segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A exceção e a regra

(...)A degradação do meio ambiente impacta diretamente nossa qualidade de vida. A poluição se manifesta de forma onipresente no excesso de ruídos, na atmosfera tomada por gazes nocivos, na sempre crescente produção de lixo, nos esgotos a céu aberto - sem tratamento ou com processamento incorreto, nos detritos que aniquilam cursos d’águas, rios e praias, nos cartazes publicitários que devastam a paisagem, nos agrotóxicos, nas precipitações ácidas que transformam as chuvas num miasma de ácido sulfúrico e nítrico, num trânsito cada vez mais caótico e irracional... (...)"

A exceção e a regra

À medida que crescem, as cidades vão deixando vincos, marcas que deveriam merecer especial atenção do gestor público, ao menos no sentido de mitigá-las.

Refiro-me aos vincos e marcas que de uma forma mais intensa se fixam nas pessoas, comprometendo as funções nervosas responsáveis pela capacidade de receber e perceber impressões e alterações do ambiente.

Dos cinco sentidos que os antigos atribuíam aos seres humanos - tato, gosto, ouvido, vista e olfato – está evidente que os três últimos encontram-se na UTI, numa espécie de estágio terminal que, ao manifestar melhoras, adentra mais e mais no mundo dos moribundos.

Parte expressiva dos gestores públicos brasileiros tem confundido desenvolvimento com poluição sonora, visual e olfativa.

Por isto desdenham a educação.

O zum-zum-zum nervoso das ruas e avenidas, ônibus, caminhões, veículos com autofalantes, buzinas, pessoas sempre apressadas, o som dos bares, botecos e inferninhos, vão gradativamente comprometendo nossa capacidade auditiva, e não demora, perdemos até mesmo a capacidade de sussurrar, falar baixo, perceber quem está ao lado...

Gigantescos outdoors’s, grandes placas e faixas comerciais escondem o muito de belo que existe nas fachadas das casas e edificações, nas praças e logradouros, transformando a cidade num descomunal magazine onde anúncios e propaganda têm vidas próprias, engolindo a harmonia, a arquitetura, o paisagismo, a originalidade da cidade.

A poluição olfativa avança numa guerra sem tréguas tornando nossos habitat’s espaços onde predomina o mau cheiro, o fedor...a vida se tornando insalubre, pesada, doentia, a auto estima comprometida.

Os que conhecem o Rio de Janeiro evitam freqüentar as imediações do Posto 5, na orla de Copacabana, na zona sul. O presidente da Companhia Estadual de Águas e Esgoto lamenta: "Há um ano eu estava tomando café com o governador Sérgio Cabral e ele estava reclamando do cheiro de cocô que tem aqui em Copacabana”.

O mau cheiro é provocado pela elevatória de esgotos de Parafuso. Diante do problema, o prefeito encomendou um projeto que desenvolverá um sistema de controle de odores para purificar os gases provenientes da decomposição de matéria orgânica da elevatória, que serão comprimidos, envasados e encaminhados a um potente sistema de lavagem. Exultante, o presidente da companhia de saneamento comemora: “(...) em vez de cheirar a cocô, vai cheirar a jasmim".

A degradação do meio ambiente impacta diretamente nossa qualidade de vida. A poluição se manifesta de forma onipresente no excesso de ruídos, na atmosfera tomada por gazes nocivos, na sempre crescente produção de lixo, nos esgotos a céu aberto - sem tratamento ou com processamento incorreto, nos detritos que aniquilam cursos d’águas, rios e praias, nos cartazes publicitários que devastam a paisagem, nos agrotóxicos, nas precipitações ácidas que transformam as chuvas num miasma de ácido sulfúrico e nítrico, num trânsito cada vez mais caótico e irracional...

O cenário nos encaminha para a descrença, o desespero e o ceticismo, a desgraça? Não, claro que não. Apenas ajuda a enfatizar a importância de resgatar a educação como estratégia para o desenvolvimento e a promoção humana. Um povo educado qualifica seus processos de organização e mobilização, potencializando a pressão das ruas. Torna o milenar ditado “a voz do povo é a voz de Deus” fato incontestável; e não figura de retórica na boca de tantos que acalentam as artes da oratória, do ilusionismo e da enganação.

A pressão democrática, a justa manifestação da sociedade, efetuada de forma organizada, demonstra que é possível corrigir, aperfeiçoar, melhorar, impregnar os gestores de vontade política e tirocínio para o trato da coisa pública. Continuarão respondendo aos respectivos governadores, sem dúvidas, como no caso ilustrado acima. Mas ambos, gestores e governadores – ainda que queiram – jamais darão de ombros às demandas populares se embebidas da mais densa organização e mobilização. Condições só possíveis quando educação de qualidade se constituir em regra, e não exceção.

A metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e a tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo são criações originais de Antônio Carlos dos Santos