quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Quanto vale a Ciência no Brasil?


Enquanto pautas se voltam para o Fundo Eleitoral, Ciência tem ficado de fora do orçamento.

 

'Viva a Ciência' virou o jargão da pandemia na defesa da vacina contra o covid-19. Contudo, os recursos públicos federais necessários para o avanço de pesquisa e desenvolvimento em inovação no país (P&D) têm sido contingenciados para realização de meta de déficit primário faz vários anos.

Importância do FNDCT para P&D. O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), criado em 1969, é o principal instrumento público de financiamento de ciência, tecnologia e inovação do país e beneficiou 11 mil projetos, entre 2004 e 2019, entre universidades, institutos de pesquisa e empresas públicos e privados, como Embrapa e Embraer!. A partir de 1998, com as leis de criação de Fundos Setoriais?, o ENDCT cresceu e atingiu, em 2015 seu maior desembolso: R$3, 7 bilhões.

Porém, a partir daí, sofre com Sucessivos contingenciamentos de recursos. Por exemplo, em 2016, o Fundo dispôs de apenas 63% (R$ 1, 6 bilhão) dos recursos arrecadados e, em 2021, 9%(R$0, 5 bilhão).

O Projeto de Lei Complementar (PLP) 135, de 22 de abril de 2020, do Senador Izalci Lucas (PSDB/DF), buscava evitar que tais recursos fossem contingenciados ou utilizados, em desvio de função de finalidade, para amortizar a dívida pública. Aprovado pelos Senadores, o PLP foi para a Câmara dos Deputados, que referendou a matéria e também lá aprovado, na última sessão do ano, em 17 de dezembro de 2020. Ao ser encaminhado para sanção, o presidente da República vetou o artigo 11, $ 3º, da Lei Complementar 177, de 12 de janeiro de 2021, que 'veda a alocação orçamentária dos valores provenientes de fontes vinculadas ao FNDCT em reservas de contingência de natureza primária ou financeira'.

Embora o Congresso tenha derrubado esse veto, devido aos prazos de aprovação e publicação, o dispositivo não constou do projeto de lei orçamentária anual (PLOA) para 2021 aprovado pelo mesmo Congresso.

Ao sancionar a lei orçamentária federal para 2021, 0 Presidente Jair Bolsonaro contingenciou 90% do FNDCT. Dos R$5, 5 bilhões disponíveis para projetos não reembolsáveis, em 2021, R$5, 1 bilhões foram limitados pelo governo. A Emenda Constitucional (EC) 109, de 15 de março de 2021, permite o uso das disponibilidades de fundos públicos, como o ENDCT, em outras finalidades. O Partido dos Trabalhadores (PT) ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6884, com pedido de medida liminar, contra a alocação de mais de 90% dos valores destinados ao FNDCT como reserva de contingência, o que na prática equivale ao controle, por parte do governo, do uso do contingenciamento dos recursos.

Em 11 de junho, o presidente Jair Bolsonaro descontingenciou R$ 415 milhões do ENDCT, para custear testes clínicos de vacinas nacionais contra covid-19, nas Fases 1 a 3e R$ 1, 88 bilhão, para o financiamento de projetos de desenvolvimento tecnológico de empresas. A liberação foi para a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que já está com R$ 6, 8 bilhões em caixa. Ademais, a taxa de juros cobrada pela Finep é maior do que a de linhas de crédito similares em outras instituições e inviabiliza o fomento à inovação.

O Tribunal de Contas da União (TCU) instaurou, em 17 de junho, investigação sobre o bloqueio ilegal de verbas do FNDCT, após reportagens sobre o tema. Também neste dia, o Conselho Diretor do FNDCT aprovou, em sua primeira reunião em 2021, a recomendação deliberação imediata dos recursos disponíveis para o fundo em 2021, em contraponto às decisões do conselho gestor pertinente.

'Que as leis aprovadas pelo Congresso Nacional sejam cumpridas', disse Ildeu de Castro, Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso e a Ciência (SBPC). O 'Manifesto de liberação dos recursos do FNDCT', de 8 de julho, contou com apoio de 61 organizações da academia brasileira. O 'Comunicado do FENDCT ministro Marcos Pontes', de 22 de julho, afirma seu compromisso com a utilização dos recursos do Fundo para financiamento de pesquisa no país.

O que resta para a Ciência é aguardar a liberação dos recursos, mediante ações como um projeto de decreto legislativo (PDL), reafirmando as decisões parlamentares.

Pela Nota Técnica Conjunta, de 30 de junho, sobre o projeto de lei das diretrizes orçamentárias (PLDO) para 2022, 'no $ 18 do art. 62, o PLDO assinala que não serão objeto de limitação orçamentária e financeira as despesas relativas às fontes vinculadas ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - ENDCT'. Até o momento, os recursos de 2022 estão garantidos, mas até quando? Será que não haverá outros dispositivos, como ocorreu em 2021, que limitarão a utilização do fundo?

Enquanto as pautas de orçamento do parlamento se voltam para temas 'mais importantes', como a aprovação de R$6 bilhões destinados ao Fundo Eleitoral para 2022 ou a liberação de R$ 18, 1 bilhões, em emendas de relatoria (RP 9), ainda neste ano, a Ciência tem ficado de fora do orçamento público da União e das pesquisas legislativas brasileiras.

O Brasil, na contramão da inovação, ocupa hoje a 62º posição, entre 131 países, no Índice Global de Inovação?. Perdeu, nos últimos 10 anos quinze posições. O Brasil investiu em P&D, em meio a pandemia de 2020, pouco mais de 1% do PIB, enquanto países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde o Brasil pretende ingressar, investem em média mais de 4% do PIB. A Ciência, de fato, não parece ser uma prioridade das políticas de Estado do nosso país, pois implora recursos que já seriam seus!

1. Manifesto 'Ciência, Tecnologia e Inovação; o momento exige, o Brasil precisa'. Empresas e academia em defesa da liberação total dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)', de setembro de 2020, da CNI, SBPC, ABC e ANPEI.

2. Os fundos setoriais foram criados para prover a ciência e a tecnologia com fonte estável de recursos e evitar as oscilações orçamentárias nessa área. Os fundos são formados pela arrecadação de impostos ou contribuições setoriais, especialmente parcela dos 'royalties' arrecadados com a exploração de petróleo.

3. O Índice Global de Inovação (Global Innovation Index, GII) fornece métricas detalhadas sobre o desempenho de inovação de 126 países, o que representa 90, 8% da população mundial e 96, 3% do PIB global.

O Brasil investiu em P&D em 2020, em plena pandemia, pouco mais de1% do PIB, e países da OCDE, mais de 4%

Por Luiz Miranda, Valor Econômico   

 


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