar. Faço por prazer artístico, o resto é secundário. Quero manter o alto nível de expectativa para os meus filmes. Por isso, preciso parar eventualmente e no décimo parece um bom número”.
Ainda deu a entender que um dos próximos dois filmes antes da aposentadoria pode ser outro faroeste. “Voltei a fazer faroeste depois de entender como tratar o gênero em Django Livre e quis retornar a esse estilo que amo sabendo o que estava fazendo desde o início. Acho interessante mostrar a história com negros, afinal eles sempre foram ignorados no passado. Apesar disso, não posso me considerar um diretor de faroeste até fazer o terceiro western”, afirma, insinuando que veremos outro em sua filmografia.
Tarantino ainda comparou Os Oito Odiados ao filme  A Coisa, de John Carpenter, pela situação dos personagens, mas fez questão de frisar a importância que dá para os diálogos de suas obras. “Desde Kill Bill me preocupo mais com os diálogos, quero criar algo mais poético, teatral, sempre sendo cuidadoso com as palavras. Até por isso, não é fácil um ator encarar meu texto, é preciso falar de certa maneira e ter senso de humor. Preciso achar atores capazes disso quando vou escalar o elenco, por isso gosto de trabalhar com quem conheço”, explica o diretor, que ainda elogia Jennifer Jason Leigh, que vive Daisy Domergue.
Em seguida, o diretor revelou que ainda gostaria de trabalhar com Johnny Depp e Kate Winslet. “Depp seria interessante, mas precisaria ter o personagem correto. E Kate é uma grande atriz, acho que interpretaria muito bem os meus diálogos”, afirma.
Os Oito Odiados estreia no Brasil em 7 de janeiro de 2016, um dia antes do lançamento oficial nos Estados Unidos. Segundo Marcos Oliveira, diretor da distribuidora Diamond, serão lançadas 450 cópias nos cinemas nacionais, mas apenas no formato scope, afinal a esperada versão 70 milímetros não chegará às salas brasileiras em razão de limitações técnicas.


Assista ao trailer:
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