Um olhar de humildade
Nova York tem apresentado ao mundo um conjunto de experiências que costuma dar certo. Tolerância Zero é uma delas, forma diferente de conceber a segurança pública, punindo crimes triviais e desvios elementares como estratégia vitoriosa para a prevenção e punição dos delitos e crimes mais graves e complexos.
Mas não é só na área de segurança que a maior cidade norte-americana obtém sucessivos êxitos quando se trata da adoção de políticas públicas. Resultados positivos têm sido obtidos também em outros setores, como o da educação pública.
Nova York iniciou em 2001 uma ampla reforma escolar no que é hoje o maior sistema de ensino do país. Fundamentalmente, o modelo empresta especial enfoque aos processos de gestão, investindo na formação dos professores, promovendo um minucioso acompanhamento do rendimento escolar dos alunos e estimulando a participação dos pais. No modelo implantado, essa participação assume tamanha importância que, em cada escola, é contratado um coordenador de pais, com a tarefa exclusiva de planejar e promover atividades que aproximem as famílias da escola, compromissando-as com o processo de aprendizagem dos alunos.
Ao contrário de viver sob inteira dependência dos recursos públicos, o novo sistema estimula a direção da escola a abrir o leque para outras possibilidades, buscando apoio do setor privado, que, naturalmente, se manifesta com auxílio financeiro, mas também oferecendo suporte às ações de planejamento. Um dos resultados mais promissores do modelo é a formação de lideranças.
Tudo se origina, se implementa, se renova, ganha vida e movimento sob a égide do planejamento, de modo que a avaliação se processa de forma contínua, ininterrupta. Alguns quesitos são analisados com profundidade: a frequência de professores e alunos, a rotatividade e absenteísmo dos docentes, os dados referentes aos incidentes de indisciplina e violência no interior da escola e a visão da comunidade escolar - alunos, pais, servidores, professores e diretores - sobre a unidade educacional e seu contexto comunitário.
É este modelo que São Paulo planeja implantar em suas escolas estaduais. Dez delas que tiveram baixo desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp), todas localizadas na zona periférica, serão pioneiras na implantação do novo sistema de inspiração norte-americana. A meta é ousada: em três anos promover um salto de qualidade na aprendizagem dos alunos.
Segundo a professora Maria Helena Guimarães de Castro, secretária de Estado da Educação “(...) a idéia é criar mecanismos de gestão e supervisão do trabalho pedagógico que fortaleçam o compromisso da direção, coordenação, corpo docente e famílias para oferecer uma aprendizagem de qualidade. Os objetivos são incrementar os processos de gestão e supervisão do clima escolar utilizados pelo diretor e professor coordenador, incluir formação no trabalho do professor coordenador; aumentar o envolvimento das famílias com a escola e melhorar o desempenho dos alunos nas avaliações”.
Iniciativas como esta mostram que ensino público de qualidade não é assunto para as calendas gregas ou conversa de político-anão para embair e passar mel na boca de eleitores. Ao contrário, é um sonho que se encontra bem pertinho, ali na esquina, bem ao alcance da vista e das mãos. Basta ousadia para se livrar dos nocivos paradigmas que paralisam o setor, manter com a sociedade compromissos forjados na ética, e coragem para priorizar o investimento. Quanto ao know how, bastaria abandonar a pretensão megalomaníaca dos que exaurem a vida desejando reinventar a roda. O que custa lançar um olhar de humildade em direção à Coréia, Irlanda, Austrália, Chile... e Nova York?
A metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e a tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo são criações originais de Antônio Carlos dos Santos