Nas pesquisas, levantamentos e estudos internacionais, o Brasil já conquistou cadeira cativa em dois importantes rankings. No que afere o nível de corrupção, ocupamos sempre as primeiras posições. E no que revela o nível de educação, estamos sempre a disputar a lanterna ou as últimas posições.
Nem tudo termina em pizza
Não há momento na história brasileira em que a corrupção tenha deixado de ostentar a áurea das perversidades onipresentes. A corrupção entre nós tem sido um mal maior, uma chaga terrível presente em todas as entranhas de nossa história política. Não seria exagero afirmar que o Brasil nasceu com esta sina.
Herdamos da metrópole portuguesa a cultura cartorial, cuja principal anomalia talvez seja a inesgotável voracidade do aparelho de estado, ávido por tudo controlar, sequioso por tudo tributar, remetendo seus tentáculos para aprisionar todas as atividades econômicas, quaisquer que sejam, ainda que as mais fragilizadas, tais como as pequenas relações informais e o escambo. Sem, naturalmente, perder o foco nas grandes negociatas, onde o suborno é porta da entrada, do processamento e da saída.
Para exercer de forma onipresente e onipotente a tributação no grau mais elevado, é desenvolvida uma burocracia descomunal, com infinitas regras, normas, fluxo e rotinas, um sem número de caminhos que levam do nada a lugar nenhum (quando se trata de desenvolvimento sustentável), cenário de todo improdutivo, mas ambiente mais que salutar para a proliferação da corrupção. Sabemos que quanto maior a burocracia, mais vigorosa e profícua é a corrupção.
Estado gigantesco e burocracia descomunal são, de longe, os principais entraves para o desenvolvimento do país. Irmãos siameses têm reduzido a meras ilusões os sonhos e oportunidades de milhões e milhões de brasileiros.
Um antigo ditado árabe ensina que a cobra, por mais adestrada e domesticada, jamais deixará de ser uma cobra. Muitos não aprendem a lição, ignoram o ensinamento, afeiçoam e tomam carinho pelo animal, até o dia em que se a dá picada mortal, quando de nada mais adianta compreender as razões de um animal peçonhento jamais perder suas características originárias.
Assim é a corrupção. Está tão presente na cultura nacional que já se acomodou, fincou âncoras no imaginário popular. As pessoas passaram a tê-la como algo natural, E, sem que se dêem conta, passam a defendê-la com argumentações como as conhecidas expressões "rouba, mas faz", "política é assim mesmo”, e “tudo acaba em pizza".
Nas pesquisas, levantamentos e estudos internacionais, o Brasil já conquistou cadeira cativa em dois importantes rankings. No que afere o nível de corrupção, ocupamos sempre as primeiras posições. E no que revela o nível de educação, estamos sempre a disputar a lanterna ou as últimas posições.
Na vertente oposta, os países que ocupam as primeiras posições no ranking da educação são os que mais combatem a corrupção.
Talvez por isso, a CNBB, Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, instituição católica que congrega o alto prelado brasileiro tenha decidido desenvolver uma grande campanha nacional, em que um dos objetivos mais destacados figura como "denunciar a gravidade dos crimes contra a ética, a economia e as gestões públicas, assim como a injustiça presente nos institutos da prisão especial, do foro privilegiado e da imunidade parlamentar para os crimes comuns".
A intensidade com que a corrupção tem impregnado as relações do Estado com a sociedade é que levou a instituição religiosa a mergulhar fundo na questão, priorizando no ano de 2009 a reflexão sobre o tema.
E para dar início às discussões, utilizará o assunto corrupção como um dos focos da Campanha da Fraternidade deste ano.
A Campanha da Fraternidade tem sua origem em 1961, quando a Cáritas Brasileira desenvolveu um projeto embrionário objetivando arrecadar fundos e torná-la autônoma financeiramente. Mas só em dezembro de 1964, teve início o ciclo de campanhas nacionais, a primeira explorando o lema “Lembre-se: você também é Igreja”.
Este ano, o eixo gravitará em torno de questões referentes à segurança pública, mas também estimulará as que digam respeito à ética na política.
Sem dúvidas um bom sinal, prova de que a sociedade, como um todo, ainda não se vergou, não se prostrou inerme, não caiu no conformismo fatalista do “tudo termina em pizza”.
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