sábado, 28 de agosto de 2021

Quinta geração de oportunidades

 


Prevista para 2022, rede 5G de internet móvel promete mudar a forma como vemos e interagimos com o mundo. Entenda o que vem por aí e conheça as novidades


Imagine uma cirurgia em que o médico opera a distância, apenas como um holograma na sala, enquanto um robô controlado por ele executa os movimentos. Ou que você consiga sentir o cheiro de pólvora exalar do monitor durante uma partida do seu game de ação preferido. Considere ainda a possibilidade de percorrer os 2 mil quilômetros entre São Paulo e Salvador em um veículo autônomo sem tocar as mãos no volante. Tudo isso soa como fantasia ao estilo de filmes como Star Wars e Minority Report, mas pode se tornar realidade em alguns anos com a chegada da quinta geração da rede de internet móvel - mais conhecida como 5G.

Até lá, porém, o Brasil precisará superar deficiências na infraestrutura de telecomunicações e agilizar o ambiente de negócios para turbinar investimentos. O primeiro passo esperado pelo mercado é a realização do leilão das frequências do 5G, previsto para ocorrer até o fim do ano. Tudo caminha para o prazo ser cumprido e a tecnologia ser instalada em algumas capitais até o primeiro semestre de 2022. Só falta o governo federal superar a celeuma diplomática em que se meteu na hora de avaliar os modelos tecnológicos americano, chinês e europeu. O pano de fundo foi a cisma de que Pequim poderia espionar o Brasil, como se as teles nacionais não tivessem capacidade técnica de se proteger. A tese já teria sido deixada de lado pelo Ministério das Comunicações, conforme especialistas ouvidos pela PODER.

O Brasil está pelo menos dois anos atrasado na implementação. Países europeus, asiáticos e os Estados Unidos já deram passos consistentes na consolidação da tecnologia. Há cerca de 300 milhões de chineses usando 5G em seus celulares neste momento. Por aqui, perdeu-se tempo devaneando sobre a possibilidade de espionagem por uma companhia chinesa, aventada pelo governo dos EUA, concorrente direta de empresas americanas e europeias na oferta da infraestrutura necessária para implantar a rede de quinta geração. “É muita teoria da conspiração achar que um país vai dominar o mundo”, afirma o coordenador do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da FGV-SP, Alberto Luiz Albertin. Em um mundo cada vez mais tecnológico, as teles dominam sistemas de firewall (segurança) para debelar ataques hackers. “Esse assunto [espionagem] já foi superado”, observa Márcio Kanamaru, sócio-líder de tecnologia, mídia e telecomunicações da KPMG. “Não existe qualquer restrição para o provedor de tecnologia X ou Y”, afirma.

Arquitetura tecnológica

Outro debate superado foi da definição do modelo básico de arquitetura tecnológica a ser adotado pelo país. Ficou estabelecido o modelo standalone, que elimina qualquer possibilidade de as operadoras utilizarem partes do 4G para compor a estrutura da rede 5G. Isso significa que empresas fortes atualmente na oferta de internet terão de mudar completamente suas estruturas e que novos competidores possam surgir. “O 5G é uma tecnologia disruptiva. Não é uma tecnologia de continuidade, como foi do 3G para o 4G. Estamos falando da economia das máquinas, da indústria 4.0, de modelos de negócios totalmente conectados, de altíssima velocidade, de carros autônomos, de saúde com holografia. Quase todos os segmentos serão impactados por essa economia”, resume Kanamaru.

A quinta geração pode injetar US$ 1,2 trilhão em investimentos na economia brasileira até 2035, incluindo a instalação da rede e inovações em diversas áreas. O montante corresponde a algo em torno de 85% do produto interno bruto (PIB) do país no ano passado, quando a economia movimentou R$ 7,4 trilhões (cerca de US$ 1,4 trilhão). A estimativa consta em um estudo elaborado pela Nokia e a consultoria Omdia. Segundo o CEO da Nokia no Brasil, Ailton Santos, se levado em conta o aumento de produtividade com a economia digital, estamos falando de US$ 3,08 trilhões.

Davis e Golias

As teles terão de competir com novos entrantes no mercado. É este o direcionamento esperado no edital do leilão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que está sob avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU). “O importante é garantir que todos os pontos sejam ajustados entre as entidades (TCU, Anatel e Ministério das Comunicações) e que o leilão não tenha viés arrecadatório, mas foco em transformar o Brasil em um país ainda mais digital”, opina o vice-presidente B2B da Vivo, Alex Salgado (leia entrevista ao lado).

Após aprovação do TCU, a Anatel irá colocar em licitação na primeira rodada de disputa quatro blocos nacionais de rede nas seguintes faixas de frequência: 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz. Cada faixa exigirá um compromisso de investimento. Calcula-se em cerca de RS 44 milhões a arrecadação no certame pela agência reguladora.

A disputa da Anatel promete acirrar a briga entre Claro, TIM e Vivo. A Oi desistiu ao vender sua operação móvel para as concorrentes. O mercado espera novos players disputando as frequências em leilão, incluindo pequenas operadoras de internet atuantes em áreas onde as grandes não estão. Operadoras que atendem no interior do país e em cidades menores próximas a centros urbanos são denominadas ISP (Internet Service Provider). Elas tendem a se beneficiar comprando fragmentos de frequência ou mesmo alugando partes da rede de companhias maiores. “Existem players interessados em comprar lote nacional [de rede 5G no leilão] para fragmentar para as ISP terem alguma fração para operar na sua região”, indica Kanamaru, que assessora empresas do setor.

Segundo a Anatel, pequenas operadoras representam 41% dos acessos à banda larga no país e 65,8% em cidades com menos de 20 mil habitantes - existem pelo menos 32 milhões de brasileiros vivendo em cidades desse tamanho, de acordo com o IBGE. As ISP operam também em capitais e cidades médias pouco valorizadas pelas grandes operadoras. O movimento fez surgir empresas com capilaridade e porte expressivos e elas começam a chegar à bolsa de valores em busca de recursos para ampliar sua rede. Julho foi o mês das ISP na B3. Três empresas realizaram ofertas públicas iniciais de ações (IPO), movimentando R$ 2,96 bilhões. A cearense Brisanet gerou R$ 1,43 bilhão, a catarinense Unifique R$ 818 milhões e a Desktop, paulista de Sumaré, levantou R$ 715,2 milhões na bolsa.

Ultravelocidade x fosso digital

Existe uma palavra que define a quinta geração: ultravelocidade. O 4G atual oferece a velocidade limite de 1 Gigabits por segundo (Gbps) para download, ao passo que no 5G serão 20 Gpbs. Ou seja, apenas alguns segundos para baixar um filme. Não haverá tempo nem de fazer a pipoca e pegar o refrigerante na cozinha antes de dar play. O mais importante: o aumento de velocidade tende a gerar uma redução no consumo de energia que pode chegar a 90%.

A alta velocidade irá transformar o mundo como vemos hoje e será atingida com a redução do tempo de resposta entre as torres de telecomunicações, que deverão estar mais próximas para reduzir a latência (perda de sinal). Tal perda de velocidade no 4G varia, em média, de 35 a 52 milissegundos. Essa latência no 5G deve cair para 2 milissegundos.

Porém, para oferecer uma quinta geração efetivamente real o país precisa superar problemas de infraestrutura evidenciados pela pandemia. Falhas como quedas de sinal, dificuldade de conexão e oferta de rede com velocidade mínima para assistir aulas on-line fazem parte da vida dos brasileiros. As falhas se devem, principalmente, pela baixa oferta de antenas distribuindo sinal de internet. De acordo com a Anatel, o Brasil soma 103.303 antenas em operação atualmente.

A KPMG calcula que serão necessárias dez vezes mais. O país precisará, portanto, de mais 1,3 milhão de novas antenas para tornar o 5G palpável. Isso gera o desafio logístico em um país continental e, principalmente, estratégico se o Brasil quiser dinamizar a economia. “Não adianta o carro autônomo se não houver antenas com as quais ele possa ‘conversar’ para o funcionamento ser eficiente”, observa Albertin. 

PAPO DE ESPECIALISTA com Alex Salgado, vice-presidente B2B da Vivo

PODER: O que mudará com o 5G? A tecnologia 5G é fundamental para a digitalização do Brasil e com o potencial de mudar significativamente a forma como vivemos e como as empresas fazem negócios. De forma geral, espera-se que traga benefícios em três campos principais: internet móvel de alta qualidade, que possibilita experiências mais imersivas incentivando uma nova geração de aplicações e soluções cada vez mais envolventes - unindo o mundo virtual e o real; comunicações de missão crítica, que demandam uma conexão ultraestável, ultraconfiável e de baixa latência como, por exemplo, o controle remoto de infraestruturas em fábricas, carros autônomos e robôs industriais; e a Internet das Coisas (loT), que possibilita a conexão massiva de sensores, com novas aplicações digitais para um grande número de indústrias.

PODER: O que representa em possibilidades de negócios? No contexto industrial, as redes 5G terão papel preponderante devido a sua grande capacidade e confiabilidade para suportar e se adaptar a um universo de aplicações e requerimentos necessários à sua execução. Essas redes suportarão aplicações de missão crítica em ambientes extremamente agressivos onde a qualidade dos serviços, bem como sua disponibilidade, são essenciais para operações em linhas de montagem, chão de fábrica ou no campo, nas quais a produção não pode parar. Temos alguns casos com uso experimental das redes 5G em diversos setores. Anunciamos uma parceria com São Martinho e Ericsson, com foco na conectividade e desenvolvimento de novas aplicações para a agroindústria; conectamos a primeira agência bancária com redes 5G, em parceria com o Itaú; criamos um centro de soluções 5G, em parceria com a FEI, com foco na pesquisa e desenvolvimento de soluções e aplicações na indústria 4.0; além dos nossos projetos de redes privativas LTE on-shore e off-shore, com grandes empresas, como Vale e Petrobras, cuja infraestrutura estão preparadas para migração ao 5G.

Nivaldo Souza, Revista Poder    


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