quarta-feira, 16 de abril de 2008

Um país sem jovens e crianças

O Brasil é um país em tudo singular. A começar pelos indicadores sociais, principalmente os relativos à educação e à violência.

No setor educacional o governo federal prioriza o programa Universidade para Todos, quando deveria priorizar algo como Ensino Fundamental e Médio/profissionalizante para Todos.

Nossos estudantes, após passarem dez anos freqüentando a escola regular, não conseguem adquirir a habilidade da compreensão do idioma e da interpretação de texto. No campo do raciocínio lógico, mal dominam as operações básicas da aritmética.

Na área da violência, é como se vivêssemos uma perversa ficção maquiavélica, de quinta categoria. Apesar de, oficialmente, não experimentarmos uma guerra civil, na realidade o país está completamente imerso em uma. No trânsito, por ano, ocorrem no Brasil mais mortes do que durante toda a guerra do Vietnã. Quem não se lembra de todo o poderio destrutivo da maior potência bélica do planeta, com os B-52, os Phanton e as bombas de Napalm? Pois a leniência, a corrupção, a incompetência das autoridades governamentais brasileiras na área dos transportes, tem substituído com maior eficiência a tecnologia das armas de guerra norte americana.

Escandalizamos-nos quando a mídia televisiva registra, ao vivo e a cores, a violência da guerra entre palestinos e judeus, no Oriente Médio. Mas por aqui, as mortes violentas são em número muito maior. E incidem sobre o que temos de mais nobre, as crianças e a juventude.

Um outro dado de extrema gravidade assombra nossos sonhos por um país justo e desenvolvido.

Pouco tempo atrás um conjunto de organizações de defesa dos direitos humanos divulgou relatório revelando que algo em torno de cinco mil crianças estão sob o controle do crime organizado, só no Estado do Rio de Janeiro. O relatório alerta ainda que as ações dos governos estaduais objetivando combater os progressivos indicadores de criminalidade têm elevado ainda mais os números – já aviltantes – de violações dos direitos humanos.

Nossas crianças e nossos jovens – que deveriam ser blindados e protegidos - são hoje as principais vítimas desse brasil hediondo, que se deve escrever mesmo com letra minúscula. Os governos que deveriam atuar no sentido de assegurar educação e formação para que, amanhã, esses extratos da população pudessem dar continuidade à construção de uma nação progressista, agem solapando e fragilizando as bases, os alicerces e tudo o que guarde semelhança à idéia de estruturação e edificação.

Em alguns países da África, a AID’s e os intermináveis conflitos tribais, têm gerado nações de jovens e crianças, sendo cada vez menor o número de velhos e adultos.

Por aqui, abaixo da linha do equador, um projeto de país tem sido sistematicamente destruído. A situação no Brasil está a indicar que, neste rincão, o que se constrói não mais é um lugar onde os jovens e as crianças tenham seus sonhos e esperanças extirpados no dia a dia da violência explícita. Agora já não se trata de destruir sonhos e esperanças. A fase agora, parece ser um esforço concentrado para eliminar nossos jovens, para eliminar nossas crianças.

Num contexto de guerra explícita como este que o Brasil vem experimentado, uma batalha específica está sendo travada no interior das escolas. Valores como solidariedade, amizade, colaboração e amor são substituídos por outros que remetem à violência mais brutal e abjeta. Professores ‘esquecem’ pequenas crianças trancadas no interior das creches, armam estratagemas hediondos contra os próprios colegas de profissão; estudantes organizam-se em gangues dispostos a humilhar e matar, alunos comparecem às aulas portando facas, canivetes, soco inglês e armas de fogo... enquanto as autoridades envolvem-se em corrupção e mais corrupção.

É este o país que deixaremos para nossos filhos e netos? A sociedade precisa se mobilizar, perceber que os anéis já se foram há muito tempo e que agora são os dedos que estão sendo roubados. E mais - ou se indigna, rompe este ciclo hediondo de violência explícita e resgata os valores da ética e da cidadania – ou estaremos fadados a ocupar no amanhã, o exato espaço hoje destinado ao Haiti.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br