quinta-feira, 9 de junho de 2022

Guiné-Bissau: "Basta de concursos de emprego em francês num país lusófono"


A juventude guineense diz-se "discriminada" no próprio país por falar português e crioulo. Francófonos e anglófonos estão a impor-se no mercado de trabalho. Especialista justifica complexidade linguística do país.

 

Os jovens guineenses querem um amplo debate nacional sobre o uso das línguas estrangeiras como ferramenta indispensável para conseguir um emprego nas instituições privadas e em muitas organizações não-governamentais que operam no país.

A juventude sente-se "discriminada" por estudar em português, quando as empresas só admitem quem fala francês ou inglês, num país lusófono, e cuja língua de trabalho é português e crioulo.

"Basta de concurso público em francês e inglês. Se o português já não serve, então que seja retirado como a língua oficial da Guiné-Bissau", é o slogan da campanha lançada por um grupo de jovens académicos guineenses.

Um dos mentores da iniciativa, Amiel Monteiro de Carvalho, disse à DW que quem fala apenas o português é penalizado nas instituições do país.

"Sofremos discriminação", atirou o jovem que fez o seu curso superior no Senegal e trabalha num dos bancos privados da capital guineense.

Português é barrado

A Guiné-Bissau, segundo Monteiro de Carvalho, por ser um país lusófono, integrante das organizações sub-regionais da África Ocidental, não significa que deixou de ter a sua própria língua oficial. "E as empresas vindas destes países não podem impor a língua estrangeira na Guiné-Bissau".

A primeira barreira para o recém-formado guineense, que procura emprego no país, é ter que fazer entrevistas de trabalho em inglês ou francês.

"Mesmo sendo um quadro competente para a vaga, acaba por ser eliminado", explica Amiel Monteiro que considera "injusto" que essas empresas recorram à mão de obra de fora para preencher as vagas de trabalho.

"Atualmente estamos a sofrer com esta situação na Guiné-Bissau, porque estão a importar técnicos de outros países que falem inglês e francês, ao passo que os nativos que não conseguem, são excluídos" lamenta.

Sistemas das empresas não estão em português

Contactas pela DW, as empresas não estão disponíveis a gravar entrevistas. Mas uma fonte revela que quem fala o português e as duas outras línguas tem mais vantagem porque o sistema operativo destas instituições estão ou em francês ou inglês. Comunicam-se com outas representações e a "sede mãe" nestas duas línguas.

Mas, na Guiné-Bissau, o inglês e francês são línguas opcionais tanto no liceu, como nas universidades, e as duas línguas não são faladas nas instituições, nem nas ruas do país.

"O mais caricato é que, depois de passar à entrevista em francês ou em inglês, a língua de trabalho com o público é o crioulo ou o português", revela Amiel Monteiro de Carvalho.

O país, plurilingue e multicultural, tem cerca de 33 grupos étnicos com as suas respetivas línguas. Mas a língua crioula, principal meio de comunicação entre os povos, é falada por cerca 90,4% da população, segundo o último censo divulgado em 2009. 27,1% fala português.

Situação é "complexa"

Estes dados colocam o país numa situação complexa, analisa o professor do ensino secundário guineense, Sumaila Jaló.

"O problema tem a ver com a complexa questão linguística do próprio país, que oficialmente tem o português apenas como a língua de trabalho, do funcionamento da administração pública, mas a língua nacional é o crioulo", realça Jaló.

A falta de uma política nacional que balize as regras linguísticas na Guiné-Bissau, por parte do Estado, é outro problema que deve ser debatido com profundidade pelos guineenses, diz Sumaila Jaló que ainda descobre um outro problema que a língua portuguesa tem no sistema educativo guineense.

"É uma língua que é ensinada como se fosse língua materna, língua do dia-a-dia, quando não é. É uma língua estrangeira e deve ser essa metodologia que deve ser usada para o ensino do português", defende.

A Guiné-Bissau é um país lusófono que faz fronteiras com o Senegal e a Guiné-Conacri, dois países francófonos, e com a Gâmbia, que é anglófono. Integra a União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) uma organização regional onde ainda estão o Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal e Togo. O país é ainda membro da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Braima Darame, DW



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