Em junho de 1992, o Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como ECO RIO 92. A Conferência considerada por muitos o evento ambiental mais importante do século passado, obteve a proeza de reunir representantes de 175 países e de Organizações Não-Governamentais.
Foi nesta Conferência que a Organização das Nações Unidas publicou o documento “Declaração Universal dos Direitos da Água”, cujo trecho figura em epígrafe, introduzindo este artigo.
Ainda que tardia, a Declaração procura resgatar a importância da água para a sustentabilidade do planeta. É que sem água, não existiria vida nesta parte do universo. Simplesmente assim.
Os cientistas da NASA - National Aeronautics and Space Administration – a agência espacial norte-americana, ao investigar a existência de vida em outros planetas, procura preliminarmente verificar a presença ou não de água, porque foi assim que a vida se originou por aqui.
A antiguidade oriental englobou muitos povos. Dentre eles, se destacam o egípcio, sumério, acádio, assírio, persa, fenício e hebreu.
Essas civilizações estabeleceram uma dependência tão grande dos rios que passaram para a história com a denominação de “civilizações hidráulicas”.
O modelo de Estado adotado baseava-se, fundamentalmente, na posse das águas e das terras agricultáveis.
Mas antes mesmo da existência de Estados e povos organizados, a água já era um recurso natural a acompanhar a evolução humana. Desde os primórdios da existência, a espécie manteve-se a curta distância das fontes de abastecimento de água, condição sine qua non inclusive para assegurar a sobrevivência.
O planeta seria um deserto inóspito inexistisse a água. Todos os animais que vivem hoje em terra firme, e os que traçam nos céus vôos majestosos e elegantes, evoluíram a partir de antecedentes que viveram nos mares e oceanos. E quando estas espécies abandonaram a água migrando para terra firme, tiveram que continuar servindo-se dela. Porque a evolução do ser humano e dos seres vivos, de forma geral, sempre esteve relacionado à disponibilidade de água.
A superfície terrestre tem nada menos que três quartos cobertos de água. Este fato fez com que vingasse entre nós a falsa ideia de que os recursos hídricos são ilimitados, inesgotáveis. O que é grave, considerando que menos de 3 % da água do mundo é doce. E mais grave ainda, mais de 99% encontra-se congelada nas regiões polares ou em rios e lagos subterrâneos, limitando, portanto, sua imediata utilização.
A vinculação da humanidade com a água é tão umbilical que lendas antigas apregoavam a supressão da morte dada a existência da fonte da juventude, um manancial que asseguraria a eternidade para os que conseguissem beber a mínima porção de suas águas.
A fonte da juventude teria o poder de efetuar milagres, curar males e enfermidades, dobrar a velhice, mantendo os felizardos que a encontrassem em estado de eterna juventude.
A história registra diversas referências sobre esta busca pela água milagrosa. A mais antiga é uma obra dos sumérios, “Gilgamesh”, que se prevê ter sido escrita há mais de 3.000 anos a.C.
A água é como o ar que se respira, indispensável para a vida humana. Tão indispensável que chega a compor 70% do nosso peso corporal. Uma pessoa faminta, sem alimento, pode resistir por várias semanas, já sem água, falece em poucos dias.
No Brasil estão concentradas cerca de 12% de toda a água doce existente no mundo. E cresce o número de países que padecem com a escassez de água. Alguns já importam o precioso líquido. O Japão, por exemplo, faz vir parte dele da Coréia do Sul.
Se por um lado a abundância de água doce é um alento importante para Pindorama, por outro, o desequilíbrio constitui um de nossos principais gargalos. A Amazônia que concentra tão somente 7% da população brasileira conta com 70% de toda a água doce existente no país. No nordeste encontra-se uma outra ponta do problema. Apesar da região contar com cerca de 30% da população brasileira, apenas 3% da nossa água doce lá se encontra.
Rodoux Faugh costuma zombar afirmando que a espécie humana prolifera no planeta qual ratazana. E justifica a gozação lembrando que, em 1650, havia em torno de 500 mil habitantes do planeta e que em 2.050 serão - pelas projeções da ONU - 9,7 bilhões de pessoas. É gente demais para recursos naturais de menos.
O Brasil ainda conta com a sorte de abrigar em seu subsolo um dos maiores reservatórios subterrâneos do mundo, o aquífero Guarani. Estima-se que este colossal reservatório natural se estenda por uma área de 1,2 milhões de km², área equivalente ao somatório dos territórios da França, Inglaterra e Espanha.
O grande problema - que em parte já se verifica em vastas regiões do mundo - é que o recurso que possibilita a vida no planeta, já dá sinais de esgotamento. Muito disso deve-se à pressão da demanda, aumento da população, da produção agrícola, industrial,... Mas não restam dúvidas que o desperdício é um dos componentes responsáveis pelo sinal vermelho, pelo sinal de alerta, de perigo, que já se anuncia de forma eloquente. Um dado revela o quão grave é a questão do desperdício de água nos núcleos urbanos, sobretudo dos países em desenvolvimento: 60% da água distribuída pela rede de abastecimento se perdem no caminho. No Brasil, 45% da água tratada para abastecimento das 27 capitais brasileiras é desperdiçada antes mesmo de chegar ao consumidor.
Pelo trotar dos cavalos, os cientistas estimam para o ano de 2025, 30% de toda a população mundial sujeita às privações e suplícios da completa falta de água.
Se a água é vida, quando não tratada pode significar morte. As principais doenças que assolam as camadas mais pobres da população brasileira se propagam por meio hídrico como a gastrenterite, a cólera, a leishmaniose, a malária, a esquistossomose, as moléstias diarreicas e muitas outras. Em determinadas circunstâncias até mesmo a hepatite e a salmonelose.
No mundo, anualmente, morrem 10 milhões de pessoas, metade delas jovens e crianças, com menos de 18 anos, devido às doenças propagadas através de água sem tratamento adequado.
Cuidar, portanto, da água é questão de responsabilidade, de respeito, de amor à vida e ao próximo, de compromissos sustentáveis com o planeta. Algo que, definitivamente, não se pode deixar para o amanhã.
Declaração Universal dos Direitos da Água
1.- A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão, é plenamente responsável aos olhos de todos.
2.- A água é a seiva de nosso planeta. Ela é condição essencial de vida de todo vegetal, animal ou ser humano. Sem ela não poderíamos conceber como seriam a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura.
3.- Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.
4.- O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.
5.- A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como a obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.
6.- A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.
7.- A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.
8.- A utilização da água implica em respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.
9.- A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.
10.- O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.
Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico, e de tecnologias de produção de teatro.
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Coleção Greco-romana com 4 livros; saiba aqui. |
Coleção Educação e Folclore com 10 livros, saiba aqui. |
Coleção Educação e Democracia com 4 livros, saiba aqui. |
Coleção Educação e História com 4 livros, saiba mais. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |