quarta-feira, 28 de julho de 2021

Caixa d’água energética pode secar até o fim do ano



Sobre o solo seco onde antes havia um lago, a barragem de 42 metros de altura mais se parece a uma muralha em meio a um cânion de rochas esculpidas pelo homem: “Faz mais de três anos que as comportas não são abertas para escoar a água em excesso, só verificação de segurança”, explica Mauro Sergio Santos, supervisor da Usina Hidrelétrica de Emborcação, na divisa de Minas Gerais e Goiás.

 

No dia 22 de julho, o reservatório da usina - terceiro maior de toda região sudeste e centro-oeste, guardava pouco mais de 15% da capacidade. “Se a água baixar mais oito metros temos de suspender a operação”, alerta.

Enquanto a água não vem, as turbinas operam abaixo do seu potencial para conter a diminuição da represa. Com capacidade de gerar 1.200 MW, suficiente para atender 2 milhões de pessoas, Emborcação vem gerando um quarto disso, e ainda assim, para não afetar as usinas localizadas rio abaixo. Tudo funciona como cascata, regulado pelo ONS; conter água em uma barragem significa esvaziar a usina abaixo.

A região central do país, que reúne as regiões e bacias do Sudeste e Centro-Oeste, é a caixa d’água do sistema energético do país, guardando 70% de toda a água usada em usinas hidrelétricas brasileiras. São mares que banham regiões distantes do mar, como Goiás, Minas Gerais e o noroeste de São Paulo. Mares que em alguns pontos recuaram até 500 metros na pior seca registrada na região.

“Os reservatórios de Emborcação e Nova Ponte estão com os piores níveis da história”, aponta Ivan Carneiro, gerente de planejamento energético da Cemig, estatal de geração do governo mineiro. E a tendência é piorar.

A última nota técnica do ONS (Operador Nacional do Sistema), de 22 de julho, chama atenção para o com o esgotamento de praticamente todos os recursos até o fim do mês de novembro, quando são esperadas as chuvas capazes de repor os reservatórios. “Temos um bom tempo sem chuvas aí pela frente, o que exige um grande esforço de gestão do sitema”, diz Carneiro.

O núcleo da caixa d’água nacional é o Triângulo Mineiro e regiões fronteiriças, guardando mais de um terço de toda a água para a geração de energia, principalmente nos rios Paranaíba e Grande - este último, onde fica Furnas.

É uma área onde vive cerca de 1% da população do país, mas que além das enormes represas, mantém o SIN (Sistema Interligado Nacional) com mais de 10% do total da energia hidrelétrica gerada. E é justamente onde a estiagem vem batendo mais forte.

O mapa das secas, órgão federal com participação dos Estados, registra manchas de seca extrema ou excepcional com núcleo no pontal do Triângulo, justamente onde os rios Paranaíba e Grande se encontram.

“A última chuva que tivemos por aqui foi no começo de abril; dois meses antes do normal; de lá pra cá só seco, e daqui pra frente vai piorar, porque em agosto começa um vento quente e seco que parece um secador de cabelo tirando a umidade de tudo”, conta o aposentado e pequeno criador de gado Joaquim Lopes, morador de Prata.

Crise dentro da crise

Ao contrário de outras fontes de energia, as hidrelétricas têm um impacto não apenas no abastecimento, mas na ampliação de locais de lazer, abastecimento de água urbano e rural, irrigação de culturas agrícolas, bem como no meio ambiente do entorno.

A reportagem do Yahoo vem percorrendo todo este núcleo de secas para entender a dimensão local e nacional do fenômeno.

A seca de 2021 não é um fenômeno isolado nem pontual, mas sim a continuação de um período de verões chuvosos mais curtos e invernos secos mais longos iniciado em 2019.

“As pesquisas vêm mostrando que, na realidade, desde a década de 1990 o período chuvoso vem sendo mais curto e menos volumoso, mas este ano houve uma junção de fatores que criou este extremo”, explica Roberto Atarassi, doutor em recursos hídricos e agrometeorologia e professora da UFU (Universidade Federal de Uberlândia).

“Os estudos vêm mostrando que as mudanças climáticas, junto com o desmatamento da Amazônia, vem diminuindo a quantidade de chuvas em toda a região nas últimas décadas”, completa.

Um estudo de 2010 aponta que os efeitos do desmatamento do cerrado sobre a precipitação do bioma parecem ser relevantes, uma vez que mais da metade da vegetação nativa do bioma foi convertida em outros usos.

Aproveitado pela agropecuária há décadas, e nos últimos 20 anos sofrendo os impactos do boom das commodities como milho e soja, grande parte do núcleo seco não possui mais a cobertura vegetal original, enquanto o código florestal exige manutenção de 20% de áreas de proteção nas fazendas.

Apesar de se anunciar há décadas, a atual crise hídrica, que já supera a de 2001, vem se somar à crise sanitária e econômica pela qual passa o país, criando uma tempestade perfeita, na visão da gerente de pesquisas da ONG Instituto Escolhas, Larissa Rodrigues.

“Justamente no momento em que a economia começa a reaquecer, com o processo de vacinação finalmente se acelerando, vem essa ameaça de apagão”, comenta.

Para ela, faltou atuação direta do Ministério de Minas e Energia para tentar evitar o colapso: “Já faz 20 anos que vemos esse cenário de quedas nos reservatórios, e nada foi feito em uma pasta retrógrada e que se limitou a contratar termelétricas, mais caras e poluentes”, critica.

Com as indústrias já aplicando medidas de racionamento como alterar os horários de produção para fora dos horários de pico desde o fim de maio, o pior cenário seria o esvaziamento dos reservatórios a ponto de as termelétricas e a energia importada não suprir a demanda nacional crescente.

Enquanto o país caminha às margens do precipício, o Congresso e o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) caminham para a privatização da Eletrobras — contestada nesta sexta-feira (23) no Supremo — no que poderia prejudicar o já mal gerenciado setor hídrico.

Gustavo Basso, Yahoo notícias


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