quinta-feira, 20 de abril de 2017

A corrupção também faz chorar o rio São Francisco


CORRUPÇÃO NO VELHO CHICO
A construtora Odebrecht pagou R$ 5,1 milhões em suborno e caixa 2 a quatro políticos nordestinos para destravar as obras do Canal do Sertão, trecho da transposição do Rio São Francisco. Conforme os depoimentos de seis delatores, os valores foram repassados ao exgovernador de Alagoas Teotônio Vilela Filho (R$ 2,8 milhões), do PSDB; ao senador e exministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho (R$ 1,05 milhão), do PSB; e ao senador Renan Calheiros (R$ 500 mil), do PMDB. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também considera que uma doação oficial de R$ 829 mil à campanha do governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), em 2014 foi propina envolvendo os interesses da empreiteira no projeto.
O Hotel Radisson, à beira-mar de Maceió, foi o palco de alguns dos encontros para acertar os pagamentos, segundo o relato dos depoentes. Ali Renan Calheiros se reuniu com o funcionário da Odebrecht Ariel Parente. "Relatei a ele que a empresa estava destinando R$ 250 mil, em duas parcelas, fazendo o total de R$ 500 mil. Não me recordo se ele indicou alguma pessoa da confiança dele para receber. Me recordo que ele não ficou satisfeito com o valor. Me transmitiu essa insatisfação achando que estava pouco", relatou o executivo, em depoimento à Procuradoria-Geral da República.
Parente explicou que os R$ 500 mil seriam pagos como caixa 2, por fora de doação oficial ao então candidato ao Senado. Contou que Renan "queria mais" e cobrou "R$ 1 milhão e tanto". Diante da reclamação, submeteu o problema para seus superiores. O senador alega que nunca participou de nenhum encontro com Parente. O ex-diretor da Odebrecht no Nordeste João Pacífico confirmou o pagamento, em duas parcelas, em agosto e setembro de 2010, dos R$ 500 mil. Ele apresentou planilhas como comprovação.
Pacífico explicou que o caixa 2 a Renan naquele ano buscava ajuda dele para liberar a obra do Canal do Sertão, um dos trechos da transposição. Pacífico afirmou que, embora Renan estivesse rompido com o então governador Teotônio Vilela Filho (PSDB), o peemedebista era um político nacional e tinha influência no Ministério da Integração Nacional. "Se, porventura, a gente precisasse de apoio dele, a gente poderia utilizá-lo", justificou. A quantia foi disponibilizada pelo Grupo Odebrecht por intermédio de operação não contabilizada e registrada pelo Setor de Operações Estruturadas no sistema "Drousys".
O executivo explicou que a Odebrecht obteve o contrato na transposição em 2010, mas a execução ficou suspensa até 2013, por falta de recursos. O "agrado" a Renan, segundo ele, também objetivava conquistar o apoio dele em eventuais pleitos futuros. "Era mais para que a gente pudesse dar a notícia, primeiro em nome da companhia, e também porque poderia haver uma demanda. Então, a gente se antecipou", comentou.
BEZERRA
Em outro trecho de sua delação, João Pacífico afirmou ter acertado, numa conversa em 2013, pagamento de R$ 1 milhão para a campanha do então ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE). "Quando eu fui saber do ministro Fernando Bezerra qual era a dotação orçamentária, ele disse: 'Vou me candidatar em 2014 ao Senado e preciso de uma ajuda de campanha", afirmou. "Eu fui lá para saber o orçamento referente à obra. Depois que ele me disse que o valor de 2013 não seria significativo, porque a obra só começou no meio do ano, mas em outros anos deveria ter, foi quando disse 'eu vou me candidatar e preciso de um valor em contribuição: R$ 1 milhão'", acrescentou.
No pedido de abertura de inquérito, o procurador-geral Rodrigo Janot diz que a solicitação de Bezerra Coelho "foi atendida por meio de pagamentos viabilizados pelo Setor de Operações Estruturadas". O montante, em espécie, segundo os colaboradores, foi entregue a um intermediário de Bezerra. O expresidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior confirmou os repasses.
Segundo os delatores, os valores pagos a Teotônio Filho e a dois de seus auxiliares somaram R$ 2,8 milhões, em 2014. Pacífico contou que os repasses foram acertados pelo próprio governador e sua equipe no hotel, que teriam ameaçado rescindir o contrato, caso os valores não fossem feitos. A Odebrecht, por fim, teria cedido ao achaque. "As condutas acima narradas não se tratam de mera doação eleitoral irregular. Vislumbra-se, na verdade, uma solicitação indevida em razão da função pública que se almeja, a pretexto de campanha eleitoral. Por esta razão, há fortes indícios de que se está diante de crimes graves que precisam ser minuciosamente investigados", afirmou Janot.
Senadores negam favorecimento
 Brasília - O senador Renan Calheiros (PMDBAL) afirmou ser "uma inconsciência" a "tentativa" de ligá-lo "às obras do Canal do Sertão" da transposição do Rio São Francisco. "A obra era gerida por um governo contra o qual eu e Renan Filho, que era deputado federal, fazíamos oposição. O fato de eu ser político nacional não muda o contexto da política regional. Por isso, eu realmente acredito no arquivamento das denúncias por total incoerência", disse.
Fernando Bezerra Coelho, também por meio de sua assessoria, alegou que não participou nem da licitação nem da contratação da obra do Canal do Sertão alagoano, "ambas ocorridas em 2009 - ou seja, dois anos antes de o senador chegar ao Ministério da Integração Nacional". "Ao assumir o ministério, Fernando Bezerra solicitou a manifestação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a conformidade do contrato. Com a orientação do TCU, foram feitos ajustes no referido contrato e a obra foi retomada no final da gestão de Fernando Bezerra, em 2013. O parlamentar reforça que todas as contas da campanha dele ao Senado foram devidamente apresentadas e aprovadas pela Justiça Eleitoral", explicou. Renan Filho sustenta que todas as doações recebidas durante a campanha ocorreram dentro da lei e foram devidamente declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral." A reportagem não conseguiu contato com Teotônio Vilela Filho.
Piada ameaçadora de Cunha
São Paulo - O executivo da Odebrecht Rogério dos Santos Araújo afirmou, em delação premiada, que o ex-deputado Eduardo Cunha, preso na Operação Lava-Jato, teria feito 'piada em tom de ameaça' para que a empreiteira subcontratasse a Delta no âmbito de contrato que rendeu propinas ao PT e ao PMDB. O contrato do PAC SMS foi firmado em 2011, com a Odebrecht, por um valor de US$ 825 milhões. A empresa ficou responsável pela prestação de serviços para a área de Negócios Internacionais da Petrobras, dentro de um plano de ação de certificação em segurança, meio ambiente e saúde. O termo abrangeu inclusive a Refinaria de Pasadena, no Texas, EUA.
Segundo delatores da construtora, em 2010, durante reunião com o então presidente do PMDB Michel Temer, o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Eduardo Cunha, ficou acertada propina oriunda deste contrato no valor de 5% para o PMDB. Os delatores disseram que não se falou de propinas na presença de Temer. Após ajustes com a diretoria da Petrobras, as 'vantagens indevidas' ao partido foram reduzidas para 4% e o PT passaria a ficar com 1%. As tratativas teriam ocorrido em 2010.
Após os acertos para os partidos, o executivo Rogério Araújo relatou ter se reunido com Eduardo Cunha e representantes da Delta Engenharia por três vezes. Os encontros teriam sido marcados pela 'insistência' e por 'ameaça' do peemedebista para que a construtora subcontratasse a empreiteira de Fernando Cavendish no âmbito do PAC SMS. A primeira reunião para tratar do contrato aconteceu no escritório de Eduardo Cunha, e teve a presença do peemedebista, do lobista João Augusto Henriques, apontado como operador de propinas do PMDB, e do representante da Delta, Ananias Andrade. "Eduardo Cunha fez muita pressão para que a companhia executasse o contrato em consórcio com a empresa Delta, de Fernando Cavendish, o que neguei, vez que tal empresa não tinha nenhuma experiência em obras dessa natureza".
'BASTANTE IRRITADO'
Após a negativa, o executivo da Odebrecht relatou que Cunha ficou 'bastante irritado' e 'para expressar sua irritação', contou uma 'piada com característica de ameaça'. "Na oportunidade, Eduardo Cunha disse: 'Um amigo meu, casado, com uma mulher bonita, gostosa, não dormia em casa, chegava muito tarde em casa, viajava muito, sempre cansado, até o dia em que a esposa vira para o marido e diz: 'Olha, meu amigo, aqui em casa se faz sexo todo dia, contigo ou semtigo'".
Em outra reunião, em agosto de 2010, o executivo diz ter se encontrado novamente com Cunha em seu escritório - o operador do PMDB, de novo, estava presente. Ele afirmou ter sido pressionado por Cunha para que houvesse a liberação do pagamento referente ao PAC SMS. "Eduardo Cunha fez pressão para que algum pagamento fosse feito previamente à assinatura do contrato".
Houve um terceiro encontro, no escritório do delator, para tratar de possível acordo entre a Odebrecht e a Delta. Estavam lá João Augusto, Ananias Andrade, pela Delta, e o motorista Angelo Lauria. "Nesta reunião, Ananias voltou a insistir no tema de parceria para este projeto ou uma participação da Delta em outro contrato industrial qualquer já conquistado pela companhia, mencionando que era um compromisso do Cunha com a Delta (Fernando Cavendish). Não concordei com a solicitação", disse o executivo.

Em O Estado de Minas

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Lampião e Prestes em busca do reino divino: o dia em que o bandido promovido a homem da lei guerreou contra o coronel tornado um fora da lei

Luiz Carlos Prestes e Virgulino Lampião se enfrentaram em combate no sertão, no interior do Nordeste? É o que afirmam muitos pesquisadores.
A batalha teria acontecido entre as cidades de São Miguel e Alto de Areias, no Ceará.
Se ainda hoje o sertão brasileiro é um poço de miséria e iniquidades, nos anos de 1926 a realidade era ainda mais sombria. 
Dominado pelos coronéis da política, pelos aristocratas e latifundiários, no Brasil - de forma geral, e no Nordeste, em particular - vicejavam a injustiça mais cruel, o analfabetismo embrutecedor, o clientelismo político, a falta de oportunidades, a indigência e a miséria.
No agreste acorriam jagunços, pistoleiros e bandos de cangaceiros que - ora por conta própria, ora contratados pelos poderosos locais - irradiavam o terror, roubando, saqueando, extorquindo, sequestrando, assassinando impunemente.
É neste contexto que surge Lampião e seu bando, o mais famoso dentre todos porque o mais brutal, o mais longevo, o que adentrou o imaginário popular como um híbrido de vilão e herói. 
Lampião e seu bando torturaram, mutilaram, sequestraram, saquearam, assassinaram... Tinham como hábito marcar com ferro quente os rostos das mulheres que usavam saia ou cabelos curtos. Consta que, em 1923, na Paraíba, o senhor do sertão e 25 de seus cangaceiros estupraram coletivamente a mulher do delegado de Bonito de Santa Fé. 

Em 1926, temeroso da revolução propalada pelo movimento tenentista, o governo alicia lampião, entrega a ele a carta-patente de Capitão, e ao seu bando fardamento, armas e munição do exército nacional. Missão atribuída? Combater a Coluna Miguel Costa-Prestes. 

E Virgulino Lampião, de criminoso, cangaceiro e bandoleiro, é tornado uma autoridade pública, um homem da lei.

Luiz Carlos Prestes representa um movimento que se originou em 1922 com a Revolta do Forte de Copacabana e que se denominou Tenentismo. O movimento político-militar compunha-se de oficiais de baixa e média patente do Exército do Brasil: combatiam a velha República e suas oligarquias; exigiam reformas políticas e sociais – sobretudo as eleitoral e do ensino – e intentavam a derrubada do governo do presidente Artur Bernardes.

Fracassando em 1922, o movimento volta à carga em 1924: 6 mil militares tomam São Paulo e são derrotados pelo governo federal. Essas tropas iniciam fuga em direção ao sul onde encontram as guarnições de Prestes e dão origem à marcha histórica, a epopeia da Coluna Miguel Costa-Prestes. 

Quando partiu do Sul em direção ao Nordeste, a Coluna Prestes constituía-se de um batalhão com 1700 homens armados com artilharia pesada, fuzis, metralhadoras, canhões e bombas de alto impacto. O cólera, as perdas em combate, o cansaço devido aos poucos cavalos, as deserções... No confronto com Lampião, a Coluna mal chegava aos 600 soldados.

E Luiz Carlos Prestes, uma autoridade militar, um tenente-coronel do Exército brasileiro, é tornado um renegado, um desertor, um fora da lei. 

É este contexto histórico que sustenta a peça teatral “Lampião e Prestes em busca do reino divino: o dia em que o bandido promovido ahomem da lei guerreou contra o coronel tornado um fora da lei”.

Como se deu este combate? Como foi o encontro entre Lampião e Prestes? De que trataram? Os cangaceiros tinham ideário político? Conseguiram, Lampião e Prestes, chegar a algum entendimento? Encontraram pontos convergentes em suas plataformas políticas e de ação? 

Delicie-se leitor com essa literatura ficcional ancorada em forte argumentação histórica.
Para saber mais, clique aqui.